Análise de espacial de processos pontuais Aplicados a focos de queimadas entre o Primeiro e segundo do ano de 2024 no estado de Minas Gerais

Denilson De Oliveira Silva

29/06/2025

Inicialmente Mostrando quais bibliotecas são necessárias para realização desta análise

Bibliotecas necessárias e suas funcionalidades.

  • leaflet.extras: Extensões do leaflet para mapas interativos, como heatmaps e ferramentas de desenho.
  • RColorBrewer: Paletas de cores elegantes para gráficos e mapas.
  • htmlwidgets: Permite incorporar widgets HTML interativos em documentos R, como mapas e gráficos.
  • lubridate: Facilita o trabalho com datas e horários no R.
  • ggspatial: Adiciona escalas, setas de norte e outros elementos cartográficos ao ggplot2.
  • spatstat: Ferramentas para análise espacial de padrões pontuais.
  • classInt: Geração de intervalos de classes para mapear dados contínuos.
  • ggrepel: Evita sobreposição de textos em gráficos ggplot2.
  • leaflet: Criação de mapas interativos em R.
  • ggplot2: Sistema de visualização de dados baseado na gramática dos gráficos.
  • tibble: Estrutura de dados moderna para data.frames mais robustos e legíveis.
  • raster: Manipulação e análise de dados raster (imagens geográficas).
  • readxl: Leitura de arquivos Excel (.xls e .xlsx).
  • readr: Importação rápida e eficiente de arquivos de texto, como CSV.
  • knitr: Geração de relatórios dinâmicos em RMarkdown.
  • geobr: Dados geográficos oficiais do Brasil, como municípios, estados e regiões.
  • dplyr: Manipulação de dados com uma sintaxe clara e eficiente.
  • spdep: Análise de dependência espacial, como autocorrelação e vizinhança.
  • tmap: Criação de mapas temáticos estáticos e interativos.
  • sp: Classes e métodos para dados espaciais tradicionais (ponto, linha, polígono).
  • sf: Manipulação moderna de dados espaciais com suporte a Simple Features (substitui sp).

Carregando o shape das Mesoregiões de Minas Gerais que será utilizado no estudo.

Minas_gerais = st_read("C:/Users/Denilson/Desktop/9° Periodo/Estatistica espacial/ATIVIDADES DE ESPACIAL/Atividade 2/ide_1102_mg_mesorregioes_ibge_pol.shp")
## Reading layer `ide_1102_mg_mesorregioes_ibge_pol' from data source 
##   `C:\Users\Denilson\Desktop\9° Periodo\Estatistica espacial\ATIVIDADES DE ESPACIAL\Atividade 2\ide_1102_mg_mesorregioes_ibge_pol.shp' 
##   using driver `ESRI Shapefile'
## Simple feature collection with 12 features and 2 fields
## Geometry type: POLYGON
## Dimension:     XY
## Bounding box:  xmin: -51.04608 ymin: -22.92276 xmax: -39.85683 ymax: -14.23318
## Geodetic CRS:  SIRGAS 2000

Agora a seguir motrando alguns Procedimentos a ser feito para realização da análise

temos que transforma para o sistema de coordenadas UTM (zona 22s)

MGbord_projetada = st_transform(Minas_gerais, crs = 32722)

Converte as coordenadas para quilômetros para uma melhor interpretação

MGbord_projetada_KM = st_geometry(MGbord_projetada) / 1000

Carregando as bases de dados de cada semestre para realização do estudo.

queimadas1 = read.csv("C:/Users/Denilson/Desktop/9° Periodo/Estatistica espacial/ATIVIDADES DE ESPACIAL/Atividade 2/1 - Semestre - focos de queimadas/Focos - Primeiro Semestre.csv")

queimadas2 =  read.csv("C:/Users/Denilson/Desktop/9° Periodo/Estatistica espacial/ATIVIDADES DE ESPACIAL/Atividade 2/2 - Semestre - focos de queimadas/Focos - Segundo Semestre.csv")

