Sazonalidade por Semana Epidemiológica — Covid-19, Influenza e VSR

Autor

Unidade de Inteligencia e Vigilancia em Saude (UIVS) - SES/SP

Data de Publicação

4 de dezembro de 2025

1 Objetivo e racional

Este relatório investiga padrões sazonais semanais para Covid-19, Influenza e Vírus Sincicial Respiratório (VSR) ao longo dos anos, usando:
- Incidência semanal por 100 mil hab.
- Métricas sazonais (semana do pico, amplitude, duração da temporada, centro de gravidade temporal).
- Estatística circular para comparar o timing dos picos entre diagnósticos.
- Modelagem com GAM cíclico (captura sazonalidade flexível por semana).
- Correlação e defasagem entre séries (quem antecipa quem).
- Visualizações: heatmap semana×ano, subseries por ano, curvas suavizadas e polar.




2 Construção da incidência semanal

Abaixo calculamos a incidência semanal agregada (somando casos e populações municipais por ano) e forçamos a presença de todas as semanas (1–53) por diagnóstico×ano para evitar “quebras” nas linhas.

Nota de interpretação: usar a população total anual (soma das populações municipais únicas) evita dupla contagem e padroniza o denominador para comparar semanas dentro do mesmo ano.




3 Análises descritivas

3.1 1) Subseries (linhas por ano)

Leitura: picos recorrentes na mesma janela de semanas indicam sazonalidade estável.

Os perfis por ano mostram: Entre 2023–2025, os perfis semanais indicam sazonalidade estável para Influenza (picos SE16–21; maior amplitude em 2025) e VSR (picos SE13–18; amplitude crescente). A Covid-19 mantém pico precoce consistente (SE8–9), porém com queda acentuada de magnitude até 2025; só 2023 teve elevação tardia (SE40–42). Em suma, estabilidade temporal para Influenza/VSR, variabilidade de magnitude para Covid-19.

3.2 2) Heatmap semana × ano

Leitura: faixas verticais mais intensas indicam períodos de maior risco por ano.

Os heatmaps de 2023–2025 mostram “janelas quentes” claras: Influenza concentra-se no miolo do ano (SE15–26), com pico mais intenso em 2025 (SE21, 2,25/100 mil); o VSR antecipa essa janela (SE12–18), com padrão altamente consistente e intensidade crescente até 2025 (SE18, 1,49/100 mil). Já a Covid-19 concentra-se no início do ano (SE1–10), apresenta manchas menos regulares, um aumento tardio em 2023 (SE40–42) e queda marcante de magnitude em 2025 (pico de 0,68/100 mil).

3.3 3) Polar (visão circular do ano)

Filtros interativos:

Use os filtros acima para escolher quais diagnósticos e anos deseja visualizar simultaneamente.

Leitura: o ângulo (semana) do maior raio indica timing sazonal; “pétalas” alinhadas sugerem consistência anual.

A visualização polar (MA3, 2023–2025) evidencia alto alinhamento temporal para VSR (picos entre SE13–18) e Influenza (SE16–21), com maior amplitude em 2025: VSR 1,49/100 mil (SE18) e Influenza 2,25/100 mil (SE21). Já a Covid-19 concentra-se no início do ano (SE8–10), porém com baixa consistência de magnitude—picos mais altos em 2023–2024, elevação secundária em 2023 (SE40–42) e queda acentuada em 2025 (0,68/100 mil).




4 Métricas sazonais (pico, amplitude, duração, centro de gravidade)

Interpretação guiada

  • semana_pico: quando ocorrem os picos por ano.
  • duracao_sem: tamanho da “temporada” (semanas ≥ P80).
  • centro_grav: “média ponderada” do calendário epidêmico.
  • indice_sazonal: quanto o pico se afasta da média (sazonalidade mais “aguda” = maior valor).

Covid-19: Pico sazonal no início do ano (SE8–9) em 2023–2025; maior pico em 2023 (1,81/100 mil, SE9) e queda marcada em 2025 (0,68/100 mil, SE8). Temporada estável (11 semanas); 2025 teve maior índice de sazonalidade, indicando onda mais aguda apesar da baixa magnitude.

Influenza: Picos no miolo do ano (SE16–21); 2025 apresentou o maior pico (2,25/100 mil, SE21) e o índice sazonal mais alto (5,19), caracterizando temporada mais curta e intensa. Duração: 11–12 semanas.

