O objetivo deste relatório é analisar e explicar se devido ao aumento do risco-país, o Brasil precisa pagar juros maiores para se financiar nos mercados nacional e internacional. Além disso, busca-se compreender os impactos econômicos e fiscais decorrentes dessa dinâmica, evidenciando como mudanças na percepção de risco soberano influenciam o custo da dívida pública, o câmbio, a inflação e o crescimento econômico do país.
O governo de um país, com o objetivo de captar recursos para financiar déficits públicos, recorre à emissão de títulos da dívida soberana. Esses títulos são adquiridos por investidores, que, ao emprestar recursos ao Estado, exigem uma remuneração como compensação pelo risco associado a esse investimento.
Essa remuneração, ou melhor, os juros, representam o custo de financiamento do país e variam de acordo com o nível de confiança que o mercado possui na economia local. Em contextos de estabilidade fiscal, política e monetária, os investidores tendem a aceitar taxas mais baixas, refletindo maior credibilidade e previsibilidade das contas públicas. Entretanto, em períodos de deterioração fiscal, elevação da dívida pública ou instabilidade política, a percepção de risco aumenta, levando os agentes a demandar juros mais altos como forma de proteção adicional.
Nesse sentido, compreender o comportamento do risco-país, medido por indicadores como o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, é essencial para analisar como variações na percepção de risco afetam o custo de financiamento do Brasil e, por consequência, a dinâmica macroeconômica nacional.
O risco-país reflete a percepção dos investidores em relação à capacidade e à disposição de um governo em honrar seus compromissos financeiros. Em termos práticos, ele representa o prêmio de risco exigido pelo mercado para financiar a dívida soberana de um país, sendo um indicador-chave da confiança e da credibilidade macroeconômica.
Entre as métricas disponíveis, a mais utilizada atualmente é o Credit Default Swap (CDS) de cinco anos. O CDS é um derivativo de crédito negociado no mercado internacional que expressa o custo de proteção contra o calote da dívida soberana. Seu valor é cotado em pontos-base, e pode ser interpretado como o custo anual de um seguro contra o risco de inadimplência. Assim, quando aumenta a percepção de risco o CDS tende a se elevar. Em contrapartida, melhora nas expectativas econômicas, credibilidade fiscal e estabilidade monetária reduzem sua cotação.
Relação entre Risco-País (CDS) e Taxa de Juros (Selic)
A análise dinâmica evidencia a relação entre o CDS de cinco anos e a taxa Selic (correlação de 0.303), com correlação mais forte em períodos de estresse financeiro, como durante a crise global de 2008–2009 e a recessão doméstica de 2015–2016, quando o aumento do risco soberano exigiu taxas de juros mais elevadas para conter pressões cambiais e inflacionárias.
No período de 2020, a queda expressiva da Selic refletiu uma política monetária expansionista adotada para mitigar os impactos econômicos da pandemia de COVID-19. Observa-se, contudo, que nem sempre há uma correlação direta entre o risco-país e os juros domésticos, uma vez que, em momentos recentes, a elevação da Selic tem sido influenciada por outros fatores, como a desancoragem das expectativas de inflação e o reajuste do cenário fiscal.
Para ilustrar a relação entre o risco-país e os principais fundamentos da economia brasileira, foram elaborados gráficos que mostram:
Correlação entre CDS e variáveis macroeconômicas
Observa-se que o risco-país mantém uma relação positiva com o câmbio, indicando que, à medida que aumenta a percepção de risco, há tendência de desvalorização do real frente ao dólar. Também se verifica uma associação positiva, embora mais fraca, com a dívida bruta e com a inflação, sugerindo que momentos de maior incerteza costumam coincidir com pressões fiscais e de preços. A relação com a taxa Selic é levemente positiva, o que reflete o fato de que, em contextos de risco elevado, a política monetária tende a reagir com elevação dos juros para conter a inflação e atrair capital.
Destaca-se a forte correlação positiva entre Câmbio e Dívida Bruta (0.86). Essa relação elevada ocorre porque, no Brasil, grande parte da dívida pública está atrelada ao câmbio ou é sensível a variações cambiais. Quando o dólar sobe, o valor da dívida indexada à moeda estrangeira aumenta automaticamente em termos de reais, pressionando o endividamento público. Além disso, a desvalorização cambial costuma coincidir com momentos de instabilidade fiscal, quando investidores perdem confiança e retiram recursos do país, elevando simultaneamente o câmbio e a percepção de risco sobre a sustentabilidade da dívida. Assim, ambas as variáveis tendem a se mover juntas em períodos de crise ou incerteza macroeconômica.
É importante destacar que essas correlações mostram apenas associações entre as variáveis e não implicam causalidade direta.
Relação entre Taxa de Câmbio e Risco-País (CDS)
O comportamento conjunto dessas variáveis reforça o padrão observado nas correlações: períodos de aumento no risco-país coincidem com alta do câmbio, enquanto outras variáveis apresentam dinâmicas distintas. Esse padrão é especialmente visível nos episódios de crise fiscal ou política.
Relação entre Risco-País (CDS) e Inflação (IPCA)
A inflação, a associação é mais fraca e irregular. Embora picos de risco possam coincidir com aumentos temporários de preços — sobretudo quando a desvalorização cambial encarece importações —, outros fatores internos, como política monetária e choques de oferta, tendem a dominar a dinâmica inflacionária, enfraquecendo a correlação direta.
