De maneira geral, um teste de hipóteses sempre é composto pelos seguintes passos:
Um teste foi feito da seguinte maneira: 116 pessoas selecionadas aleatoriamente forneceram data, hora e local de nascimento.
Um astrólogo preparou um mapa astral para essas 116 pessoas, usando apenas os dados fornecidos acima.
Cada voluntário também preencheu um questionário: "California Personality Index".
Para um outro astrólogo, foram dados:
Hipótese: Usando o mapa astral de uma pessoa, a probabilidade de um astrólogo predizer corretamente qual dos 3 questionários está associado àquele mapa astral é igual a \(1/3\). Ou seja, os astrólogos apenas selecionam ao acaso um dos questionários.
Nesse caso, para saber se os astrólogos têm a capacidade de predizer a personalidade usando o mapa astral, usarÃamos as seguintes hipóteses:
\[ \begin{cases} H_0: p = 1/3 & \mbox{(hipótese nula)} \\ H_1: p > 1/3 & \mbox{(hipótese alternativa)} \end{cases} \]
No experimento com os 28 astrólogos, observar uma proporção alta de acertos pode ser uma evidência contra a hipótese de que \(p=1/3\).
\[ \begin{cases} H_0: p = 1/3 & \mbox{(hipótese nula)} \\ H_1: p > 1/3 & \mbox{(hipótese alternativa)} \end{cases} \]
No experimento dos astrólogos, \(H_0\): \(p=1/3\) representa a hipótese de que não há efeito, no sentido de que os astrólogos não têm uma capacidade maior de predizer a personalidade usando o mapa astral.
A hipótese alternativa, \(H_1\): \(p>1/3\), representa a hipótese de que há efeito, ou seja, os astrólogos têm uma capacidade de predizer a personalidade usando o mapa astral.
Em teste de hipóteses, mantém-se a favor de \(H_0\) a menos que os dados tragam grande evidência contra.
Lembre-se: A hipótese nula é conservadora!
EstatÃstica do teste: vimos que podemos usar uma estatÃstica para estimar um parâmetro populacional e que a estatÃstica do teste descreve quão longe a estimativa está do parâmetro populacional usado em \(H_0\).
Por exemplo, se \(H_0:\) \(p=1/3\), e se a proporção de acertos observada no experimento é \[\hat{p}=40/116=0.345,\] queremos uma estatÃstica que quantifique quão longe está \(\hat{p}=0.345\) de \(p=1/3\).
Valor-de-p: para interpretar uma estatÃstica do teste, vamos usar uma probabilidade para resumir a evidência contra \(H_0\). Esta probabilidade é o que chamamos de valor-de-p.
Conclusão: baseado no valor-de-p, decidir se rejeita ou não a hipótese nula. Lembrem-se que a conclusão é sempre em termos da hipótese nula: rejeitar ou não \(H_0\).
Mas quão pequeno deve ser o valor-de-p para ser considerado forte evidência contra \(H_0\)?
Geralmente, fixamos o nÃvel de significância do teste (\(\alpha\)), e usamos a seguinte regra. É comum usarmos \(\alpha=0.05\).
1. Suposições
2. Hipóteses
3. EstatÃstica do Teste
\[Z=\frac{\hat{p}-p_0}{\sqrt{\frac{p_0(1-p_0)}{n}}} \overset{H_0}{\sim}\mbox{Normal}(0,1)\]
No experimento dos astrólogos, dentre 116 mapas, 40 foram corretamente associados ao questionário de personalidade, ou seja, \[\hat{p}= 40/116=0.345\]
Então a estatÃstica do teste é dada por: \[z_{obs}=\frac{\hat{p}-p_0}{\sqrt{\frac{p_0(1-p_0)}{n}}}= \frac{0.345-1/3}{\sqrt{\frac{1/3(1-1/3)}{116}}}=0.27\]
A proporção amostral está a 0.27 erro-padrão de distância da proporção populacional segundo \(H_0\).
4. Valor-de-p
\(z_{obs}=0.27\) traz evidência contra \(H_0\) a favor de \(H_1\)?
Quão improvável é \(z_{obs}=0.27\) se a proporção de acertos dos astrólogos é de fato \(p=p_0=1/3\)?
Valor-de-p: probabilidade de que uma estatÃstica do teste assuma um valor igual ou mais extremo, assumindo que \(p=p_0=1/3\).
Mais extremo: neste caso, é um maior valor de \(z_{obs}\), pois equivale a um maior \(\hat{p}\), maior proporção amostral de acertos (astrólogos alegam que \(p>1/3\)).
Sendo \(Z\sim\mbox{Normal}(0,1)\), temos \[\mbox{valor-de-p} = P(Z>z_{obs})=P(Z>0.27)=0.3936\]
A área em azul representa o valor-de-p: probabilidade, assumindo que \(H_0\) é verdadeira, da proporção amostral assumir um valor igual ou mais extremo que o observado, \(\hat{p}_{obs}\).
5. Conclusão: O valor-de-p obtido no experimento foi 0.3936.
O valor não é tão pequeno.
Não encontramos evidências contra \(H_0\).
