Análise Estatística Nutricional

Autor

Glauco Silva

Tabela 1: Características Descritivas da Amostra

Variável

N = 211

Idade (anos)

62,2 (±17,2)

Sexo

Masculino

10 (47,62%)

Feminino

11 (52,38%)

Pós cirurgia cardíaca

Sim

11 (52,38%)

Não

10 (47,62%)

Tempo de internação (dias)

47,2 (±48,4)

Peso usual (kg)

66,4 (±24,4)

Peso atual (kg)

59,1 (±16,1)

Altura (cm)

1,6 (±0,1)

IMC

22,8 (±5,8)

Desutrição segundo GLIM

Sim

19 (90,48%)

Não

2 (9,52%)

CF perda de peso

Sim

18 (85,71%)

Não

3 (14,29%)

CF CP reduzida

Sim

19 (90,48%)

Não

2 (9,52%)

CF IMC baixo

Sim

7 (33,33%)

Não

14 (66,67%)

CE ingestão reduzida

Sim

10 (47,62%)

Não

11 (52,38%)

CE inflamação

Sim

18 (85,71%)

Não

3 (14,29%)

Classificação segundo GLIM

Não

2 (9,52%)

Moderado

8 (38,10%)

Grave

11 (52,38%)

Perda ponderal

Sim

17 (80,95%)

Não

4 (19,05%)

Musculatura reduzida

Sim

17 (80,95%)

Não

4 (19,05%)

IMC reduzido

Sim

6 (28,57%)

Não

15 (71,43%)

Desnutrição no prontuário

Sim

2 (9,52%)

Não

19 (90,48%)

Perda percentual

12,6 (±7,5)

1Média (±Desvio Padrão); n (%)

  1. Perfil Demográfico e Clínico Geral

    Idade: A média de 62,2 anos (±17,2) indica uma população predominantemente idosa e madura, o que é consistente com pacientes de cirurgia cardíaca e maior risco nutricional.

    Equilíbrio de Gênero: A amostra é bem distribuída entre homens (47,6%) e mulheres (52,4%).

    Contexto Cirúrgico: Cerca de metade da amostra (52,4%) está no pós-operatório de cirurgia cardíaca.

    Tempo de Internação: A média é alta (47,2 dias), mas o desvio padrão de 48,4 sugere uma variabilidade enorme — há pacientes com internações curtas e outros com permanência muito prolongada, o que costuma estar associado a complicações e desnutrição.

  2. Indicadores Antropométricos

    Perda de Peso: Existe uma diferença clara entre o Peso Usual (66,4 kg) e o Peso Atual (59,1 kg). Isso representa uma perda de peso média de cerca de 12,6%, um valor clinicamente significativo e indicador de risco.

    IMC: A média de 22,8 kg/m² está dentro da faixa de normalidade, mas o desvio padrão (±5,8) e os dados de desnutrição mostram que o IMC isolado não está captando a gravidade do estado dos pacientes.

  3. Diagnóstico de Desnutrição (Critérios GLIM)

    Este é o ponto central da tabela. O consenso GLIM (Global Leadership Initiative on Malnutrition) é um padrão ouro atual para diagnóstico.

    Prevalência Altíssima: 90,48% (19 dos 21 pacientes) foram diagnosticados com desnutrição segundo o GLIM.

    Gravidade:

    52,38% apresentam desnutrição Grave.

    38,10% apresentam desnutrição Moderada.

    Critérios Fenotípicos (CF): A perda de peso (85,7%) e a redução de massa muscular/CP (90,5%) são os fatores mais prevalentes.

    Critérios Etiológicos (CE): A Inflamação está presente em 85,7% dos casos, o que é esperado em pacientes cirúrgicos ou com doenças crônicas agudizadas.

  4. A evidência de Maior Impacto: Subnotificação

    Um dado chama muito a atenção na comparação entre o diagnóstico técnico e o registro institucional:

    Desnutrição segundo GLIM: 90,48% (19 pacientes).

    Desnutrição no Prontuário: 9,52% (apenas 2 pacientes).