VSR: Picos precoces (SE13–18) com amplitude crescente (de 0,73 para 1,49/100 mil, 2023→2025) e duração constante (11 semanas). Centro de gravidade ~SE20, anterior ao da Influenza em 2024–2025, sugerindo antecedência temporal.

Em conjunto, 2023–2025 revela sazonalidade consistente: Covid-19 com pico precoce (SE8–9) e menor magnitude recente; VSR abrindo a temporada (SE13–18); Influenza dominando o miolo (SE16–21), com 2025 mais intenso. As temporadas são estáveis (≈11–12 semanas).

4.1 Boxplots comparando diagnósticos




5 Estatística circular (timing dos picos)

Tratamos semana do pico como ângulo no círculo (0, 2π).

Teste de Rayleigh (concentração angular). Avalia se as direções/ângulos se distribuem uniformemente no círculo. Aqui cada semana do pico vira um ângulo; rejeitar H₀ (p < 0,05) implica sazonalidade verdadeira, com picos concentrados no calendário.


Teste de Watson–Williams (ANOVA circular). Compara as médias angulares de grupos (diagnósticos). H₀: os picos médios ocorrem no mesmo momento do ciclo anual. Rejeitar H₀ indica ordem temporal distinta; na Tabela 4a-4b, as colunas por diagnóstico apresentam a média angular (radianos) e a semana epidemiológica correspondente.

Leitura das tabelas

  • A Tabela 3 confirma sazonalidade significativa para todos os diagnósticos (p < 0,05) e reporta o timing médio dos picos: Covid-19 (SE 8), VSR (SE 16) e Influenza (SE 20).
  • A Tabela 4 separa o resultado global (estatística F, gl, p) e o resumo por diagnóstico (média angular em radianos/SE), evidenciando que os timings médios diferem (F = 20,081; p = 0,002) e mantendo a ordem temporal Covid-19 → VSR → Influenza.



6 Modelagem com GAM cíclico (semana ~ s(. , bs = “cc”))

Por que GAM cíclico? Usamos um modelo aditivo generalizado no qual a incidência semanal é explicada por funções suaves cíclicas da semana epidemiológica (bs = "cc"), permitindo capturar padrões sazonais sem assumir formato paramétrico pré-definido. Cada diagnóstico recebe seu próprio suave e adicionamos um termo de efeito aleatório para o ano, acomodando heterogeneidade interanual residual.

Leitura das tabelas (GAM)

  • Tabelas 6a–6b: os termos paramétricos capturam diferenças médias entre diagnósticos (referência: Covid-19). Os suavizadores s(semana_epi) específicos obtiveram valores elevados de edf e estatísticas F significativas (p < 0,001), confirmando sazonalidade robusta para Covid-19, Influenza e VSR. O termo aleatório s(ano) apresentou efeito mais discreto.
  • Tabela 6c: o ajuste explicou ~53% da variabilidade (R² ajustado 0,50; desvio explicado 0,53), reforçando que o componente sazonal domina as séries semanais.

6.1 Curvas previstas por diagnóstico (média nos anos)

Leitura: as curvas suavizadas mostram o “perfil” sazonal médio por diagnóstico e os intervalos de incerteza.

GAM com spline cíclico por semana (2023–2025), o modelo explicou 52,8% da variabilidade (R²aj = 0,50). Os termos sazonais se (semana_epi) foram altamente significativos para Covid-19, Influenza e VSR (p<2e−16), enquanto o efeito de ano não foi significativo (p=0,16). As curvas previstas mostram VSR com pico único na SE≈18, Influenza na SE≈20–22 e Covid-19 com perfil bimodal (pico primário SE 8–10 e secundário SE≈40).




7 Correlação e defasagem entre séries

A seguir calculamos a correlação cruzada (CCF) entre Influenza e VSR, e entre Covid-19 e Influenza, por ano (incidência semanal). Lags positivos significam que a série Y (segunda) ocorre depois da série X (primeira).

7.1 Visualização dos lags máximos e correlações

Interpretação: Nesta parametrização (ccf(dx, dy)), lag_max < 0 indica que diag_y tende a atingir seu pico após diag_x (Y fica deslocado para a direita de X). Observe também cor_max, que quantifica a força da associação.

