1 As empresas de utilities como as vacas leiteiras do mercado financeiro

De acordo com os melhores manuais de finanças, as utilities (empresas prestdoras de serviços públcos essenciais, tais como abastecimento de energia elétrica, gás e de água e saneamento) devem fazer parte da carteira de investimentos de todos aqueles que desejam proteção contra variações negativas extremas em suas posições, principalmente em momentos em que o cenário macroeconômico seja adverso. Como os servíços de infraestrutura que essas empresas prestam não podem ser facilmente dispensados, seus clientes continuariam mantendo o nível de consumo mesmo em momentos de perda de renda, conferindo a estas empresas um fluxo de caixa resiliente em momentos de crise. Por outro lado, como a atuação nestes setores exige um nível de investimento extremamente alto, empresas que atuam nesses setores são tratados pela literatua econômica como monopólios natuais. Para que estas empresas não abusem de suas posições de monopolistas, ou seja, não pratiquem uma política de preços e investimentos diferente daquela que maximizaria o bem-estar da sociedade, os monopolistas naturais deveriam atuar sob regulação econômica. A combinação destes dois fatores faria com que estas empresas tenham fluxo de caixa estável, o que a tornariam excelentes investimentos para aqueles que querem ou necessitam correr baixos riscos. Estes fluxos de caixa estáveis e mais previsíveis, deferiam estar refletidos no comportamento dos preços de suas ações. A pergunta que surgem, então, é: isto está sendo verificado na crise atual?

2 O Ibovespa

Antes de avaliar o comportamento das ações de utilities, cabe verificar o que aconteceu com o principal índice de mercado no Brasil. O gráfico abaixo apresenta a evolução do Ibovespa desde janeiro de 2015. O máximo da série, atingido em 23 de janeiro deste ano, quando o índice fechou a 1,210^{5}. Desde então o índice chegou a fechar em valores abaixo de 63 mil pontos, apresentando no fechamento de hoje uma desvalorização de 31,97% em relação ao máximo histórico.

Diante de tremenda queda, cabe perguntar: caso o investidor tivesse investido em empresas reguladas no Brasil, ele teria conseguido proteger o seu patrimônio? Esta análise será realizada observando o comportamento dos preços de ações na B3 de empresas reguladas dos setores de infrastrutura.

3 Empresas de saneamento na B3

Há três empresas de saneamento listada na B3: Sabesp, Sanepar e Copasa. Estas três empresa são companhias estaduais de saneamento básico (CESBs), maiores responsáveis pelo abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgoto nos estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais, respectivamente. A evolução dos preços de fechamento destas empresas é apresentada na Figura 3.1.

Figure 3.1: As empresas de saneamento na B3.

Como o preço das ações destas empresas é muito diferente, o que torna algumas comparações mais difíceis, decidiu-se usar a base 100 em 02/05/2015, conforme pode ser observado no gráfico ??.

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A Sabesb, Sanepar e Copasa fecharam o pregão de 20/05/2020 com um descontos de 40,85, 35,65 e 32,78, respectivamente, em relação aos seus preços máximos atingidos na série histórica. Em todos os três casos, os descontos são superiores ao desconto de 31,97 observado para o Ibovespa. Isto implica que, pelo menos para esta crise, as ações das empresas de saneamento não estão cumprindo o papel esperado de suavizadoras das perdas das carteiras. O que poderia ser a causa disto?

3.1 A produção normativa associada às empresas de saneamento

Diante de tal cenário, cabe perguntar se a produtção normativa produzida durante esta pandemia poderia explicar, pelo menos parcialmente, as perdas observadas por empresas destes setores. A hipóse é que decisões tomadas pelos órgãos reguladores ou pelos poderes executivo e legislativo estaduais poderia ter gerado alguma perda percebida ou alguma ‘incerteza jurídica’ que pudesse ajudar a explicar o comportamento inesperado das ações destas companhias.

4 Empresas do setor elétrico

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