Dando um attach nas bases para agilizar um pouco o processo e evitar ta usando o “$” toda vez que for chamar uma váriavel

attach(queimadas2)
attach(queimadas1)

Transformação em objeto espacial

queimadas_sf1 <- st_as_sf(queimadas1, coords = c("Longitude", "Latitude"), crs = 32722)
queimadas_sf2 <- st_as_sf(queimadas2, coords = c("Longitude", "Latitude"), crs = 32722)

Seleciona apenas as colunas de longitude e latitude dos focos de queimadas.

##   Longitude  Latitude
## 1 -50.74512 -19.71061
## 2 -40.12222 -15.97245
## 3 -46.28454 -21.81822
## 4 -46.40746 -21.55711
## 5 -46.34776 -21.53471
## 6 -46.58890 -20.56197
##   Longitude  Latitude
## 1 -42.45118 -20.40310
## 2 -44.65825 -14.91091
## 3 -45.83865 -21.14320
## 4 -45.83710 -21.14312
## 5 -45.84402 -21.14205
## 6 -45.84254 -21.14199

Definimos o sistema de projeção das coordenadas Geográficas (WLS84)

criamos um objeto SpatialPointsDataFrame com os pontos de queimadas

Obtemos a caixa delimitadora dos pontos espaciais

##                 min       max
## Longitude -51.01504 -39.90672
## Latitude  -22.88236 -14.26816
##                 min       max
## Longitude -50.98317 -39.89336
## Latitude  -22.88245 -14.27745

Conversão da malha estadual para uma janela de observação espacial

library(spatstat.geom)
window = as.owin(MGbord_projetada_KM)

Conversão dos pontos espaciais para formato sf

Transformação dos pontos para o sistema de coordenadas UTM (zona 22s)

Conversão das coordenadas dos pontos para quilometros

extração das coordenadas dos pontos projetados

Conversão para o formato PPP

1 - Introdução.

As queimadas em Minas Gerais são um problema sério para o meio ambiente. Elas afetam os animais, as plantas, pioram o ar que as pessoas respira e ajudam a aumentar o calor do planeta. Essas queimadas acontecem por causa da seca e também por ações das pessoas, como quando cortam árvores ou usam fogo para limpar a terra (Lima e Santos, 2020; Silva e Oliveira, 2019). Entender onde e quando essas queimadas acontecem pode ajudar a criar formas de evitar que elas continuem acontecendo.

Minas Gerais tem muitas áreas de matas, florestas e campos. Quando o fogo começa, ele pode se espalhar rápido e destruir tudo por onde passa. Muitas vezes, as queimadas começam porque alguém colocou fogo no mato para limpar o terreno e não conseguiu controlar. Outras vezes, o fogo começa sozinho por causa do tempo seco e do calor (Silva e Oliveira, 2019).

2 - Objetivo

O objetivo deste estudo é investigar a distribuição espacial dos focos de queimadas no estado de Minas Gerais, buscando verificar se existem padrões de agrupamento. A intenção é identificar áreas com maior concentração de focos e analisar se a distribuição é aleatória ou se há formação de clusters, o que pode indicar a influência de fatores ambientais ou humanos.

3 - Material e Métodos

3.1 - Dados e Ferramentas Utilizadas

Neste estudo, serão utilizados dados de focos de queimadas disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE, abrangendo todo o ano de 2024. A análise será dividida entre o primeiro e o segundo semestre, permitindo comparar possíveis variações. Os dados incluem coordenadas geográficas (latitude e longitude) dos focos registrados no estado de Minas Gerais e serão transformados em objetos espaciais com o pacote sf no R. A análise espacial será conduzida com o apoio das bibliotecas spatstat, tmap e raster, que oferecem ferramentas robustas para análise e visualização de dados espaciais.

