FREIRE E SAVIANI

Marcelo de Jesus da Mata –TAREFA – 03 – e-mail: 1

Adriano R. Mansanera – 2

1 – INTRODUÇÃO

Os textos, como será visto a seguir, propõem ideias diferentes para processo educativo. Um defende a volta dos princípios ditos “clássicos” de uma educação calcada no esforço individual disciplinado na obtenção dos saberes. Outro, vai por linha diversa: a liberdade. Mas, esta liberdade não é isenta de responsabilidade e supervisão, como visto em na atividade 2.

A composição está dividida em três seções sucintas. A primeira é esta superficial introdução, logo após um resumo de dois textos propostos para esta atividade e finalizando as considerações finais.

2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – Paulo Freire

Espera-se que uma sala de aulas estará aberta às perguntas, a curiosidade e as meditações dos alunos. Ensinar não é somente transferir conhecimento no final, é dar testemunha e vivê-lo. Assim, o discurso deve ser coerente com a teoria. É o pensar certo como dito anteriormente; e, deste modo, a dedução lógica: não há fórmulas. Entretanto, o fato de não haver fórmulas não elimina a necessidade do método rigoroso. O educador deve ter a consciência do “inacabado”. Nem o educador e, muito menos, o educando, estão plenos e acabados. O professor deve ser sempre crítico, não repetitivo e sempre aventurar-se, responsavelmente. A incompletude é inerente a existência. Existe em toda vida; no entanto, difere entre os animais e o ser humano. Este inventou um tipo específico de existência na qual grande nível de cultura se faz necessária para que ele intervenha na natureza e na linguagem. A consciência da incompletude vem do fato de existir a própria “consciência”. Deste processo, deriva a ideia de que não há um determinismo e o ser humano é o autor de suas ações e o sofredor das consequências.

A consciência de incompletude leva ao reconhecimento de que o ser humano é condicionado. O educador e educando são condicionados. Mas é possível vencer esse condicionamento e ir além. Dá condições de avaliar a conjuntura; e, esta parece ser sempre difícil. Mas, como a única constância é a mudança, com o tempo, o estado das coisas irão se transformar. No entanto, para que ocorra, deve haver uma conscientização (conhecimento crítico dos obstáculos). Assim, consciente da incompletude, sempre irá para um processo social de busca; pois, o conceito de completude gera responsabilidade. E esta, não é possível sem ética. Que no processo educativo, por exemplo, seria tolher a curiosidade natural e reforçar a memorização mecânica. Que não forma, simplesmente o torna domesticado.

Se a domesticação é repudiada, o respeito autonomia do educando deve ser o paradigma. Sua natureza, curiosidade e origem, demais não devem ser ironizadas. Não deve haver uma redução da dignidade do educando. E todos os educandos são importantes. Por esse motivo o educador deve estar atento para que a liberdade de alguns não reduza outros. Para isto, o educador deve investir-se de sua autoridade; no entanto, não ser autoritário e também não ser licencioso prejudicando sua capacidade. O diálogo entre educador e educando deve ser imperativo; e, prática e coerência do primeiro.

Para quê a relação entre educador e educando seja efetivo e eficaz o bom senso deve se fazer presente sempre na relação de ambos. O educador deve avaliar constantemente sua prática. Entender e analisar o aluno caso a caso; e como dito, fazer uso de sua autoridade sem ser autoritário ou licencioso. Entender que deve ser corresponsável aos resultados dos alunos. Sua fala seja sua prática e a prática a sua fala. O ideal seria buscar as condições para que os educandos participem ativamente na avaliação de si próprios. Resumindo, o educador antes de tudo deve dar o exemplo; pois, não importando sua característica deixa marcas nos educandos.

Outros focos muito importantes são a humildade, a luta em defesa dos direitos dos educadores e a consciência da realidade. A convivência com as diferenças é um imperativo do processo formativo. Desde cedo é importante incutir no educando a noção de que o respeito aos educadores é de suma importância. Salários e condições de trabalho, dignos. E mais, a dignidade da profissão do educador deve ser sempre defendida para que o trabalho docente não se torne um mero “bico”. Levando em conta que a necessidade de idoneidade e competência profissional são condições necessárias.

O educando deve movimentar-se com clareza para adquirir a capacidade de aprender a se adaptar, e mais adiante, ser capaz de mudar a realidade. Assim, a prática educativa não pode ser neutra. Nesse processo, a presença do educador pode ser auxiliadora ou instigadora, ou ainda, um misto de ambas. Frisando que o respeito é primordial; pois, quem quer mudar, muda; e, quem não quer, não muda. Em todo caso o educador não deve ser omitir.

