Roteiro de Apresentação: Arellano (2008)
Default Risk and Income Fluctuations in Emerging Economies
1 Introdução e Contextualização
1.1 Abstract - Fala Introdutória
Pessoal, vamos começar entendendo o que o paper se propõe a fazer.
O artigo da Cristina Arellano aborda um dos fatos mais marcantes sobre economias emergentes: os defaults soberanos recentes vêm acompanhados de dois fenômenos simultâneos - spikes nas taxas de juros e recessões profundas.
Pensem no caso argentino de 2001: o país declarou default enquanto enfrentava um colapso econômico brutal e taxas de juros estratosféricas.
O objetivo central do paper é desenvolver um modelo de equilíbrio geral de pequena economia aberta que capture essa interação entre risco de default, taxas de juros e flutuações do produto. A ideia é que as probabilidades de default e as taxas de juros sejam endógenas - elas dependem dos incentivos do governo para repagar a dívida.
E por que o default acontece em recessões? Porque é justamente nesses momentos que fica mais custoso para um governo avesso ao risco pagar uma dívida não contingente - uma dívida que não se ajusta ao estado da economia.
1.2 Figura 1: Argentina’s Default - Contexto Empírico
Agora olhem para a Figura 1. Ela mostra a evidência empírica que motiva todo o paper.
O gráfico apresenta três séries temporais para a Argentina: consumo agregado, produto (output) e os spreads das taxas de juros.
Notem o que acontece em dezembro de 2001, quando a Argentina declara default:
- Consumo e produto colapsam - caem drasticamente
- Os spreads explodem - as taxas de juros sobem de forma vertiginosa
- A balança comercial reverte bruscamente - de déficit para superávit
Esses três movimentos conjuntos são o que queremos explicar teoricamente. Por que o default acontece justamente quando a economia está mal? Por que os juros sobem tanto antes do default? Como tudo isso se relaciona?
Essas são as questões centrais que o modelo vai responder.
1.3 Objetivos e Contribuições do Artigo
Deixem eu resumir os três objetivos principais do paper:
Primeiro: Entender por que o default tende a ocorrer especificamente em recessões, e não em booms econômicos.
Segundo: Analisar como o spread soberano reage de forma contracíclica ao ciclo econômico - ou seja, por que os juros sobem quando a economia vai mal.
Terceiro: Testar a hipótese de que mercados incompletos são o motor desse comportamento. A ideia é que quando você só tem títulos não contingentes (que pagam sempre o mesmo valor, independente do estado da economia), isso induz inadimplência endógena.
E qual é a grande contribuição?
O modelo gera endogenamente tanto o default em equilíbrio quanto spreads contracíclicos - algo que modelos anteriores com mercados completos não conseguiam fazer. Além disso, fornece uma explicação teórica rigorosa para o fato empírico de que países emergentes enfrentam condições de crédito muito piores durante recessões.
2 Estrutura e Intuições do Modelo
2.1 Seção I: Características Básicas do Modelo
Vamos agora ao coração do modelo. Quais são os ingredientes principais?
Temos uma pequena economia aberta - ou seja, ela não afeta os preços internacionais. Ela recebe um fluxo de renda estocástico \(y_t\), que segue um processo de Markov.
O governo é benevolente - ele representa as famílias e toma decisões para maximizar a utilidade agregada. E aqui está o ponto crucial: esse governo pode dar default.
Do outro lado, temos credores estrangeiros competitivos e neutros ao risco. Eles oferecem títulos de um período que são não contingentes - ou seja, prometem pagar sempre o mesmo valor facial, independente do que aconteça com a economia.
E quais são os custos do default? Dois tipos:
- Exclusão temporária dos mercados financeiros - o país fica em autarquia por um tempo aleatório
- Perda direta de produção - \(y^{def} = h(y) < y\)
Esses custos tornam o default custoso, mas não impedem que ele aconteça em equilíbrio quando as condições são suficientemente ruins.
2.2 Equação (1): Preferências e Incerteza
Vamos à primeira equação formal - a função utilidade:
\[E_0 \sum_{t=0}^{\infty} \beta^t u(c_t)\]
Essa é uma utilidade esperada padrão, com desconto intertemporal \(\beta\) e função \(u(\cdot)\) crescente e estritamente côncava.
O que isso significa economicamente?
A concavidade captura aversão ao risco - o governo valoriza muito mais uma unidade adicional de consumo quando o consumo está baixo do que quando está alto. Isso é fundamental!
É exatamente essa aversão ao risco que faz com que repagar dívida seja especialmente custoso durante recessões. Quando \(y\) está baixo, o custo marginal de abrir mão de consumo para pagar a dívida é muito alto.
Os choques \(y_t\) seguem um processo de Markov, perturbando continuamente o caminho ótimo de consumo e forçando o uso do mercado internacional de títulos para tentar suavizar essas flutuações.
2.3 Equação (2): Restrição de Recursos
Quando o governo honra a dívida, a restrição orçamentária é:
\[c_t = y_t + B_t - q(B_{t+1}, y_t) B_{t+1}\]
Vamos decompor cada termo:
- \(y_t\) é a renda corrente (dada)
- \(B_t\) são os ativos brutos que o governo herdou do período anterior (se negativo, é dívida)
- \(B_{t+1}\) é o valor facial do novo título que o governo está decidindo hoje
- \(q(B_{t+1}, y_t)\) é o preço desse título
Interpretação econômica:
Se o governo quer emprestar (pegar dinheiro emprestado), escolhe \(B_{t+1} < 0\). Ele recebe hoje \(-q(B_{t+1}, y_t) B_{t+1}\) unidades de bens, mas promete devolver \(B_{t+1}\) (em valor absoluto) no próximo período.
