Como o estado ajuda a manter a Cracolândia
Nós sabemos que as Cracolândias não são só um ambiente social ou de saúde. Mas você já parou para pensar como é a relação estatal que faz desses lugares mini-sociedades infernais autossustentáveis? Na década de 1990, o crack começou a se espalhar pela periferia de São Paulo e em pouco tempo houve um “boom” de viciados, porém não foi uma boa ideia para os traficantes venderem essa droga muito próximo das suas operações. Eles viram que os viciados são muito mais agressivos e causavam muitos problemas como furtos, roubos e até assassinatos. Isso era um problema para as organizações criminosas e vendedores de drogas que mantinham suas bases de operações nessas comunidades, pois esses eventos chamavam atenção da polícia e atraíam a mídia, logo atrapalhava os “negócios”. Não é à toa que nessa época era muito comum ver chacinas e homicídios nas capas dos jornais devido à retaliação dos traficantes para conter as agressões. Existem lugares que até hoje são famosos por essas grandes chacinas e por serem considerados “cemitérios de criminosos”, como o bairro Capão Redondo (zona sul de São Paulo). E por conta das represálias de que os viciados eram vítimas e de algumas práticas socialistas de prefeitos nas periferias, muitos se espalharam para longe do centro da cidade.
Figura 1 - Cracolândia em São Paulo
O centro de São Paulo tem sido lugar de vários órgãos importantes do governo, como prefeitura, polícia, judiciário etc. e mesmo assim, o comércio de drogas na Cracolândia rola livremente e movimenta quase 100 milhões de reais anualmente. E como é que o chamado “tráfico de drogas” consegue permanecer ali no quintal do governo? Pois é. Mas é graças ao próprio estado que isso dá “certo”. Onde o estado toca, tudo apodrece.
Vamos lá. Como o estado contribui para manter a Cracolândia?
1: Um prato de sopa e um cachimbo de crack.
A concentração dos “equipamentos sociais”, em qualquer região que seja, atrai essas pessoas carentes a continuar por perto, porque lá, graças a esses projetos sociais, elas conseguem se alimentar e se vestir. Muitos desses equipamentos são operacionalizados por Organizações Não-Governamentais – mas que, estranhamente, recebem dinheiro de governos. Eles contribuem para que a pessoa viciada consiga sobreviver na rua. Assim, o seu propósito deixa de ser sobreviver e se manter, para ser então suprir o vício. E isso também ajuda o “demagogicamente combatido” traficante, que acaba tendo o freguês sempre presente demandando o que ele oferece. O resultado disso é que ele pode vender drogas para um número garantido de pessoas sem precisar expandir as distribuidoras para outras regiões.
2: O centro da cidade abandonado
O centro de São Paulo, apesar de tudo, ainda é muito valorizado e conta com a maior parte do transporte coletivo. Mas, hoje em dia, o local passou a sofrer de queda populacional. Com o tempo, além dessa piora nas características sociais mais comuns na região, com as modernizações da comunicação e do trabalho, várias empresas e moradores estão se mudando de lá procurando ambientes melhores. Um fator muito importante nisso tudo são as consequências de uma legislação que encarece o metro quadrado. Ela se intromete na propriedade privada e impede que os prédios que, por exemplo, estiverem em regiões de tombamento pela instituição de patrimônio histórico, sejam construídos, reformados e usados de forma livre, conforme a necessidade do mercado – que é o que importa para haver prosperidade. Além disso, tem a frequência alta de locais invadidos por ativistas de esquerda – eles chamam de ocupação, mas é invasão. Ponto. Lá temos edifícios como o da Rua Prestes Maia 911, que, embora tenha moradores honestos, recebeu muitos invasores, criminosos violentos, consumidores e vendedores de drogas, que se abrigam nele para se esconder. Como as reintegrações de posse ou até mesmo as operações policiais são difíceis, infelizmente o centro está sob o controle dos moradores de rua e de usuários de drogas, com a inconsequente colaboração de ONGs.