A educação não é somente exercício de diálogos em um local lúgubre. A prática educativa deve ser feita com alegria e esperança; aliás, a esperança tem que fazer parte de todo o processo de educação e deve estar em pauta para todo educador. A esperança é o impacto natural da História, o estado natural do ser humano. Sem esperança há o aparecimento da imobilidade, ou seja, a desesperança é imobilizante. Deste modo, ser progressista e sinônimo de ser esperançoso e alegre; pois, é a esperança que impõe o avanço do ser humano e da sociedade.

Quando há esperança, há também a convicção de que toda mudança é possível, toda mudança para melhor, toda mudança em direção ao progresso. Não há lugar para o imobilismo, para o pragmatismo do “sempre foi assim ele não vai mudar”. Se há possibilidade de mudança, não há que ter imobilismo. Não deve-se aceitar, por mais desfavorável que seja o contexto, como inexorável. Tudo pode ser mudado para melhor desde que não haja neutralidade. Aliás, não existe neutralidade em uma atividade humana. Na área dos estudos da Educação (e outros também) aqui se fazer as seguintes perguntas, também feitas por Freire(2009): Em favor de que? Em favor de quem? Contra que? Contra quem? O ser humano tende a se adaptar até as injustiças sociais. Não deveria ser assim, mas acontece muito. É dever do educador suscitar a indignação via a conscientização da injustiça para levar a superação da mesma, que por si, necessita de uma mudança cruciante; porém, plenamente possível.

Em um ambiente de completa carência espera-se que não haja tanta consciência da realidade vivida. Como dito, o ser humano tende a se adaptar a realidade ao ponto de achá-la normal. Um educador neste ambiente deve promover a conscientização das injustiças sofridas pelos educandos para que entendam sua participação na estrutura, como entendê-la e modificá-la. O educador deve, também, dar consciência dos propagadores militantes e seu “quanto pior, melhor”, bem como, políticas públicas assistencialistas que anestesiam a consciência prejudicando a capacidade de mobilização para as mudanças.

É um imperativo conscientizar os educandos de que a miséria não tem origem na preguiça, na mestiçagem; e, nem mesmo na vontade punitiva de Deus. Deve dar condições para um entendimento; no entanto, sempre levando em consideração os conhecimentos prévios que apesar de “ingênuos”, com o tempo, mediante o diálogo transformarão os mesmos, superando-os. Eis o grande erro dos militantes políticos: querer implantar mudanças de cima para baixo. Do outro lado, há os “donos do poder” que buscam, todo tempo, inculcar concepção de que a situação, dos educandos (dominados), é responsabilidade somente deles. Assim, por exemplo, em um processo de alfabetização junto o letramento e o entendimento das palavras deve haver a conscientização do estado do educando. Em palavras fortes, exorcismo do opressor de dentro do oprimido.

Sem curiosidade nada até aqui exposto é possível. Tando do lado do educando quanto do lado do educador deve haver sempre uma curiosidade disciplinada. Disciplinada, mas não domesticada. Deve-se retomar a noção de bom senso que direciona para o equilíbrio da balança. O educador deve evitar ser autoritário ou paternalista. Usar sua autoridade para direcionar o educando, sem ser paternalista; entretanto, não ao ponto de tolher sua liberdade totalmente. Essa liberdade permite que o educando tenha a prática com curiosidade e autonomia no ambiente, com um nível de controle, sem que invada o espaço do outro. O educador, além de não ter sua curiosidade domesticada, deve buscar análise de qualquer processo ou estudo, sob diversos âmbitos, para ter mais o completo conhecimento sobre o assunto. Será uma influência forte no educando, estimulando o conhecimento e a reflexão crítica, havendo uma constante troca entre o educador e o educando, criando no último a proatividade. Antes de qualquer discussão técnica deve haver a curiosidade antes. Curiosidade que desenvolve a imaginação, intuição e a capacidade de conjeturar.

2.2 – Demerval Saviani

Há a pedagogia histórico-crítica em contraposição a liberal burguesa. Assim, o objetivo principal é demarcar a fronteira entre uma e outra, deixando claro que a pedagogia histórico-crítica comanda a análise. É necessário especificar a natureza dentro da área da Educação, ou melhor, a natureza e especificidade na Educação. Como trabalho não material, produção do saber; portanto, espiritual. Resumindo, como ser humano concebe mundo em todas as suas perspectivas.