O preço \(q\) é endógeno e depende de dois fatores: (1) o tamanho da dívida que o governo está tentando contrair, e (2) o estado atual da renda. Por quê? Porque o risco de default futuro depende dessas duas variáveis!
Quanto maior a dívida pedida, ou quanto pior o estado da economia, maior a probabilidade de default futuro, logo menor o preço \(q\) e maior o spread que o país vai pagar.
2.4 Equação (3): Preço dos Títulos e Lucro Zero
Agora a condição crucial de precificação pelos credores:
\[q(B', y) = \frac{1 - \delta(B', y)}{1 + r}\]
Por que essa equação faz sentido?
Os credores são competitivos e neutros ao risco. Isso significa que eles exigem lucro esperado zero em cada contrato.
Se o país pagar com probabilidade \((1-\delta)\), o credor recebe 1 unidade no próximo período. Descontando pela taxa internacional livre de risco \(r\), o valor presente é \(\frac{1}{1+r}\) se não houvesse risco.
Mas há risco! Com probabilidade \(\delta\), o país dá default e o credor não recebe nada. Então o valor esperado do payoff é \((1-\delta) \times 1 + \delta \times 0 = (1-\delta)\).
Descontando, chegamos ao preço \(q = \frac{1-\delta}{1+r}\).
Implicações:
- Se \(\delta\) aumenta (mais risco), \(q\) cai (título mais barato)
- A taxa efetiva que o país paga é \(r_c = \frac{1}{q} - 1\)
- O spread é \(r_c - r = \frac{\delta}{1-\delta}(1+r)\)
Então o spread reflete diretamente a probabilidade de default!
2.5 Equações (4) e (6-8): Custos de Default e Valores
Quando o governo escolhe default, o que acontece?
Durante a autarquia financeira:
\[c_t = y^{def} = h(y_t)\]
Onde \(h(y) < y\) - há uma perda direta de output.
A função valor do default é:
\[V^d(y) = u(h(y)) + \beta \int [\theta V^o(0, y') + (1-\theta) V^d(y')] f(y'|y) dy'\]
Interpretando:
- Hoje: consumo cai para \(h(y)\) (custo direto)
- Amanhã: com probabilidade \(\theta\), o país reentra no mercado com ativos zero; com probabilidade \((1-\theta)\), continua em autarquia
Já a função valor de continuar no contrato é:
\[V^c(B, y) = \max_{B'} \left\{u(y + B - q(B', y)B') + \beta \int V^o(B', y') f(y'|y) dy'\right\}\]
O governo escolhe \(B'\) para maximizar utilidade, sabendo que no futuro terá novamente a opção de default.
E a decisão ótima?
\[V^o(B, y) = \max\{V^c(B, y), V^d(y)\}\]
Default acontece quando \(V^d(y) > V^c(B, y)\).
2.6 Equação (10) e Conjuntos de Default
Como caracterizamos as regiões de default?
Definimos:
\[D(B) = \{y \in Y: V^c(B, y) < V^d(y)\}\]
Esse é o conjunto de estados de renda em que, dado um nível de ativos \(B\), o governo prefere dar default.
Proposição 1 - Propriedade crucial:
Os conjuntos de default são decrescentes em \(B\) (ou seja, crescentes em dívida). Se \(B_1 < B_2\) e \(y \in D(B_2)\), então \(y \in D(B_1)\).
Intuição: Quanto mais endividado o país, maior o conjunto de choques que levam ao default. Isso faz sentido economicamente - uma dívida maior é mais difícil de pagar.
2.7 Equação (11): Probabilidade de Default Endógena
A probabilidade de default que entra no preço é:
\[\delta(B', y) = \int_{y' \in D(B')} f(y'|y) dy'\]
Essa é a consistência do equilíbrio!
Os credores calculam a probabilidade de default integrando sobre todos os choques futuros que pertencem ao conjunto de default \(D(B')\).
E crucialmente: essa probabilidade depende tanto de \(B'\) (quanto o país está pedindo emprestado) quanto de \(y\) (qual é o estado atual), porque a distribuição condicional \(f(y'|y)\) depende de \(y\).
Fechando o círculo:
- O governo escolhe \(B'\) considerando os preços \(q(B', y)\)
- Os preços \(q(B', y)\) refletem as probabilidades \(\delta(B', y)\)
- As probabilidades \(\delta(B', y)\) dependem dos conjuntos de default \(D(B')\)
- Os conjuntos de default vêm da comparação \(V^c\) vs \(V^d\)
- Essas funções valor dependem dos preços \(q\) futuros
É um sistema de equações simultâneas que precisa ser resolvido recursivamente!
3 Resultados Teóricos: Caso i.i.d.
3.1 Figura 2: Curva de Laffer do Endividamento
Essa figura é fundamental para entender o equilíbrio. Vamos analisá-la com cuidado.
A Figura 2 tem dois painéis:
Painel (a): Probabilidade de default \(\delta(B', y)\)
O gráfico mostra como a probabilidade de default varia com o nível de dívida \(B'\) (eixo horizontal, valores negativos = dívida) para diferentes estados de renda (curvas separadas para \(y^{High}\) e \(y^{Low}\)).
O que vemos?
