Trajetórias Fiscais do Brasil: Cenários para 2027-2034

Análise de cenários pós-eleições 2026

Author

Eric Almeida

Published

November 4, 2025

Objetivo do Trabalho

Este relatório apresenta uma análise abrangente das possíveis trajetórias da dívida pública brasileira no período 2027-2034, considerando diferentes cenários políticos e econômicos após as eleições de 2026.

Introdução

A trajetória macroeconômica e fiscal do Brasil nas últimas duas décadas evidencia mudanças relevantes na condução da política econômica e nas condições de crescimento. Durante os dois primeiros mandatos de Lula (2003–2010), o país combinou forte expansão do PIB, de cerca de 4,6% ao ano, com superávits primários robustos próximos a 3,3% do PIB. Esse período foi marcado por um ambiente externo favorável, aumento dos termos de troca e disciplina fiscal relativa, o que permitiu reduzir a dívida bruta em mais de 20 pontos percentuais do PIB, mesmo com juros reais elevados.

Nos governos Dilma Rousseff (2011–2016), o cenário se inverteu. A estratégia de estímulo via gasto público, desonerações e crédito direcionado levou à deterioração das contas fiscais e à perda de confiança. O superávit primário praticamente desapareceu, o PIB cresceu apenas 0,4% ao ano em média e a dívida pública avançou mais de 18 pontos percentuais do PIB. A inflação se manteve acima de 7%, refletindo o desequilíbrio macroeconômico e o esgotamento do modelo de crescimento baseado em expansão fiscal.

Durante os governos Temer e Bolsonaro (2016–2022), houve tentativa de reconstrução do arcabouço fiscal, com destaque para a aprovação do teto de gastos e da reforma trabalhista. Ainda assim, o resultado primário permaneceu negativo (-0,7% do PIB) e o crescimento econômico modesto, em torno de 1,9% ao ano. Apesar da melhora relativa após a pandemia e de alguma estabilização da dívida, o ajuste fiscal foi limitado pela rigidez das despesas obrigatórias e pelo baixo investimento público.

No início do terceiro mandato de Lula (2023–2026), o crescimento voltou a acelerar moderadamente (2,6%), acompanhado de inflação mais baixa, mas o quadro fiscal segue pressionado. O déficit primário médio gira em torno de 1% do PIB e a dívida bruta avança mais de 11 pontos percentuais no período, em meio a juros reais ainda elevados e expansão das despesas sociais. A combinação de crescimento mediano e desequilíbrio fiscal reforça a necessidade de uma consolidação mais crível a partir de 2027.

De forma geral, o histórico recente mostra um ciclo de consolidação com crescimento (Lula I e II), seguido de expansão fiscal e perda de equilíbrio (Dilma), ajuste parcial e baixo dinamismo (Temer e Bolsonaro) e reexpansão das despesas (Lula III). Esse contexto oferece o pano de fundo para as projeções apresentadas neste relatório sobre a trajetória da dívida pública e os riscos fiscais do período 2027–2034.

Variáveis Macroeconômicas por Governo

Variáveis Macroeconômicas por Governo (2002-2026)
Variáveis Macro Unidade Lula I & II Dilma I & II Temer & Bolsonaro Lula III Média
Resultado Primário %PIB - Média 3.28 0.32 -0.70 -0.96 0.75
Crescimento do PIB Real Média 4.61 0.40 1.91 2.60 2.41
Deflator do PIB Média 8.49 7.92 5.16 4.78 6.91
Índice de Preços ao Consumidor Média 6.84 7.06 5.03 4.42 6.06
Taxa de Juros Nominal Média 15.95 11.23 8.73 12.92 12.48
Dívida Bruta %PIB - Alteração -22.15 18.57 -2.04 10.58
Taxa de Juros Real (IPCA) Média 9.11 4.17 3.70 7.78 6.28

Nota: Médias calculadas excluindo anos de crise (2008-2009, 2020-2021). Para a variável “Dívida Bruta”, foi calculada a alteração entre o primeiro e último ano de cada governo.


