A presente pesquisa faz parte de um projeto maior visando explorar condições psicossociais de Assistentes Sociais brasileiros. A pesquisa tem aprovação da Unifesp e financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), conforme processo nº 445443/2015-4.
As variáveis que formam os instrumentos utilizados foram apresentadas por média e desvio-padrão, enquanto os itens do questionário de saúde foram calculados por suas proporções. Para medir a consistência interna das escalas, o Coeficiente Alfa de Cronbach foi implementado. Análises correlacionais foram exploradas a partir do Coeficiente Produto-Momento de Pearson, enquanto modelos lineares para variáveis independentes categóricas (ANOVA) foram construídos para investigar os possíveis efeitos de fatores sociodemográficos nos resultados obtidos. As comparações pareadas tiveram seu valor de P ajustado pelo método de Bonferroni. Estipulou-se nível de significância de 0.05 para rejeição da hipótese nula nos Testes de hipótese. As análises foram realizadas no software R 3.5, com os pacotes tidyverse, psych e emmeans.
Pela quantidade baixa de missings e pela alta consistência interna (alpha padronizado = 0.92 na escala de Sentimentos e 0.95 na escala de Competências) nenhuma técnica de imputação foi realizada.
Em relação aos valores obtidos pela Escala de Afetos, no geral, os resultados foram baixos e nenhuma característica acessada pela escala de afetos teve valor médio igual ou superior à mediana da escala (4). Uma vez que valores baixos apontam para baixa magnitude/intensidade da presença do estímulo, é possível arguir que as AS da previdência não mostram insatisfação, insegurança ou outras características afetivas negativas em relação à atual experiência de trabalho. Esses resultados vão em direção similar aos encontrados em trabalhos anteriores (referência edvania e luis).
| item | conteudo | n | média | DP | cor item-total | alfa se deletado |
|---|---|---|---|---|---|---|
| 1 | insatisfacao | 175 | 3.5 | 1.7 | 0.73 | 0.91 |
| 2 | inseguranca | 173 | 3.2 | 1.8 | 0.67 | 0.92 |
| 3 | intranquilidade | 174 | 3.4 | 1.7 | 0.79 | 0.91 |
| 4 | impotencia | 175 | 3.8 | 1.7 | 0.60 | 0.92 |
| 5 | mal estar | 175 | 3.3 | 1.8 | 0.83 | 0.91 |
| 6 | desconfianca | 174 | 3.3 | 1.8 | 0.81 | 0.91 |
| 7 | incerteza | 172 | 3.3 | 1.8 | 0.69 | 0.92 |
| 8 | confusao | 171 | 3.0 | 2.0 | 0.68 | 0.92 |
| 9 | desesperanc | 172 | 3.3 | 1.9 | 0.69 | 0.92 |
| 10 | dificuldade | 171 | 3.4 | 1.7 | 0.60 | 0.92 |
De maneira similar, os resultados da Escala de Competências também foram baixos e inferiores à mediana. Dessa maneira, sugere-se que as AS também não vivenciam condições relacionadas à maldade, fracasso ou inultidade em seu ambiente de trabalho.
| item | conteudo | n | média | DP | cor item-total | alfa se deletado |
|---|---|---|---|---|---|---|
| 1 | insensibilidade | 169 | 3.0 | 1.8 | 0.68 | 0.95 |
| 2 | irracionalidade | 173 | 2.7 | 1.8 | 0.81 | 0.95 |
| 3 | incompetencia | 170 | 2.8 | 2.0 | 0.88 | 0.94 |
| 4 | imoralidade | 172 | 2.6 | 2.1 | 0.78 | 0.95 |
| 5 | maldade | 171 | 2.7 | 2.1 | 0.86 | 0.95 |
| 6 | fracasso | 169 | 2.7 | 1.8 | 0.86 | 0.95 |
| 7 | incapacidade | 169 | 2.8 | 1.9 | 0.80 | 0.95 |
| 8 | pessimismo | 171 | 3.3 | 1.9 | 0.66 | 0.95 |
| 9 | ineficacia | 172 | 3.1 | 1.8 | 0.81 | 0.95 |
| 10 | inutilidade | 173 | 2.8 | 1.9 | 0.84 | 0.95 |
Os gráficos a seguir apresentam tais resultados.