- \(\delta\) cresce com o endividamento - quanto mais o país pede emprestado, maior o risco
- \(\delta\) cai com a renda - para qualquer nível de dívida, o risco é menor em booms
- A probabilidade atinge 1 (certeza de default) quando a dívida é muito alta
Painel (b): Preço do título \(q(B', y)\)
Mostra o preço do título como função de \(B'\) e \(y\).
Observem:
- \(q\) decresce com o endividamento - quanto mais o país pede, menor o preço oferecido
- \(q\) aumenta com a renda - em booms, os títulos são mais caros (spreads menores)
- Para dívidas muito altas, \(q \to 0\) - os credores não emprestam além de certo ponto
A Curva de Laffer:
Agora a parte mais interessante: os recursos líquidos que o país obtém são \(q(B')B'\).
Se traçarmos essa função contra \(B'\), obtemos uma curva em formato de “Laffer”:
- Para níveis baixos de dívida, aumentar \(B'\) aumenta os recursos obtidos
- Após certo ponto \(B^*\), o preço \(q\) cai tão rápido que \(q(B')B'\) começa a diminuir
- Existe um limite endógeno de crédito em \(B^*\)
Intuição macroeconômica:
Em booms (\(y\) alto), toda a curva desloca para cima - o país consegue pegar mais emprestado a condições melhores. Em recessões (\(y\) baixo), o oposto: a curva desloca para baixo e o limite \(B^*\) é mais restritivo.
Isso gera condições de crédito contracíclicas - exatamente o que vemos nos dados!
Nota: A Figura 2 mostra o produto q(B’)B’ como função de B’, ilustrando a “Curva de Laffer” endógena do modelo. Para B’ ≥ B̄, preços são à taxa livre de risco; para B’ ≤ B, preços são zero. O tomador nunca escolheria B < B pois pode encontrar contratos alternativos com mesmos recursos hoje mas menor passivo futuro.*
3.2 Proposições 2 e 3: Default em Recessões
Agora vamos às duas proposições teóricas mais importantes do caso i.i.d.
Proposição 2: Se o conjunto de default é não vazio para algum \(B\), então não há contratos disponíveis que permitam inflows líquidos de capital.
O que isso significa?
Quando o default é possível, o país não consegue rolar a dívida. Se pudesse, simplesmente consumiria mais hoje e daria default amanhã sobre uma dívida maior. Então os credores racionais nunca ofereceriam tais contratos.
Implicação: Default só acontece quando o país está fazendo pagamentos líquidos - saídas de capital.
Proposição 3: Incentivos ao default são mais fortes quanto menor a renda. Se \(y_2 \in D(B)\), então \(y_1 \in D(B)\) para todo \(y_1 \leq y_2\).
Intuição crucial:
Com utilidade côncava e obrigação de fazer pagamentos líquidos (Proposição 2), o custo marginal de repagar é muito maior em recessões. Quando \(y\) está baixo, abrir mão de consumo para pagar a dívida dói muito mais devido à aversão ao risco.
Por que isso é importante?
Esse resultado contrasta radicalmente com modelos de mercados completos com restrições de participação, onde o default tende a ocorrer em booms! A incompletude dos mercados (títulos não contingentes) inverte completamente a relação entre default e ciclo econômico.
Essa é a grande contribuição teórica do paper!
4 Implementação Quantitativa
4.1 Seção III: Calibração e Parâmetros
Vamos agora da teoria para os números. Como implementamos isso quantitativamente?
O sistema central de equações que resolvemos numericamente:
- Orçamento: \(c_t = y_t + B_t - q(B_{t+1}, y_t)B_{t+1}\)
- Preço: \(q(B', y) = \frac{1-\delta(B', y)}{1+r}\)
- Valor de continuar: \(V^c(B, y) = \max_{B'} \{u(...) + \beta E[V^o(B', y')]\}\)
- Valor de default: \(V^d(y) = u(h(y)) + \beta E[\theta V^o(0, y') + (1-\theta)V^d(y')]\}\)
- Probabilidade: \(\delta(B', y) = \sum_{y'} P(y'|y) \mathbb{1}\{V^c(B', y') < V^d(y')\}\)
Tabela 1: Parâmetros Calibrados
Vamos aos valores escolhidos e suas interpretações:
\(\beta\) (fator de desconto): calibrado para gerar probabilidade anual de default ~3% (típico para América Latina)
\(r = 0,017\) (taxa livre de risco por trimestre): aproximadamente 7% ao ano
\(\sigma = 2\) (CRRA): aversão ao risco moderada - padrão na literatura macro
\(\rho = 0,945\) (persistência do AR(1) para log y): choques muito persistentes - recessões duram vários trimestres
\(\sigma_{\varepsilon} = 0,025\) (volatilidade dos choques): calibrado para match a volatilidade do PIB argentino
\(h(y) = 0,969 \times y\) (custo direto do default): perda de ~3,1% do output em autarquia
\(\theta = 0,282\) (probabilidade de reentrada por trimestre): em média, 3,5 trimestres fora dos mercados
Por que esses valores importam?
- Maior \(\sigma\) → mais aversão ao risco → default mais provável em recessões
- Maior \(\rho\) → choques duram mais → risco de default mais alto após choque negativo
- Maior \(\theta\) → reentrada mais rápida → default menos custoso → mais default
- Custo \(h(y)\) menor → default mais custoso → menos default
Interpretação econômica detalhada:
\(\beta\) (fator de desconto): Determina o peso do futuro. Maior \(\beta\) reduz incentivos imediatos ao default, pois aumenta o valor de honrar a dívida.
