PROFESSOR, EDUCADOR OU TRABALHADOR

Marcelo de Jesus da Mata –TAREFA – 04 – e-mail:

Adriano R. Mansanera –

1 – INTRODUÇÃO

O texto a seguir é um resumo estendido de textos para reflexão e atender o requisito parcial da disciplina. Os mesmos versam sobre as relações entre educação e trabalho. A formação de novos professores e a confusão entre o profissional e o missionário. Após essa sucinta introdução há aprensentação da fundamentação teórica que apresenta os resumos dos textos. Após, uma reflexão sobre educação, trabalho e o professor como profissional.

2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – Demerval Saviani

De longa data há a relação entre educação e trabalho. O mais correto seria dizer contraposição entre ambos. Pois, a educação é entendida como não-trabalho, ou seja, um bem de consumo e fruição. Na década de 60, a Teoria do Capital Humano, mostrou que a educação não é meramente ornamental, ao contrário, é decisiva para o desenvolvimento econômico dos países. Existe uma estreita ligação entre trabalho e escola. Os próprios críticos desta teoria, não contestam. Suas críticas dizem que a educação é funcional para sistema capitalista, ideológica e economicamente; pois, esta é a qualificadora da força de trabalho. Os educadores atuais oscilam entre as duas vertentes, uns advogam a educação em termos gerais e outros em uma formação dualista, geral e profissional. Para um melhor entendimento, é necessária a investigação das origens do desenvolvimento histórico do problema.

O processo educativo remonta à aurora dos tempos; pois, surge praticamente junto com a humanidade. No processo da humanidade afastar-se da animalidade e aproximar da racionalidade, houve necessidade de deixar de se adaptar a natureza e começar a adaptar a natureza as suas necessidades. A adaptação da natureza as suas necessidades chama-se trabalho. A organização primitiva era comunal, ou seja, havia o compartilhamento do que era produzido pelo grupo; assim, a educação ocorria durante as atividades de provimento das necessidades da comunidade. Com o passar do tempo, aconteceu a fixação na terra (o ser humano passando de nômade para sedentário) e esse processo causou o aparecimento das classes. A terra tornando-se propriedade privada gerou as classes, dos proprietários e dos que trabalhavam na terra. Este processo é evolução para antiguidade histórica.

Tendo somente a antiguidade greco-romana como objeto de análise. Havia apenas duas classes: a ociosa e a escravizada. No contexto da classe ociosa surgiu a escola(local da ociosidade) que refletia as suas características. Aos escravizados trabalhadores cabia educar-se no trabalho, no aprender fazendo. A educação da classe ociosa era um tipo específico enquanto a classe escravizada/ trabalhadora educava-se no trabalho manual, no manuseio físico da matéria, dos objetos, da realidade e da natureza. Algumas características da antiguidade permaneceram na Idade Média. Propriedade da terra, ainda, determina a classe abastada e proprietária e os que não tinham o único meio de produção (a terra) eram servos. A diferença nesse contexto é que o servo não era mais escravo, não servia a um senhor, era servo da gleba; mas, continuava produzindo para si e para os proprietários. Com o fim do Império Romano e a migração da cidade para o campo, apareceram as escolas paroquiais, catedralícias e monacais. Diferente da antiguidade, agora o ócio deveria ser preenchido com dignidade. A classe servil continuava a educar-se como no período da antiguidade, produzindo a própria existência e a de seus senhores. O modo de produção feudal colocava o campo em contraposição a cidade. A cidade era o local que apenas se realizavam os artesanatos. O artesanato de início era apenas buscando produzir os instrumentos e ferramentas necessários ao trabalho agrícola. Estes eram confeccionados conforme a demanda do campo. Como passar do tempo e o fortalecimento das corporações de ofício aconteceu a acumulação de recursos e capitais, aumentando a atividade mercantil que passaram a ser realizadas nos Burgos(pequenas cidades), daí a origem da palavra burguês que significa morador do burgo. A grande acumulação mudou o eixo da agricultura para indústria, do campo para a cidade e no limite mudou o modo de produção. Do feudal para o capitalista.

