22/01/2021
É um livro que - na época de lançamento(1999) - buscava chamar a atenção pública para problemas que requerem repensar o conceito de desenvolvimento econômico.
Fala sobre pobreza, subnutrição, marginalização social, desigualdade de gênero, etc. Em resumo, fala sobre a importância de combater a privação de liberdades.
Busca falar para além da provisão de recursos básicos, explora a ideia de tornar os indivíduos agentes da própria liberdade.
Foi escrito por Amartya Sen, premiado com o Nobel de Economia.
Amartya Kumar Sen é professor de economia e filosofia da cátedra Thomas W. Lamont na Universidade Harvard.
Serviu como presidente da Sociedade Econométrica, da Associação Econômica Americana em 1996, da Associação Econômica Indiana e da Associação Econômica Internacional.
Contribuiu com a criação do Índice de Desenvolvimento Humano, apesar de não concordar completamente com a ideia.
Tendo testemunhado a escassez de alimentos que atingiu o povo Bengali em 1943, que provocou a morte de quase 3 milhões de pessoas, Sen interessou-se em fazer reformas sociais para melhorar a condição em países subdesenvolvidos com as suas políticas socioeconômicas adaptáveis para abolir a escassez de alimentos.
Segundo Sen, a liberdade é central para o processo de desenvolvimento por duas razões:
Avaliatória: A avaliação do progresso tem de ser feita verificando-se primordialmente se houve aumento das liberdades das pessoas.
Eficáfica: A realização do desenvolvimento depende inteiramente da livre condição de agente das pessoas.
A segunda é obtida por meio de relações empíricas.
Economistas medem desigualdade em diferentes campos: renda, recursos ou liberdade.
Cada corrente do pensamento político e econômico terá a sua versão para tratar da questão da desigualdade. Amartya Sen tenta ilustrar diferentes abordagens possíveis por meio de uma Parábola, e se preocupa também em tratar a situação como uma questão de justiça social.
Na parábola, Annapurna - uma mulher abastada - quer que alguém cuide do jardim de sua casa. Ela precisa escolher entre três pessoas desempregadas que querem muito a vaga: Dinu, Bishanno e Rogini. Qualquer um dos três faria os serviço de maneira correta, portanto ela gostaria de saber para qual dos três seria mais acertado dar o serviço.
Embora todos sejam pobres, Dinu é o mais pobre de todos. Annapurna fica fortemente inclinada a dar o trabalho a ele, afinal, “O que é mais importante do que ajudar os mais pobres?”.
Contudo, Bishanno apobreceu há pouco tempo e se encontra psicologicamente mais deprimido devido aos seus revezes. Dinu e Rogini vivem há muito tempo na condição de pobreza e estão habituados a ela. Annapurna pensa em dar o trabalho a ele, pois:“Sem dúvida, eliminar a infelicidade deve ser a prioridade máxima!”.
Se Annapurna tivesse apenas a informação sobre Dinu, o escolheria sem pestanejar. Contudo, ela sabe da condição dos três, tem bons argumentos para escolher cada um e precisa tomar uma decisão. Os dois primeiros argumentos estão entre os mais discutidos e usados nas literaturas econômica e ética. A proposta de Amartya Sen é apresentar argumentos em defesa do terceiro.
O argumento em favor de Dinu concentra-se na ideia de renda e pobreza.
Já no caso de Bishanno, concentra-se na medida do prazer e da felicidade(argumento utilitarista clássico).
O argumento da qualidade de vida favorecendo Rogini centraliza-se nos tipos de vida que os três podem levar.
Amartya Sen critica algumas dessas correntes e vai em defesa da última:
Utilitarismo.
“Libertarianismo”.
Justiça Rawlsiana.
Desenvolvimento como liberdade.
No utilitarismo tradicional, a base informacional é o somatório das utilidades dos estados de coisas. Na forma benthamista, a utilidade de uma pessoa é representada por alguma medida do seu prazer ou felicidade.
