O que as paradas do Spotify revelam sobre o consumo de música no primeiro semestre de 2020 no Brasil?
Qual foi o maior hit? E o rei (ou rainha) das paradas? Quais foram os estilos mais ouvidos? E como a audiência nas paradas foi impactada no início do isolamento social?
Juntei todas as listas de 200 músicas mais ouvidas por dia do Spotify no Brasil de primeiro de janeiro a 30 de junho de 2020. Usei o R, linguagem de análise estatística e produção de gráficos.
Os dados foram baixados do Spotify Charts.
Investiguei cinco perguntas abaixo usando estes dados. Você pode ver tudo em sequência abaixo ou clicar no menu à esquerda para ver cada uma.
1 - Qual foi o maior hit do Spotify Brasil no semestre?
2 - Quem foi o rei (ou rainha) do Spotify Brasil?
3 - Como as audições variaram durante a semana?
4 - Quais foram os estilos mais presentes nas paradas?
5 - Como as audições variaram nos meses?
“Liberdade provisória”, de Henrique e Juliano, foi a vencedora, sem dúvida. Mas vamos analisar cada quesito.
Entre as nove músicas que chegaram ao nº 1 no Brasil no primeiro semestre, “Liberdade provisória” passou 79 dos 182 dias no topo. Quase metade do período.
As outras músicas entre as nove que ficaram em primeiro por mais tempo foram a bachata “A gente fez amor”, de Gusttavo Lima (56 dias) e o funk de TikTok “Na raba toma tapão”, de Niack, com 30 dias no topo.
Também busquei a música com mais streams totais no período. “A gente fez amor” chegou até perto de “Liberdade provisória”.
Mas também se destacam, do 3º ao 5º lugar, faixas que não chegaram a liderar as paradas, mas foram bem na soma total de streams do semestre: “Graveto”, de Marília Mendonça; “Sentadão”, de Pedro Sampaio e “S de Saudade”, de Luíza & Maurílio.
Vale ressaltar que neste levantamento só contam audições no Brasil e feitas enquanto a faixa estava no Top 200 do Brasil.
…na tabela
Nesta tabela com o top 100, incluí streams totais, posição máxima e média diária de streams.
Esta resposta é bem mais difícil aqui. O problema é que o ranking do Spotify não categoriza bem músicas em parceria - ele indica apenas o artista principal de um “feat.”. Não tem nem na API do Spotify, com dados super detalhados sobre cada faixa.
Então, os dados deste item só consideram o artista principal de cada faixa.
Aqui os artistas que apareceram mais vezes no Top 200 do Brasil no semestre.
… na tabela
E a tabela com os 100 principais.
Aqui os artistas com maior soma de streams.
Vou reforçar: os dados só consideram o artista principal da faixa, não o “feat” completo. E também só contam os streams das músicas que entraram no top 200 no período.
… na tabela
E a tabela com os 100 principais.
Apesar da falha em categorizar os “feats”, o Spotify tem uma boa ferramenta automática de comparação: o índice de popularidade. A empresa não abre o algoritmo, mas diz calcular o índice pelas audições de cada faixa do artista, com maior peso para as mais recentes, e disponibiliza via API. Há um empate de sertanejos na primeira posição.
Como as audições recentes têm mais peso no índice, ele é legal para ver artistas em alta. Os que me supreenderam aqui foram Luisa Sonza e os Barões da Pisadinha, duo baiano já estourado no YouTube, plataforma mais popular, mas que parece crescer também no Spotify.
No gráfico acima, filtrei os artistas brasileiros. O índice de popularidade do Spotify é um número global, e não por país, como os outros dados da parada. A tabela geral, incluindo os gringos (que ganham de lavada nas audições totais, claro), está abaixo.
Como as paradas são tabeladas por dia, essa compilação é uma ótima chance de saber como a audição varia durante a o tempo. Como mudam os estilos durante a semana? Sertanejo e funk dominam, especialmente no fim de semana.
## Variação de nacionalidade
O brasileiro ouve muito mais música nacional do que estrangeira entre as 200 mais tocadas do Spotify. E, neste semestre, essa proporção foi ainda mais desigual no fim de semana, quando ele escolhe ainda mais hits locais.
Aqui estão os estilos mais ouvidos entre as faixas do Top 200 do Spotify no Brasil no primeiro semestre de 2020. Não esperava o rap estrangeiro e o brasileiro no top 6.
Aqui, como a audição dos 5 principais estilos no top 200 variou desde 2017. Em geral, pop estrangeiro caiu, enquanto funk e sertanejo subiram. Mas isso não é constante - no início de 2020, os movimentos parecem se inverter, com pop estrangeiro retomando um pouco de espaço.
Destaquei aqui o crescimento de dois gêneros bem menores, mas que tiveram destaques neste primeiro semestre - o gospel e o k-pop.
A análise dos dados do Spotify desde 2017 indica que há picos durante o verão. A audiência geral do top 200 sempre sobe mais perto de janeiro. Em geral, ela vem aumentando, com estes movimentos de onda na virada do ano. Vale relembrar, de novo, que é só a audiência do top 200, não o volume total do Spotify.
O primeiro semestre de 2020 seguiu esta tendência de forma exacerbada. Teve o maior pico durante o verão, chegando a quase 50 milhões de audições por dia entre as faixas do top 200.
Mas a queda no início da pandemia foi em proporção inédita, pela metade.
Analisando agora o gráfico só de 2020, vemos como o índice caiu em março, no início da quarentena.
É cedo para dizer se não é um movimento natural, que aconteceu nos anos anteriores, de descida no primeiro semestre. Até porque o volume voltou a se estabilizar e até subir. Vejamos a curva do próximo verão…