3.2 - Processamento dos Dados Espaciais

Inicialmente, os dados serão importados e convertidos em objetos do tipo sf. Em seguida, será definida uma janela espacial (owin) com base nos limites geográficos do estado de Minas Gerais, delimitando a área de estudo. Posteriormente, os dados serão transformados em um processo pontual (ppp), estrutura necessária para aplicar as técnicas de análise espacial descritas a seguir.

3.3 - Estimativa de Densidade de Kernel

A estimativa de densidade de Kernel será utilizada para identificar áreas com maior concentração de focos de queimadas. Essa técnica aplica uma função de suavização a cada ponto, gerando uma superfície de densidade contínua.

3.4 - Teste de Aleatoriedade Espacial

Para verificar se os focos de queimadas seguem uma distribuição aleatória, serão aplicado o teste estatístico:

O teste de Kolmogorov-Smirnov, que avalia a uniformidade dos pontos ao longo do eixo X.

3.5 - Funções Espaciais: G, K e F

Três funções espaciais serão aplicadas para investigar a estrutura dos focos de queimadas:

  • Função G: Mede as distâncias entre pares de focos. Distâncias curtas indicam possíveis agrupamentos (Diggle, 2003).

  • Função K: Analisa a densidade de pontos em diferentes escalas, detectando agrupamentos em várias distâncias (Ripley, 1981).

  • Função F: Avalia a distância dos focos até pontos aleatórios no espaço, indicando a presença de áreas com alta concentração (Adrian Baddeley, 2015).

3.6 - Ajuste dos Modelos de Processos Pontuais

Serão ajustados quatro modelos para analisar como a posição geográfica (coordenadas espaciais) influencia a intensidade dos focos de queimadas:

  • Modelo 1: Intercepto – Assume uma distribuição homogênea dos focos.

  • Modelo 2: Coordenada X – Verifica variação da intensidade dos focos no eixo leste-oeste.

  • Modelo 3: Coordenada Y – Avalia a variação no eixo norte-sul.

  • Modelo 4: Coordenadas X e Y – Considera os dois eixos para capturar variações espaciais bidimensionais.

A escolha do melhor modelo será feita com base no Critério de Informação de Akaike (AIC), que compara a qualidade dos modelos ajustados.

4 - Resultados e discussões

Gráficos de séries temporais

No primeiro semestre, os focos de queimadas variaram bastante, com picos moderados em fevereiro e junho, mas sem ultrapassar 300 focos por dia. Já no segundo semestre, a situação foi mais intensa: os focos aumentaram muito a partir de agosto, com altos picos em setembro, chegando a quase 2.000 focos em um único dia, e começaram a cair só a partir de outubro.

Ou seja, os gráficos mostram que a maior parte das queimadas aconteceu no segundo semestre do ano, com destaque para os meses de agosto e setembro — provavelmente por causa do clima mais seco e mais dias sem chuva nesse período.

Mapa dos Focos de Queimadas

A Figura apresenta a distribuição espacial dos focos de queimadas ocorridos no estado de Minas Gerais no primeiro e segundo semestre de 2024. O mapa permite uma visualização inicial, dos locais afetados.

Gráficos interativos para o Mapa dos Focos de Queimadas

para o primeiro semestre

para o segundo semestre semestre

Verificando municípios com mais focos de queimadas no semestre 2024/1

Esse mapa mostra onde aconteceram mais focos de queimadas no estado de Minas Gerais durante o primeiro semestre do ano. Os pontos vermelhos maiores indicam os lugares com mais queimadas. As cidades destacadas no mapa foram:

  • São Roque de Minas – 637 focos

  • Delfinópolis – 600 focos

  • Paracatu – 592 focos

  • Itamarandiba – 391 focos

  • João Pinheiro – 380 focos

## # A tibble: 5 × 4
##   Municipio          focos   lon   lat
##   <chr>              <dbl> <dbl> <dbl>
## 1 SÃO ROQUE DE MINAS   637 -46.7 -20.2
## 2 DELFINÓPOLIS         600 -46.8 -20.3
## 3 PARACATU             592 -46.8 -17.3
## 4 ITAMARANDIBA         391 -42.8 -17.8
## 5 JOÃO PINHEIRO        380 -45.9 -17.7