Não podemos concluir que astrólogos têm poderes preditivos especiais usando mapa-astral.
Detalhes da pesquisa podem ser encontrados no artigo da revista Nature: A double-blind test of Astrology.
Suponho que temos uma população e uma hipótese sobre a proporção \(p\) de indÃviduos com certa caracterÃstica.
Hipóteses:
\[ \begin{aligned} H_0: p = p_0 \quad \mbox{vs} \quad
H_1: & p \neq p_0 \mbox{ (bilateral)} \\
& p < p_0 \mbox{ (unilateral à esquerda)} \\
& p > p_0 \mbox{ (unilateral à direita)}
\end{aligned}
\]
EstatÃstica do Teste: Baseada na distribuição amostral de \(\hat p\), \[Z=\frac{\hat{p}-p_0}{\sqrt{\frac{p_0(1-p_0)}{n}}} \overset{H_0}{\sim} N(0,1)\]
Condição: \(np_0 ≥ 10\) e \(n(1−p_0) ≥ 10\) para aproximação normal.
valor-de-p
\(H_1: p \neq p_0\) (bilateral): valor-de-p=\(P(|Z| ≥|z_{obs}|)\)
\(H_1: p < p_0\) (unilateral à esquerda): valor-de-p=\(P(Z \leq z_{obs})\)
\(H_1: p > p_0\) (unilateral à direita): valor-de-p=\(P(Z \geq z_{obs})\)
Conclusão
Para um nÃvel de significância \(\alpha\):
Uma indústria farmacêutica diz que menos de 20% dos pacientes que estão usando um certo medicamento terão efeitos colaterais.
Realizou-se então um ensaio clÃnico com 400 pacientes e verificou-se que 68 pacientes apresentaram efeitos colaterais
Hipóteses: \(H_0: p = 0.20 \quad \mbox{vs} \quad H_1: p < 0.20\)
EstatÃstica do Teste: Da amostra temos que \(\hat p = 68/400 = 0.17\) \[z_{obs} = \frac{\hat p - p_0}{\sqrt{\frac{p_0(1-p_0)}{n}}} = \frac{0.17 - 0.20}{\sqrt{\frac{0.20(1-0.20)}{400}}} = -1.5\]
\[\mbox{valor-de-p} =P(Z \leq- 1.5) = 0.067\]
Conclusão: Para \(\alpha=0.05\), como o valor-de-p é maior que 0.05, não temos evidências nos dados para rejeitar a hipótese de que \(p=0.20\). Na verdade, a evidência está na direção que a indústria farmacêutica queria, mas não é o suficiente para rejeitar \(H_0\).
E se estivéssemos testando: \(H_0: p = 0.20 \quad \mbox{vs} \quad H_1: p \neq 0.20\)
\[\begin{aligned} \mbox{valor-de-p} &=P(|Z| \geq 1.5) = P(Z \leq -1.5) + P(Z \geq 1.5) \\ &= 2P(Z \leq -1.5) = 2 \times 0.067=0.134 \end{aligned} \]
Conclusão: Para \(\alpha=0.05\), como o valor-de-p é maior que 0.05, não temos evidências nos dados para rejeitar a hipótese de que \(p=0.20\).
Algumas pessoas afirmam que conseguem distinguir o sabor da coca-cola normal da coca zero.
Faremos então um teste para comprovar se a afirmação é verdadeira.
Experimento:
Suposições:
Hipóteses:
Evidência contra \(H_0\): Valores altos do número de acertos.
Hipóteses: \(H_0: p = 0.50 \quad \mbox{vs} \quad H_1: p > 0.50\)
Temos que \(T \sim Bin(20, p)\), onde \(T\) é o número de acertos.
A proporção amostral de acertos: \(\qquad \hat p = \frac{T}{20}= \frac{13}{20}=0.65\).
EstatÃstica do teste: Utilizando a aproximação pela Normal
\[z_{obs} = \frac{\hat p - p_0}{\sqrt{\frac{p_0(1-p_0)}{n}}} = \frac{0.65 - 0.5}{\sqrt{\frac{(0.50)(0.50)}{20}}} = 1.34\]
valor-de-p = \(P(Z \geq 1.34) = 0.0901\)
Conclusão: Fixando \(\alpha=0.05\), não rejeitamos a hipótese de que \(p=0.5\).
Hipóteses: \(H_0: p = 0.50 \quad \mbox{vs} \quad H_1: p > 0.50\)
Sabemos que \(T \overset{H_0}{\sim} \mbox{Binomial}(20, 0.5)\).
EstatÃstica do Teste: Podemos usar o número total de acertos \(T\) como estatÃstica do teste, pois conhecemos sua distribuição exata sob \(H_0\). Portanto,
\[t_{obs}=13\]
Valor-de-p: \(P(T\geq 13)=0.1316\)
Conclusão: Fixando \(\alpha=0.05\), não rejeitamos \(H_0\). Portanto, os dados não trazem evidência para acreditarmos que o aluno sabe diferenciar entre Coca-Cola zero e normal.
Slides produzidos pelos professores:
Samara Kiihl
Tatiana Benaglia
Benilton Carvalho