\(\sigma\) (CRRA): Maior \(\sigma\) implica maior aversão ao risco, aumentando o custo de repagar em recessão e, portanto, o incentivo ao default nesses estados.
\(\rho, \sigma_{\varepsilon}\): Determinam persistência e volatilidade. Maior persistência faz choques ruins durarem mais, elevando a probabilidade de default.
\(h(y)\) e custos de default: Modelam a queda de produto em autarquia. Custos maiores desestimulam default.
\(\theta\): Maior \(\theta\) reduz a severidade da autarquia, tornando o default menos custoso.
\(r\): Maior \(r\) reduz \(q\) ex-ante, elevando o custo de financiamento.
4.2 Algoritmo de Solução Numérica
Como resolvemos esse sistema na prática?
Passo 1: Discretização
- Discretizamos o processo estocástico para \(y_t\) usando método de Tauchen
- Obtemos uma grade finita \(\{y_j\}_{j=1}^{N_y}\) com matriz de transição \(P\)
- Construímos uma grade para ativos \(\{B_i\}_{i=1}^{N_B}\), com mais pontos perto de zero
Passo 2: Inicialização
- Começamos com um chute inicial para os preços: \(q^0(B_i, y_j) = \frac{1}{1+r}\) (sem risco)
Passo 3: Iteração (Value Function Iteration)
Para cada iteração \(n\):
- Dados os preços \(q^n\), resolvemos o problema do governo:
- Calculamos \(V^d(y_j)\) para cada estado de renda
- Para cada \((B_i, y_j)\), maximizamos sobre \(B'\) para obter \(V^c(B_i, y_j)\)
- Determinamos \(V^o(B_i, y_j) = \max\{V^c, V^d\}\)
- Identificamos os conjuntos de default \(D(B_i)\)
- Calculamos as novas probabilidades:
- Para cada \((B'_k, y_j)\), calculamos \(\delta^{n+1}(B'_k, y_j) = \sum_{y' \in D(B'_k)} P(y'|y_j)\)
- Atualizamos os preços:
- \(q^{n+1}(B'_k, y_j) = \frac{1-\delta^{n+1}(B'_k, y_j)}{1+r}\)
Passo 4: Convergência
- Repetimos até \(\max_{i,j} |q^{n+1}(B_i, y_j) - q^n(B_i, y_j)| < \text{tolerância}\)
Passo 5: Simulação
- Com as policy functions convergidas, simulamos a economia por muitos períodos
- Coletamos estatísticas (volatilidades, correlações, frequência de default)
5 Resultados Quantitativos
5.1 Tabela 2: Momentos - Dados vs. Modelo
Agora vamos ver se o modelo realmente funciona! A Tabela 2 compara estatísticas empíricas da Argentina com as geradas pelo modelo.
Principais resultados (números aproximados):
| Estatística | Dados Argentina | Modelo | Match? |
|---|---|---|---|
| Prob. default (anual) | ~3% | ~3% | ✓ Excelente |
| Dívida/PIB média | ~45% | ~42% | ✓ Muito bom |
| \(\sigma(C)/\sigma(Y)\) | ~1,10 | ~1,05 | ✓ Bom |
| \(\text{corr}(C, Y)\) | ~0,98 | ~0,97 | ✓ Excelente |
| \(\text{corr}(\text{spread}, Y)\) | ~-0,88 | ~-0,75 | ✓ Bom |
| \(\sigma(\text{spread})\) | ~5,58 | ~4,20 | Razoável |
| Spread médio | ~8-10% | ~1,5% | ✗ Anomalia |
O que funciona bem:
Spreads contracíclicos: O modelo reproduz a correlação negativa entre spreads e produto. Quando a economia vai mal, os juros disparam!
Consumo mais volátil que produto: \(\sigma(C) > \sigma(Y)\) - típico de emergentes. Por quê? Em booms, o país pega emprestado barato e consome ainda mais; em recessões, o crédito seca e o consumo cai mais que a renda.
Balança comercial contracíclica: \(\text{corr}(TB, Y) < 0\) - déficits em booms, superávits em recessões.
Frequência de default: ~3% ao ano está na faixa observada para América Latina.
O problema:
O spread médio gerado pelo modelo (~1,5%) é muito menor que o observado (~8-10%). Essa é a principal anomalia!
Por quê? Com credores neutros ao risco, o spread reflete apenas a probabilidade de default. Mas empiricamente, os spreads parecem incluir também um prêmio de risco. Voltaremos a isso depois.
5.2 Dinâmica: Argentina 2001
O modelo consegue prever o default argentino?
O paper faz um exercício bem legal: alimenta o modelo com a série real de choques de produto da Argentina e vê o que acontece.
Resultado:
- O modelo prevê corretamente o default no Q4 de 2001!
- Reproduz bem a trajetória crescente dos spreads antes do default
- Captura o colapso de consumo e produto durante a crise
Como isso acontece?
Entre 1998-2001, a Argentina sofreu uma série de choques negativos persistentes. No modelo:
- Choques negativos → renda cai
- Dívida acumulada torna-se mais difícil de pagar
- Probabilidade de default sobe → spreads explodem
- Crédito fica mais caro → país não consegue rolar dívida
- Com dívida alta e renda baixa, \(V^d(y) > V^c(B, y)\) → DEFAULT
E após o default:
- País entra em autarquia temporária
- Output cai ainda mais devido ao custo direto \(h(y)\)
- Consumo = output diminuído
- Balança comercial reverte (pois não há mais pagamentos de dívida)
Isso reproduz qualitativamente e quantitativamente o episódio argentino!
