Acervo Digital do 08 de Janeiro nas Plataformas

Sobre o que é esse projeto?

O projeto propõe a criação do Centro de Estudos sobre a Memória do 08 de Janeiro, sediado na PUC-Rio e articulado à rede de pesquisadores do INCT/DSI, com o objetivo de preservar, analisar e interpretar os discursos e ações digitais que estimularam a insurreição golpista de 2023. Por meio da constituição de um acervo digital, a iniciativa busca combater o apagamento sistemático das evidências online dos atos antidemocráticos, reunindo pesquisadores de diferentes áreas para reconstruir as narrativas políticas e midiáticas que contestaram o sistema eleitoral brasileiro e culminaram na invasão dos Três Poderes.

Por que ele é relevante?

Levantamento realizado pela organização não-governamental SumOfUs identificou dezenas de livestreams sendo transmitidas ao vivo no Youtube direto da Esplanada durante o 08 de janeiro, algumas atingindo audiências de cerca de 1 milhão visualizações. No entanto, na semana seguinte, a maior parte dos vídeos já estava indisponível em função da remoção pelas plataformas digitais ou por decisões do TSE. Além disso, os próprios autores dos conteúdos começaram a deletar as gravações e imagens da insurgência em função das notícias das prisões de centenas de pessoas.

Ilustração sobre o apagamento dos rastros digitais nas plataformas

Fontes relevantes estão sendo apagadas, implicando em uma deterioração das condições de reconstruir essa história. Estudos no campo da história tradicionalmente utilizam de fontes secundárias como as reportagens publicadas pela imprensa jornalística para reconstituir um período. Todavia, no caso do 08 de janeiro, esse recorte é insuficiente na medida em que perde de vista o processo de mobilização e construção de discursos que tiveram como meio principal as plataformas digitais.

Para resolver esse problema, criamos o Acervo Digital do 08 de Janeiro a partir de um grande volume de dados que foram previamente coletados de três fontes: a) das principais plataformas digitais do Brasil - Facebook, Instagram, X (Twitter), Youtube, TikTok e Kwai; b) das chamadas alt-tech que abrigam discursos extremistas e conspiratórios, como Gettr, BitChute, Rumble, Odysee e CosTV; e c) de websites do ecossistema midiático de extrema-direita. Ao todo, o acervo original e inédito será composto por mais de mais de 1 milhão publicações que tiveram seus metadados preservados.

Para ilustrar o processo de apagamento, levamos em consideração um recorte do Youtube. Dos 53 mil vídeos publicados entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, somente 34 mil continuavam online em 2025. Ou seja, 19 mil vídeos foram apagados em dois anos.

Quando se observa a distribuição diária de vídeos, há um processo de apagamento durante a eleição e no período próximo ao ataque à Esplanada dos Ministérios. Em 08 de janeiro de 2023, dos 546 vídeos inicialmente extraídos, somente 284 estavam online em março de 2025.

Encontramos 546 vídeos no Youtube publicados em 08 de Janeiro de 2023.

A maior parte já não está mais online. Na verificação realizada em 2025, somente 262 vídeos estavam disponíveis na plataforma.

Analisando os motivos das remoções, descobrimos que 143 vídeos foram excluídos pelos próprios canais.

Esse apagamento não é algo comum no Youtube. Os canais de direita adotam essa técnica estrategicamente para revisar seu próprio discurso.

Em vídeo gravado na véspera dos ataques, em 7 de janeiro, Ana Priscila apareceu diante das câmeras em tom de comando, com uma bandeira do Brasil amarrada ao pescoço. Ela diz que os intervencionistas não estão blefando e vão fechar dez refinarias nas principais capitais brasileiras. Em tom de confronto, anuncia uma guerra iminente e orienta as pessoas a estocarem alimentos. “A esquerda vem pra cima. Venham! É isso que nós estamos querendo. Nós estamos doidos para o MST barrar os ônibus e fechar as estradas. Nós estamos doidos para a polícia vir pra cima e dar borrachada em nós”, declarou.

O acervo do 08 de janeiro de 2023

Este projeto propõe a criação de um Painel Digital desenvolvido em tecnologia Shiny, um ambiente interativo para o compartilhamento, análise e preservação de dados relacionados à insurgência.

O objetivo é reconstruir narrativas políticas e midiáticas que contestaram o sistema eleitoral e fomentaram a insurgência, detalhando os eventos que culminaram nos atos de 08 de janeiro.

Para isso, pretendemos desenvolver, com o uso do framework Shiny, um painel dinâmico que permita pesquisadores e gestores acessarem, filtrarem e analisarem os dados de maneira intuitiva, promovendo transparência e produção de conhecimento.

O Painel Digital Shiny busca reverter esse apagamento, utilizando métodos digitais avançados para preservar e interpretar dados essenciais à reconstrução histórica e ao combate ao revisionismo.

Este projeto será um marco no campo das humanidades digitais, oferecendo um recurso inovador e indispensável para pesquisadores, jornalistas e tomadores de decisão interessados em compreender e prevenir novas ameaças à democracia.

References

Este documento foi criado com Quarto, closeread e R.

Essa página web é baseada em um artigo escrito por Marcelo Alves em colaboração com o Núcleo de Inteligência e Análise de Dados do Departamento de Comunicação da PUC-Rio Nutec-Lab.

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