Carteira de Derivativos
Relatório de Atualização dos Contratos Futuros
Introdução
O contrato futuro é um acordo entre duas partes para comprar ou vender um ativo em uma data futura específica por um preço previamente acordado. Os contratos futuros podem ser utilizados para diversos objetivos, como proteção por meio de operações de hedge, especulação e arbitragem. Uma das principais características dos contratos futuros é o fato de serem operações alavancadas, pois, para operar um determinado contrato, é necessário apenas depositar uma margem de garantia. A margem de garantia é um depósito mínimo exigido, determinado pela variabilidade do preço do ativo subjacente e corresponde a um percentual do valor total do contrato. Essa margem é ajustada diariamente em um processo conhecido como ajuste diário.
Neste relatório, será analisada uma das principais commodities negociadas no Brasil: o milho.
A produção de milho no Brasil é caracterizada por duas grandes safras anuais: a safra de verão e a “safrinha” de inverno, sendo que esta última tem ganhado crescente importância e hoje representa a maior parte da produção nacional.
- Safra de Verão
A primeira safra, ou safra de verão, ocorre principalmente entre os meses de outubro e fevereiro, sendo plantada na primavera e colhida no final do verão. Concentrada nas regiões Sul e Sudeste, essa safra aproveita as chuvas intensas típicas da estação, favorecendo o desenvolvimento das plantas. No entanto, sua representatividade na produção total de milho do país vem diminuindo, em parte porque muitos agricultores priorizam o plantio de soja nesse período, devido à sua alta rentabilidade.
- “Safrinha” de Inverno
A segunda safra, conhecida como “safrinha” ou safra de inverno, é plantada logo após a colheita da soja, entre fevereiro e abril, e colhida entre junho e setembro. Esse ciclo tornou-se fundamental para a produção brasileira e é predominante nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, onde o clima permite o plantio de duas culturas anuais. A safrinha representa hoje mais de 70% da produção total de milho no Brasil, impulsionada por avanços tecnológicos, como o uso de sementes resistentes e técnicas modernas de manejo.
O milho é um produto essencial para o setor agrícola brasileiro e para a segurança alimentar do país, sendo fortemente influenciado por variáveis econômicas como exportação, importação, taxas de juros, câmbio e inflação.
Variáveis Macroeconômicas
A análise das variáveis macroeconômicas é de grande importância na avaliação dos preços das commodities agrícolas e pecuária. As commodities, em sua grande maioria, são transacionadas tendo o dólar como moeda de referência. Assim, uma valorização da moeda americana tende a estimular as exportações dos países produtores de commodities, devido à maior rentabilidade proporcionada pela elevação cambial. Dessa forma, a taxa de câmbio exerce um impacto direto nos preços desses produtos. Nesse caso, a depreciação da moeda local gera um estímulo para o aumento das exportações.
Além do câmbio, a taxa de juros também desempenha um papel crucial. Os custos, como o de armazenamento da produção estão diretamente ligados a essa variável macroeconômica. Um aumento nas taxas de juros tende a elevar os custos para o produtor armazenar seu produto, forçando-o, na pior das hipóteses, a escoar a produção no mercado, o que cria uma pressão de alta na oferta e, consequentemente, tende a reduzir os preços.
Por fim, essas são duas variáveis correlacionadas, já que os juros influenciam diretamente o câmbio que por sua vez irá impactar os preços das commodities. Quando um país eleva sua taxa de juros, ele torna seus ativos financeiros mais atraentes para investidores estrangeiros, que buscam maiores retornos sobre seus investimentos. Esse aumento na demanda por ativos denominados na moeda local resulta em uma apreciação da moeda, ou seja, uma valorização cambial. Que nesse caso teria o efeito oposto ao que foi visto anteriormente.
