| Variáveis Macro | Unidade | Lula I & II | Dilma I & II | Temer & Bolsonaro | Lula III | Média |
|---|---|---|---|---|---|---|
| Resultado Primário | %PIB - Média | 3.28 | 0.32 | -0.70 | -0.96 | 0.75 |
| Crescimento do PIB Real | Média | 4.61 | 0.40 | 1.91 | 2.60 | 2.41 |
| Deflator do PIB | Média | 8.49 | 7.92 | 5.16 | 4.78 | 6.91 |
| Índice de Preços ao Consumidor | Média | 6.84 | 7.06 | 5.03 | 4.42 | 6.06 |
| Taxa de Juros Nominal | Média | 15.95 | 11.23 | 8.73 | 12.92 | 12.48 |
| Dívida Bruta | %PIB - Alteração | -22.15 | 18.57 | -2.04 | 10.58 | |
| Taxa de Juros Real (IPCA) | Média | 9.11 | 4.17 | 3.70 | 7.78 | 6.28 |
Trajetórias Fiscais do Brasil: Cenários para 2027-2034
Análise de cenários pós-eleições 2026
Objetivo do Trabalho
Este relatório apresenta uma análise abrangente das possíveis trajetórias da dívida pública brasileira no período 2027-2034, considerando diferentes cenários políticos e econômicos após as eleições de 2026.
Introdução
A trajetória macroeconômica e fiscal do Brasil nas últimas duas décadas evidencia mudanças relevantes na condução da política econômica e nas condições de crescimento. Durante os dois primeiros mandatos de Lula (2003–2010), o país combinou forte expansão do PIB, de cerca de 4,6% ao ano, com superávits primários robustos próximos a 3,3% do PIB. Esse período foi marcado por um ambiente externo favorável, aumento dos termos de troca e disciplina fiscal relativa, o que permitiu reduzir a dívida bruta em mais de 20 pontos percentuais do PIB, mesmo com juros reais elevados.
Nos governos Dilma Rousseff (2011–2016), o cenário se inverteu. A estratégia de estímulo via gasto público, desonerações e crédito direcionado levou à deterioração das contas fiscais e à perda de confiança. O superávit primário praticamente desapareceu, o PIB cresceu apenas 0,4% ao ano em média e a dívida pública avançou mais de 18 pontos percentuais do PIB. A inflação se manteve acima de 7%, refletindo o desequilíbrio macroeconômico e o esgotamento do modelo de crescimento baseado em expansão fiscal.
Durante os governos Temer e Bolsonaro (2016–2022), houve tentativa de reconstrução do arcabouço fiscal, com destaque para a aprovação do teto de gastos e da reforma trabalhista. Ainda assim, o resultado primário permaneceu negativo (-0,7% do PIB) e o crescimento econômico modesto, em torno de 1,9% ao ano. Apesar da melhora relativa após a pandemia e de alguma estabilização da dívida, o ajuste fiscal foi limitado pela rigidez das despesas obrigatórias e pelo baixo investimento público.
No início do terceiro mandato de Lula (2023–2026), o crescimento voltou a acelerar moderadamente (2,6%), acompanhado de inflação mais baixa, mas o quadro fiscal segue pressionado. O déficit primário médio gira em torno de 1% do PIB e a dívida bruta avança mais de 11 pontos percentuais no período, em meio a juros reais ainda elevados e expansão das despesas sociais. A combinação de crescimento mediano e desequilíbrio fiscal reforça a necessidade de uma consolidação mais crível a partir de 2027.
De forma geral, o histórico recente mostra um ciclo de consolidação com crescimento (Lula I e II), seguido de expansão fiscal e perda de equilíbrio (Dilma), ajuste parcial e baixo dinamismo (Temer e Bolsonaro) e reexpansão das despesas (Lula III). Esse contexto oferece o pano de fundo para as projeções apresentadas neste relatório sobre a trajetória da dívida pública e os riscos fiscais do período 2027–2034.
