Análise Exploratória ENADE - MEDICINA
Conjunto de Dados ENADE 2023
O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2023 avaliou o desempenho de estudantes concluintes de cursos de graduação, incluindo Medicina, com o objetivo de mensurar a qualidade dos cursos superiores no Brasil.
Nos últimos anos, houve uma expansão significativa de cursos de Medicina, especialmente em instituições privadas com fins lucrativos, muitas vezes localizadas em regiões com menor infraestrutura e recursos. Essa expansão visa suprir a demanda por médicos, mas levanta preocupações sobre a qualidade da formação oferecida.
A formação de médicos de qualidade no Brasil ainda é um desafio, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde a carência de profissionais é mais acentuada. A predominância de instituições privadas com fins lucrativos nessas áreas, muitas vezes com recursos limitados, pode comprometer a qualidade da formação médica. É fundamental que políticas públicas sejam implementadas para garantir a qualidade do ensino médico e a distribuição equitativa de profissionais de saúde em todo o país.
Por essa razão, o objetivo desse trabalho é lançar luz entre as disparidades regionais e entre tipos de instituições nos cursos de medicina do Brasil.
Esse histograma mostra a distribuição das notas do Enade em escala contínua, o que permite observar a variação de desempenho entre cursos ou instituições avaliadas.
A baixa incidência de notas muito altas sugere que a excelência é rara, o que pode ser preocupante, especialmente em áreas críticas como Medicina.
O fato de haver cursos com notas próximas de 0 também é alarmante e aponta para graves deficiências em algumas instituições, muitas vezes associadas a instituições privadas com fins lucrativos em regiões de menor infraestrutura.
Os gráficos abaixo evidenciam que a abertura desenfreada de cursos de Medicina, especialmente por instituições privadas com fins lucrativos, não se traduziu em qualidade. Pelo contrário, aprofundou desigualdades e criou um mercado de formação médica que muitas vezes prioriza o lucro sobre o ensino.
Esse cenário exige: a) Revisão criteriosa da autorização e regulação desses cursos; b) Fortalecimento das universidades públicas, que são as verdadeiras formadoras de excelência. c) Incentivos para que egressos bem formados se fixem em áreas com maior carência médica.
O gráfico de densidade abaixo mostra com bastante clareza as diferenças de desempenho no Conceito Enade (Contínuo) entre os tipos de instituições de ensino superior que oferecem o curso de Medicina em 2023. Há uma estratificação clara do desempenho por tipo de instituição, o que sugere que a categoria administrativa está fortemente relacionada ao conceito Enade.
O gráfico abaixo escancara um padrão claro: quanto melhor a qualidade da formação em Medicina, maior a presença das universidades públicas; quanto pior, maior a presença de privadas com fins lucrativos.
Isso corrobora com preocupações já levantadas por especialistas:
O setor privado com fins lucrativos ampliou agressivamente sua atuação em Medicina, muitas vezes com baixa exigência regulatória e infraestrutura limitada, o que se reflete diretamente no baixo desempenho no Enade.
Universidades públicas, por outro lado, demonstram compromisso mais consistente com a qualidade, evidenciado pela concentração nas faixas superiores (talvez essa frase tenha sido um pouco forte).
Esses dois gráficos comparam as 10 instituições com as maiores e as 10 com as menores médias no Enade para o curso de Medicina em 2023. A análise é extremamente reveladora da desigualdade na qualidade da formação médica no Brasil.
Esses gráficos reforçam uma tese já evidenciada nos anteriores: Universidades públicas — especialmente federais e estaduais — são as verdadeiras responsáveis por formar médicos de excelência no Brasil.
Enquanto isso: Privadas com fins lucrativos dominam o fundo do ranking, sugerindo forte relação entre o modelo de gestão (voltado ao lucro) e baixa qualidade. O setor privado sem fins lucrativos aparece em ambos os extremos, indicando que há mais heterogeneidade nesse grupo — algumas instituições de excelência, mas muitas com desempenho fraco.
O mapa e o gráfico abaixo sugerem que a abertura de cursos de Medicina não tem sido acompanhada de garantias mínimas de qualidade, especialmente fora dos grandes centros.
A regulação estatal precisa ser mais efetiva, evitando autorizações de funcionamento que resultam em formação precária de médicos. A concentração da excelência no Sul/Sudeste pode acentuar o desequilíbrio na distribuição de profissionais de saúde pelo país.
Fatores externos:
Além das características institucionais propriamente ditas, é fundamental considerar também o contexto socioeconômico em que as instituições estão inseridas. Fatores estruturais do município podem influenciar diretamente tanto a oferta de ensino superior quanto o desempenho acadêmico dos estudantes. Neste sentido, utilizamos o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município como uma variável proxy para mensurar o ambiente socioeconômico local e sua possível relação com o desempenho das instituições no Enade.
O gráfico a seguir apresenta a relação entre o Conceito Enade (Contínuo) e o IDH do município, com os pontos coloridos de acordo com a Categoria Administrativa das instituições. Observa-se uma tendência geral de correlação positiva: instituições localizadas em municípios com maior IDH tendem a apresentar desempenhos mais altos no Enade. No entanto, essa tendência varia significativamente entre os diferentes tipos de instituição.
As instituições públicas se destacam com desempenho mais consistente, frequentemente situando-se acima da média, mesmo em municípios com IDH intermediário. Já as instituições privadas com fins lucrativos concentram-se nos níveis mais baixos do Enade, com desempenho inferior mesmo quando localizadas em municípios de alto IDH. As privadas sem fins lucrativos e demais categorias (comunitárias, especiais etc.) mostram maior heterogeneidade, com algumas instituições alcançando desempenhos elevados mesmo em contextos menos favorecidos.
Esses padrões reforçam a importância de considerar não apenas a categoria administrativa, mas também o contexto socioeconômico local na análise do desempenho institucional. Ao cruzar essas duas dimensões, é possível compreender com maior profundidade as desigualdades estruturais que permeiam o ensino superior no Brasil.
O gráfico de densidade abaixo representa a quantidade de instituições em relação ao IDH do município. Esse gráfico é importante porquatno ajuda a visualizar onde as instituições se concentram socioespacialmente.
A análise da distribuição das instituições de ensino superior em Medicina, considerando o IDH dos municípios, revela uma configuração espacial que não é aleatória, mas sim, estrategicamente orientada por interesses socioeconômicos e de mercado. As curvas de densidade do conceito Enade, segmentadas pela categoria administrativa simplificada, mostram de maneira clara as disparidades estruturais no acesso à educação médica no Brasil.
A análise da localização das instituições de Medicina, em conjunto com o IDH dos municípios, não pode ser dissociada de um debate sobre justiça educacional e desigualdade social. A concentração de instituições privadas em regiões de baixo IDH pode ser vista como uma resposta a vazio educacional, mas também pode ser encarada como uma exploração das fragilidades socioeconômicas das populações dessas regiões. Por outro lado, a forte presença de instituições privadas sem fins lucrativos e públicas em áreas mais ricas tende a reforçar a elitização do ensino médico, onde a qualidade da educação é diretamente proporcional ao poder aquisitivo da região.
É essencial, portanto, considerar como essa configuração espacial pode influenciar o acesso à educação de qualidade, especialmente em áreas mais vulneráveis. O IDH se torna, aqui, uma variável que não apenas reflete o desenvolvimento econômico local, mas também determinantes de acesso à educação de qualidade, onde o mercado e a política pública, de maneira desigual, atendem a diferentes grupos sociais, exacerbando as disparidades já existentes.