Esse relatório irá abordar a evolução da inflação brasileira ao longo dos anos e como ela impacta o cenário econômico nacional, analisando o IPCA (Índice Nacional de Preços para o Consumidor Amplo), realizando estudos acerca da situação inflacionária em diferentes períodos de crises e como outros componentes ecônomicos são modificados e alterados.
Os gráficos revelam a dramática transição inflacionária brasileira. O primeiro mostra a era da hiperinflação (1980-1994), com pico de 2.738% em 1990, reflexo de descontrole fiscal, indexação generalizada e sucessivos planos econômicos fracassados que incluíam congelamentos de preços e trocas de moeda.
O segundo gráfico exibe o período pós-Plano Real (1994), que rompeu com o ciclo inflacionário histórico através de uma âncora cambial inicial, disciplina fiscal e a criação de uma moeda forte. A estabilização permitiu ao Brasil conviver com inflação de um dígito pela primeira vez em décadas, embora mantenha desafios de inflação estruturalmente mais alta que países desenvolvidos.
A trajetória evidencia como o Brasil passou de patamares hiperinflacionários para um regime de metas de inflação, porém mantendo uma inflação persistentemente superior às economias maduras, reflexo de questões fiscais, ineficiências estruturais e choques de oferta frequentes.
O gráfico compara a trajetória da meta de inflação estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) com o IPCA efetivo da economia brasileira no período recente, ilustrando os desafios do regime de metas em um contexto de choques externos sucessivos.
A análise revela dois choques inflacionários consecutivos de naturezas distintas. O primeiro, decorrente da pandemia de COVID-19, teve seus efeitos mais pronunciados em 2021 através de rupturas nas cadeias globais de suprimentos e estímulos fiscais, após o IPCA ter ficado abaixo da meta em 2020 devido ao lockdown inicial. Antes que houvesse uma completa normalização, o conflito Rússia-Ucrânia em fevereiro de 2022 provocou um novo choque, desta vez sobre commodities agrícolas e energia, elevando o IPCA ao pico de 12,13% em abril de 2022 o maior patamar desde 2003.
Atualmente, observa-se um movimento gradual de aceleração inflacionária, com o último dado registrando 5,17% em setembro de 2024, posicionando-se significativamente acima do centro da meta estabelecida em 3,00%. Este cenário mantém pressão sobre a política monetária do Banco Central e reflete a persistência de pressões inflacionárias tanto de demanda quanto de oferta na economia brasileira, com destaque para os componentes de serviços e alimentos.
Entre 2019 e 2021, antes da guerra, o mercado já enfrentava volatilidade causada pela pandemia. O câmbio variou entre R$ 4,00 e R$ 5,50, e a inflação de alimentos chegou a 3%, devido a disrupções logísticas e mudanças no consumo.
O Real sofreu intensa desvalorização frente ao Dólar, atingindo patamares superiores a R$ 5,30 no ápice da crise geopolítica. Essa depreciação cambial impactou duplamente a cadeia de alimentos: não apenas encareceu produtos importados para consumo direto como o trigo, do qual a Ucrânia e Rússia eram grandes exportadores globais mas também elevou drasticamente o custo dos insumos agrícolas. O setor foi particularmente vulnerável, dado que aproximadamente 85% dos fertilizantes utilizados no Brasil eram importados, com a Rússia como principal fornecedor.
A dependência histórica de insumos importados, combinada com a estrutura de custos já pressionada, fez com que o aumento externo se transmitisse rapidamente para o consumidor final. O IPCA de Alimentos, que já acumulava pressões pós-pandemia, acelerou para 2,4% em Março de 2022, refletindo a velocidade com que a crise geopolítica se transformou em inflação elevada para o consumidor e o agronegócio.
De 2023 a 2025, houve estabilização: o câmbio ficou próximo de R$ 5,00 e a inflação de alimentos convergiu para zero, refletindo a adaptação dos mercados e a normalização das rotas comerciais. Ainda assim, os níveis permanecem acima do período pré-pandemia, indicando transformações estruturais no comércio de alimentos.
Análise do IPCA de Transportes e Consumo de Gasolina na Pandemia
A relação entre o IPCA de Transportes e o consumo de gasolina durante a pandemia revela movimentos sincronizados que refletem a dinâmica da crise sanitária. No início de 2020, ambos os indicadores apresentaram queda abrupta, impulsionada pelas medidas de restrição de mobilidade que reduziram drasticamente (IPCA em -2.66% e consumo oara 350 mil barris em Abril de 2020), o deslocamento da população e, consequentemente, a demanda por combustíveis.
