Teoria das elites e sua diferença à teoria praxiológica de Pierre Bourdieu

Ao discursar sobre a teoria das elites, é importante dar ênfase a abordagens comuns ou complementares entre os três teóricos mais relevantes a construção desse conhecimento. Fundador da teoria, Gaetano Mosca chega á conclusão, com base na comparação de períodos históricos, que nenhuma sociedade existe sem liderança política, para Mosca uma parte minoritária da sociedade é dotada de competência necessária para liderar. Denominada elite, essa classe dirigente chega ao poder político culminando uma aristocracia, o que leva a Mosca a ter uma descrença na possibilidade de uma democracia de fato, em critica a vertente de Rousseau, esta seria então mais um aparato de controle de massas contribuindo para uma desigualdade simbólica.

Outro autor de importância à teoria das elites, Vilfredo Pareto, traz uma dimensão do radicalismo se aprofundando nos estudos da circulação das elites e os interligando a um equilíbrio social, logo, o povo deixado sem essa liderança poderia se autodestruir pela incapacidade de se organizar. Por conseguinte, a formação das elites se da pelo fator biológico, diferente de Mosca, Pareto afirma que o ser humano é desigual por natureza pela consequência de capacidades inatas superiores adquiridas por poucos. Pareto também se atenta para a decadência das elites, que envelhecem e perdem o controle quando se acomodam ao poder, relaxando nas políticas públicas o que aumenta as chances de revoluções pelos populares que visam uma nova elite.

Além de Mosca e Pareto, vale destacar outro autor que contribuiu com a formulação da teoria das elites, o sociólogo alemão Robert Michels. Tem como seu objeto de estudo o partido político e por ter atuado em um partido social democrata se decepciona em como as relações de poder dentro do modelo democrático, que até mesmo nos partidos de esquerda corroem os princípios de liberdade e igualdade. Diferente de Pareto e Mosca, o autor não considera que a existência da elite esta relacionada com equilíbrio social, aponta também que há hierarquia dentro das organizações e essas produzem minorias dirigentes, que por sua vez formam uma oligarquia partidária originária dos partidos que conseguem se estabelecer, assim os líderes se acomodam aos benefícios políticos e o poder se concentra ainda mais.

Posterior á primeira manifestação da teoria das elites, Pierre Bourdieu caminha no sentido oposto do estruturalismo das ciências sociais que se manifesta como uma perspectiva objetivista, que por sua vez, a época era dominante. Com uma linguagem de difícil compreensão, polemizou ao fazer um diálogo entre o objetivismo e a fenomenologia. Contudo, a proposta da sua sociologia não era dar fim ao objetivismo em favor ao subjetivismo, mas supera-lo e refletir através da mediação entre esses dois métodos sociológicos, pretendendo a partir dessa problemática teórica, promover a articulação dialética entre o ator social e a estrutura social, partindo desse princípio Bourdieu apresenta o conhecimento praxiológico.

Influenciada na sua maior parte por pensadores do conceito objetivista de hermenêutica estruturalista, a teoria das elites desenvolve a descrença da possibilidade de conscientização das massas, esses seriam reféns dos seus próprios desejos e sentimentos, posto que esse grupo não atua como agente social modificador das estruturas, mas que apenas replicam práticas estabelecidas pelas estruturas. Em contrapartida, a praxiologia de Bourdieu, como instrumento que possibilita entender a complexidade do mundo social, e também transforma-lo, coloca a ação do agente social no centro das ações humanas, permitindo estruturar uma estrutura, ou seja, confrontar a estrutura estruturada a partir da agencia de um habitus.

O conhecimento praxiológico defende que através do habitus o indivíduo ou a sociedade possa desenvolver práticas sociais, ele possibilita que isso ocorra por promover um modus operandi. Dessa forma, as práticas advindas de um determinado capital cultural de um agente social podem ser modificadas, por sua vez, transformar a estrutura estruturada desenvolvendo um novo habitus, o que traduz que a praxiologia entende que o agente social pode ser modificado e modificar o ambiente social por intermédio de suas práticas. Enquanto que, os teóricos das elites colocam como definição do ser a sua natureza corrompida, movida pelo desejo ou incapacitada de autocontrole, sem consciência da sua atuação no mundo social, a visão desses teóricos a praxiologia de Bourdieu seria uma utopia, assim como o conceito de democracia, liberdade e igualdade.

Referências

BOURDIEU, Pierre. Esboço de uma Teoria da Prática. A sociologia de Pierre Bourdieu: Editora Ática, 1994. <->DE HOLLANDA, Cristina B. Teoria das Elites. Nova biblioteca de ciências sociais: Editora Zahar