Verificando municípios com mais focos de queimadas no semestre 2024/

Esse mapa mostra onde aconteceram mais focos de queimadas no estado de Minas Gerais durante o segundo semestre do ano. Os pontos vermelhos maiores indicam os lugares com mais queimadas. As cidades destacadas no mapa foram:

  • Lassance – 985 focos

  • Uberaba – 921 focos

  • Paracatu – 838 focos

  • Diamantina – 763 focos

  • Uberlândia – 720 focos

## # A tibble: 5 × 4
##   Municipio  focos   lon   lat
##   <chr>      <dbl> <dbl> <dbl>
## 1 LASSANCE     985 -44.4 -17.8
## 2 UBERABA      921 -48.0 -19.7
## 3 PARACATU     838 -47.0 -17.2
## 4 DIAMANTINA   763 -43.7 -18.1
## 5 UBERLÂNDIA   720 -48.3 -19.0

Mapa de contorno dos Focos de Queimadas nos semestre de 2024/1 e 2024/2

Os mapas a seguir mostram a distribuição dos focos de queimadas em Minas Gerais no ano de 2024, separados por semestre.

No primeiro semestre (2024/1), como visto nos mapas da esquerda, os focos estão mais espalhados e com menor intensidade. As cores predominantes são azul e azul claro, o que indica uma quantidade menor de queimadas, com algumas áreas concentrando até 500 focos. Não há regiões com queimas muito intensas levando em consideração o segundo semestre.

Já no segundo semestre (2024/2), mostrado nos mapas da direita, a situação muda bastante. As cores passam para amarelo, laranja e vermelho, principalmente no centro-sul do estado, o que indica uma alta concentração de queimadas, com áreas ultrapassando os 2.000 focos. Isso mostra que as queimadas aumentaram muito nesse período.

Em resumo, os mapas revelam que as queimadas foram mais intensas e concentradas no segundo semestre de 2024, o que pode estar ligado à estação seca, que favorece a propagação do fogo.

Agora vamos visualizar esses mapas de maneira interativa. Para os 2 semestres do ano.

Mapa interativos da intensidade dos Focos de Queimadas nos semestre de 2024/1 e 2024/2

semestre de 2024/1

semestre de 2024/2

Colocando à prova a CSR com o método dos quadrantes

Testando a CSR com o método dos quadrantes

Dado um padrão de pontos, a primeira pergunta geralmente é se existe alguma evidência que permita rejeitar a hipótese nula de aleatoriedade espacial completa (CSR - Complete Spatial Randomness). Um método simples utilizado para testar a CSR é o teste \(\chi^2\) baseado em contagens por quadrantes.

O método dos quadrantes divide a região de estudo em \(r\) linhas e \(c\) colunas, o que define:

\[ m = r \times c \]

Ou seja, temos \(m\) sub-regiões (quadrantes) não sobrepostos de área igual. Esse método se baseia no fato de que, segundo a hipótese de CSR, o número esperado de observações dentro de qualquer região de mesmo tamanho é o mesmo.

Seja \(n\) o número total de pontos observados, \(m\) o número de quadrantes e \(n_i\) o número de pontos no quadrante \(i\). O número esperado de pontos por quadrante, assumindo CSR, é dado por:

\[ n^* = \frac{n}{m} \]

A estatística de teste qui-quadrado compara os valores observados com os valores esperados:

\[ X^2 = \sum_{i=1}^{m} \frac{(\text{observado}_i - \text{esperado})^2}{\text{esperado}} \]

No contexto do teste de quadrantes com CSR, essa estatística é reescrita substituindo os termos pelas contagens reais e esperadas em cada quadrante:

\[ X^2 = \sum_{i=1}^{m} \frac{(n_i - n^*)^2}{n^*} \]

Sob a hipótese de CSR, a estatística \(X^2\) segue uma distribuição qui-quadrado com \(m - 1\) graus de liberdade. O teste consiste em comparar o valor observado de \(X^2\) com os valores críticos da distribuição \(\chi^2_{(m-1)}\), para avaliar se há evidência contra a aleatoriedade espacial completa.