7.2 Leituras numéricas (Tabela 7 / Heatmap)

  1. VSR → Influenza

    • Defasagem: lag_max = -7, -2, -2 ⇒ Influenza ocorre cerca de 7 semanas após o VSR em 2023 e ~2 semanas depois em 2024–2025.
    • Força: correlações altas (r = 0,85; 0,71; 0,88).
  2. Covid-19 → VSR

    • Defasagem: lag_max = -4, -8, -12 ⇒ VSR sucede a Covid-19 em ~4, 8 e 12 semanas (2023–2025).
    • Força: associações moderadas/fortes (r = 0,58; 0,68; 0,69).
  3. Covid-19 → Influenza

    • Defasagem: lag_max = -12, -8, -14 ⇒ Influenza vem 8–14 semanas após Covid-19 (variação anual).
    • Força: moderada a forte (r = 0,62; 0,43; 0,75).

Síntese temporal 2023–2025: Covid-19 surge primeiro, seguido por VSR (4–12 semanas depois) e, na sequência, Influenza (2–7 semanas após VSR, 8–14 após Covid-19). As correlações são mais altas no elo VSR→Influenza, reforçando a utilidade do VSR como alerta de curto prazo para a temporada de Influenza. Covid-19 permanece como marcador inicial, porém com correlações um pouco menores e mais variáveis entre anos.

Implicações operacionais: Monitorar Covid-19 como indicador de início de temporada respiratória, usar o pico de VSR para planejar respostas rápidas para Influenza (ampliação de leitos, testagem, campanhas). Manter vigilância sobre fatores que possam encurtar/alongar as defasagens.

Notas metodológicas (para transparência):

  • Séries padronizadas por ano antes do CCF (remove nível/escala).
  • Janela ±15 semanas; lag>0 significa Y depois de X.
  • CCF mede associação temporal, não causalidade; sazonalidade compartilhada pode inflar r.



8 Síntese final

  1. Sazonalidade — Os padrões gráficos (Heatmaps e Visualização Polar) e as métricas confirmam sazonalidade consistente para Influenza e VSR. Diferentemente de análises anteriores, o teste de Rayleigh indicou concentração significativa do timing dos picos para todos os três diagnósticos (P-values < 0.05). O Watson–Williams detectou diferença estatística significativa no timing médio dos picos entre diagnósticos (P = 0.002196), com o Covid-19 sendo o mais precoce, seguido pelo VSR e, por fim, pela Influenza.

  2. Timing e intensidade — A média circular dos picos e a análise CCF confirmam que o VSR (pico médio em torno da SE 16) atinge o pico antes da Influenza (pico médio em torno da SE 20). Em 2025, a Influenza exibiu a maior intensidade (pico de 2.25/100k) e o maior índice de sazonalidade (5.19), sugerindo a temporada mais “aguda” do período 2023–2025. A duração das temporadas (duracao_sem) é consistentemente 11 ou 12 semanas para todos os diagnósticos.

  3. Defasagens (CCF) — Entre 2023–2025, observou-se uma ordem temporal sequencial clara: Covid-19 → VSR → Influenza. O VSR consistentemente precede a Influenza por 2 a 7 semanas (correlações fortes, 0.71 a 0.88). O Covid-19 precede o VSR por 4 a 12 semanas (cor: 0.58 a 0.69) e precede a Influenza por 8 a 14 semanas (cor: 0.43 a 0.75).

  4. Modelagem — A Modelagem GAM cíclica se mostrou robusta nesta especificação, com todos os termos suaves sazonais (s(semana_epi)) altamente significativos (p<2e−16). O ajuste do modelo capturou o formato sazonal médio (VSR e Influenza unimodais, Covid-19 bimodal) e explica 52.8% da variabilidade (R2 adj. ≈ 0.502). O termo de efeito aleatório para o ano (s(ano)) não foi estatisticamente significativo (p=0.16), sugerindo que a sazonalidade média domina a variância observada na série.

  5. Covid-19 — No período 2023–2025, o Covid-19 manteve seu pico primário concentrado no início do ano (SE 8–9), com sazonalidade confirmada estatisticamente pelo Teste de Rayleigh. Contudo, a amplitude de incidência variou drasticamente, com picos altos em 2023/2024 e forte queda em 2025 (pico de 0.68/100k).

  6. Implicações operacionais — A sequência de defasagem Covid-19 → VSR → Influenza estabelece janelas de previsão valiosas. O VSR deve ser monitorado como um marcador subsequente ao Covid-19 e antecedente claro do pico de Influenza. Planejar capacidade assistencial e vigilância laboratorial com antecedência de 2 a 7 semanas é crítico para o pico de Influenza, após o pico de VSR. Manter monitoramento semanal é fundamental para capturar variações interanuais na dinâmica de circulação.