BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO: Arboviroses Urbanas no Estado de São Paulo

Autor

Divisão de Dengue, Chikungunya e Zika/CVE/CCD/SES-SP

Data de Publicação

2 de outubro de 2025

Introdução

As arboviroses urbanas — especificamente dengue, chikungunya e Zika — são doenças infecciosas transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, observadas com maior frequência em regiões de clima tropical e subtropical. Com significativas implicações à saúde pública tanto em escala nacional quanto no contexto específico do Estado de São Paulo (ESP), tais doenças apresentam-se como um desafio contínuo.

Este boletim descreve os dados relativos às notificações das arboviroses urbanas no ESP, registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) — SINAN Online para dengue e chikungunya, e SINAN Net para Zika — no período compreendido entre as semanas epidemiológicas (SE) 1 a 39 (01/01/2025 a 27/09/2025), referentes ao ano de 2025, com o objetivo de fornecer um panorama atualizado das arboviroses urbanas no ESP. Serão disponibilizados os números de casos notificados, confirmados e sob investigação; a distribuição espacial das taxas de incidência, dos óbitos e dos sorotipos identificados por Região de Saúde (RS); além da distribuição dos casos e óbitos confirmados segundo faixa etária e sexo, sinais/sintomas e condições pré-existentes. Adicionalmente, serão apresentados o diagrama de controle para dengue e a curva epidemiológica por SE para cada um dos agravos. Dados provisórios e sujeitos à atualização (atualizado em 02/10/2025).

Informações sobre o Manejo Clínico das Arboviroses – 2023, o Plano Estadual de Contingência das Arboviroses Urbanas – 2023/2024 e as Diretrizes para a Prevenção e Controle das Arboviroses Urbanas no Estado de São Paulo – revisão 2023 podem ser consultadas nos links e estão disponíveis na página do Centro de Vigilância Epidemiológica “Prof. Alexandre Vranjac” (CVE/CCD/SESP-SP).



Dengue

De 01 de janeiro até 27 de setembro de 2025 (SE 39), foram notificados 1.835.953 casos de dengue no SINAN, residentes em 645 municípios do ESP. Do total de casos notificados em 2025, 844.890 foram confirmados, sendo 825.959 (97,76%) classificados como dengue, 17.543 (2,08%) como dengue com sinais de alarme e 1.388 (0,16%) como dengue grave, com média de 3.084 confirmações diárias e incidência acumulada de 1.897 casos por 100.000 habitantes no período. Nas últimas quatro semanas epidemiológicas (SE 36 a 39), período que vai de 31 de agosto a 27 de setembro de 2025, foram confirmados 4.458 casos em 293 municípios.


Resumo de Casos e Óbitos de 2025


Em comparação ao mesmo período (SE 1 a 39) do ano de 2024, observou-se inalteração do número de notificações, inalteração das confirmações e inalteração dos óbitos por dengue (Tabela 1).


Tabela 1

Número de casos notificados, confirmados e óbitos por dengue, SE 1 a 39, 2024 e 2025, estado de São Paulo

Fonte: SINAN (atualizado em 02/10/2025)



Incidência


Até o momento, o pico de incidência de casos prováveis de dengue (confirmados + em investigação) ocorreu na SE 12, mais precocemente em relação ao padrão histórico e acima do limite superior (p75) estimado pelo diagrama de controle (Figura 1). Como a entrada dos dados no SINAN pode ser afetada pelo tempo até sua digitação e pelo intervalo entre o início dos sintomas e a busca por serviços de saúde, a incidência das semanas epidemiológicas mais recentes deve ser interpretada com cautela.



Figura 1

Diagrama de controle de casos prováveis de dengue — SE 1 a 39 de 2025, Estado de São Paulo



Distribuição territorial do estado de SP


As incidências acumuladas de casos confirmados de dengue em 2025 mais elevadas foram observadas nas RS São José do Rio Preto, Adamantina, Alta Sorocabana, e Baixa Mogiana. As RS com maior número de óbitos foram Reg Metro Campinas, Piracicaba, Sorocaba, Limeira, Araras, São José do Rio Preto, Rota dos Bandeirantes, e Mananciais. O coeficiente de incidência (× 100.000 habitantes), o número de casos e o número de óbitos por RS de residência podem ser consultados na Figura 2 e Figura 3 ao clicar na região de interesse. Na Tabela 2 e na Figura 4, também estão disponíveis o coeficiente de incidência, o número de casos e a variação percentual, em quatro semanas, da média de casos confirmados de dengue, segundo município de residência.