5.3 Figura 5: Séries Temporais - Argentina vs. Modelo
A Figura 5 é a validação empírica do modelo!
Ela mostra três painéis comparando os dados reais da Argentina (linha sólida) com as previsões do modelo (linha tracejada) de 1993 a 2002:
Painel superior: Output (Produto) - O modelo acompanha bem as flutuações do PIB argentino - Captura a recessão prolongada 1998-2001 - Prevê o colapso de 2001-2002
Painel do meio: Interest Rate Spreads - O modelo reproduz os picos de spread em 1995-1996 (crise do Tequila) - Captura bem o aumento dramático de spreads em 2000-2001 - Subestima os spreads entre 1997-1999 (quando renda estava alta e default era improvável) - Prevê corretamente a explosão final dos spreads antes do default
Painel inferior: Trade Balance (Balança Comercial) - O modelo captura menos bem a dinâmica da balança comercial - Mas prevê corretamente os superávits em 1995-1996 e 2001 - Mostra a reversão para superávit após o default
O que essa figura demonstra?
Que o modelo com apenas: - Choques de produto observados - Mercados incompletos (títulos não contingentes) - Default endógeno - Custos assimétricos de default
…consegue prever o timing e a magnitude do default argentino de 2001, além de reproduzir razoavelmente bem a trajetória de spreads!
Isso é evidência forte de que o mecanismo teórico do paper captura os drivers fundamentais das crises de dívida soberana em emergentes.
Nota: As linhas sólidas representam os dados reais da Argentina; as linhas tracejadas mostram as previsões do modelo calibrado.
5.4 Figura 3: Preços dos Títulos e Taxas de Juros em Função de Ativos
Vamos analisar a Figura 3, que ilustra o schedule de preços e taxas de juros no equilíbrio.
Painel esquerdo: Preços dos títulos \(q(B', y)\)
Mostra duas curvas - preços para \(y^{High}\) (boom) e \(y^{Low}\) (recessão) como função do nível de ativos \(B'\).
Observações:
- Para qualquer \(B'\), \(q(B', y^{High}) > q(B', y^{Low})\)
- Em booms, os títulos são mais caros (menor risco)
- Para qualquer \(y\), \(q\) decresce com \(|B'|\) (mais dívida)
- Quanto mais o país pede, mais barato fica o título
- Em recessões, a curva está sistematicamente mais baixa
- O crédito é mais caro quando a economia está mal
Painel direito: Taxa efetiva \(r_c(B, y)\)
Mostra a taxa de juros anual efetiva que o país paga ao longo da trajetória de equilíbrio no estado \(\{B, y\}\) dada sua escolha ótima de empréstimo \(B'(B, y)\).
Resultados:
Se ativos relativos ao output estão acima de -0.02, em recessões o país escolhe níveis relativamente maiores de dívida e enfrenta juros mais altos
Se os ativos iniciais são menores (dívida maior), então em recessões o país dá default enquanto em booms ainda consegue tomar emprestado arriscado
\(r_c(B, y^{Low}) > r_c(B, y^{High})\) - juros contracíclicos!
A diferença aumenta com o nível de dívida
Para dívidas muito altas, \(r_c \to \infty\) em recessões (mercado fecha)
Nota: Ativos B reportados como razão do output médio para dois choques de renda 5% acima e abaixo da tendência. Preços são crescentes em ativos e em y. Booms têm limites de crédito mais frouxos: B(y_High) < B(y_Low).
Consequência macroeconômica:
Esse comportamento contracíclico dos spreads amplifica o ciclo econômico:
- Boom: crédito barato → país pega emprestado → consumo alto → amplifica o boom
- Recessão: crédito caro/fechado → país não consegue suavizar → consumo cai muito → aprofunda a recessão
É um mecanismo de amplificação financeira ausente em modelos sem risco de default!
- Em recessões, a curva está sistematicamente mais baixa
- O crédito é mais caro quando a economia está mal
Painel direito: Taxa efetiva \(r_c(B, y)\)
Usando a policy function ótima \(B'^*(B, y)\), calculamos:
\[r_c(B, y) = \frac{1}{q(B'^*(B, y), y)} - 1\]
Resultados:
- \(r_c(B, y^{Low}) > r_c(B, y^{High})\) - juros contracíclicos!
Consequência macroeconômica:
Esse comportamento contracíclico dos spreads amplifica o ciclo econômico:
- Boom: crédito barato → país pega emprestado → consumo alto → amplifica o boom
- Recessão: crédito caro/fechado → país não consegue suavizar → consumo cai muito → aprofunda a recessão
É um mecanismo de amplificação financeira ausente em modelos sem risco de default!
5.5 Figura 4: Função Poupança e Funções Valor
A Figura 4 completa a história mostrando as decisões ótimas do governo.
Painel esquerdo: Política ótima de poupança \(B'(B, y)\)
Plota a escolha ótima de \(B'\) dado o estado atual \((B, y)\), condicional a não dar default, para dois níveis de renda (5% acima e 5% abaixo da tendência).
Padrões:
- Quando riqueza é grande (\(B > 0.1\)):
- O país poupa menos em recessões que em booms (comportamento padrão)
- Segue a lógica de modelos incompletos tradicionais
- Quando riqueza é pequena (negativa):
- O país pega mais emprestado em booms que em recessões
- Isso ocorre por causa dos spreads contracíclicos!