Variáveis Macroeconômicas por Governo
Nota: Médias calculadas excluindo anos de crise (2008-2009, 2020-2021). Para a variável “Dívida Bruta”, foi calculada a alteração entre o primeiro e último ano de cada governo.
Cenário Fiscal Atual
Receita Líquida e Despesa Total
Resultado Primário (Superávit/Déficit)
Dívida Bruta: Histórico e Projeção
Cardápido de Medidas Fiscais
O conjunto de medidas abaixo sintetiza potenciais instrumentos de ajuste capazes de elevar o resultado primário em cerca de 2,7 p.p. do PIB até 2034, combinando ações de curto e médio prazo. O cardápio está dividido entre medidas estruturais, com impacto permanente sobre a trajetória fiscal, e ações de pente-fino, voltadas à revisão de benefícios e à melhoria da focalização do gasto. Entre as medidas com maior potencial de ganho estão a correção do salário mínimo apenas pela inflação, o desvinculamento de pisos de Saúde e Educação, a redução de emendas parlamentares e a meta de corte gradual de gastos tributários, hoje estimados em cerca de R$ 600 bilhões. No campo da receita, destacam-se ajustes nas regras do IR e da partilha do FPE/FPM, enquanto do lado da despesa, reformas como a alteração das regras do seguro-desemprego e abono salarial gerariam economias adicionais. Embora diversas propostas exijam mudança constitucional ou lei complementar, o conjunto indica que há espaço técnico para recompor o primário sem depender de medidas extraordinárias.
| Categoria | Medidas | Descrição | Estimativa de Impacto (% PIB) - 1y | Estimativa de Impacto (% PIB) - 2034 | Legislação |
|---|---|---|---|---|---|
| Medidas Estruturais | Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação | Mudar a regra permanente para INPC (sem ganho real), reduzindo o efeito-cascata em BPC, abono e piso do seguro-desemprego | 0.2% | 0.7% | Lei Ordinária |
| Desvincular os Pisos de Saúde e Educação das RCL/RLI | Trocar pisos atrelados a receita por indexadores neutros (inflação) e compatíveis com o arcabouço. | 0.30% | 0.30% | PEC | |
| Alteração da Regra do Arcabouço | Ajustar a fórmula de crescimento da despesa - Limitar o crescimento da despesa em 1% ao invés de 2,5%. | 0.30% | 0.40% | Lei Complementar | |
| Alteração da Regra do Fundeb (até 23% do fundo pago pela união até 2026) | União contribui hoje com 23%, voltaríamos ao nível de 2019 (10%) | 0.40% | 0.20% | PEC | |
| FPM (24,5% da arrecadação líquida de IR + IPI) + FPE Alteração do FPE (21,5% da arrecadação de IR + IPI (produto líquido) | Redução da alíquota em 2% | 0.30% | 0.20% | PEC | |
| Meta de redução dos Gastos Tributários | Estabelecer corte plurianual (ex.: 10%). Atualmente Gastos Tributários estão em R$ 600 Bi. | 0.4% | 0.3% | Lei Complementar | |
| Apertar regras de Seguro-desemprego/abono | O governo estuda endurecer as regras para o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial, com propostas como a elevação do tempo mínimo de serviço e a diminuição gradual do público que recebe o abono. | 0.30% | 0.10% | Lei Ordinária (SD) & PEC (Abono) | |
| Limitar deduções médicas no IRPF | Criar teto em R$12 Mil reais | 0.10% | 0.10% | Lei Ordinária | |
| Redução de emendas | Redução pela metade | 0.20% | 0.20% | PEC ou Lei complementar | |
| Acabar com parte das estatais dependentes do TN | Redução de 1/4 | 0.10% | 0.10% | Lei Ordinária | |
| Regulamentação dos Supersalários | O teto salarial para agentes públicos é de R$ 44 mil mensais entre fevereiro deste ano e janeiro de 2025. Em alguns casos, contudo, o pagamento de auxílios e ressarcimentos elevam os ganhos do servidor para além deste limite constitucional. | 0.05% | 0.05% | Lei Ordinária | |
| Revisão Anual de Benefícios (BPC, Auxílio Doença, Bf e Seguro Defeso) | Auditorias e cruzamentos contínuos para eliminar pagamentos indevidos/duplicidades e aperfeiçoar focalização. | 0.10% | 0.10% | Decreto ou Portaria | |
| Pente-Fino | Revisão Anual de Benefícios (BPC, Auxílio Doença, Bf e Seguro Defeso) | Auditorias e cruzamentos contínuos para eliminar pagamentos indevidos/duplicidades e aperfeiçoar focalização. | 0.10% | 0.10% | Decreto ou Portaria |
| Total | 2.75% | 2.75% |
Criação de Cenários
Premissas dos Cenários
A partir do diagnóstico histórico, fica evidente que a trajetória fiscal brasileira responde fortemente ao ciclo político e ao regime de política econômica adotado em cada governo. Para projetar a dívida entre 2027 e 2034, não basta prolongar médias passadas: é necessário simular combinações plausíveis de crescimento, inflação, juros e resultado primário sob arranjos políticos distintos.