Cenário Fiscal Atual

Receita Líquida e Despesa Total

Resultado Primário (Superávit/Déficit)

Dívida Bruta: Histórico e Projeção


Cardápido de Medidas Fiscais

O conjunto de medidas abaixo sintetiza potenciais instrumentos de ajuste capazes de elevar o resultado primário em cerca de 2,7 p.p. do PIB até 2034, combinando ações de curto e médio prazo. O cardápio está dividido entre medidas estruturais, com impacto permanente sobre a trajetória fiscal, e ações de pente-fino, voltadas à revisão de benefícios e à melhoria da focalização do gasto. Entre as medidas com maior potencial de ganho estão a correção do salário mínimo apenas pela inflação, o desvinculamento de pisos de Saúde e Educação, a redução de emendas parlamentares e a meta de corte gradual de gastos tributários, hoje estimados em cerca de R$ 600 bilhões. No campo da receita, destacam-se ajustes nas regras do IR e da partilha do FPE/FPM, enquanto do lado da despesa, reformas como a alteração das regras do seguro-desemprego e abono salarial gerariam economias adicionais. Embora diversas propostas exijam mudança constitucional ou lei complementar, o conjunto indica que há espaço técnico para recompor o primário sem depender de medidas extraordinárias.

Cardápio de Medidas Fiscais (Receitas ou Despesas)
Categoria Medidas Descrição Estimativa de Impacto (% PIB) - 1y Estimativa de Impacto (% PIB) - 2034 Legislação
Medidas Estruturais Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação Mudar a regra permanente para INPC (sem ganho real), reduzindo o efeito-cascata em BPC, abono e piso do seguro-desemprego 0.2% 0.7% Lei Ordinária
Desvincular os Pisos de Saúde e Educação das RCL/RLI Trocar pisos atrelados a receita por indexadores neutros (inflação) e compatíveis com o arcabouço. 0.30% 0.30% PEC
Alteração da Regra do Arcabouço Ajustar a fórmula de crescimento da despesa - Limitar o crescimento da despesa em 1% ao invés de 2,5%. 0.30% 0.40% Lei Complementar
Alteração da Regra do Fundeb (até 23% do fundo pago pela união até 2026) União contribui hoje com 23%, voltaríamos ao nível de 2019 (10%) 0.40% 0.20% PEC
FPM (24,5% da arrecadação líquida de IR + IPI) + FPE Alteração do FPE (21,5% da arrecadação de IR + IPI (produto líquido) Redução da alíquota em 2% 0.30% 0.20% PEC
Meta de redução dos Gastos Tributários Estabelecer corte plurianual (ex.: 10%). Atualmente Gastos Tributários estão em R$ 600 Bi. 0.4% 0.3% Lei Complementar
Apertar regras de Seguro-desemprego/abono O governo estuda endurecer as regras para o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial, com propostas como a elevação do tempo mínimo de serviço e a diminuição gradual do público que recebe o abono. 0.30% 0.10% Lei Ordinária (SD) & PEC (Abono)
Limitar deduções médicas no IRPF Criar teto em R$12 Mil reais 0.10% 0.10% Lei Ordinária
Redução de emendas Redução pela metade 0.20% 0.20% PEC ou Lei complementar
Acabar com parte das estatais dependentes do TN Redução de 1/4 0.10% 0.10% Lei Ordinária
Regulamentação dos Supersalários O teto salarial para agentes públicos é de R$ 44 mil mensais entre fevereiro deste ano e janeiro de 2025. Em alguns casos, contudo, o pagamento de auxílios e ressarcimentos elevam os ganhos do servidor para além deste limite constitucional. 0.05% 0.05% Lei Ordinária
Revisão Anual de Benefícios (BPC, Auxílio Doença, Bf e Seguro Defeso) Auditorias e cruzamentos contínuos para eliminar pagamentos indevidos/duplicidades e aperfeiçoar focalização. 0.10% 0.10% Decreto ou Portaria
Pente-Fino Revisão Anual de Benefícios (BPC, Auxílio Doença, Bf e Seguro Defeso) Auditorias e cruzamentos contínuos para eliminar pagamentos indevidos/duplicidades e aperfeiçoar focalização. 0.10% 0.10% Decreto ou Portaria
Total 2.75% 2.75%