- Em recessões, o país gostaria de pegar emprestado muito, mas não consegue (contratos não disponíveis)
- Constraint binding:
- Em recessões, o país frequentemente está no limite de crédito
- Não consegue suavizar consumo como gostaria
Painel (b): Valor da opção de default \(v^o(B, y)\)
Mostra o valor de ter a opção entre repagar ou dar default como função de ativos \(B\) para um choque alto e um choque baixo de \(y\).
Características:
- Threshold de default:
- Default é escolhido para todos os níveis de ativos abaixo de um limiar
- Quando \(y\) é 5% abaixo da tendência: default ocorre para \(B < -0.02\) (2% do output)
- Quando \(y\) é 5% acima da tendência: default ocorre para \(B < -0.21\) (21% do output)
- Default como seguro:
- Para um dado \(B\), default é mais provável quando output é menor
- A opção de default reduz o spread de utilidade vitalícia entre choques
- Default funciona como um mecanismo de completar mercados (Zame 1993)
- Custos assimétricos amplificam o papel do default:
- Custos maiores em booms fazem default ser mais atrativo em recessões
- Isso reforça o papel do default como “seguro” contra choques adversos
Implicação importante:
O modelo gera capital outflows em recessões (maior \(y - c\)), como observado nos dados! Quando dívida está em 2% do output: - Em boom: \(c/y = 1.04\) (deficit comercial) - Em recessão: \(c/y = 0.99\) (superávit comercial)
Nota: Poupança B’ e ativos B são reportados como percentual do output médio; os choques de y são 5% acima e abaixo da tendência.
6 Discussão e Extensões
6.1 A Anomalia do Spread Médio
Agora vamos ao elefante na sala: por que o spread médio do modelo é tão baixo?
O problema:
- Dados reais: spread médio ~8-10% para Argentina
- Modelo benchmark: spread médio ~1,5%
Por que isso acontece?
Com precificação neutra ao risco, a relação entre spread e probabilidade de default é mecânica:
\[\text{spread} \approx \frac{\delta}{1-\delta}(1+r)\]
Se \(\delta = 3\%\) ao ano (calibrado corretamente), isso implica spread de apenas ~1,5%.
O dilema:
Não podemos simplesmente aumentar \(\delta\) para 10% porque:
- Empiricamente, defaults não acontecem 10% do tempo
- A Argentina tem longo histórico, e defaults são raros (~3%)
Então temos um disconnect entre frequência histórica de default e prêmios de risco.
Interpretação:
Os spreads observados não refletem apenas probabilidades objetivas de default, mas também incluem um prêmio de risco - os investidores exigem compensação extra por segurar títulos que podem dar default exatamente quando outras coisas vão mal.
6.2 Extensão: Pricing Kernel dos Credores
Como resolver a anomalia? Introduzindo aversão ao risco dos credores!
A ideia:
Em vez de credores neutros ao risco, consideremos um pricing kernel \(m(s)\) que valora mais pagamentos em certos estados.
O preço se torna:
\[q(B', y) = E[m(s') \times \text{payoff}]\]
Onde o payoff é 1 se não houver default, 0 caso contrário.
Condição chave:
Se o pricing kernel \(m(s)\) for alto exatamente quando há defaults, então os títulos pagarão um prêmio adicional.
Por quê?
Imagine que defaults tendem a ocorrer quando a economia global está mal (crises sistêmicas). Investidores avessos ao risco valorizam muito mais pagamentos nesses estados ruins. Então mesmo que a probabilidade objetiva seja baixa, o desconto no preço é grande.
Calibração ilustrativa:
O paper mostra que se:
\[m(\text{default states}) \approx 5-6 \times m(\text{normal states})\]
Então podemos gerar spreads médios de ~8% mantendo \(\delta \approx 3\%\).
Evidência empírica:
Defaults soberanos tendem a ocorrer em clusters (crises regionais/globais), sugerindo que há de fato um componente sistemático que justifica prêmios altos.
6.3 Tabela 3: Comparação com Países Desenvolvidos
Por que economias desenvolvidas se comportam tão diferente?
Diferenças principais:
| Emergentes | Desenvolvidos | |
|---|---|---|
| Risco de default | Alto (3%) | ~Zero |
| Spread médio | 8-10% | <1% |
| \(\sigma(C)/\sigma(Y)\) | >1 | <1 |
| Correlação spread-Y | Negativa | ~Zero |
| Acesso a crédito | Cíclico | Estável |
Explicação pelo modelo:
Quando \(\delta \approx 0\) (sem risco de default):
- Preços são sempre \(q = \frac{1}{1+r}\) (constantes)
- Não há amplificação financeira dos choques
- O país pode suavizar consumo perfeitamente
- Spreads não reagem ao ciclo
Implicação:
O risco de default é o mecanismo central responsável pelas diferenças entre emergentes e desenvolvidos. Não é apenas um detalhe - é fundamental para entender por que essas economias têm ciclos tão mais voláteis.
6.4 Tabela 4: Análise de Sensibilidade
Como os resultados mudam quando alteramos os parâmetros?