Figura 2

Coeficiente de incidência de casos confirmados de dengue (x 100.000 habitantes) segundo RS de residência, estado de São Paulo, 2025


Figura 3

Óbitos confirmados de dengue segundo RS de residência, estado de São Paulo, 2025


Tabela 2

Coeficiente de incidência, número de casos e percentual de variação em 4 semanas dos casos confirmados de dengue, segundo município de residência, estado de São Paulo, 2025


Figura 4

Percentual de variação em 4 semanas dos casos confirmados de dengue, segundo município de residência, estado de São Paulo, 2025



Análise de áreas quentes


Análises de áreas quentes, também chamadas de indicadores de autocorrelação espacial, são utilizadas para identificar regiões com alta incidência de eventos, como de casos prováveis de dengue, por meio de métodos estatísticos. A estatística Gi* de Getis avalia se um município e seus municípios vizinhos apresentam níveis significativamente elevados de incidência de casos prováveis dengue em comparação com a média geral do espaço geográfico em estudo, no caso, o ESP, conforme Figura 5.


Figura 5

Áreas quentes de dengue segundo município de residência (incidência de casos prováveis), estado de São Paulo, 2025



Sorotipos


Entre os casos de dengue confirmados com identificação do sorotipo viral, 5,29% foram DENV1, detectados em 60 das 63 RS, 71,26% DENV2 em 63 RS e 23,46% DENV3 em 61 RS (Figura 6). Os sorotipos detectidos são provenientes das amostras coletadas nas 71 unidades sentinelas da vigilância de arboviroses do ESP, assim como da vigilância universal de casos graves e óbitos por suspeita de dengue.


Figura 6

Distribuição dos sorotipos do vírus da dengue segundo RS de residência, estado de São Paulo, 2025



Características sociodemográficas


A faixa etária mais afetada pelos casos de dengue no estado de São Paulo foi a de 35 - 49 anos, com 25% dos casos registrados. Em seguida, destacaram-se as faixas etárias de 20 - 34 anos, com 25% dos casos, e de 50 - 64 anos, com 18% dos casos. A mediana de idade foi de 37 anos (IQR: 23–53). Quanto ao sexo de nascimento, 55% dos casos eram mulheres e 45% homens (Tabela 3), com detalhamento da distribuição etária por sexo na Figura 7. A raça/cor branca correspondeu a 69% dos casos e negra a 29% dos casos.


Tabela 3

Casos confirmados de dengue, segundo características sociodemográficas, estado de São Paulo, 2025

N = 850.7551
Idade 37 (23, 53)
Faixa etária
    1 - 4 22.120 (2,6%)
    5 - 9 39.634 (4,7%)
    10 - 14 46.336 (5,5%)
    15 - 19 62.720 (7,4%)
    20 - 34 212.871 (25%)
    35 - 49 214.500 (25%)
    50 - 64 154.671 (18%)
    65 - 79 79.241 (9,3%)
    > 80 17.189 (2,0%)
Sexo
    Feminino 463.727 (55%)
    Masculino 386.530 (45%)
1 Mediana (IQR); n (%). Fonte: SINAN, 02/10/2025


Figura 7

Casos confirmados de dengue, segundo características sociodemográficas, estado de São Paulo, 2025



Sintomas


Os sinais e sintomas mais frequentes entre os casos confirmados de dengue foram, respectivamente, febre, mialgia, cefaleia, náusea, e dor retro-orbitária (Figura 8).


Figura 8

Sintomas apresentados pelos casos confirmados de dengue, estado de São Paulo, 2025



Óbitos


Do total de 1078 óbitos por dengue confirmados no período, 550 (50%) foram no sexo feminino e 540 (50%) no sexo masculino. A raça/cor branca correspondeu a 76% dos óbitos e negra a 22%. A mediana de idade foi de 67 anos (IQR: 48–79). A faixa etária mais acometida foi a de 65 - 79 anos, com 29,29% dos óbitos. Em seguida, destacaram-se > 80 anos (24,98%) e 50 - 64 anos (19,56%). A maior letalidade foi observada em > 80 anos, atingindo 1,58% (Figura 9).


Figura 9

Número de óbitos e letalidade por dengue segundo faixa etária, estado de São Paulo, 2025



Fatores de risco, sinais de alarme e de gravidade


As doenças pré-existentes mais frequentes entre os casos que evoluíram para óbito por dengue foram hipertensão arterial sistêmica e diabetes (presentes em 49% e 30% dos casos). A ocorrência de sinais de alarme e de sinais de gravidade pode ser verificada na Figura 10.


Figura 10

Frequência de sinais de alarme e de gravidade entre casos que evoluíram para óbito por dengue, estado de São Paulo, 2025

Chikungunya


De 01 de January até 16 de agosto de 2025 (SE 33), foram notificados 21.251 casos de chikungunya no SINAN, residentes em 438 municípios do ESP. Do total de casos notificados em 2025, 6.647 foram confirmados como chikungunya, com média de 30 confirmações diárias e incidência acumulada de 16 casos por 100.000 habitantes no período. Nas últimas quatro semanas epidemiológicas (SE 30 a 33), período que vai de 20 de julho a 16 de agosto de 2025, foram confirmados 48 casos em 20 municípios.