Com esse objetivo, foram construídos seis cenários hipotéticos — três associados a um possível segundo mandato de Lula e três a um eventual governo de Tarcísio — buscando representar diferentes graus de disciplina fiscal e capacidade de crescimento.
As premissas macroeconômicas seguem uma lógica simples e transparente. Para cada variável — PIB real, inflação, juros nominais e primário — o usuário define um ponto de partida (2027) e um ponto de chegada (2034), podendo determinar o ritmo de convergência ao longo do período. Quando os valores inicial e final são iguais, a variável permanece constante. O cenário “Governo Atual” é apresentado apenas como referência, refletindo a situação média observada nos últimos anos, sem compor as projeções futuras.
No conjunto de simulações, o grupo Lula parte de um cenário Base, com crescimento moderado (1,5%), inflação em torno de 4,5% e primário levemente positivo (0,7% do PIB), refletindo uma política fiscal ainda expansionista, mas com alguma recomposição de receitas. O cenário Austero assume maior esforço de consolidação — primário próximo de 1,4% do PIB e juros mais baixos, sustentados por previsibilidade fiscal. Já o cenário Gastador representa um ambiente de maior pressão sobre despesas, com crescimento mais fraco (1%), inflação de 6% e primário praticamente neutro.
Os cenários Tarcísio partem de uma lógica oposta. O cenário Base combina crescimento de 2%, inflação de 3,5% e superávit primário de 2,2% do PIB, sugerindo um ajuste gradual sustentado por reformas. O Austero projeta consolidação mais rápida, com primário de 2,4% e juros nominais de 7,5%, compatíveis com um ambiente de confiança e avanço da produtividade. O cenário Gastador, por sua vez, mostra uma alternativa de política mais acomodatícia — crescimento de 1,5% e primário de 1,4% do PIB —, ainda melhor que a atual situação fiscal, mas distante do potencial de estabilização mais firme da dívida.
Essa construção permite distinguir o que é cenário político (Lula ou Tarcísio) do que é cenário de política econômica (base, austero ou gastador). Essa diferenciação é essencial para avaliar, na próxima seção, quais medidas fiscais seriam necessárias para que cada caso alcance o resultado primário projetado e, consequentemente, garanta uma trajetória sustentável da dívida pública ao longo do período analisado.
| Cenario | PIB Real (%a.a.) | Inflação (%a.a.) | Juros Nominais (%a.a.) | Primário (%PIB) |
|---|---|---|---|---|
| Governo Atual | 2,60 | 4,78 | 12,92 | -0,96 |
| Lula Base | 1,59 | 4,75 | 12,50 | 0,16 |
| Lula Austero | 1,94 | 4,00 | 10,44 | 0,84 |
| Lula Gastador | 1,47 | 5,69 | 14,22 | -0,72 |
| Tarcisio Base | 2,28 | 3,50 | 9,75 | 1,53 |
| Tarcisio Austero | 2,62 | 3,00 | 8,72 | 1,74 |
| Tarcisio Gastador | 1,66 | 4,00 | 11,47 | 0,78 |
Medidas Fiscais Necessárias por Cenário
Com base no cardápio de medidas estruturais apresentado, esta seção estima quais ajustes seriam necessários para que cada cenário alcance o resultado primário projetado no período de 2027 a 2034. O cenário Lula Base é utilizado como referência, representando uma trajetória sem mudanças relevantes de política fiscal. A partir dele, é possível mensurar o gap fiscal de cada cenário e identificar o conjunto mínimo de medidas necessárias para fechá-lo.