Esta contração no consumo exerceu pressão descendente sobre os preços dos transportes, contribuindo para a desaceleração inflacionária do período. Contudo, a partir do segundo semestre de 2020, com a flexibilização das medidas restritivas, o cenário se inverteu. O consumo de gasolina recuperou-se rapidamente, enquanto os preços dos combustíveis responderam com elevações significativas.
A retomada da demanda por transportes, combinada com pressões de custos na cadeia de combustíveis, transformou o segmento em importante vetor inflacionário, demonstrando a sensibilidade do IPCA de Transportes aos ciclos de mobilidade e ao comportamento do consumo de gasolina.
Os anos de 2020 e 2022 representam dois cenários econômicos distintos onde a relação entre SELIC e IPCA evidenciou dinâmicas inflacionárias desafiadoras. A análise do gráfico SELIC versus IPCA geral revela como choques externos impactaram essa correlação tradicional.
Em 2020, durante a pandemia, o Banco Central reduziu a SELIC para atingindo a mínima de 1,90% a.a. enquanto o IPCA encerrou o ano em 4,52% acima do centro da meta, porém com trajetória descendente. A política expansionista mostrou seus efeitos com defasagem: em 2021, com a SELIC ainda em patamar reduzido, o IPCA acelerou chegando a 10,74% em Novembro de 2021, pressionado pela combinação de estímulo monetário, choques de oferta e demanda reprimida.
A resposta do COPOM foi contundente: iniciou em março de 2021 um ciclo de altas que levou a SELIC a 13,75% em 2022. Neste ano crítico, o gráfico mostra a máxima do IPCA em 12,13% (abril) confrontando com juros já elevados, refletindo o impacto do conflito Rússia-Ucrânia sobre os preços. A persistência inflacionária manteve a SELIC em patamar restritivo mesmo com a gradual desaceleração do IPCA no segundo semestre.
Atualmente, com a SELIC em 10,50% a.a. (setembro/2024) e o IPCA em 5,17%, o spread de 5,33 pontos percentuais entre a taxa básica e a inflação corrobora a manutenção da política monetária contracionista. O Banco Central mantém juros reais elevados como âncora para convergência inflacionária, evidenciando que o ciclo de combate à inflação ainda não se encerrou, mesmo com o IPCA abaixo dos picos de 2022.
A análise do comportamento conjunto do PIB e do IPCA revela uma relação de correlação positiva bastante evidente ao longo do período recente. Quando a economia experimenta fases de expansão, a inflação tende a acompanhar esse movimento, refletindo o tradicional trade-off entre crescimento econômico e estabilidade de preços.
O expressivo aumento verificado entre 2020 e 2021 pode ser compreendido pelo contexto de recuperação econômica pós-pandemia. O ano de 2020 registrou uma contração histórica do PIB em decorrência das medidas de restrição sanitária, criando uma base comparativa bastante favorável para o ano seguinte. Em 2021, a combinação de retomada da demanda interna, políticas de estímulo fiscal e monetário, e persistentes gargalos nas cadeias globais de suprimentos criou um ambiente de superaquecimento da economia. Este cenário de demanda robusta confrontando-se com oferta ainda restrita gerou pressões inflacionárias generalizadas em múltiplos setores.
A fase de desaceleração subsequente refletiu os efeitos da política monetária contracionista implementada pelo Banco Central. O ciclo de alta da taxa Selic, iniciado em março de 2021, gradualmente resfriou a demanda agregada, permitindo a desinflação observada a partir de 2022. Contudo, esse processo de controle inflacionário teve como contrapartida a perda de momento do crescimento econômico.
No cenário atual, o PIB mantém-se em patamar inferior ao verificado em 2021, porém com relativa estabilidade. Esta trajetória reflete o ambiente de juros ainda restritivos, que continuam a atuar como freio ao crescimento, enquanto a inflação demonstra resistência em convergir para o centro da meta, sinalizando a persistência de pressões inflacionárias de natureza estrutural e a complexidade do processo de ancoragem de expectativas em um contexto de choques externos recorrentes.
A trajetória da inflação brasileira, analisada desde o período pré-Plano Real até o cenário atual, mostra que brasil superou uma hiperinflação, mas crises recentes (pandemia e guerra) revelaram que o país segue vulnerável a instabilidades, especialmente em custos de alimentos e energia.
A resposta da política monetária, através de um ciclo contracionista robusto da taxa Selic, provou ser eficaz em moderar a demanda e induzir a desinflação a partir dos picos de 2022. No entanto, essa estabilização não ocorreu sem custos. A análise conjunta do IPCA e do PIB evidencia o claro trade-off entre o controle de preços e o crescimento econômicos.
O desafio principal, portanto, não é apenas reagir a crises, mas resolver problemas fiscais e estruturais crônicos que mantêm a inflação brasileira persistentemente acima das economias desenvolvidas.
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