Resumo de Casos e Óbitos de 2025


Em comparação ao mesmo período (SE 1 a 33) do ano de 2024, observou-se inalteração do número de notificações, inalteração das confirmações e inalteração dos óbitos por chikungunya (Tabela 4).


Tabela 4

Número de casos notificados, confirmados e óbitos por chikungunya, SE 1 a 33, 2024 e 2025, estado de São Paulo

Fonte: SINAN (atualizado em 22/08/2025)



Incidência


Até o momento, o pico de incidência de casos prováveis de chikungunya (confirmados + em investigação) ocorreu na SE 4, mais precocemente em relação ao padrão histórico e acima do limite superior (p75) estimado pelo diagrama de controle (Figura 11). Como a entrada dos dados no SINAN pode ser afetada pelo tempo até sua digitação e pelo intervalo entre o início dos sintomas e a busca por serviços de saúde, a incidência das semanas epidemiológicas mais recentes deve ser interpretada com cautela.


Figura 11

Diagrama de controle de casos prováveis de chikungunya — SE 1 a 33 de 2025, Estado de São Paulo



Distribuição territorial do estado de SP


As incidências acumuladas de casos confirmados de chikungunya em 2025 mais elevadas foram observadas nas RS Alto Capivari, Tupã, Marília, e José Bonifácio. As RS com maior número de óbitos foram Marília, Tupã, Alto Capivari, Consórcios do DRS II, Lins, Reg Metro Campinas, Jundiaí, e José Bonifácio. O coeficiente de incidência (× 100.000 habitantes), o número de casos e o número de óbitos por RS de residência podem ser consultados na Figura 12 ao clicar na região de interesse. Na Tabela 5, também estão disponíveis o coeficiente de incidência, o número de casos e a variação percentual, em quatro semanas, da média de casos confirmados de chikungunya, segundo município de residência.


Figura 12

Coeficiente de incidência de casos confirmados de chikungunya (x 100.000 habitantes) segundo RS de residência, estado de São Paulo, 2025


Tabela 5

Coeficiente de incidência, número de casos e percentual de variação em 4 semanas dos casos confirmados de chikungunya, segundo município de residência, estado de São Paulo, 2025



Características sociodemográficas


A faixa etária mais afetada pelos casos de chikungunya no estado de São Paulo foi a de 50 - 64 anos, com 27% dos casos registrados. Em seguida, destacaram-se as faixas etárias de 35 - 49 anos, com 25% dos casos, e de 65 - 79 anos, com 18% dos casos. A mediana de idade foi de 49 anos (IQR: 34–63). Quanto ao sexo de nascimento, 63% dos casos eram mulheres e 37% homens (Tabela 6), com detalhamento da distribuição etária por sexo na Figura 13. A raça/cor branca correspondeu a 69% dos casos e negra a 30% dos casos.


Tabela 6

Casos confirmados de chikungunya, segundo características sociodemográficas, estado de São Paulo, 2025

N = 6.7881
Idade 49 (34, 63)
Faixa etária
    1 - 4 56 (0,8%)
    5 - 9 160 (2,4%)
    10 - 14 219 (3,2%)
    15 - 19 229 (3,4%)
    20 - 34 1.068 (16%)
    35 - 49 1.678 (25%)
    50 - 64 1.858 (27%)
    65 - 79 1.206 (18%)
    > 80 305 (4,5%)
Sexo
    Feminino 4.270 (63%)
    Masculino 2.513 (37%)
1 Mediana (IQR); n (%). Fonte: SINAN, 22/08/2025


Figura 13

Casos confirmados de chikungunya, segundo características sociodemográficas, estado de São Paulo, 2025



Sintomas


Os sinais e sintomas mais frequentes entre os casos confirmados de chikungunya foram, respectivamente, mialgia, febre, cefaleia, artralgia, e dor nas costas (Figura 14).


Figura 14

Sintomas apresentados pelos casos confirmados de chikungunya, estado de São Paulo, 2025



Zika

De 01 de January até 26 de abril de 2025 (SE 17), foram notificados 1.112 casos de Zika no SINAN, residentes em 91 municípios do ESP. Do total de casos notificados em 2025, 3 foram confirmados.


Resumo de Casos e Óbitos de 2025


Em comparação ao mesmo período (SE 1 a 17) do ano de 2024, observou-se inalteração do número de notificações e inalteração das confirmações na população geral (Tabela 7). Entre gestantes, houve inalteração das notificações, com inalteração confirmações (Tabela 8). O ESP permaneceu sem ocorrência de óbitos por Zika.