Os resultados mostram que um cenário austero sob Lula demandaria, no mínimo, a correção do salário mínimo apenas pela inflação, o que geraria economia próxima de 0,7 p.p. do PIB até 2034. Já no caso de Tarcísio, tanto o cenário Base quanto o Austero dependeriam de um pacote mais amplo — incluindo ajustes na regra do arcabouço fiscal, desvinculação parcial dos pisos de Saúde e Educação e redução gradual dos gastos tributários —, com impacto total estimado entre 1,4 e 1,7 p.p. do PIB.
Por outro lado, o cenário Lula Gastador apresentaria uma folga fiscal negativa de 0,9 p.p., refletindo o aumento das despesas obrigatórias e a ausência de novas medidas de contenção. Em síntese, a análise indica que apenas os cenários associados a superávits acima de 2% do PIB — como o Tarcísio Base e o Tarcísio Austero — seriam capazes de produzir uma trajetória fiscal compatível com a estabilização da dívida no médio prazo, enquanto os demais continuariam ampliando o endividamento público.
| Candidato | Cenário | Primário Médio (% PIB) |
Gap vs Base (p.p.) |
Medidas Necessárias | Impacto Total (% PIB) |
|---|---|---|---|---|---|
| Lula | Gastador | -0.72% | -0.88 p.p. | Folga fiscal de 0.88 p.p. | 0.00% |
| Lula | Base | 0.16% | 0.00 p.p. | Sem mudanças (cenário base) | 0.00% |
| Lula | Austero | 0.84% | 0.69 p.p. | 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) | 0.70% |
| Tarcísio | Gastador | 0.78% | 0.62 p.p. | 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) | 0.70% |
| Tarcísio | Base | 1.53% | 1.38 p.p. | 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) 2. Alteração da Regra do Arcabouço (0.40%) 3. Desvincular os Pisos de Saúde e Educação das RCL/RLI (0.30%) | 1.40% |
| Tarcísio | Austero | 1.74% | 1.58 p.p. | 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) 2. Alteração da Regra do Arcabouço (0.40%) 3. Desvincular os Pisos de Saúde e Educação das RCL/RLI (0.30%) 4. Meta de redução dos Gastos Tributários (0.30%) | 1.70% |
Ajuste fiscal necessário em cada cenário
- Barras Vermelhas: Cenários que precisam de ajuste fiscal (gap positivo). O valor mostra quantos pontos percentuais do PIB precisam ser melhorados no resultado primário médio.
- Barras Verdes: Cenários com folga fiscal (gap negativo). Permitem pior desempenho fiscal em relação ao baseline.
- Lula Base: É o cenário de referência (gap = 0), representando a trajetória atual sem mudanças estruturais.
Tabela Comparativa
A tabela a seguir consolida as premissas macroeconômicas e os resultados fiscais estimados para cada cenário, permitindo avaliar o impacto conjunto de crescimento, inflação, juros e resultado primário sobre a trajetória da dívida até 2034. Considerando que a dívida parte de 85% do PIB em 2026, as simulações indicam três regimes distintos: convergência, estabilização e trajetória ascendente.
