Esse trabalho é um projeto pessoal realizado a fim de exercitar habilidades em visualização de dados e jornalismo de dados usando R. Todas as figuras formadas utilizaram o pacote ggplot2 e plotly. Os gifs foram feitos através do pacote gganimate. Além de utilizar o ggplot2, os mapas foram criados a partir dos pacotes geobr, maps e sf (um agradecimento especial ao código fornecido por Gerson Júnior e Henrique Martins na iniciativa Open Code Community).
O objetivo principal para realização do trabalho não interferiu na qualidade de tratamento dos dados. Os dados foram extraídos utilizando-se a ferramenta PySUS, seguindo-se o tutorial descrito aqui, como reiterados nesse vídeo aqui. Essa mesma metodologia foi a empregada por Lovisi et al. (2009).
Foram baixados os dados de 2010 a 2019, contemplando 10 anos de uma série histórica. Os dados foram pré-processados em Python, podendo todos os procedimentos iniciais de pré-processamento serem verificados neste link. A manipulação de dados para realização das análises e criação das visualizações foram realizadas em R, conforme descrito nesse documento aqui.
O repositório no GitHub para esse trabalho está aqui. Todas as análises aqui descritas devem ser passíveis de replicação direta ao se executar o código presente no repositório.
Qualquer dúvida, comentário ou retificação podem ser enviadas para reisrgabriel@gmail.com ou em algum link aqui.
Inicia-se com uma observação geral sobre o fenômeno do suicídio nesses últimos 10 anos. De forma geral, a quantidade de suicídios aumentou todos os anos, indo de 9476 no ano de 2010 a 13554 no ano de 2019. Em média, foram registrados 11249 suicídios por ano nesses últimos 10 anos.
Uma possibilidade é que o aumento de casos de suicídio esteja seguindo o aumento populacional ao longo dos anos. Essa variável não foi controlada e caracteriza uma das principais limitações desse projeto, já que um aumento de suicídio em números brutos não significa aumento percentual de suicídios em relação à população brasileira.
Tendo isso em mente, prosseguimos com uma análise dos anos, buscando entender momentos de maior e menor aumento nos casos de suicídio.
Na figura, pode-se observar uma linha vertical que ultrapassa o ponto 4.08% - essa foi a média anual de aumento em números brutos de suicídio. Os anos de 2013, 2014, 2016 e 2018 apresentaram aumento em números brutos de suicídio menor do que a média nos últimos 10 anos. Nessa mesma figura, o ano de 2017 chama a atenção como o ano com maior aumento percentual no número bruto de casos de suicídio. Casos de suicídio registrados pelo DATASUS passaram de 11455 (em 2016) para 12521 em 2017 - um aumento de 9.31% no número bruto de casos registrados.
Será que existem meses que tendem a registrar maior número de casos de suicídio que outros? De modo geral, o mês de Dezembro contou com o maior número de registros de suicídio pelo DATASUS; Junho contou com o menor número de registros de suicídio pelo DATASUS.
Considerando o número total acima, podemos criar uma visualização demonstrando as alterações percentuais de suicídio em relação ao mês anterior. Realizando uma pequena transformação nos dados, percebemos que os meses de Fevereiro e Junho apresentaram quedas nos registros de suicídio no DATASUS. Ao mesmo tempo, os meses de Março e Dezembro apresentaram altas nos registros de suicídio se comparados aos seus meses antecedentes.
Será que essa variação de mês a mês permaneceu a mesma ao longo dos anos? Olhando com calma, ano a ano, percebe-se que a variação percentual em relação ao mês anterior é bastante oscilante.
Agosto de 2014, Março de 2018 e Março de 2019 apresentaram as maiores variações percentuais quando comparadas a seus meses anteriores. Fazendo uma rápida e superficial busca percebeu-se que acontecimentos políticos relevantes rondaram esse período:
Para o número de casos por mês e variação por mês, consulte essa tabela abaixo:
Em geral, os homens morrem mais de suicídios que as mulheres no Brasil. O número absoluto de suicídios registrados foi de 88394 para homens (78,58%) e 24075 para mulheres (21,40%).
Observando o gif abaixo, percebe-se que a relação entre suicídios de homens e mulheres se mostrou razoavelmente constante ao longo dos anos.
Importante: Na base de dados DATASUS, não foi encontrada uma variável que pudesse especificar se a pessoa que morreu de suicídio se identificava como cis ou como trans. Nesse sentido, há falta de informação qualificada sobre o suicídio de pessoas trans em uma das principais bases de dados pública em saúde do país. Em meio a essa dificuldade, a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) publicou que houve um aumento e 34% no número de suicídios de pessoas trans no Brasil em 2020, quando comparado a 2019 (link da reportagem). Tais dados, entretanto, foram baseados nos casos alcançados pela ANTRA. A falta de uma variável que codifique isso de forma acessível no DATASUS dificulta o mapeamento do suicídio de pessoas trans - que pode ser considerado um problema de saúde pública. Outra importante variável que não é considerada pelo banco de dados do DATASUS é a orientação sexual, importante atravessamento relacionado à saúde mental.