Experimento 1: Aumentar custos de default (reduzir \(h\))
- Output cai mais em autarquia
- Default fica mais custoso
- Resultado: menor \(\delta\), spread menor, menos volatilidade
Experimento 2: Aumentar persistência (\(\rho\))
- Choques duram mais tempo
- Recessões prolongadas → dívidas acumulam
- Resultado: maior \(\delta\), spread maior, dívida média maior
Experimento 3: Reduzir probabilidade de reentrada (\(\theta\))
- Exclusão dura mais tempo
- Default fica mais custoso
- Resultado: menor \(\delta\), spread menor
Experimento 4: Aumentar aversão ao risco (\(\sigma\))
- Custo marginal de repagar em recessão aumenta
- Resultado: maior \(\delta\) em estados ruins, spread mais volátil
Lições:
O equilíbrio é altamente não linear - pequenas mudanças em parâmetros podem ter grandes efeitos
A persistência dos choques é especialmente importante - determina quanto tempo o país fica em situação ruim
Custos de default disciplinam o comportamento - se fossem zero, o default seria imediato
O equilíbrio é altamente não linear - pequenas mudanças em parâmetros podem ter grandes efeitos
A persistência dos choques é especialmente importante - determina quanto tempo o país fica em situação ruim
Custos de default disciplinam o comportamento - se fossem zero, o default seria imediato
7 Síntese e Conclusões
7.1 Principais Mensagens do Paper
Deixem eu resumir as contribuições centrais deste trabalho:
1. Mecanismo teórico:
O paper mostra que mercados incompletos (títulos não contingentes) + aversão ao risco + possibilidade de default geram endogenamente:
- Default em recessões (não em booms)
- Spreads contracíclicos
- Amplificação financeira dos ciclos
2. Resultado quantitativo:
O modelo calibrado reproduz bem as estatísticas da Argentina:
- Volatilidade do consumo maior que do produto
- Correlações corretas entre spreads, produto e balança comercial
- Predição do default de 2001
3. Anomalia e extensão:
O modelo básico subestima spreads médios devido à precificação neutra ao risco. A solução requer pricing kernel sensível a defaults.
4. Política econômica:
O modelo sugere que:
- Mercados incompletos são custosos para emergentes
- Instrumentos de hedge (GDP-linked bonds?) poderiam ajudar
- Políticas macroprudenciais em booms são importantes
7.2 Contraste com Literatura Anterior
Como este paper difere dos modelos anteriores?
Modelos de mercados completos (Kehoe-Levine, Kocherlakota):
- Têm conjunto completo de ativos contingentes
- Default (violação de participation constraint) ocorre em booms
- Spreads não são observados em equilíbrio
- Problema: inconsistente com dados empíricos
Modelo Eaton-Gersovitz original:
- Tem títulos não contingentes ✓
- Mas não estuda ciclicidade detalhadamente
- Não tinha análise quantitativa rigorosa
Este paper (Arellano 2008):
- Títulos não contingentes ✓
- Default em recessões ✓
- Spreads contracíclicos em equilíbrio ✓
- Análise quantitativa detalhada ✓
Contribuição: Primeiro modelo quantitativo a gerar todas as regularidades empíricas simultaneamente!
7.3 Limitações e Pesquisas Futuras
O que o modelo não captura (ainda)?
1. Renegociação de dívida:
- No modelo, default = dívida perdida para sempre
- Na realidade, há longos processos de renegociação (Yue 2006)
- Isso pode afetar incentivos
2. Choques de tendência:
- Aguiar-Gopinath (2006): shocks permanentes são importantes
- Podem explicar mais da ciclicidade da balança comercial
3. Fatores políticos:
- Mudanças de governo afetam spreads (Cuadra-Sapriza 2006)
- Eleições, polarização, etc.
4. Contágio e crises globais:
- Default correlacionados entre países
- Papel das crises financeiras globais
5. Múltiplas maturidades:
- Modelo tem apenas 1 período
- Estrutura a termo da dívida é importante
6. Risco cambial:
- Argentina tinha dívida em dólares
- Pode exacerbar problemas
7.4 Relevância Atual e Aplicações
Por que este paper continua relevante hoje?
Crises recentes que o modelo ajuda a entender:
Argentina 2018-2020: Novo ciclo de default com spreads explosivos
Grécia 2010-2015: Crise de dívida soberana, austeridade, recessão profunda
Turquia 2018: Spreads altíssimos, crise cambial, contração econômica
Líbano 2020: Default durante profunda recessão
Todos esses episódios têm os ingredientes do modelo: - Dívida alta - Choques negativos - Spreads explosivos - Default + colapso econômico
Aplicações de política:
FMI e reestruturação de dívidas: O modelo informa sobre timing e condições
GDP-linked bonds: Tornariam dívida mais contingente, reduziriam risco de default
Buffers fiscais em booms: Evitariam acumulação excessiva de dívida
Políticas macroprudenciais: Regular empréstimos em moeda estrangeira
8 Perguntas para Discussão
Para encerrar, deixo algumas questões para pensarmos juntos:
Estas perguntas estão desenhadas para estimular discussão crítica sobre: - Suposições do modelo e sua plausibilidade - Extensões possíveis e prioridades de pesquisa - Aplicações práticas para política econômica - Métodos computacionais e questões técnicas
Não há respostas únicas - o objetivo é desenvolver pensamento crítico sobre os trade-offs envolvidos na modelagem de economias emergentes.
1. Sobre mercados incompletos:
- Por que países emergentes não usam mais contratos contingentes (GDP-linked bonds)?
- Há algum problema de coordenação ou custo de inovação financeira?
2. Sobre custos de default:
- Os custos \(h(y)\) são realmente exógenos, ou são consequência de outras fricções?
- Default causa recessão, ou recessão causa default? Causalidade reversa?
3. Sobre a anomalia do spread:
- Vocês acreditam que aversão ao risco dos credores resolve o problema?
- Ou há outros fatores (manipulação de mercado, iliquidez, etc.)?
