Abordagens Fisioterapêuticas na Bronquiolite Viral Aguda

Author

- Vitor Vallio / - Ulisses Vicente Pereira

1 Introdução

A bronquiolite viral aguda (BVA) é uma das principais causas de internação em lactentes e crianças pequenas, geralmente associada a vírus respiratórios como o vírus sincicial respiratório. Diante da alta frequência de casos e do impacto clínico da doença, a atuação da fisioterapia respiratória tornou-se um campo de grande interesse na prática clínica e na pesquisa.

A compreensão de como fisioterapeutas manejam a bronquiolite, quais técnicas utilizam, quais escalas de avaliação aplicam e quais percepções têm sobre eficácia e segurança das intervenções é fundamental para aprimorar protocolos assistenciais e alinhar a prática clínica às evidências científicas.

Este trabalho apresenta uma análise descritiva das respostas de fisioterapeutas a um questionário on-line sobre abordagem fisioterapêutica na bronquiolite viral aguda.

2 Objetivos

2.1 Objetivo primário

Compreender a atuação do fisioterapeuta no manejo da bronquiolite viral aguda em recém-nascidos e bebês, avaliando:

  • as principais técnicas fisioterapêuticas utilizadas;
  • como essas abordagens contribuem para melhora dos sintomas, redução da gravidade e tempo de recuperação;
  • aspectos de segurança e resultados clínicos percebidos pelos profissionais.

2.2 Objetivos secundários

  • Explorar a percepção dos fisioterapeutas quanto à eficácia da fisioterapia na redução de complicações respiratórias, esforço respiratório e obstrução brônquica;
  • Descrever o uso de recursos como cânula nasal, aspiração de vias aéreas e escalas clínicas;
  • Identificar desafios e limitações relatados na prática e na organização dos serviços de saúde, especialmente no contexto do SUS.

3 Metodologia

3.1 Desenho do estudo

Estudo observacional, de corte transversal, baseado em questionário on-line estruturado, aplicado a fisioterapeutas que atuam (ou já atuaram) com pacientes com bronquiolite viral aguda.

3.2 Recrutamento dos participantes

Os participantes foram convidados de forma remota, por meio de divulgação em redes profissionais e acadêmicas, incluindo grupos de fisioterapeutas e redes sociais. Utilizou-se estratégia de amostragem por conveniência e efeito “bola de neve” (snowball sampling), permitindo que fisioterapeutas que aceitaram participar compartilhassem o convite com colegas elegíveis.

A participação foi voluntária e condicionada à leitura e concordância com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que detalhou objetivos, riscos, benefícios e garantias de anonimato.

3.3 Instrumento de coleta de dados

O instrumento foi construído na plataforma Google Forms e incluía:

  • Dados sociodemográficos e profissionais (formação, tempo de experiência, local de atuação, especialização, atuação em pediatria, atendimento a bronquiolite);
  • Aspectos da prática clínica na bronquiolite (critérios de indicação da fisioterapia, técnicas utilizadas, frequência de reavaliação, uso de aspirador de vias aéreas superiores, uso de cânula nasal, escalas e ferramentas de avaliação);
  • Percepções sobre eficácia e desafios (prognóstico clínico com e sem fisioterapia, desafios de manejo e de organização dos serviços, avaliação do acesso no SUS).

As questões eram predominantemente de múltipla escolha, com algumas alternativas de resposta múltipla e questões abertas.

3.4 Aspectos éticos

Os dados foram coletados de forma anônima. Os registros foram exportados do Google Forms e armazenados em arquivo eletrônico protegido por senha. A manipulação das informações considerou as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei nº 13.709/2018), não sendo divulgados dados de identificação individual (nome, e-mail, telefone ou equivalente).

3.5 Plano de análise estatística

A análise estatística foi descritiva, adequada a um TCC de graduação e ao tamanho da amostra (n = 9), contemplando:

  • cálculo de frequências absolutas (n) e relativas (%) para variáveis categóricas, incluindo itens de múltipla resposta desmembrados em categorias individuais;
  • apresentação de resultados em tabelas (perfil dos participantes e condutas terapêuticas) com padronização visual por meio do pacote gt;
  • gráficos de barras horizontais para visualização das proporções, destacando as categorias mais citadas;
  • tabelas cruzadas exploratórias para ilustrar possíveis padrões entre variáveis (sem testes de hipótese formais).