A função quadratcount() do pacote spatstat divide a janela que contém o padrão de pontos em uma grade com \(n_x \times n_y\) quadrados (ou mosaicos retangulares) de mesmo tamanho, e conta quantos pontos há em cada célula da grade. Se a janela de estudo não for um retângulo perfeito, os quadrados são intersectados com a forma da janela. Vamos verificar abaixo.

Visualização dos quadrantes Para os semestre 2024/1 e 2024/2

Estimativa da Intensidade dos Pontos

A intensidade dos pontos, representada por lambda, nos dá uma medida da concentração média de focos de queimadas em toda a região.

## Intensidade média dos focos de queimada: 216.2729
## Intensidade média dos focos de queimada: 617.1366

A intensidade dos pontos, representada por λ, fornece uma medida da concentração média de focos de queimadas em toda a região analisada. A estimativa de intensidade calculada foi:

Intensidade média dos focos de queimada 2024/1: 216,3

Intensidade média dos focos de queimada 2024/2: 617,1

Estimativa de Densidade de Kernel

A estimativa de densidade de Kernel foi utilizada para identificar áreas de maior concentração de focos de queimadas. Abaixo apresenta os mapas de densidade dos focos, destacando as regiões com diferentes intensidades de queimadas, em 2041/1 e 2024/2

Estimativa de densidade com Kernel

densidade1 <- density(queimadas_ppp1, sigma = bw.diggle(queimadas_ppp1))
densidade2 <- density(queimadas_ppp2, sigma = bw.diggle(queimadas_ppp2))

Mapa de densidade de kermel.

No mapa da esquerda (2024/1), vemos poucos pontos com cores quentes (amarelo e rosa), o que indica que os focos estavam mais espalhados e com menor intensidade. As áreas com mais fogo ficam localizadas principalmente no sudoeste e em algumas poucas partes do norte do estado.

No mapa da direita (2024/2), há muito mais pontos coloridos, com várias regiões apresentando tons fortes de rosa e amarelo, o que mostra uma alta densidade de queimadas. Ou seja, no segundo semestre, as queimadas se intensificaram bastante e ocorreram com maior frequência em várias regiões do estado.

Testes de Aleatoriedade Espacial

Teste de Kolmogorov-Smirnov

O valor de D = 0.22347 e p-valor < 0,001 indicam que a distribuição dos focos ao longo da coordenada X no 2024/1 não é aleatória, sugerindo a existência de padrões espaciais.

O valor de D = 0.21828 e p-valor < 0,001 indicam que a distribuição dos focos ao longo da coordenada X no 2024/2 não é aleatória, sugerindo a existência de padrões espaciais.

Análise das Funções Espaciais

As funções espaciais G, K e F foram aplicadas para investigar a estrutura espacial dos focos de queimadas, avaliando padrões de agrupamento e dispersão. Os resultados das funções são apresentados abaixo.

  • A Função G: mede a distribuição das distâncias entre pares de focos de queimadas. O resultado indica um padrão de agrupamento, pois a curva observada (linha preta) está acima da curva teórica (linha vermelha), sugerindo a formação de clusters em curtas distâncias.

  • A Função K: quantifica a densidade dos focos em relação à distância. A curva observada também está acima da curva teórica, indicando uma densidade maior de focos em distâncias curtas, o que reforça a presença de agrupamentos significativos.