A educação no modo de produção capitalista tem uma mudança de paradigma. Com a própria agricultura sofrendo um processo de introdução industrial, via mecanização. A indústria é a base do desenvolvimento das cidades. As relações começam a se tornar mas sociais e deixando de ser naturais. O que por sua vez provocou o rompimento com a ideia de comunidade e fortalecendo a ideia de sociedade. A face mais visível é no campo do Direito, que desloca-se do natural para o positivo, este último mais afeito a organização urbana com suas convenções contratuais. É necessário frisar, que na transição, a noção de liberdade passou a ser o princípio do modo de organização. O aparecimento do liberalismo, ou seja, a disposição da propriedade privada por um indivíduo, a sociedade de proprietários livres e o trabalhador livre, proprietário de sua força de trabalho. Alienado dos meios de produção, de todos os meios de existência (terra). Somente lhe é permitido operar com meios de produção alheios.

A escola é coerente a essa conjuntura. Os novos processos sociais de inserção de conhecimento científico no processo produtivo exigiam a generalização da escola para dar condições do ser humano adquirir conhecimentos para sujeitar a natureza seus desígnios. Com Direito positivo escrito, diferente do direito natural que é consuetudinário (baseado em costumes) gera necessidade, também, da generalização da escrita e o domínio e incorporação da ciência, do domínio dos códigos formais no processo produtivo. Assim, urbanização está fortemente relacionada com a escolarização. Para o progresso se faz necessária uma escola que o permita. Entretanto, a educação deveria ser diferenciada entre as classes sociais. Uma contradição do processo escolar. Seriam dois tipos básicos de educação: para elite e para o proletariado. Para elite uma educação com o propósito de intelectualização; e, para os outros, uma educação mínima que permitisse o desenvolvimento do processo produtivo e o máximo de expropriação da mais-valia.

Fica clara a forte relação entre educação e economia política. A maioria dos teóricos econômicos, incluindo Adam Smith, preconizava uma educação em doses homeopáticas às massas trabalhadoras. Mas, havia alguns poucos teóricos mais perspicazes que observaram que quanto maior acúmulo de conhecimentos, maior desenvolvimento haveria na economia. As doses homeopáticas de conhecimento ficam claras no antológico trecho em que Smith descreve a produção de alfinetes e sua divisão de trabalho. Cada trabalhador deveria ter conhecimento necessário ao seu trabalho. No entanto, com a universalização da escola primária(em alguns países mais desenvolvidos da Europa) a socialização dos indivíduos teve um crescimento, emulando o incremento de novos conhecimentos. Trabalhadores começaram a ter ciência de suas condições e novas ideias para as mudanças começaram a aparecer.

Contemporaneamente com o advento das novas tecnologias no processo produtivo o processo educativo também está sendo afetado. A Segunda Revolução Industrial, para alguns a Terceira; pois, a Segunda foram os modelos de fordismo e taylorismo. Propõem uma nova maneira da aplicação dos conhecimentos na produção e por consequência mudanças na concepção de escola. Exigindo muito menor qualificação específica e, em contrapartida, a qualificação geral torna-se fundamental. A escola tem que tornar-se a formadora e desenvolvedora de todas as potencialidades. O que antes eram utopia passou a se tornar uma necessidade para o novo paradigma tecnológico. A universalização do ensino que era vista como um entrave ao capitalismo agora o mesmo sobreviverá somente se o conhecimento tornar-se, também, universal. O trabalho manual deixará, aos poucos, devido ampliação da maquinaria de ser relevante. O trabalho intelectual se ampliara. Se antes a máquina era extensão dos braços, doravante também será extensão do cérebro. No contexto brasileiro, devido ao atraso educacional, é ainda mais clara a visão do mesmo às elites dirigentes. Elites estas que deverão promover a educação mais ampla, eficiente e eficaz, se quiserem que o capitalismo tupiniquim, por meio da educação, venha promover o incremento da produtividade e lucratividade, necessárias.