A tabela abaixo mostra a evolução de alguma das principais variáveis macroeconômicas nos últimos 4 meses, os valores entre parênteses representam as expectatívas do boletim Focos para essas mesma variáveis.
| Data | Câmbio.Dolar | Inflação.IPCA | Juros.Selic |
|---|---|---|---|
| Maio | 5,13(5,05) | 3,93(3,88) | 10,50(10,25) |
| Junho | 5.38(5,20) | 4,23(4,00) | 10,50(10,50) |
| Julho | 5.54(5,30) | 4,50(4,10) | 10,50(10,50) |
| Agosto | 5,61(5,32) | 4,24 (4,25) | 10,50(10,50) |
| Setembro | 5,44(5,40) | 4,42(4,39) | 10,75(10,75) |
| Outubro | 5,70(5,45) | 4,42(4,55) | 10,75(11,75) |
MILHO
- Resumo do Milho nos Últimos Meses
A safra de milho iniciou o ano de 2024 em queda. Já nos primeiros boletins, a Conab apontava para uma redução na produtividade e na área plantada do milho brasileiro, atribuída principalmente a problemas climáticos. Além disso, as boas expectativas para a safra nos Estados Unidos e na Argentina contribuíram para a previsão de preços mais baixos no início do ano, somadas às projeções de um baixo nível de exportações. Com a produção de milho menor em 2024, as importações aumentaram 90,4%, segundo dados da Conab, subindo de 1,31 milhões para 2,5 milhões de toneladas. Os estoques de milho no Brasil vêm diminuindo ano após ano, com previsão de 5 milhões de toneladas para 2025. Abaixo, resumimos os principais acontecimentos dos meses que influenciaram os preços do milho até o momento.
Em junho, os preços do milho caíram na maioria das regiões monitoradas pelo Cepea devido ao avanço da colheita da segunda safra, com produtores aumentando a oferta no mercado spot. Parte dos compradores optou por usar estoques, aguardando novas quedas. O Indicador ESALQ/BM&FBovespa para Campinas-SP recuou 3,6%, encerrando o mês a R$57,22/saca. No mercado externo, a alta na paridade de exportação foi impulsionada pela valorização do dólar e prêmios, mas a oferta elevada no Brasil pressionou os preços. No Paraná e Mato Grosso do Sul, a colheita avançou, mas com produtividade reduzida. Nos EUA, a grande oferta global também puxou os preços para baixo, enquanto a produção global de milho foi estimada em 1,22 bilhão de toneladas.
Em agosto, os preços começaram o mês em queda devido ao desaquecimento da demanda interna, mas ganharam força na segunda quinzena, impulsionados pela retração dos vendedores e pela valorização do dólar, encerrando o mês em alta.
Em setembro, os preços continuaram subindo, sustentados pela retração dos vendedores. Na B3, os preços futuros também aumentaram, impulsionados pela preocupação com a oferta nos próximos meses.
Em outubro, os preços seguiram em alta, principalmente devido à situação externa. Segundo o portal “Notícias Agrícolas”, na manhã de quinta-feira (24), os preços futuros do milho na Bolsa Brasileira (B3) operavam entre R$72,12 e R$75,75. Os contratos para novembro/24 subiam 0,73%, janeiro/25 aumentavam 1,49% e março/25 ganhavam 1,27%. Na Bolsa de Chicago (CBOT), os preços internacionais também registraram alta, impulsionados pela expectativa de maior demanda nos EUA, fortalecendo as exportações americanas e, indiretamente, os preços futuros brasileiros.Apesar dessa alta, persiste o risco de pressão de oferta devido à rápida colheita nos EUA, que pode enfraquecer os preços nas próximas semanas.
Para os últimos 90 dias a tragetória dos preços do milho são ilustradas no gráfico abaixo.
- Expectativa Conab para a Safra 2024/2025
Para a próxima safra, a Conab projeta uma produção de 119,7 milhões de toneladas, um crescimento de 3,5% em relação à safra de 2023/2024, com aumento da área plantada e da produtividade. Espera-se também um crescimento de 3,3% na demanda doméstica. Para a safra 2024/25, a expectativa é de uma leve redução nas exportações, devido ao aumento consistente da demanda interna por milho. Assim, o estoque final de milho em fevereiro de 2026 deverá ser de 5 milhões de toneladas, 13,7% acima do volume da safra de 2023/24.