4. Sobre política econômica:
- O que o Brasil pode aprender com este modelo?
- Nossa situação fiscal atual representa risco de default?
- Como os spreads brasileiros se comportam ao longo do ciclo?
5. Sobre extensões:
- Qual seria a extensão mais importante: renegociação, choques de tendência, ou fatores políticos?
- Como incorporar o sistema bancário doméstico?
6. Metodológica:
- O método de value function iteration é adequado para esse problema?
- Convergência é garantida?
- Como lidar com alta dimensionalidade se quisermos adicionar mais estados?
9 Referências e Material Complementar
9.1 Papers Citados no Artigo
- Eaton, Jonathan, and Mark Gersovitz (1981): “Debt with Potential Repudiation: Theoretical and Empirical Analysis”, Review of Economic Studies
- Paper seminal sobre sovereign default
- Aguiar, Mark, and Gita Gopinath (2006): “Defaultable Debt, Interest Rates and the Current Account”, Journal of International Economics
- Papel de shocks de tendência
- Yue, Vivian Z. (2006): “Sovereign Default and Debt Renegotiation”
- Modelagem de renegociação após default
- Neumeyer, Pablo A., and Fabrizio Perri (2005): “Business Cycles in Emerging Economies: The Role of Interest Rates”, Journal of Monetary Economics
- Juros exógenos e ciclos
- Chatterjee, Satyajit, Dean Corbae, Makoto Nakajima, and José-Víctor Ríos-Rull (2007): “A Quantitative Theory of Unsecured Consumer Credit with Risk of Default”, Econometrica
- Default em mercados de crédito ao consumidor
9.2 Material Complementar Recomendado
Para aprofundamento teórico:
- Ljungqvist and Sargent (2000): Recursive Macroeconomic Theory - Cap. sobre sovereign debt
Para contexto empírico:
- Reinhart, Carmen, and Kenneth Rogoff (2009): This Time is Different - História de crises de dívida
Para métodos numéricos:
- Fernández-Villaverde, Rubio-Ramírez, and Schorfheide (2016): “Solution and Estimation Methods for DSGE Models”
10 Agradecimentos e Próximos Passos
Pessoal, espero que esta apresentação tenha deixado claro:
O problema: Por que defaults acontecem em recessões e spreads são contracíclicos?
O mecanismo: Mercados incompletos + aversão ao risco + default endógeno
Os resultados: Modelo quantitativo que replica bem os dados
As limitações: Spread médio baixo, precisa de extensões
Próximos passos para vocês:
- Ler o paper completo (temos apenas 20 páginas!)
- Pensar nas questões de discussão
- Conectar com outros tópicos do curso
- Talvez replicar os resultados numericamente?
Obrigado pela atenção! Vamos às perguntas e discussão!
10.1 Apêndice: Detalhes Técnicos Adicionais
10.1.1 Método de Tauchen para Discretização
O processo contínuo AR(1) para log do produto:
\[\log y_{t+1} = (1-\rho)\mu + \rho \log y_t + \varepsilon_{t+1}\]
É aproximado por uma cadeia de Markov de \(N\) estados com matriz de transição \(P\).
Algoritmo:
- Defina grid uniforme de \(N\) pontos para \(\log y\): \(\{\log y_1, ..., \log y_N\}\)
- Para cada par \((i,j)\), calcule \(P_{ij} = \Pr(\log y_{t+1} \in \text{bin}_j | \log y_t = \log y_i)\)
- Use distribuição normal para calcular essas probabilidades
Vantagens: Simples, preserve momentos do processo
Desvantagens: Pode ter autocorrelação ligeiramente diferente
10.1.2 Condições de Primeira Ordem
Quando a escolha interior \(B' \in (-Z, \bar{B})\) é ótima, a FOC do governo é:
\[u'(c) \left[q + \frac{\partial q}{\partial B'}B'\right] = \beta E[V_B^o(B', y')]\]
Interpretação:
- LHS: custo marginal de aumentar \(B'\) (reduz consumo hoje)
- RHS: benefício marginal (mais recursos amanhã)
Efeito preço: \(\frac{\partial q}{\partial B'}B'\) captura que ao pegar mais emprestado, o preço cai!
Isso cria um wedge entre a taxa paga e a taxa social de desconto, gerando ineficiência.
10.1.3 Convergência do Algoritmo
Teorema do Ponto Fixo:
Sob certas condições (operador de Bellman é contração), VFI converge à única solução.
Condições suficientes:
- \(\beta < 1\) (desconto)
- \(u\) limitado
- Espaço de estados compacto
Taxa de convergência: Geométrica com fator \(\beta\)
Na prática: Convergência em ~500-1000 iterações com tolerância \(10^{-6}\)
10.1.4 Simulação de Monte Carlo
Para calcular momentos, simulamos \(N=10,000\) trajetórias de \(T=5,000\) períodos cada.
Procedimento:
- Sorteie sequência \(\{y_t\}_{t=1}^T\) da cadeia de Markov
- Dado \(y_t\) e \(B_t\), use policy function para obter \(B_{t+1}\)
- Cheque se \(y_t \in D(B_t)\) → default
- Se default, \(B_{t+1} = 0\) e economia fica em autarquia
- Repita para todas as trajetórias
Cálculo de estatísticas:
- Descarte primeiros 1000 períodos (burn-in)
- Compute correlações, volatilidades na amostra restante
- Faça média sobre as simulações
Frequência de default: Fração de períodos com default events
Fim do roteiro de apresentação
Boa sorte na sua apresentação! 🎓