2.2 – Ideias Contemporâneas

2.2.1 – Cecília Valenza

Uma pesquisa apontou que pouquíssimos jovens querem se tornar professor, aproximadamente 2% em um conjunto de 1500 alunos de ensino médio. Esta pesquisa visava medir o nível de atratividade da carreira docente para os alunos. Ela mostrou que outras carreiras são mais procuradas, incluindo as tradicionais: direito, medicina e engenharia. Há motivos para isso. Os principais são a pouca afinidade, as famílias não estimulam e a baixa remuneração. As percepções que os estudantes têm quanto ao trabalho do professor: muito trabalho, baixa remuneração e quase nenhum reconhecimento social.

Tomando por exemplo a carreira docente por excelência, a pedagogia. A pesquisa é corroborada de maneira inequívoca. Os egressos do ensino médio que buscam a carreira são oriundas das classes mais pobres, com histórico escolar abaixo da média e pais com pouquíssima instrução. Há, também, uma baixa concorrência devido à falta de interesse da classe média acima. Por óbvio, a decisão de uma carreira é submissa as perspectivas de mercado, nas quais o retorno financeiro é relevante para decisão. Além da questão quantitativa há a qualitativa resultante da observação dos próprios alunos. As condições de trabalho da maioria dos professores é um importante fator de desmotivação para escolha da carreira. Assim, muitos entram no curso de pedagogia por não terem passado em outros cursos, em suas perspectivas, com maior possibilidade de retorno futuro. Como em tudo na vida, não há somente terra arrasada. Há os oriundos de classes mais abastadas que escolhem o curso de pedagogia por idealismo. Muitos não ficam somente na graduação, mas buscam aprofundar conhecimentos, especializando-se. Esses lamentam estigma por parte dos estudantes de outros cursos e defendem a profissão lutando por maior valorização da classe.

2.2.2 – Ademir Luiz

A sociedade, atualmente, vê o professorado como um sacerdócio. Entenda-se por “sociedade” os pedagogos, teóricos, autoridades e proprietários de escolas. Houve, uma adoção sem precedentes do politicamente correto, a troca da palavra professor por educador é uma das consequências. Essa troca foi mais deletéria do quê benéfica e deve-se a forte influência do discurso missionário. Que, por sua vez, insere a ideia do professor que assume uma missão sacrificial que é mais importante que o resto. Deste modo, existe uma diluição da intelectualidade na formação docente; pois, emerge a tendência de valorização da vocação em detrimento do preparo intelectual do professor. A face obscura da aceitação do sacrifício pelo professor é o ambiente de trabalho do mesmo. No qual, as ameaças, as ofensas e até espancamentos são aceitáveis. Em complemento, se o aluno não aprende é tão somente do professor a culpa.

Caso o discurso colocar os interesses pessoais do professor como prioridade, a sociedade entenderá como mesquinharia. A necessidade de autossustento, o prazer em trabalhar no que gosta; e, até as duas férias anuais são entendidos como privilégios. No inconsciente coletivo social, o professor deve ser guiado por ideais elevados. Não basta ser professor, tem que ser educador.

Levando em conta o sacrifício, há uma outra perspectiva complementar. O professor deixa de sê-lo apenas de sua área de conhecimento; e, passa a acumular muitas outras funções diversas, muitas que deveriam ser trabalhadas pelas famílias dos alunos. Foi colocado um alto grau de exigência sobre o professor. Exigência é essa que é negada, ao mesmo, aplicar a seus alunos. Se o fizer, torna-se um retrógrado.

A escola, antes transmissora na tradição cultural da humanidade, passou a ser um receptáculo de tudo, incluindo até coisas pouco desejáveis. O professor com alto nível de preparo intelectual deixou de ser o paradigma para uma boa escola. Ser um professor missionário é mais importante que seu preparo acadêmico, capacidade de transmitir e criar conhecimento. O complexo é que acadêmicos afamados pregam e transmitem a doutrina missionária. Parece ser contemporânea essa doutrina; no entanto, é muito antiga. Os sofistas gregos eram considerados menores por seu costume de cobrar pelos ensinamentos. Na Idade Média os monges que se prestavam ensinar nas nascentes universidades eram atacados por receber pagamento. O missionarismo parece ser a mais bela das virtudes.