| Candidato | Cenario | PIB Real (%a.a.) | Inflação (%a.a.) | Juros (%a.a.) | Primário (%PIB) | Dívida 2030 (%PIB) | Dívida 2034 (%PIB) |
|---|---|---|---|---|---|---|---|
| Lula | Gastador | 1,47 | 5,69 | 14,22 | -0,72 | 106,1 | 140,5 |
| Lula | Base | 1,59 | 4,75 | 12,50 | 0,16 | 104,5 | 124,7 |
| Lula | Austero | 1,94 | 4,00 | 10,44 | 0,84 | 100,4 | 105,3 |
| Tarcísio | Gastador | 1,66 | 4,00 | 11,47 | 0,78 | 103,1 | 116,8 |
| Tarcísio | Base | 2,28 | 3,50 | 9,75 | 1,53 | 98,8 | 95,6 |
| Tarcísio | Austero | 2,62 | 3,00 | 8,72 | 1,74 | 97,6 | 87,8 |
Nos cenários de maior disciplina fiscal, especialmente o Tarcísio Austero, a dívida apresenta convergência significativa, caindo para cerca de 70% do PIB em 2034 — uma redução de aproximadamente 15 pontos percentuais em oito anos, reflexo de juros reais mais baixos e superávits primários sustentados próximos de 2,5% do PIB. O cenário Tarcísio Base também indica estabilização, com a dívida se mantendo próxima de 95% do PIB, apoiada por crescimento em torno de 2% e superávits acima de 1,5% do PIB.
Entre os cenários de Lula, apenas o Austero apresenta trajetória próxima da estabilidade, com a dívida alcançando cerca de 105% do PIB em 2034, o que representa aumento moderado frente ao nível atual. Já o Lula Base mantém a dívida em trajetória ascendente, atingindo 125% do PIB, e o Lula Gastador mostra deterioração expressiva, com a dívida chegando a 140% do PIB, reflexo da combinação entre baixo crescimento, juros elevados e primário insuficiente.
De forma geral, os resultados evidenciam que a convergência da dívida requer superávits primários superiores a 2% do PIB e juros reais mais baixos, condições observadas apenas nos cenários de Tarcísio. Políticas fiscais mais expansionistas, mesmo com algum crescimento econômico, tendem a manter a dívida em trajetória de alta, reforçando a importância de credibilidade e previsibilidade fiscal para a ancoragem das expectativas e a redução do prêmio de risco soberano.
Gráficos das Principais Variáveis
Governo Lula - Projeção das Principais Variáveis
PIB Real
Inflação
Taxa de Juros Nominal
Resultado Primário
Dívida Bruta (% PIB)
Governo Tarcísio - Projeção das Principais Variáveis
PIB Real
Inflação
Taxa de Juros Nominal
Resultado Primário
Dívida Bruta (% PIB)
Trajetórias da Dívida - Todos os Cenários
A projeção consolidada das trajetórias de dívida revela que, independentemente do resultado eleitoral, o Brasil inicia 2027 com nível de endividamento elevado, em torno de 85% do PIB. A partir desse ponto, a dinâmica da dívida pública diverge significativamente entre os cenários, refletindo as diferentes combinações de política fiscal, crescimento e juros reais adotadas em cada caso.
Nos cenários associados a Lula, a trajetória é mais dispersa. A dívida mantém alta moderada no cenário Austero, alcançando cerca de 105% do PIB em 2034, mas acelera para 124% no cenário Base e ultrapassa 140% no Gastador, refletindo a pressão de juros elevados e o esforço fiscal limitado. Já nos cenários de Tarcísio, o comportamento é mais controlado: o cenário Base estabiliza a dívida próxima de 96% do PIB, enquanto o Austero apresenta convergência a partir de 2030, com queda para cerca de 88% do PIB ao final do horizonte projetado.
Essas diferenças refletem sobretudo o grau de disciplina fiscal e o impacto dos juros reais sobre o custo de rolagem da dívida. Em síntese, as simulações indicam que a estabilização e a convergência da dívida pública exigem superávits primários recorrentes acima de 2% do PIB, combinados com credibilidade suficiente para reduzir o juro real estrutural. Sem essa combinação, a dívida tende a permanecer em trajetória ascendente, restringindo o espaço para políticas anticíclicas e elevando a vulnerabilidade fiscal do país diante de choques externos ou domésticos.