Em direção parcialmente oposta aos achados até o momento os sintomas relacionados a condições adversas de saúde foram frequentes. Por exemplo, os dados apontaram que 86% dos participantes relataram ter cansaço, enquanto 83% relataram algum tipo de ansiedade. Em outro sentido, relatos de alteração na voz ou de pressão foram pouco frequentes, sendo 17% e 19% respectivamente. É importante alertar que não é possível atribuir essas condições diretamente ao trabalho, dado que os resultados de ambas as escalas sugerem que as AS estão adaptadas em seu ambiente laboral.
| item | conteudo | n | Proporção |
|---|---|---|---|
| 8 | cansado | 175 | 0.86 |
| 6 | ansioso | 172 | 0.83 |
| 1 | nervosismo | 175 | 0.83 |
| 7 | tenso | 172 | 0.75 |
| 16 | esvaziamento | 174 | 0.73 |
| 5 | agitado | 174 | 0.67 |
| 3 | triste | 176 | 0.65 |
| 2 | insonia | 176 | 0.58 |
| 11 | dor de cabeça | 173 | 0.58 |
| 4 | medo | 173 | 0.54 |
| 13 | estômago | 175 | 0.49 |
| 15 | interesse | 176 | 0.45 |
| 9 | chora | 173 | 0.38 |
| 10 | tonturas | 176 | 0.27 |
| 12 | pressão | 175 | 0.19 |
| 14 | voz | 174 | 0.17 |
Uma vez realizadas análises com maior ênfase na estrutura dos instrumentos utilizados, análises correlacionais e testes de significâncias foram realizados para modelar os resultados previamente obtidos em função das variáveis sociodemográficas e contextuais pesquisados. Análises correlacionam permitem investigar o perfil de associação entre duas variáveis e medir tanto a força da associação, quanto a direção. Testes de significância permitem tomar decisões inferenciais sobre o quanto os resultados observados para uma amostra da população podem ser generalizados às outras pessoas.
A correlação entre os resultados de todas as escalas foi investigada e o resultado apontou para uma correlação de fraca à moderada, proporcional e significativa entre a Escala de Afetos e os sintomas de saúde (r = 0.28, p < 0.01) e entre a Escala de Competências e os sintomas de saúde (r = 0.3, p < 0.01). Já entre a Escala de Afetos e Escala de Competências, a correlação foi forte, proporcional e significativa (r = 0.79, p < 0.01), indicando que ambos os resultados tem mesmo direcionamento. O gráfico abaixo apresenta este resultado inicial. É importante mencionar que é necessário cautela na interpretação, uma vez que o relacionamento entre os sintomas de saúde e as escala padronizados não é linear.
Para investigar o possível efeito da carga horária trabalhada e da faixa etária da AS, modelos linares univariados foram construídos por uma ANOVA de uma via. Foi possível concluir que a Carga horária não é significativa nem nos resultados da Escala de Afetos (F(2, 160) = 0.82 p < 0.44), nem nos resultados obtidos pela Escala de Competências (F(2, 160) = 0.89, p = 0.41). A faixa etária, por sua vez, apesar de não ter efeito significativo na Escala de Competências (F(3, 170) = 0.95, p = 0.42), teve efeito significativo na Escala de Afetos (F(3, 170) = 3.2, p < 0.03). A comparação pareada permitiu concluir que as participantes entre 53-63 anos, quando comparados àquelas com 42-52 anos, apresentam menor valor médio (δ = -12.6, p = 0.04) no que diz respeito aos afetos.