Criação de Cenários

Premissas dos Cenários

A partir do diagnóstico histórico, fica evidente que a trajetória fiscal brasileira responde fortemente ao ciclo político e ao regime de política econômica adotado em cada governo. Para projetar a dívida entre 2027 e 2034, não basta prolongar médias passadas: é necessário simular combinações plausíveis de crescimento, inflação, juros e resultado primário sob arranjos políticos distintos.

Com esse objetivo, foram construídos seis cenários hipotéticos — três associados a um possível segundo mandato de Lula e três a um eventual governo de Tarcísio — buscando representar diferentes graus de disciplina fiscal e capacidade de crescimento.

As premissas macroeconômicas seguem uma lógica simples e transparente. Para cada variável — PIB real, inflação, juros nominais e primário — o usuário define um ponto de partida (2027) e um ponto de chegada (2034), podendo determinar o ritmo de convergência ao longo do período. Quando os valores inicial e final são iguais, a variável permanece constante. O cenário “Governo Atual” é apresentado apenas como referência, refletindo a situação média observada nos últimos anos, sem compor as projeções futuras.

No conjunto de simulações, o grupo Lula parte de um cenário Base, com crescimento moderado (1,5%), inflação em torno de 4,5% e primário levemente positivo (0,7% do PIB), refletindo uma política fiscal ainda expansionista, mas com alguma recomposição de receitas. O cenário Austero assume maior esforço de consolidação — primário próximo de 1,4% do PIB e juros mais baixos, sustentados por previsibilidade fiscal. Já o cenário Gastador representa um ambiente de maior pressão sobre despesas, com crescimento mais fraco (1%), inflação de 6% e primário praticamente neutro.

Os cenários Tarcísio partem de uma lógica oposta. O cenário Base combina crescimento de 2%, inflação de 3,5% e superávit primário de 2,2% do PIB, sugerindo um ajuste gradual sustentado por reformas. O Austero projeta consolidação mais rápida, com primário de 2,4% e juros nominais de 7,5%, compatíveis com um ambiente de confiança e avanço da produtividade. O cenário Gastador, por sua vez, mostra uma alternativa de política mais acomodatícia — crescimento de 1,5% e primário de 1,4% do PIB —, ainda melhor que a atual situação fiscal, mas distante do potencial de estabilização mais firme da dívida.

Essa construção permite distinguir o que é cenário político (Lula ou Tarcísio) do que é cenário de política econômica (base, austero ou gastador). Essa diferenciação é essencial para avaliar, na próxima seção, quais medidas fiscais seriam necessárias para que cada caso alcance o resultado primário projetado e, consequentemente, garanta uma trajetória sustentável da dívida pública ao longo do período analisado.

Premissas Médias dos Cenários (2027-2034) - Definidas pelo Usuário
Cenario PIB Real (%a.a.) Inflação (%a.a.) Juros Nominais (%a.a.) Primário (%PIB)
Governo Atual 2,60 4,78 12,92 -0,96
Lula Base 1,59 4,75 12,50 0,16
Lula Austero 1,94 4,00 10,44 0,84
Lula Gastador 1,47 5,69 14,22 -0,72
Tarcisio Base 2,28 3,50 9,75 1,53
Tarcisio Austero 2,62 3,00 8,72 1,74
Tarcisio Gastador 1,66 4,00 11,47 0,78

Medidas Fiscais Necessárias por Cenário

Com base no cardápio de medidas estruturais apresentado, esta seção estima quais ajustes seriam necessários para que cada cenário alcance o resultado primário projetado no período de 2027 a 2034. O cenário Lula Base é utilizado como referência, representando uma trajetória sem mudanças relevantes de política fiscal. A partir dele, é possível mensurar o gap fiscal de cada cenário e identificar o conjunto mínimo de medidas necessárias para fechá-lo.