Tabela 7

Número de casos notificados, confirmados e óbitos por Zika na população geral, SE 1 a 17, 2024 e 2025, estado de São Paulo

Fonte: SINAN (atualizado em 28/04/2025 )


Tabela 8

Número de casos notificados, confirmados e óbitos por Zika entre gestantes, SE 1 a 17, 2024 e 2025, estado de São Paulo

Fonte: SINAN (atualizado em 28/04/2025 )



Características sociodemográficas


A faixa etária mais afetada pelos casos de Zika no estado de São Paulo foi a de 20 - 34 anos, com 50% dos casos confirmados. A mediana de idade foi de 33 anos (IQR: 16–41) (Tabela 9).


Tabela 9

Casos confirmados de Zika, segundo características sociodemográficas, estado de São Paulo, 2025

N = 31
Idade 33 (0, 49)
Faixa etária
    20 - 34 1 (50%)
    35 - 49 1 (50%)
Sexo de nascimento
    Feminino 1 (33%)
    Masculino 2 (67%)
1 Mediana (IQR); n (%). Fonte: SINAN, 28/04/2025



Incidência


Como as medidas baseadas na mediana e no primeiro quartil ficaram próximas de zero na maior parte das semanas, a Figura 15 apresenta o diagrama de controle com média histórica e faixas de desvio-padrão (±1 DP e ±1,96 DP) por semana epidemiológica. A série de 2025 é exibida em barras (confirmados e em investigação). Em complemento, a Figura 16 mostra, em mapas, a situação por Região de Saúde na população geral e entre gestantes.


Figura 15

Diagrama de controle de casos prováveis de Zika — SE 1 a NA de 2025, Estado de São Paulo



Distribuição territorial do estado de SP


Figura 16

RS com casos confirmados e em investigação de Zika na população geral e entre gestantes, estado de São Paulo, 2025

Notas técnicas

Definições dos indicadores

  • Confirmados: notificações que foram encerradas como caso de dengue por exame laboratorial (p.ex., RT-PCR/NS1/sorologia conforme protocolo) ou por critério clínico-epidemiológico.

  • Prováveis: soma dos casos confirmados com os casos em investigação no período.

    • Regra usada neste boletim: Prováveis = Confirmados + Em investigação.
  • Em investigação: notificações de casos suspeitos que aguardam resultado laboratorial e/ou encerramento por critério clínico-epidemiológico.

  • Descartados: notificações que não atenderam aos critérios para dengue após resultado laboratorial negativo, confirmação de outra etiologia ou revisão clínico-epidemiológica.

  • Óbitos em investigação: número de óbitos notificados com suspeita de dengue que ainda não foram encerrados (aguardando confirmação ou descarte).

  • Número de óbitos: óbitos confirmados por dengue (encerrados como óbito pelo agravo) no período e recorte analisados.

  • Dengue com Sinal de Alarme: caso de dengue com pelo menos um dos sinais de alarme, entre outros previstos em norma, tais como:

    • dor abdominal intensa e contínua;
    • vômitos persistentes;
    • sangramento de mucosas;
    • letargia/irritabilidade;
    • hipotensão postural/lipotimia;
    • hepatomegalia dolorosa;
    • aumento progressivo do hematócrito e/ou queda rápida de plaquetas;
    • derrames cavitários.
  • Dengue Grave: caso de dengue com pelo menos um dos critérios de gravidade:

    • extravasamento plasmático com choque (ou insuficiência respiratória por acúmulo de líquidos);
    • sangramento grave;
    • comprometimento grave de órgãos (p.ex., AST/ALT ≥ 1000, miocardite, encefalopatia/alteração de consciência).
  • Coeficiente de incidência: medida de casos novos no período, por 100.000 hab.
    Fórmula:
    \[\text{Incidência}=\frac{\text{casos confirmados no período}}{\text{população residente}}\times 100{,}000\]

    • Denominador: população residente estimada (ex.: IBGE). Quando aplicável nos mapas, usa-se o total por RS/município.
  • Taxa de letalidade: proporção de óbitos entre os casos confirmados de dengue.
    Fórmula:
    \[\text{Letalidade}~(\%)=\frac{\text{óbitos por dengue}}{\text{casos confirmados de dengue}}\times 100\]

Notas operacionais deste boletim

  • A série “prováveis” considera confirmados + em investigação (inclui registros com classificação ausente/“em investigação”).
  • Óbito por dengue é identificado pelo encerramento no campo de evolução (p.ex., “Óbito”/“Óbito por dengue”).
  • Para mapas por RS/município, o local de residência é a chave de agregação.
  • Para incidência, quando a população externa não está disponível, utiliza-se a soma das variáveis de população da própria base.