O artigo de Emerson Urizzi Cervi aborda a relação entre a atuação parlamentar individual e as chances de reeleição dos deputados estaduais do Paraná durante a 14ª Legislatura (1999-2002). Fundamentado na teoria da “conexão eleitoral”, o autor analisa como a produção legislativa impacta o desempenho eleitoral dos parlamentares, especialmente na busca por votos regionalizados. Este trabalho apresenta métodos quantitativos para explorar a correlação entre variáveis legislativas e resultados eleitorais.
O estudo busca entender como o trabalho realizado no legislativo pode influenciar as decisões dos eleitores, investigando três aspectos centrais: a posição política institucionalizada (analisa fatores como a filiação partidária, a composição da bancada, a ideologia, a ocupação de cargos na mesa diretora e os posicionamentos sobre questões polêmicas, como a privatização da Copel), a visibilidade do mandato (avalia a frequência e o tom das menções aos deputados no jornal Gazeta do Povo, principal veículo de comunicação do estado) e a produção legislativa individual (projetos de lei apresentados pelos deputados, classificando-os de acordo com seu alcance geográfico e social).
Cervi utiliza um modelo analítico baseado em uma abordagem quantitativa detalhada, regressões lineares e testes estatísticos, para avaliar a relação entre a atuação parlamentar e a votação dos candidatos à reeleição, onde diversos fatores impactam os resultados das eleições. O autor categorizou os tipos de votação em três níveis (focada, mista e dispersa) conforme a distribuição geográfica dos votos e analisou 50 parlamentares que buscaram reeleição, excluindo os que não se candidataram ao mesmo cargo.
Assim, é viável analisar de que maneira a atuação no legislativo, a exposição na mídia e as posições políticas influenciam as chances de reeleição dos deputados, destacando a relevância de projetos de lei voltados para questões regionais e o crescimento da visibilidade na mídia.
As tabelas e gráficos do artigo foram utilizados para mostrar a distribuição dos projetos e suas analogias com os resultados eleitorais. Testes de independência, análise de correlação e regressões lineares foram aplicados para medir a significância estatística dessas variáveis.
A abordagem estatística robusta permitiu a identificação de correlações relevantes, como a relação entre votos regionalizados e reeleição, essa análise foi detalhada e incluiu múltiplas variáveis explicativas, garantindo uma visão abrangente dos fatores que influenciam a reeleição.
Faltou explorar qualitativamente a percepção dos eleitores sobre os parlamentares, limitando o entendimento sobre como as ações legislativas influenciam o comportamento eleitoral. Onde, a exclusão de parlamentares que buscaram outros cargos pode subestimar a influência de estratégias legislativas em eleições gerais.
Os resultados indicam que a votação regionalizada é um fator determinante para a reeleição. Deputados que concentraram esforços em projetos de lei com abrangência municipal ou regional apresentaram maiores percentuais de votos regionalizados, o que aumentou suas chances de sucesso eleitoral. Por outro lado, aqueles com produção legislativa voltada a projetos estaduais tendiam a ter votos dispersos e menor probabilidade de reeleição.
Com efeito, apenas 20% dos deputados com votos dispersos conseguiram renovar seus mandatos, enquanto 56,6% dos reeleitos obtiveram votos concentrados. Em média, a cada aumento percentual nos votos concentrados, houve um acréscimo de 535 votos. Onde, projetos de âmbito municipal e regional contribuíram de maneira significativa para a maior concentração de votos nessas regiões, resultando em um aumento de 0,571% a 0,876% a cada ponto percentual de atividade legislativa.
A análise também considerou outros fatores, como a visibilidade na mídia e a posição política institucionalizada, mas esses não tiveram um impacto relevante na reeleição. Vale destacar que as menções negativas na mídia, como as veiculadas na Gazeta do Povo, diminuíram as chances de reeleição dos deputados.
No entanto, o impacto limitado de variáveis como visibilidade pública e fidelidade partidária sugere que os eleitores priorizam benefícios diretos em vez de alinhamentos políticos ou ideológicos, através do qual, projetos de escopo estadual tiveram um efeito negativo sobre a votação focada, sugerindo que as demandas locais são mais eficazes para garantir apoio eleitoral.
A demonstração clara da relevância de votos regionalizados contribui para o entendimento do comportamento eleitoral em sistemas legislativos subnacionais. Dessa forma, a análise quantitativa robusta fornece subsídios para futuras pesquisas sobre a conexão entre arenas legislativa e eleitoral.
A correlação entre produção legislativa e desempenho eleitoral não foi suficientemente explorada em termos causais. Por exemplo, o artigo não explica se a produção legislativa impacta diretamente a percepção do eleitor ou apenas reflete uma estratégia regional pré-existente. Assim, a exclusão de variáveis relacionadas ao contexto socioeconômico das regiões limita a interpretação dos resultados.
O trabalho de Cervi, foca nas demandas da região estratégica dentro dos contextos de personalização eleitoral, provocando uma reflexão sobre a representatividade no Legislativo. A priorização de interesses locais pode, no entanto, reforçar desigualdades regionais e afastar os deputados das questões de maior importância para o país como um todo, tornando necessário repensar como as responsabilidades individuais dos parlamentares se relacionam com as responsabilidades coletivas no parlamento.
Já o artigo, enfatiza que no sistema legislativo brasileiro, a atuação individual do parlamentar tem um impacto maior na reeleição do que a lealdade partidária ou a visibilidade pública. Embora faça uma contribuição importante para o debate sobre a “conexão eleitoral”, o estudo poderia ser aprofundado com análises qualitativas que levem em conta a percepção do eleitor sobre a produção legislativa. Dessa forma, o estudo destaca a importância das estratégias regionais na manutenção da carreira política, mas deixa em aberto questões sobre a relação entre o desempenho legislativo e a avaliação pública.