Estimativa da dominância fiscal a partir de Blanchard (2004)

Author

Eric Almeida

Published

December 26, 2024

Motivação

Este trabalho busca replicar os principais modelos apresentados por Olivier Blanchard no paper de 2004 sobre dominância fiscal. O estudo visa explorar como a interação entre dívida pública, probabilidade de default e política monetária pode afetar a taxa de câmbio real em um contexto de economias emergentes, como o Brasil. Este relatório fornece insights sobre o impacto da política monetária em um ambiente de alto endividamento, com implicações práticas para a formulação de políticas econômicas.


Introdução Teórica

Probabilidade de Default

A probabilidade de default é modelada como:

\[ \log(S) = \log(p) + \alpha \theta^* + \varepsilon \]

Onde:

  • \(S\): EMBI Spread, um índice que mede o prêmio de risco associado a títulos de dívida de mercados emergentes (como o Brasil) em relação a títulos considerados livres de risco (como os títulos do Tesouro dos EUA).
  • \(p\): Probabilidade de default.
  • \(\theta^*\): Spread Baa (risco internacional).

Taxa de Câmbio Real

O logaritmo da taxa de câmbio real é modelado como:

\[ \log(\epsilon) = \beta_0 + \beta_1 (r - r^*) + \beta_2 (p \cdot \theta^*) + \varepsilon \]

Onde:

  • \(\epsilon\): Taxa de câmbio real.
  • \(r - r^*\): Diferencial de juros.
  • \(p \cdot \theta^*\): Prêmio de risco ajustado.

Risco de Default e Dívida Pública

O risco de default em função da dívida pública segue o modelo:

\[ p = \phi(D) + \varepsilon \]

Onde:

  • \(D\): Dívida bruta do governo geral (% do PIB).

Modelo 1: Probabilidade de Default

A probabilidade de default é estimada a partir do EMBI Spread e do Spread Baa com a equação:

\[ \log(S) = \log(p) + \alpha \theta^* + \varepsilon \]

Gráfico: Probabilidade de Default ao Longo do Tempo

Explicação: O gráfico demonstra a evolução da probabilidade de default ao longo dos últimos anos, calculada com base no modelo ajustado ao EMBI Spread e ao Spread Baa. Observa-se uma tendência de aumento significativo em períodos de crise econômica, como em 2020, quando a pandemia de COVID-19 elevou a percepção de risco global e desestabilizou economias emergentes como a brasileira.


Modelo 2: Taxa de Câmbio Real

A relação entre a taxa de câmbio real \(\epsilon\) e o diferencial de juros \(r - r^*\) é descrita como:

\[ \log(\epsilon) = \beta_0 + \beta_1 (r - r^*) + \beta_2 (p \cdot \theta^*) + \varepsilon \]

Gráfico: Taxa de Câmbio Real

Explicação: O gráfico exibe a evolução da taxa de câmbio real ao longo do tempo, destacando períodos de estabilidade e volatilidade. Entre 2010 e 2015, a taxa de câmbio real permaneceu relativamente estável, mas a partir de 2015 houve maior volatilidade, com um pico em 2020, refletindo a depreciação da moeda local durante a pandemia. Na margem verificamos que essa taxa voltou a crescer, indicando pressões de depreciação sobre o câmbio real.


Modelo 3: Risco de Default e Dívida Pública

A relação entre o risco de default \(p\) e a dívida pública \(D\) é modelada como:

\[ p = \phi(D) + \varepsilon \]

Gráfico: Relação entre Dívida Pública e Probabilidade de Default

`geom_smooth()` using formula = 'y ~ x'

Explicação: Este gráfico evidencia a relação positiva entre a dívida pública (% do PIB) e a probabilidade de default. À medida que a dívida pública aumenta, há uma elevação no risco percebido pelos investidores, o que é representado pela inclinação ascendente da linha de tendência. Essa relação reflete o impacto da sustentabilidade fiscal na percepção de crédito do país, reforçando a importância de políticas fiscais responsáveis para controlar o endividamento e mitigar o risco de inadimplência.


Simulação: Impacto da Taxa de Juros no RER

A simulação avalia o impacto de variações na taxa de juros \(r - r^*\) sobre o log da taxa de câmbio real:

Explicação: O gráfico apresenta como variações na taxa de juros \(r - r^*\) afetam o logaritmo da taxa de câmbio real. A relação negativa indica que aumentos na taxa de juros doméstica em relação à externa levam a uma valorização da moeda local, reduzindo o RER. Isso reflete a eficácia da política monetária na determinação do câmbio real, ao influenciar os fluxos de capital e a competitividade externa do país.


Conclusão

Este estudo analisou como fatores econômicos como a dívida pública, o diferencial de juros e o prêmio de risco ajustado impactam variáveis centrais da macroeconomia, como a probabilidade de default e a taxa de câmbio real. Os resultados evidenciam que a sustentabilidade fiscal desempenha um papel crucial na estabilidade econômica, com o aumento da dívida pública sendo associado diretamente a uma maior probabilidade de default. Da mesma forma, a política monetária tem efeitos significativos sobre o câmbio real, com o diferencial de juros influenciando a competitividade econômica e a valorização ou depreciação da moeda local.

Políticas fiscais responsáveis, combinadas com uma estratégia monetária alinhada, são fundamentais para reduzir a percepção de risco, atrair investimentos e garantir a sustentabilidade econômica de longo prazo. No entanto, os resultados também reforçam a necessidade de atenção às condições globais, como mudanças no prêmio de risco internacional, que podem amplificar ou mitigar os impactos das políticas econômicas domésticas.