  • A Função F: avalia a proximidade dos focos em relação aos pontos de referência. O resultado mostra uma tendência de concentração em regiões específicas, confirmando a existência de áreas com alta densidade de focos de queimadas, especialmente nas regiões oeste e centro-oeste do estado.

Esses resultados sugerem que os focos de queimadas não estão distribuídos aleatoriamente, mas sim concentrados em clusters, possivelmente devido a fatores locais, como condições ambientais ou atividades humanas específicas.

Ajuste dos modelos de processos pontuais

Ajustamos diferentes modelos para verificar como as coordenadas espaciais influenciam a intensidade dos focos. Os modelos variam de uma abordagem simples (intercepto) até modelos com variáveis explicativas mais complexas.

Modelo 1: Intercepto

Este é o modelo mais simples, com apenas o intercepto. Ele assume que os focos estão uniformemente distribuídos.

modelo1 <- ppm(queimadas_ppp1, ~1)
modelo1.0 <- ppm(queimadas_ppp2, ~1)
aic1 <- AIC(modelo1)
aic1.0 <- AIC(modelo1.0)

Modelo 2: Coordenada X

Neste modelo, a coordenada X é incluída como variável explicativa, testando se há variação na intensidade dos focos ao longo do eixo X.

modelo2 <- ppm(queimadas_ppp1, ~x)
modelo2.0 <- ppm(queimadas_ppp2, ~x)
aic2 <- AIC(modelo2)
aic2.0 <- AIC(modelo2.0)

O Modelo 2 consegue capturar bem a tendência espacial dos focos de queimadas ao longo da coordenada X, prevendo um aumento dos focos de oeste para leste em ambos os semestres. A intensidade maior no segundo semestre indica uma sazonalidade, com mais queimadas no segundo semestre de 2024. Isso reforça a utilidade do modelo na previsão espacial com base apenas na posição longitudinal.

Modelo 3: Coordenada Y

Aqui, a coordenada Y é adicionada para verificar se os focos variam ao longo deste eixo.

modelo3 <- ppm(queimadas_ppp1, ~y)
modelo3.0 <- ppm(queimadas_ppp2, ~y)
aic3 <- AIC(modelo3)
aic3.0 <- AIC(modelo3.0)

O Modelo 3 considera a coordenada Y e identifica uma tendência crescente de queimadas do sul para o norte, visível nas duas previsões semestrais. O padrão espacial é mais sutil no primeiro semestre, enquanto o segundo semestre mostra uma intensidade consideravelmente maior, o que novamente sugere um comportamento sazonal. Esse modelo é útil para capturar padrões latitudinais nos dados.

Modelo 4: Coordenadas X e Y

Este modelo inclui ambas as coordenadas, X e Y, para capturar variações na intensidade dos focos de queimada ao longo dos dois eixos.

modelo4 <- ppm(queimadas_ppp1, ~x + y)
modelo4.0 <- ppm(queimadas_ppp2, ~x + y)
aic4 <- AIC(modelo4)
aic4.0 <- AIC(modelo4.0)

O Modelo 4, que incorpora as coordenadas X e Y, apresenta uma previsão espacial mais detalhada e realista. Ele consegue representar variações tanto no sentido leste-oeste quanto norte-sul, o que pode explicar por que ele obteve o menor valor de AIC em ambos os semestres. A variação da intensidade entre os semestres confirma a presença de sazonalidade e reforça o potencial do modelo para capturar padrões espaciais complexos de queimadas.

Tabela com Resumo dos AIC dos modelos.

A tabela a seguir resume os valores de AIC para cada modelo, permitindo a comparação de qual modelo melhor se ajusta aos dados.

Os resultados da tabela mostram os valores do AIC (Critério de Informação de Akaike) para diferentes modelos de análise espacial dos focos de queimadas em Minas Gerais nos dois semestres de 2024. O AIC serve para comparar modelos: quanto menor o valor, melhor é o ajuste do modelo aos dados.