Relação entre Risco-País (CDS) e Dívida Bruta do Governo Geral
A dívida bruta apresenta relação positiva moderada com o risco-país. À medida que o endividamento público cresce, investidores percebem maior incerteza sobre a sustentabilidade fiscal, elevando o prêmio de risco exigido para financiar o governo. Assim, o aumento da dívida costuma ser acompanhado de alta nos spreads de CDS, refletindo preocupação com a capacidade de pagamento e o equilíbrio das contas públicas.
Relação entre Risco-País (CDS) e PIB
Já em relação ao PIB, a associação é predominantemente negativa. Períodos de desaceleração econômica ou recessão costumam coincidir com aumento do risco-país, pois menor crescimento implica menor arrecadação, piora fiscal e perda de confiança. Em contraste, fases de expansão econômica tendem a reduzir a percepção de risco, à medida que melhoram a capacidade de pagamento e atraem capital estrangeiro.
Quando o risco-país aumenta, o governo precisa oferecer juros maiores para atrair investidores externos, elevando o custo de financiamento da dívida pública. Essa alta da taxa básica (Selic) tende a ser replicada nas taxas cobradas pelos bancos em empréstimos e financiamentos. Em outras palavras, bancos e financeiras repassam o encarecimento da captação do governo para empresas e famílias.
Como consequência, financiamentos imobiliários, empréstimos para compra de máquinas e capital de giro ficam mais caros, desestimulando o consumo e o investimento. Em período de juros altos e risco elevado, observa-se um aperto das condições de crédito que afeta negativamente as decisões de investimento e consumo.
Um aumento súbito do risco-país geralmente causa fuga de capitais em busca de mercados mais seguros. Essa saída de recursos pressiona desvalorização do real frente ao dólar. Estudos de mercado ressaltam que, em momentos de incerteza fiscal ou política, investidores tendem a remeter ativos para o exterior, gerando forte demanda por dólares. A queda do real torna mais caro comprar a moeda estrangeira, alimentando expectativas de inflação e instabilidade financeira.
A desvalorização do real eleva diretamente o preço dos produtos importados e dos insumos importados usados pela indústria. Como mostram análises recentes, “a desvalorização do real em relação ao dólar encarece os importados e pressiona a inflação”. Por exemplo, em 2024 o dólar subiu de cerca de R$4,90 para R$6,19, fator que foi apontado como elemento-chave para a alta de preços naquele ano. Assim, um real mais fraco faz com que supermercados, indústrias e distribuidores repassem custos maiores ao consumidor, tornando a inflação geral mais difícil de conter.
Todos esses elementos somam-se para desacelerar a economia. Com juros mais altos e crédito caro, as empresas reduzem investimentos – por exemplo, a produção de bens de capital costuma recuar nos primeiros meses após cortes drásticos na oferta de crédito. Paralelamente, o consumo das famílias cai quando dívidas ficam difíceis de pagar; no Brasil recente, chegou-se a registrar inadimplência recorde enquanto a produção de bens duráveis caía.
Em suma, a combinação de juros elevados, investimento reduzido, consumo enfraquecido e inflação pressionada tende a provocar desaceleração do PIB e até recessão. Dados históricos ilustram esse efeito: por exemplo, no choque de 2015–2016 (crise fiscal e política), o risco-Brasil subiu muito e o PIB brasileiro encolheu 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016, enquanto a taxa de investimento sobre o PIB caiu de 17,8% para 15,5%.
Variável | Efeito Direto | Impacto na Economia |
---|---|---|
Crédito | Encarecimento | ↓ Investimento e Consumo |
Câmbio (R$/US$) | Desvalorização do Real | ↑ Preços de Importados |
Inflação (IPCA) | Pressão Inflacionária | ↑ Custo de Vida |
PIB | Desaceleração | ↓ Crescimento e Emprego |
O aumento do risco-país se traduz em juros e custos de crédito mais altos, o que encarece empréstimos para governos, empresas e consumidores. Essa elevação de custos provoca um efeito dominó negativo: como afirmam analistas financeiros, “juros elevados, inflação e crédito caro criam um ambiente menos dinâmico, prejudicando o crescimento e a geração de empregos”.
Na prática, ganhamos um círculo vicioso em que menos investimentos e consumo mais fracos pressionam ainda mais o crescimento (PIB) para baixo. Em síntese, sim: um risco-país mais alto eleva o custo de financiamento do Brasil e gera um impacto negativo em cascata na economia – do encarecimento do crédito até a redução do crescimento econômico.
Manter o risco-país em níveis baixos depende de previsibilidade e credibilidade das políticas públicas. Quanto mais estável e previsível for o país, menor será o seu risco-país e maior a atratividade para investidores. Da mesma forma, a responsabilidade fiscal sustenta a confiança do mercado e impede disparadas do risco.
Em resumo, para criar um ambiente favorável ao investimento e ao crescimento sustentável, é essencial aliar estabilidade política e disciplina orçamentária. Essas condições reduzem a incerteza, atraem capital externo e interno, e assim amortecem qualquer alta do risco-país, protegendo nossa economia das consequências em cascata descritas acima.
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