Objetivo da educação é produzir, direta e intencionalmente, a humanidade. Converter o animal homo sapiens sapiens em um ser humano. De modo amplo, educar-se é assimilar os elementos culturais. Elementos esses, que promovam a distinção dos componentes do processo educativo, a saber: essencial do acidental, principal do secundário e fundamental do acessório. Para que esse processo ocorra de modo mais adequado possível, existe a necessidade de métodos e meios físicos: conteúdos; espaços; tempo; e, procedimentos. O indivíduo singular produzirá, segundo sua natureza, a humanidade historicamente construída. Assim, a educação não pode ser reduzida ao ensino somente; pois, é um processo muito mais amplo envolvendo a sociedade e a família.

Com relação a sociedade existe a escola que é a instituição responsável pela socialização do saber sistematizado e da cultura erudita. Ela tem o objetivo propiciar a aquisição dos instrumentos que dão condição de acesso ao saber elaborado (ciência). Deste modo, saber ler, dominar os números, entender a natureza e a sociedade são as competências óbvias a serem adquiridas dentro dos muros escolares. Entretanto, óbvio parece ser ocultado em detrimento de ações secundárias.

Aliás, existe um conjuminamento de atividades na escola atualmente, descaracterizando o que é curricular e o que é extracurricular. Que abre caminho para o abandono do foco do que realmente é necessário. O secundário é tomado como essencial e o essencial torna-se secundário. Assim, retornar ao essencial e fundamental é o objetivo. Entender claramente o que é curricular e o que é extracurricular; e, este último, estar vinculado e enriquecer o primeiro.

Nos termos da escola brasileira que no começo era mecânica, repetitiva e rigorosa. Com o advento da escola nova e uma visão romântica da educação, buscando inserir a criatividade, houve a colocação do clássico transmissão-assimilação fora das prioridades do processo educativo. Há a necessidade da superação do romantismo, sem deixar de lado a criatividade, e volta aos métodos clássicos: transmissão-assimilação. Esse método baseia-se na sistematização, estruturação e na dosagem adequada e em um tempo adequado do conteúdo necessário ao educando. A prática repetitiva-mecânica em sua utilidade para fixação dos saberes; pois, cria o hábito que, por sua vez, promove a irreversibilidade do conhecimento. Outro fator de superação do romantismo é a volta da cultura erudita, não em contraposição à cultura popular, mas como complemento e aprofundamento desta última.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

É flagrante diferença e concepção das ideias apresentadas nos dois textos avaliados. Ambos tratam da educação como processo de formação do ser humano. Entretanto, cessa aí o que há de comum em ambos. O texto de Freire (2009), busca apresentar a ideia de uma escola do compreende seu contexto tanto social-histórico-econômico quanto o meramente físico. É uma escola pronta a entender aluno em sua singularidade, fraquezas e forças, para depois ampará-lo e convencê-lo a compreender a si, seu entorno e sua realidade. Após essa compreensão buscar melhorá-la para si e os seus. Em contraposição, Saviani (2011) vê como romantismo essa ideia de uma Nova Escola, apesar de não abjurar a realidade do aluno e da escola em que está inserido, defende claramente que os métodos clássicos não deveriam ser abandonados.

Diferente de Saviani (2011), Freire (2009) busca a utopia da conscientização, não somente dos alunos, mas também dos professores, profissionais da escola e da família para transformar a realidade na escola. Ele considera o ensino repetitivo e rígido inadequado e chega chamá-lo “educação bancária”. Aparece a dicotomia: ensino clássico versus ensino libertador ou criativo. Como queira o leitor. O redator deste texto, postula o velho adagio: “nem tanto à terra, nem tanto ao mar”. Certo é que a conscientização do aluno quanto à responsabilidade de adquirir conhecimento para mudar a si, seu entorno e a sociedade, é extremamente necessária. Mas, em quais bases o aluno estará com a consciência crítica para atingir a autonomia? Não seria desejável um aluno com capacidade de entendimento de textos complexos e a manipulação numérica complexa, necessárias aos dias atuais para essa autonomia?

Uma escola que proporcione a capacidade de criatividade, criticidade precisa antes da bagagem cultural e conhecimento, sólidos de uma educação clássica(me recuso a chamar de bancária). Esta dará alicerce sólido devido ao hábito de aprendizagem constante proporcionado pela prática repetitiva-mecânica oriunda da transmissão-assimilação.

4 – REFERÊNCIAS

FREIRE, P. Ensinar não é transferir conhecimento. In: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2009.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações – 11. ed. rev.— Campinas, SP: Autores Associados, 2011.


  1. Aluno do primeiro período do curso de Ciências Exatas da UFPR—Campus Jandaia do Sul.↩︎

  2. Professor do Curso de Computação e Exatas da UFPR—Campus Jandaia do Sul.↩︎