4 Resultados

4.1 Caracterização dos fisioterapeutas

4.1.1 Formação e experiência

Dos 9 fisioterapeutas que responderam, observamos diversidade formativa e predominância de profissionais com experiência clínica consolidada.

glue(“Distribuição da formação dos fisioterapeutas (n = {n}).”)
Categoria n %
Fisioterapeuta 7 77,8%
Ensino superior completo (USJT) 1 11,1%
Fisioterapeuta cardiovascular 1 11,1%
Figure 1: Distribuição da formação dos fisioterapeutas.

4.1.2 Pós-graduação, pediatria e bronquiolite

Entre os participantes, 100,0% possuem pós-graduação, 66,7% atuam exclusivamente com pediatria e 88,9% atendem crianças com bronquiolite no momento.

Pós-graduação, atuação em pediatria e atendimento a bronquiolite.
Categoria n %
Possui pós-graduação?
Sim 9 100,0%
Atua exclusivamente com pediatria?
Sim 6 66,7%
Não 3 33,3%
Atende crianças com bronquiolite?
Sim 8 88,9%
Não 1 11,1%
Figure 2: Atuação exclusiva em pediatria e atendimento a crianças com bronquiolite.

4.1.3 Tipo de instituição

Tipo de instituição em que os fisioterapeutas atuam.
Categoria n %
Hospital 8 88,9%
Clínica 1 11,1%
Figure 3: Tipo de instituição de atuação (hospital, clínica, etc.).

4.2 Critérios de indicação e avaliação na bronquiolite

Critérios de indicação da fisioterapia e ferramentas de avaliação utilizadas.
Categoria n %
Critérios de indicação da fisioterapia
Nenhum critério específico — fisioterapia é indicada para todos os casos de bronquiolite 7 77,8%
Aumento da produção de secreção brônquica 2 22,2%
Escalas e ferramentas de avaliação
Escala de Wood-Downes modificada por Ferrés 4 44,4%
Avaliação da oxigenação (saturação periférica de oxigênio - SpO₂) + Análise da presença e quantidade de secreção 3 33,3%
Escala de Silverman-Andersen 2 22,2%
Figure 4: Escalas e ferramentas de avaliação mais citadas.

4.3 Técnicas utilizadas e reavaliação

Técnicas utilizadas no manejo da bronquiolite e frequência de reavaliação.
Categoria n %
Técnicas utilizadas
Técnicas de higiene brônquica 9 18,0%
Aspiração de vias aéreas superiores 8 16,0%
Técnicas de reexpansão pulmonar 8 16,0%
Oxigenoterapia 7 14,0%
ELTGOL 6 12,0%
Técnicas de desobstrução brônquica (AFE 6 12,0%
vibrocompressão toràcica) 6 12,0%
Frequência de reavaliação
A cada sessão 7 77,8%
Diariamente 2 22,2%
Figure 5: Principais técnicas fisioterapêuticas citadas no manejo da bronquiolite.

4.4 Uso de aspirador de vias aéreas e cânula nasal

Percepção sobre aspiração de vias aéreas superiores e uso de cânula nasal.
Categoria n %
Eficácia da aspiração
Eficaz apenas quando há acúmulo evidente de secreção que compromete a oxigenação. 9 100,0%
Uso e tipo de cânula nasal
Alto fluxo 7 87,5%
Baixo fluxo 1 12,5%
Figure 6: Uso e tipo de cânula nasal entre os fisioterapeutas.

4.5 Prognóstico e desafios percebidos

Prognóstico com fisioterapia, desafios e fatores associados ao aumento da bronquiolite.
Categoria n %
Prognóstico com/sem fisioterapia
Pacientes que não receberam tratamento fisioterapêutico têm maior risco de complicações. 5 55,6%
Pacientes que receberam tratamento fisioterapêutico apresentam melhora mais rápida dos sintomas. 3 33,3%
O tratamento fisioterapêutico reduz a duração da hospitalização. 1 11,1%
Principais desafios no tratamento
Todas as alternativas. 6 66,7%
Necessidade de acompanhamento contínuo e multidisciplinar. 2 22,2%
Falta de protocolos padronizados para o manejo da doença. 1 11,1%
Fatores associados ao aumento de casos
Todas as alternativas. 8 80,0%
Aumento da circulação de vírus respiratórios 1 10,0%
como o Vírus Sincicial Respiratório (VSR). 1 10,0%
Figure 7: Principais desafios relatados no tratamento fisioterapêutico da bronquiolite.
Figure 8: Fatores percebidos como responsáveis pelo aumento dos casos de bronquiolite.