As tabelas abaixo mostram a evolução da produção, produtividade e área plantada, e nelas podemos ver que a área plantada veio reduzindo durante os últimos 3 anos nas três safras, porém com maior peso para a primeira e terceira. Até o atual momento não existem indicios de que essa situação venha ase reverter para a safra 24/25.
| SAFRA1 | AREA_ha_mil | PRODUTIVIDADE_kg_ha | PRODUCAO_mil_t |
|---|---|---|---|
| 2018/19 | 4103.9 | 6249 | 25646.7 |
| 2019/20 | 4235.8 | 6065 | 25689.6 |
| 2020/21 | 4348.4 | 5686 | 24726.5 |
| 2021/22 | 4549.2 | 5501 | 25026.0 |
| 2022/23 | 4444.0 | 6160 | 27373.2 |
| 2023/24 | 3970.1 | 5784 | 22962.2 |
| 2024/25 Out./24 | 3756.1 | 6049 | 22720.6 |
| SAFRA2 | AREA_ha_mil | PRODUTIVIDADE_kg_ha | PRODUCAO_mil_t |
|---|---|---|---|
| 2018/19 | 12878.0 | 5682 | 73177.7 |
| 2019/20 | 13755.9 | 5456 | 75053.2 |
| 2020/21 | 14999.6 | 4050 | 60741.6 |
| 2021/22 | 16369.3 | 5247 | 85892.4 |
| 2022/23 | 17192.7 | 5954 | 102365.1 |
| 2023/24 | 16437.4 | 5491 | 90255.0 |
| 2024/25 Out./24 | 16596.6 | 5702 | 94631.3 |
| SAFRA3 | AREA_ha_mil | PRODUTIVIDADE_kg_ha | PRODUCAO_mil_t |
|---|---|---|---|
| 2018/19 | 511.0 | 2385 | 1218.7 |
| 2019/20 | 535.6 | 3305 | 1843.6 |
| 2020/21 | 595.6 | 2734 | 1628.5 |
| 2021/22 | 662.1 | 3341 | 2211.9 |
| 2022/23 | 632.5 | 3406 | 2154.4 |
| 2023/24 Set./24 | 651.0 | 3849 | 2505.9 |
| 2023/24 Out./24 | 643.3 | 3864 | 2485.6 |
- Próximo contrato - CCMF25 (15 de novembro a 17 de janeiro)
Como o objetivo da carteira de derivativos é a especulação com contratos futuros, esta seção se dedica a uma breve análise do comportamento dos preços do contrato CCMF, com base em anos anteriores. O gráfico abaixo ilustra o desempenho desses contratos nos últimos quatro anos.
Vale destacar que os contratos de 21 e 22 apresentaram preços crescentes, de modo que, caso um agente tivesse mantido um contrato de compra do início ao fim, teria obtido um resultado positivo. No entanto, para os contratos de 2023 e 2024, o cenário foi inverso: nesse caso, o ideal teria sido adotar uma posição de vendida. É possível que o resultado positivo dos contratos de 21 e 22 tenha sido amplamente influenciado pela situação atípica que o mundo enfrentou nesses anos. No gráfico de preços mensais apresentado abaixo, é evidente uma elevação dos preços muito acima dos padrões dos anos anteriores, destacando o comportamento anormal desses períodos.
Analisando os valores mensais corrigidos pelo IGP-DI, observa-se que os preços atuais do milho são muito semelhantes aos praticados antes de 2019, quando giravam em torno de R$70,00 ou R$60,00. Assim, considerou-se prudente realizar uma análise com contratos anteriores a esse período. Foram, então, selecionados os contratos CCMF17, CCMF18 e CCMF19 para essa nova avaliação.
O gráfico abaixo foi construído com valores nominais, dificultando a comparação direta dos preços ao longo do tempo. Para avaliar esses contratos, calculou-se a variação entre o valor do primeiro e do último dia de cada um. Os resultados foram os seguintes: um agente que tivesse comprado e mantido esses contratos até o vencimento teria obtido um resultado negativo em 3 dos 4 contratos, com um ganho positivo apenas no contrato CCMF17, de 9,7% no preço. Os demais contratos registraram variações de -4,0%, -1,1% e -0,9%, respectivamente.