Em relação à raça/cor, de acordo com a classificação do IBGE:
Realizando o recorte por anos de educação formal, o grupo que teve entre 4 a 7 anos de educação foi o que mais morreu de suicídio, totalizando 32,35% dos casos. Esse grupo equivale às pessoas com ensino fundamental I completo ou ensino fundamental II incompleto. Em segundo lugar, as pessoas com ensino médio completo ou incompleto (8 a 11 anos de educação), totalizando 30,77% dos casos.
Apenas 11,76% dos casos foram registrados com pessoas que tinham ensino superior completo ou incompleto. Ainda, pessoas sem nenhum nível educacional registraram o menor índice de suicídios, com 6,16%. É importante refletir que o baixo percentual de suicídios para pessoas sem nenhum nível educacional talvez seja reflexo do baixo número populacional de brasileiros/as sem nenhum nível formal de educação.
Em relação ao estado civil:
Considerando-se os últimos 10 anos, as 20 ocupações com maior registro de suicídio foram as seguintes:
Desde 2010 até 2019, apenas 10 profissões/ocupações estão presentes no topo dos casos de suicídio.
Por ano, percebe-se uma evolução no número de casos registrados de suicídios por estudantes.
Para quem se interessar, aí vão os números brutos de suicídios registrados para cada uma dessas 10 profissões ao longo dos anos:
Em relação à classificação do local de ocorrência, percebe-se que
A maioria dos suicídios, em números brutos, ocorreram nas regiões Sul e Sudeste. Um problema de olhar para números brutos é ignorar números relativos a população do estado. Por isso, foi dividido o número de suicídios pelo número de habitantes de cada estado. Essa variável nova chamada “taxa de suicídios” foi utilizada para a criação do mapa abaixo.
Para entender os números relativos a cada estado, navegue com o mouse por cima do mapa abaixo.
Abaixo, confira o número bruto de suicídios registrados por estado.
Roraima registrou o menor número de suicídios (n = 402), seguido por Amapá (n = 429) e Acre (n = 508).
São Paulo é o estado com maior número de registros de suicídio (n = 21970), seguido por Minas Gerais (n = 13541) e Rio Grande do Sul (n = 11860).
Vamos lembrar que a média de suicídio por ano, nesses últimos 10 anos, foi de 11249 casos ao ano. Nesse sentido,
Proporcionalmente ao número de habitantes (retirado de IBGE):
A menor taxa de suicídios foi no Rio de Janeiro, contabilizando 0.034% de pessoas que morreram por suicídio considerando o último censo do IBGE.
Seguindo o Rio de Janeiro está o estado de Pará (0.035%), Bahia (0.037%), e Alagoas (0.037%).
Os estados com maior proporção de suicídios por número de habitantes foram Rio Grande do Sul (0.111%), Santa Catarina (0.102%) e Mato Grosso do Sul (0.093%).
Apesar de São Paulo possuir um maior número bruto de suicídios, quando controlado pelo número populacional do estado a taxa de suicídio de SP (0.059%) se aproxima da média dos outros estados (0.063%).
Caso queira saber quais os números brutos de suicídio por estado ao ano, aí vai uma nova tabela:
O DATASUS possui uma variável chamada de “ASSISTMED”. Essa variável codifica se o caso registrado no sistema recebeu assistência médica. Apesar de um alto número de casos sem registro nessa variável (casos missing = 41804), percebe-se que a maioria dos casos registrados de suicídio não receberam assistência médica (79,67%).
Além disso, apenas 152 casos foram registrados como tendo recebido cirurgia.
Esse trabalho buscou delinear características demográficas da população que morreu de suicídio entre os anos de 2010 e 2019 no Brasil.
De forma geral, observou-se que:
Esse trabalho buscou dar um panorama geral sobre os casos de suicídio no Brasil entre 2010 e 2019. Além disso, o código aberto do trabalho permite que qualquer pessoa com habilidades no R possa tentar replicar as análises aqui descritas. De toda a forma, ressalta-se que a utilização de figuras ou análises aqui descritas devem ser acompanhadas da referência a esse trabalho.
Caso tenha errado em algum ponto ou me equivocado na breve explicação de algo, adoraria receber sugestões de melhoria desse documento. Você pode falar comigo através dos links presentes em
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