Os resultados mostram que um cenário austero sob Lula demandaria, no mínimo, a correção do salário mínimo apenas pela inflação, o que geraria economia próxima de 0,7 p.p. do PIB até 2034. Já no caso de Tarcísio, tanto o cenário Base quanto o Austero dependeriam de um pacote mais amplo — incluindo ajustes na regra do arcabouço fiscal, desvinculação parcial dos pisos de Saúde e Educação e redução gradual dos gastos tributários —, com impacto total estimado entre 1,4 e 1,7 p.p. do PIB.

Por outro lado, o cenário Lula Gastador apresentaria uma folga fiscal negativa de 0,9 p.p., refletindo o aumento das despesas obrigatórias e a ausência de novas medidas de contenção. Em síntese, a análise indica que apenas os cenários associados a superávits acima de 2% do PIB — como o Tarcísio Base e o Tarcísio Austero — seriam capazes de produzir uma trajetória fiscal compatível com a estabilização da dívida no médio prazo, enquanto os demais continuariam ampliando o endividamento público.

Candidato Cenário Primário Médio
(% PIB)
Gap vs Base
(p.p.)
Medidas Necessárias Impacto Total
(% PIB)
Lula Gastador -0.72% -0.88 p.p. Folga fiscal de 0.88 p.p. 0.00%
Lula Base 0.16% 0.00 p.p. Sem mudanças (cenário base) 0.00%
Lula Austero 0.84% 0.69 p.p. 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) 0.70%
Tarcísio Gastador 0.78% 0.62 p.p. 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) 0.70%
Tarcísio Base 1.53% 1.38 p.p. 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) 2. Alteração da Regra do Arcabouço (0.40%) 3. Desvincular os Pisos de Saúde e Educação das RCL/RLI (0.30%) 1.40%
Tarcísio Austero 1.74% 1.58 p.p. 1. Correção do Salário Mínimo apenas pela Inflação (0.70%) 2. Alteração da Regra do Arcabouço (0.40%) 3. Desvincular os Pisos de Saúde e Educação das RCL/RLI (0.30%) 4. Meta de redução dos Gastos Tributários (0.30%) 1.70%

Ajuste fiscal necessário em cada cenário

  • Barras Vermelhas: Cenários que precisam de ajuste fiscal (gap positivo). O valor mostra quantos pontos percentuais do PIB precisam ser melhorados no resultado primário médio.
  • Barras Verdes: Cenários com folga fiscal (gap negativo). Permitem pior desempenho fiscal em relação ao baseline.
  • Lula Base: É o cenário de referência (gap = 0), representando a trajetória atual sem mudanças estruturais.


Tabela Comparativa

A tabela a seguir consolida as premissas macroeconômicas e os resultados fiscais estimados para cada cenário, permitindo avaliar o impacto conjunto de crescimento, inflação, juros e resultado primário sobre a trajetória da dívida até 2034. Considerando que a dívida parte de 85% do PIB em 2026, as simulações indicam três regimes distintos: convergência, estabilização e trajetória ascendente.