USDA
O relatório do USDA de outubro de 2024 indica ajustes na produção, estoques, exportação e importação de milho tanto nos Estados Unidos quanto no mercado global. Nos EUA, a produção foi ajustada para 15,2 bilhões de bushels, um aumento de 17 milhões de bushels em relação à previsão anterior, atribuído a uma leve alta na produtividade para 183,8 bushels por acre. A área colhida manteve-se em 82,7 milhões de acres. Apesar desse leve aumento na produção, os estoques finais de milho nos EUA foram reduzidos para 2,0 bilhões de bushels devido ao aumento na demanda interna e nas exportações.
No contexto global, a produção total de grãos grosseiros, que inclui o milho, foi ajustada para baixo, com destaque para quedas na produção de milho em países como Ucrânia, Egito, Rússia e Filipinas. A Índia, por outro lado, apresentou um aumento de produção, compensando parcialmente as reduções observadas em outras regiões. Mesmo com essa compensação, o cenário geral é de estoques globais em queda, estimados em 306,5 milhões de toneladas, uma redução de 1,8 milhão de toneladas.
No que diz respeito ao comércio internacional, as exportações de milho dos EUA foram ajustadas para cima, agora projetadas em 2,325 bilhões de bushels. Já as exportações da Ucrânia e da Rússia sofreram reduções, enquanto países como Egito e Filipinas aumentaram suas importações. A China e o Irã, por outro lado, reduziram suas compras de milho no mercado internacional.
- Conclusão
O USDA revela um cenário global de redução na produção mundial de milho, com diversos países enfrentando quedas em sua capacidade produtiva, o que afeta diretamente os estoques finais do grão. Em contrapartida, grandes importadores, como a China, estão reduzindo sua participação no mercado. No entanto, novos demandantes têm surgido, o que pode ajudar a equilibrar o impacto negativo da queda na demanda chinesa.
Diferentemente do Brasil, o mercado de milho dos EUA está muito ativo, principalmente quando analisamos as exportações. Segundo o site “Notícias Agrícolas” , na semana encerrada em 17 de outubro de 2024, os EUA registraram vendas excepcionais de milho para exportação, totalizando 4,18 milhões de toneladas, um volume comparável a semanas de 2021, quando a China era um grande compradora. Apesar de a China ter comprado apenas uma pequena fração desta vez, as vendas para destinos desconhecidos aumentaram, levantando especulações sobre uma possível compra indireta pelo país. O México destacou-se nas aquisições, com um pedido de 1,6 milhão de toneladas, enquanto o Japão atingiu um nível recorde de reservas de milho dos EUA em quatro anos.
As exportações americanas de milho para 2024-25 cobriam 40% da previsão anual do USDA até 17 de outubro, um aumento significativo impulsionado pela competitividade dos preços americanos. Entretanto, a logística enfrenta um desafio com a baixa do Rio Mississippi, essencial para o transporte de barcaças até o Golfo. Embora esteja prevista uma melhora temporária nas condições climáticas para a próxima semana, as previsões de longo prazo indicam chuvas abaixo da média em novembro, o que pode impactar o fluxo de exportação.
Decompisição da Série
- Decomposição da série de preços futuros do milho nos últimos 10 anos
Referências
INVESTING. Investing.com. Disponível em: https://www.investing.com/.
CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Disponível em: https://www.conab.gov.br/.
CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). Relatórios Agrícolas. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/categoria/relatorios-agricolas.aspx.
NOTÍCIAS AGRÍCOLAS. Exportações de milho dos EUA registram máximas de vários anos mesmo sem a China. Disponível em: https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/milho/387496-exportacoes-de-milho-dos-eua-registram-maximas-de-varios-anos-mesmo-sem-a-china.html.
INVESTIDOR 10. Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Disponível em: https://investidor10.com.br/indices/ipca/#:~:text=Qual%20o%20IPCA%20hoje%3F,de%202023%20foi%20de%204.62%25.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório Focus. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Taxa Selic. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/taxaselic.