Semestre 2024/1:

O modelo com menor AIC foi o Modelo 4 (Coordenadas X e Y), com valor de -181613,7, indicando que a inclusão das duas coordenadas (leste-oeste e norte-sul) melhora o ajuste e explica melhor a variação espacial das queimadas.

O Modelo 2 (Coordenada X) também teve bom desempenho (AIC = -181531,8), sugerindo que a localização leste-oeste influencia fortemente na distribuição dos focos.

O Modelo 3 (Coordenada Y) e o Modelo 1 (nulo) tiveram os maiores AICs, o que indica pior capacidade explicativa da variação espacial.

Semestre 2024/2:

Novamente, o Modelo 4 (Coordenadas X e Y) teve o menor AIC (-645631,9), sendo o mais adequado para representar os padrões espaciais dos focos de queimadas nesse período.

Diagnósticos dos modelos espaciais das queimadas em Minas Gerais

Para o modelo 4

Essas imagens mostram como as queimadas se espalham no espaço e como o modelo que usamos tentou prever isso. No canto inferior direito de cada figura, temos um mapa de calor, ele basicamente mostra, por cores, as regiões onde o modelo espera que haja mais queimadas. Quanto mais vermelho, maior a concentração de focos previstos. Essas áreas coloridas podem ser entendidas como zonas críticas, ou seja, locais que devem receber mais atenção no futuro, pois têm maior chance de ter queimadas.

Já os gráficos dos lados (acima e à esquerda do mapa) mostram se o modelo errou ou acertou ao prever as queimadas. Eles funcionam como um tipo de “termômetro” de erro. Se a linha desses gráficos fica perto da linha pontilhada, o modelo acertou bem naquela parte do mapa. Mas se a linha se afasta muito, significa que o modelo errou, ou seja previu mais focos do que realmente aconteceram, no caso ele errou para mais ou menos do que deveria.

Os resíduos dos Modelos 4 mostram um padrão claro de dependência espacial. Isso indica que o modelo subestima em algumas regiões e superestima em outras, revelando que a estrutura espacial dos dados não foi completamente capturada. No segundo semestre, esse acúmulo aumenta, reforçando a presença de uma sazonalidade espacial não modelada. Mesmo com um bom desempenho em termos de AIC, os resíduos evidenciam limitações importantes.

5 - Conclusão

A análise dos focos de queimadas no estado de Minas Gerais indicou padrões claros de concentração espacial, Em resumo, o estudo fornece uma visão sobre a distribuição espacial das queimadas, identificando áreas de maior vulnerabilidade e sugerindo caminhos para futuras investigações que explorem os fatores a esses padrões observados.

E com isso os resultados destacam a necessidade de políticas públicas direcionadas às regiões com maior vulnerabilidade, principalmente durante o segundo semestre, quando o risco de queimadas aumenta. O uso contínuo dessas ferramentas analíticas em Minas Gerais e em outros estados pode apoiar a criação de estratégias de prevenção mais eficientes, ajudando não só na preservação dos ecossistemas, mas também na diminuição dos efeitos negativos sobre a saúde da população.

6 - Referências

Akaike, H. (1974). A New Look at the Statistical Model Identification. IEEE Transactions on Automatic Control, 19(6), 716–723. <https://doi.org/10.1109/TAC.1974

Ripley, B. D. (1981). Spatial Statistics. Wiley Series in Probability and Statistics.

Silva, F., & Oliveira, J. (2019). Impacto das Queimadas no Semiárido Brasileiro: Uma Análise Espacial. Revista Brasileira de Geociências, 49(2), 305–320.

Silverman, B. W. (1986). Density Estimation for Statistics and Data Analysis. Chapman; Hall/CRC.

Ministério do Meio Ambiente (MMA). Monitoramento das Queimadas e Incêndios Florestais. 2022. Disponível em: http://queimadas.dgi.inpe.br