Consequencialismo: todas as escolhas devem ser julgadas por suas consequências.
Welfarismo: Restringe juízos às utilidades, sem atentar diretamente para fruição ou violação de direitos.
Ranking pela soma: A soma das utilidades deve ser maximizada(sem levar em consideração o grau de desigualdade na distribuição das utilidades).
“Injustiça” seria uma perda agregada de utilidade em comparação com o que poderia ser obtido.
Sen dá crédito à abordagem e ética utilitarista(com ressalvas) nos seguintes pontos:
A importância de levar em consideração os resultados das disposições sociais ao julgá-las. Por exemplo, é fato que muitas disposições sociais, como a propriedade privada, são pleiteadas em razão dos atrativos de suas características contitutivas, sem jamais levar em consideração seus resultados consequentes. Geralmente as defesas à propriedade privada como uma liberdade essencial ou a sua abolição, vem acompanhadas de certo viés de confirmação ao pensar apenas nos aspectos positivos, sem olhar para as consequências.
Necessidade de atentar para o bem-estar das pessoas envolvidas ao julgar as disposições sociais e seus resultados.
As principais críticas do autor são feitas às seguintes limitações do utilitarismo:
Indiferença distributiva: o cálculo utilitarista tende a não levar em consideração desigualdades na distribuição da felicidade.
Descaso com direitos, liberdades e outras considerações desvinculadas da utilidade:a abordagem utilitarista não atribui a importância intrínseca a reivindicações de direitos e liberdades, eles são valorizados indiretamente e somente no grau em que influenciam as utilidades.
Adaptação e condicionamento mental: nem mesmo a visão do bem-estar é muito sólida, visto que ele pode ser influenciado por condicionamento mental e atitudes adaptativas. A medida do prazer ou desejo é maleável demais para ser um guia confiável para a privação e a desvantagem.
Defino aqui “Desenvolvimento como liberdade” como as ideias defendidas por Amartya Sen em seu livro, que fazem parte de uma corrente de pensamento da qual ele foi responsável por teorizar e desenvolver.
Sua base informacional é formada pelas liberdades, que não são apenas os fins primordiais do desenvolvimento, mas também os meios principais. É totalmente voltada para o agente.
Volta atenção maior para liberdades substantivas que as pessoas tem razão para prezar: liberdades políticas, oportunidades sociais, facilidades econômicas, garantias de transparência, segurança protetora).
“Injustiça” tem a ver com o conceito de igualdade e capacidades.
Capacidade é o que é permitido a um indivíduo ser e fazer dadas suas características, pessoas ao redor, recursos e serviços que ele pode contar, direitos que podem ser acessados, intituições, estruturas e organização legal da sociedade.
A pobreza é vista como privação de capacidades básicas em vez de meramente como baixo nível de renda. Essa abordagem valoriza ambos os tipos de resultados: objetivos e subjetivos.
Integra questões de igualdade e direitos humanos.
Reflete igualdade de renda, autonomia e processos.
Existem algumas críticas à abordagem das capacidades.
“É muito individualista, ignora grupos, comunidades, estruturas e instituições”: A abordagem é individualista por valorizar a liberdade de cada pessoa, mas de forma alguma ignora o que forma a vida dos indivíduos.
“Reduz o foco na redistribuição de renda”: A renda não é um fim em si mesma, apesar de ser um meio crucial. A abordagem se preocupa com um alcance maior de capacidades.
Construção de modelos econômicos para instituições internacionais ou locais, geralmente ligados a direitos humanos.
Uso de indicadores para formular políticas públicas que englobem as tais liberdades substantivas.
No meu ultimo trabalho mostrei como podem ser feitos experimentos para avaliar políticas públicas.
Para alguns, pode parecer que eles são desprovidos de “ideologia”.
Mas todo desenho de política pública precisa de uma boa base teórica, ou está fadado ao fracasso.
Tudo depende do contexto em que a base teórica está sendo utilizada.