Comparação Completa dos Cenários
Variáveis Macroeconômicas
Resultado
Candidato Cenario PIB Real (%a.a.) Inflação (%a.a.) Juros (%a.a.) Primário (%PIB) Dívida 2030 (%PIB) Dívida 2034 (%PIB)
Lula Gastador 1,47 5,69 14,22 -0,72 106,1 140,5
Lula Base 1,59 4,75 12,50 0,16 104,5 124,7
Lula Austero 1,94 4,00 10,44 0,84 100,4 105,3
Tarcísio Gastador 1,66 4,00 11,47 0,78 103,1 116,8
Tarcísio Base 2,28 3,50 9,75 1,53 98,8 95,6
Tarcísio Austero 2,62 3,00 8,72 1,74 97,6 87,8

Nos cenários de maior disciplina fiscal, especialmente o Tarcísio Austero, a dívida apresenta convergência significativa, caindo para cerca de 70% do PIB em 2034 — uma redução de aproximadamente 15 pontos percentuais em oito anos, reflexo de juros reais mais baixos e superávits primários sustentados próximos de 2,5% do PIB. O cenário Tarcísio Base também indica estabilização, com a dívida se mantendo próxima de 95% do PIB, apoiada por crescimento em torno de 2% e superávits acima de 1,5% do PIB.

Entre os cenários de Lula, apenas o Austero apresenta trajetória próxima da estabilidade, com a dívida alcançando cerca de 105% do PIB em 2034, o que representa aumento moderado frente ao nível atual. Já o Lula Base mantém a dívida em trajetória ascendente, atingindo 125% do PIB, e o Lula Gastador mostra deterioração expressiva, com a dívida chegando a 140% do PIB, reflexo da combinação entre baixo crescimento, juros elevados e primário insuficiente.

De forma geral, os resultados evidenciam que a convergência da dívida requer superávits primários superiores a 2% do PIB e juros reais mais baixos, condições observadas apenas nos cenários de Tarcísio. Políticas fiscais mais expansionistas, mesmo com algum crescimento econômico, tendem a manter a dívida em trajetória de alta, reforçando a importância de credibilidade e previsibilidade fiscal para a ancoragem das expectativas e a redução do prêmio de risco soberano.


Gráficos das Principais Variáveis

Governo Lula - Projeção das Principais Variáveis

PIB Real

Inflação

Taxa de Juros Nominal

Resultado Primário

Dívida Bruta (% PIB)


Governo Tarcísio - Projeção das Principais Variáveis

PIB Real

Inflação

Taxa de Juros Nominal

Resultado Primário

Dívida Bruta (% PIB)


Trajetórias da Dívida - Todos os Cenários

A projeção consolidada das trajetórias de dívida revela que, independentemente do resultado eleitoral, o Brasil inicia 2027 com nível de endividamento elevado, em torno de 85% do PIB. A partir desse ponto, a dinâmica da dívida pública diverge significativamente entre os cenários, refletindo as diferentes combinações de política fiscal, crescimento e juros reais adotadas em cada caso.

Nos cenários associados a Lula, a trajetória é mais dispersa. A dívida mantém alta moderada no cenário Austero, alcançando cerca de 105% do PIB em 2034, mas acelera para 124% no cenário Base e ultrapassa 140% no Gastador, refletindo a pressão de juros elevados e o esforço fiscal limitado. Já nos cenários de Tarcísio, o comportamento é mais controlado: o cenário Base estabiliza a dívida próxima de 96% do PIB, enquanto o Austero apresenta convergência a partir de 2030, com queda para cerca de 88% do PIB ao final do horizonte projetado.

Essas diferenças refletem sobretudo o grau de disciplina fiscal e o impacto dos juros reais sobre o custo de rolagem da dívida. Em síntese, as simulações indicam que a estabilização e a convergência da dívida pública exigem superávits primários recorrentes acima de 2% do PIB, combinados com credibilidade suficiente para reduzir o juro real estrutural. Sem essa combinação, a dívida tende a permanecer em trajetória ascendente, restringindo o espaço para políticas anticíclicas e elevando a vulnerabilidade fiscal do país diante de choques externos ou domésticos.