    Conclusão Clínica: Há uma discrepância severa entre a condição real do paciente e o que é formalmente registrado pela equipe de saúde no prontuário. Isso indica que a desnutrição pode estar sendo negligenciada ou subdiagnosticada na rotina hospitalar, apesar de quase todos os pacientes apresentarem critérios para o diagnóstico.

Tabela 2: Comparação do tempo de internação por critérios fenotípicos e etiológicos

Variáveis

Tempo de Internação (Média ± DP)

Valor p1

CF perda de peso

0,008

Sim

53,4 (±49,7)

Não

10,0 (±0,0)

CF redução de massa muscular

0,13

Sim

50,5 (±49,8)

Não

16,0 (±8,5)

CF IMC baixo

0,9

Sim

47,0 (±44,1)

Não

47,4 (±52,0)

CE ingestão reduzida

0,9

Sim

58,0 (±66,3)

Não

37,5 (±22,4)

CE inflamação

0,030

Sim

52,8 (±50,2)

Não

14,0 (±6,9)

1Teste: Teste t de Student para amostras independentes

  1. Fatores com Significância Estatística

    CF Perda de Peso (p=0,008): Esta é a evidência mais robusta da tabela. Pacientes que apresentaram perda de peso tiveram uma média de 53,4 dias de internação, comparados a apenas 10 dias naqueles que não perderam peso. A diferença é gritante (43,4 dias a mais).

    CE Inflamação (p=0,030): A presença de inflamação (comum em pacientes cirúrgicos e críticos) também elevou significativamente o tempo de permanência, com média de 52,8 dias contra 14 dias no grupo sem inflamação.

  2. Variáveis sem Significância Estatística

    Redução de Massa Muscular (p=0,13): Embora a média de internação seja bem maior para quem tem redução muscular (50,5 vs 16 dias), a variabilidade (Desvio Padrão) é muito alta, o que impede a afirmação estatística com este tamanho de amostra.

    IMC Baixo (p=0,9): As médias são praticamente idênticas (47,0 vs 47,4). Isso reforça que, nesta amostra específica, o IMC isolado não é um indicador de gravidade ou de tempo de internação.

    Ingestão Reduzida (p=0,9): Curiosamente, embora a média de dias seja maior (58 dias), o p-valor alto e o desvio padrão gigantesco (±66,3) indicam que os dados são muito heterogêneos nesse grupo.

  3. Observação Metodológica

    Alta Variabilidade (Desvio Padrão): Note que em quase todas as categorias de “Sim”, o Desvio Padrão (DP) é quase tão alto quanto a média (ex: 53,4±49,7). Isso indica que a amostra é composta por casos muito distintos: alguns pacientes com desnutrição recebem alta em pouco tempo, enquanto outros permanecem meses internados.

Tabela 3: Perda percentual de peso por pacientes pós cirugiados cardíacos

Variáveis

Perda percentual de peso (Média ± DP)

Valor p1

Pós cirurgia cardíaca

0,3

Sim

14,1 (±7,4)

Não

10,9 (±7,7)

1Teste: Teste t de Student para amostras independentes

  1. Descrição dos Dados e Médias

    Grupo Sim (Pós-cirurgia): Apresentou uma perda de peso média de 14,1% (±7,4).

    Grupo Não: Apresentou uma perda de peso média de 10,9% (±7,7).

    Diferença Numérica: Observa-se que, em termos absolutos, o grupo que passou por cirurgia perdeu 3,2 pontos percentuais a mais de peso do que o grupo que não passou.

  2. Análise da Significância Estatística

    Resultado Não Significante: Na estatística convencional, adotamos um nível de significância de α=0,05. Como 0,3>0,05, a diferença observada entre os grupos não é estatisticamente significante.

    Interpretação: Isso significa que a diferença de 3,2% entre as médias pode ser atribuída ao acaso. Não há evidências estatísticas suficientes para afirmar que a cirurgia cardíaca causa uma perda de peso maior do que a observada no outro grupo.

    Variabilidade: Note que o Desvio Padrão (DP) é bastante alto em relação à média em ambos os grupos. Isso indica que a perda de peso variou muito entre os indivíduos, o que contribui para a falta de significância estatística.