3: O escudo que protege traficantes
É o apoio dos esquerdistas, como a mídia tradicional, os socialite, etc., que gostam de fazer seus projetos sociais e caridades para mostrar que são preocupados com a humanidade. Mas eles mesmos adoram uma interferência “mais dura” de governantes, como operações policiais porque acham que assim se combatem os problemas sociais. A retórica protetora da mídia esquerdista também ajuda a manter essa conjuntura, ao invés de mitigar os problemas da violência que ela gera.
4: Corrupção
A corrupção talvez seja a cereja ou algum aditivo pouco importante nesse bolo todo. Ela não é a causa dos problemas, porque o sofrimento pelo aumento de pobreza começa quando se paga o imposto que incide no consumo. Depois que o dinheiro é tirado de nós, o que se faz com ele – se vai para lagosta, vinho, amante, jatinho ou pedalinho – não importa. Dinheiro que foi para o estado é dinheiro perdido. Sai governo e entra governo, e milhões ainda continuam a ser destinados ao combate de drogas e a abstrações como desigualdade e à criação de leis “justiçadoras”, que só fazem piorar a vida de todos. Em 2012, o governo federal destinou 700 milhões de reais para combater os problemas com comércio e vício em drogas, mas até o secretário nacional de Atenção à Saúde e responsável pelo tema “crack”, Helvécio Magalhães, no Ministério da Saúde do governo Dilma, admitiu que não sabia para onde o dinheiro ia.
Em 2017 foram destinados mais de 276 milhões de reais para a criação do programa “Redenção”. Além disso, outros milhões de reais são usados mensalmente para “manter” a Cracolândia, como limpeza urbana e segurança pública. Se todo esse dinheiro está ou não sendo usado nisso não podemos saber, mas o fato é que a Cracolândia tem consumido mais dinheiro do que os viciados consomem drogas. O SISTEMA todo é viciado em ser ruim para ser sustentado. Isso é análogo a qualquer serviço estatal em que o gestor repete que não está melhor porque falta verba. Assim, quanto mais ele piora, mais verba ele pede – e recebe.
Então, como combater a situação de manter Cracolândias por aí?
Problemas coletivos sempre são uma motivação boa para que os mal intencionados se aproveitem do dinheiro abundante retido pelo estado. A Cracolândia só existe porque o estado tenta controlar o arbítrio das pessoas. A própria existência da Cracolândia é a prova de que é impossível controlar as pessoas e, a qualquer tentativa, o resultado desejado tende ao oposto. As Cracolândias continuam a existir porque é o governo que “permite” isso. O estado não está interessado nos problemas que levam as pessoas ao vício em drogas: ele quer apenas que as engrenagens continuem girando, para mover a máquina da autoridade.
Em sociedade libertária poderia haver Cracolândias, mas não seria fácil para os comerciantes de drogas, porque eles teriam que se preocupar com a manutenção da vida dos viciados. Hoje quem faz isso são as assistências sociais, usando dinheiro público, com raras exceções. Mas sem a participação de um ente fomentador desse ambiente concentradamente ruim, o consumo de drogas estaria mais distribuído, e por isso, o que hoje chamado de tráfico, de ilegal, de proibido, seria apenas mais um comércio que teria que se sustentar sozinho. Não é lucrativo ter fregueses que tendem a perder a renda e ou a morrer por consumir o produto.
Terceirizar a moral para o estado intervir e decidir por nós, nunca ajuda. O libertarianismo não é uma questão de cunho utilitarista, para melhorar a vida. É um tema ético, para zelar pela liberdade. É por conta disso que proporciona que as pessoas percebam os incentivos corretos, para formar uma tendência muito maior de desenvolver soluções fundamentais para prosperar. Em sociedade livre há desincentivo natural ao uso de drogas, ao contrário do que muitos pensam. Cada um aprende por si mesmo, pelos erros e acertos ao longo do tempo, e o que fazer para melhorar. E é isso que o paternalismo estatal só faz piorar.