Com o tempo a universalização da educação e seu nivelamento, o professor passou a ser infantilizado por dinâmicas de grupo, brincadeiras, leituras inúteis e até a troca das notas por quadradinhos coloridos. Está se afastando de forma inexorável da função intelectual, deixando de ser contestador e crítico. E esse processo ocorre pela lavagem cerebral dentro das licenciaturas.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

“O senhor trabalha ou só dá aula?” Essa pergunta grande parte dos docentes já ouviu pelo menos uma vez na carreira, curta, média ou longa. A sociedade brasileira, especificamente; pois, o escritor de deste texto não tem conhecimento pessoal de outra, se mostra com uma relação complexa com o trabalhador da educação. Como dito por Saviani (2007) e Luiz (2009), o professor é visto não como um trabalhador, mas sim como um missionário “mítico” sem necessidades e sem contas a pagar. O que não é verdade.

A visão distorcida de que um professor não é um trabalhador tem corolários diversos e o mais perverso deles é a desvalorização em todos os âmbitos sociais, de status a contracheque. Que profissional de alto rendimento e status não teve que passar por professor? A mesma visão tem o efeito de retroalimentação viciosa que causa o desinteresse por parte das novas gerações. Os alunos com melhor desempenho, de acordo com a autora Valenza (2010), buscam carreiras com maior viabilidade socioeconômica o que não problema dado que numa sociedade livre a busca do melhor para si deve ser aplaudida. Entretanto, prejudica a própria transmissão e em última instância a produção de conhecimento; e, por decorrência afeta a própria economia do País.

Diagnóstico parece tétrico e, se nada for feito, o prognóstico também o é. O que deveria ser feito? Obviamente, seguindo somente o diagnóstico dentro do aqui escrito, buscar mudar os fatores de desvalorização. O mais importante seria mudar a percepção do cidadão médio de que os alunos do ensino público não aprendem. Na realidade, para média da população a aprendizagem não tem nenhuma conotação que vá além da retórica dos meios de comunicação. Confundem-se resultado com aprendizagem. Para o cidadão médio tem que haver algum resultado. Para as classes mais pobres, não querendo quebrar as ilusões de colegas simpáticos ao progressismo sem autocrítica, resultado educacional é conseguir uma função cuja a renda atenda os ideais de consumo.

Num primeiro momento a escola e o professor deveriam buscar entregar o que o cidadão comum gostaria. Um egresso com capacidades e conhecimentos para gerar produtividade para si e para o País. E para isso, o conceito do professor como profissional e não mais como missionário, deveria ser o novo paradigma. Para ser professor haveria a necessidade de extenso e profundo conhecimento de sua área e em complemento não menor extensão em conhecimento e prática didática. A opinião deste que escreve é que para ser permitido um profissional lecionar em uma classe deveria ter a graduação na área e uma formação específica, stricto sensu seria o ideal. Um mestrado específico no lugar de matérias de licenciatura mescladas à formação geral. E claro, sine qua, um contracheque coerente com essa formação. Entretanto, seria pouco eficiente, se não houver uma mudança de mentalidade por parte dos mesmos professores e da comunidade escolar. A nova mentalidade seria ter planejamento, metas, objetivos com o único propósito formar pessoas com alto grau de conhecimento, capacidade de eficiência e eficácia.

4 – REFERÊNCIAS

LUIZ, Ademir. Educação não é missão “é profissão”. Revista Bula, 27 jun. 2009. Disponível em: https://acervo.revistabula.com/posts/colunistas/educacao-nao-e-missao-. Acesso em: 16 dez. 2015.

SAVIANI, D. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Rev. Bras. Educ., Rio de Janeiro, v. 12, n. 34, Abr. 2007.

VALENZA, C. Professor vai virar artigo de luxo: carreira docente não goza de popularidade entre estudantes do ensino médio. é um mau sinal—na causa e no efeito. Gazeta do Povo. Curitiba, 21 fev. 2010.