Primário Necessário para Estabilizar a Dívida
A tabela abaixo estima o superávit primário necessário para manter a dívida bruta constante no nível de 85,4% do PIB em 2026, considerando diferentes combinações de crescimento real do PIB e taxa de juros reais. Os resultados indicam que, nas condições atuais — com juros reais próximos de 5% e crescimento em torno de 2% — o Brasil precisaria gerar um superávit primário de aproximadamente 2,6% do PIB apenas para estabilizar a dívida.
Cenários com juros mais altos ou crescimento mais baixo ampliam significativamente essa exigência. Com juros reais de 7%, por exemplo, o superávit necessário sobe para 4,3% do PIB, patamar historicamente alcançado apenas em períodos de forte compressão de despesas ou aumento extraordinário de receitas. Em contrapartida, uma combinação mais favorável — com juros reais próximos de 3% e crescimento de 3% — permitiria estabilizar a dívida mesmo com leve déficit, de cerca de -0,4% do PIB, evidenciando a importância de reduzir o custo real da dívida e fortalecer o crescimento potencial.
A posição dos cenários na matriz reforça essa leitura. Os casos de Lula Gastador e Lula Base situam-se acima da linha de equilíbrio, exigindo superávits entre 3,1% e 5% do PIB para estabilizar a dívida — níveis muito superiores ao que entregam. Já o Lula Austero, com primário de 1,9%, fica próximo do ponto de equilíbrio, enquanto Tarcísio Base e Tarcísio Austero se encontram abaixo da linha de estabilização, indicando condições suficientes para estabilização ou mesmo convergência da dívida, especialmente neste último caso, em que o esforço primário de 2,5% e juros reais de 3,8% permitiriam trajetória declinante.
Em síntese, o exercício mostra que a sustentabilidade fiscal brasileira depende menos de medidas isoladas de curto prazo e mais de uma estratégia estrutural: maior produtividade, juros reais mais baixos e superávits recorrentes acima de 2% do PIB. Sem essa combinação, mesmo políticas fiscais prudentes tenderão a resultar em aumento do endividamento ao longo do tempo, restringindo o espaço para a política econômica e elevando o risco soberano.
| 1% | 2% | 3% | 4% | 5% | 6% | 7% | 8% | 9% | ||
|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
| PIB Real | 0.0% | 0.8% | 1.7% | 2.5% | 3.4% | 4.2% | 5.1% | 5.9% | 6.8% | 7.6% |
| 0.5% | 0.4% | 1.3% | 2.1% | 3.0% | 3.8% | 4.6% | 5.5% | 6.3% | 7.2% | |
| 1.0% | 0.0% | 0.8% | 1.7% | 2.5% | 3.4% | 4.2% | 5.1% | 5.9% | 6.8% | |
| 1.5% | -0.4% | 0.4% | 1.3% | 2.1% | 3.0% | 3.8% | 4.6% | 5.5% | 6.3% | |
| 2.0% | -0.8% | 0.0% | 0.8% | 1.7% | 2.5% | 3.4% | 4.2% | 5.1% | 5.9% | |
| 2.5% | -1.3% | -0.4% | 0.4% | 1.3% | 2.1% | 3.0% | 3.8% | 4.6% | 5.5% | |
| 3.0% | -1.7% | -0.8% | 0.0% | 0.8% | 1.7% | 2.5% | 3.4% | 4.2% | 5.1% |
📍 Posição dos Cenários na Matriz:
Crescimento: 1.6% | Juros Reais: 6.8% | Primário necessário: 4.38%
Crescimento: 1.9% | Juros Reais: 5.6% | Primário necessário: 3.13%
Crescimento: 1.5% | Juros Reais: 7.4% | Primário necessário: 5.01%
Crescimento: 2.3% | Juros Reais: 5.5% | Primário necessário: 2.73%
Crescimento: 2.6% | Juros Reais: 5.1% | Primário necessário: 2.06%
Crescimento: 1.7% | Juros Reais: 6.6% | Primário necessário: 4.17%