Primário Necessário para Estabilizar a Dívida

A tabela abaixo estima o superávit primário necessário para manter a dívida bruta constante no nível de 85,4% do PIB em 2026, considerando diferentes combinações de crescimento real do PIB e taxa de juros reais. Os resultados indicam que, nas condições atuais — com juros reais próximos de 5% e crescimento em torno de 2% — o Brasil precisaria gerar um superávit primário de aproximadamente 2,6% do PIB apenas para estabilizar a dívida.

Cenários com juros mais altos ou crescimento mais baixo ampliam significativamente essa exigência. Com juros reais de 7%, por exemplo, o superávit necessário sobe para 4,3% do PIB, patamar historicamente alcançado apenas em períodos de forte compressão de despesas ou aumento extraordinário de receitas. Em contrapartida, uma combinação mais favorável — com juros reais próximos de 3% e crescimento de 3% — permitiria estabilizar a dívida mesmo com leve déficit, de cerca de -0,4% do PIB, evidenciando a importância de reduzir o custo real da dívida e fortalecer o crescimento potencial.

A posição dos cenários na matriz reforça essa leitura. Os casos de Lula Gastador e Lula Base situam-se acima da linha de equilíbrio, exigindo superávits entre 3,1% e 5% do PIB para estabilizar a dívida — níveis muito superiores ao que entregam. Já o Lula Austero, com primário de 1,9%, fica próximo do ponto de equilíbrio, enquanto Tarcísio Base e Tarcísio Austero se encontram abaixo da linha de estabilização, indicando condições suficientes para estabilização ou mesmo convergência da dívida, especialmente neste último caso, em que o esforço primário de 2,5% e juros reais de 3,8% permitiriam trajetória declinante.

Em síntese, o exercício mostra que a sustentabilidade fiscal brasileira depende menos de medidas isoladas de curto prazo e mais de uma estratégia estrutural: maior produtividade, juros reais mais baixos e superávits recorrentes acima de 2% do PIB. Sem essa combinação, mesmo políticas fiscais prudentes tenderão a resultar em aumento do endividamento ao longo do tempo, restringindo o espaço para a política econômica e elevando o risco soberano.

Taxa de Juros Reais
1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9%
PIB Real 0.0% 0.8% 1.7% 2.5% 3.4% 4.2% 5.1% 5.9% 6.8% 7.6%
0.5% 0.4% 1.3% 2.1% 3.0% 3.8% 4.6% 5.5% 6.3% 7.2%
1.0% 0.0% 0.8% 1.7% 2.5% 3.4% 4.2% 5.1% 5.9% 6.8%
1.5% -0.4% 0.4% 1.3% 2.1% 3.0% 3.8% 4.6% 5.5% 6.3%
2.0% -0.8% 0.0% 0.8% 1.7% 2.5% 3.4% 4.2% 5.1% 5.9%
2.5% -1.3% -0.4% 0.4% 1.3% 2.1% 3.0% 3.8% 4.6% 5.5%
3.0% -1.7% -0.8% 0.0% 0.8% 1.7% 2.5% 3.4% 4.2% 5.1%
Dívida de 84.4% em 2026

📍 Posição dos Cenários na Matriz:

★ Lula Base
Crescimento: 1.6% | Juros Reais: 6.8% | Primário necessário: 4.38%
★ Lula Austero
Crescimento: 1.9% | Juros Reais: 5.6% | Primário necessário: 3.13%
★ Lula Gastador
Crescimento: 1.5% | Juros Reais: 7.4% | Primário necessário: 5.01%
★ Tarcisio Base
Crescimento: 2.3% | Juros Reais: 5.5% | Primário necessário: 2.73%
★ Tarcisio Austero
Crescimento: 2.6% | Juros Reais: 5.1% | Primário necessário: 2.06%
★ Tarcisio Gastador
Crescimento: 1.7% | Juros Reais: 6.6% | Primário necessário: 4.17%