CARTEIRA DE DERIVATIVOS

 Relatório de Atualização dos Contratos Futuros de Commodities

Autores

Prof. Dr. Sinézio Fernandes Maia

Analista Acadêmico: Natan Henrique Alves

Analista Acadêmico: Josué de Meneses Lopes

Data de Publicação

14 de outubro de 2024

Introdução

O contrato futuro é um acordo entre duas partes para comprar ou vender um ativo em uma data futura específica por um preço previamente acordado. Os contratos futuros podem ser utilizados para diversos objetivos, como proteção por meio de operações de hedge, especulação e arbitragem. Uma das principais características dos contratos futuros é o fato de serem operações alavancadas, pois, para operar um determinado contrato, é necessário apenas depositar uma margem de garantia. A margem de garantia é um depósito mínimo exigido, determinado pela variabilidade do preço do ativo subjacente e corresponde a um percentual do valor total do contrato. Essa margem é ajustada diariamente em um processo conhecido como ajuste diário.

Neste relatório, serão analisadas duas das principais commodities negociadas no Brasil: milho, soja, boi gordo, café arábica e etanol hidratado. Esses produtos são fundamentais para o setor agropecuário brasileiro, além disso são fundamentais para a segurança alimentar do Brasil, o etanol hidratado em questão tem a sua importancia na matriz energética. As commodities são fortemente influenciadas por variáveis econômicas como, exportação, importação, juros, câmbio e inflação.

Variáveis Macroeconômicas

A análise das variáveis macroeconômicas é de grande importância na avaliação dos preços das commodities agrícolas e pecuária. As commodities, em sua grande maioria, são transacionadas tendo o dólar como moeda de referência. Assim, uma valorização da moeda americana tende a estimular as exportações dos países produtores de commodities, devido à maior rentabilidade proporcionada pela elevação cambial. Dessa forma, a taxa de câmbio exerce um impacto direto nos preços desses produtos. Nesse caso, a depreciação da moeda local gera um estímulo para o aumento das exportações.

Além do câmbio, a taxa de juros também desempenha um papel crucial. Os custos, como o de armazenamento da produção estão diretamente ligados a essa variável macroeconômica. Um aumento nas taxas de juros tende a elevar os custos para o produtor armazenar seu produto, forçando-o, na pior das hipóteses, a escoar a produção no mercado, o que cria uma pressão de alta na oferta e, consequentemente, tende a reduzir os preços.

Por fim, essas são duas variáveis correlacionadas, já que os juros influenciam diretamente o câmbio que por sua vez irá impactar os preços das commodities. Quando um país eleva sua taxa de juros, ele torna seus ativos financeiros mais atraentes para investidores estrangeiros, que buscam maiores retornos sobre seus investimentos. Esse aumento na demanda por ativos denominados na moeda local resulta em uma apreciação da moeda, ou seja, uma valorização cambial. Que nesse caso teria o efeito oposto ao que foi visto anteriormente.

A tabela abaixo mostra a evolução de alguma das principais variáveis macroeconômicas nos últimos 4 meses, os valores entre parênteses representam as expectatívas do boletim Focos para essas mesma variáveis.

Data Câmbio.Dolar Inflação.IPCA Juros.Selic
Junho 5.58(5,20) 4,23(4,00) 10,50(10,50)
Julho 5.65(5,30) 4,50(4,10) 10,50(10,50)
Agosto 5.63(5,33) 4,24(4,26) 10,50(10,50)
Setembro 5,44(5,40) 4,42 (4,39) 10,75(11,75)

Milho

O ciclo de cultivo do milho envolve seis etapas importantes para garantir uma boa colheita. Tudo começa com a análise do solo, que serve para verificar se o solo está rico em nutrientes e fazer as correções necessárias. Em seguida, o preparo e a adubação de plantio são feitos para garantir que o milho tenha um bom início de crescimento, especialmente com o uso de fósforo e potássio.

O controle de plantas daninhas é crucial, pois elas competem com o milho por nutrientes, e o uso de herbicidas adequados ajuda a evitar esse problema. Na fase seguinte, ocorre a adubação de cobertura, que é a aplicação de nitrogênio para ajudar no desenvolvimento da planta.

Durante o ciclo, é essencial fazer o monitoramento de pragas e doenças, já que o milho pode ser atacado por diversos insetos e doenças. Por fim, a colheita deve acontecer no momento certo, quando o milho atinge sua maturidade, garantindo a máxima qualidade dos grãos.

Fonte: Mercados Agricolas

O milho é uma das culturas mais produzidas no mundo, com destaque para Estados Unidos e China, que juntos representam mais de 50% da produção global. O Brasil e outros países como Argentina e Ucrânia também têm uma produção significativa. No ciclo 2019/20, a produção mundial de milho alcançou 1,05 bilhão de toneladas, sendo 63,3% destinado à ração animal e o restante para biocombustíveis, indústria de alimentos e consumo humano. Embora os principais produtores também sejam grandes consumidores, o comércio internacional de milho é ativo, com EUA, Argentina e Brasil liderando as exportações. O Brasil, em particular, se destaca pela “safrinha”, uma segunda colheita de inverno, que tem ganhado importância em relação à safra de verão.

Fonte: Mercados Agricolas

Agromensal

Código
# Definir as datas de início e fim
start_date <- as.Date("2024-06-03")
end_date <- as.Date("2024-09-30")

# Filtrar os dados de milho spot e futuro para o período especificado
milho_spot <- zoo(dados_commodities$milho_SPOT, order.by = as.Date(dados_commodities$data))
milho_spot <- window(milho_spot, start = start_date, end = end_date)

milho_fut <- zoo(dados_commodities$milho_FUT, order.by = as.Date(dados_commodities$data))
milho_fut <- window(milho_fut, start = start_date, end = end_date)

# Transformar os dados para o formato longo
dados_long <- dados_commodities |>
  filter(data >= start_date & data <= end_date) |>  # Filtrar os dados para o período desejado
  pivot_longer(cols = c(milho_SPOT, milho_FUT), 
               names_to = "Tipo", 
               values_to = "Preco") |>
  mutate(Tipo = recode(Tipo, "milho_SPOT" = "Milho Spot", "milho_FUT" = "Milho Futuro"))  # Renomear as legendas

# Criar o gráfico combinado
grafico_milho <- dados_long |>
  ggplot(aes(x = data, y = Preco, color = Tipo)) +
  geom_line(size = 0.9) +                               # Adiciona as linhas para cada série
  scale_color_manual(values = c("Milho Spot" = "#007BC3", "Milho Futuro" = "#FF5733")) +  # Definir cores para as linhas
  labs(title = "Preços do Milho: Spot e Futuro",
       subtitle = "Período: 2024/06/03 a 2024/09/30",
       x = "Data",
       y = "Preço",
       color = "Tipo de Contrato",                      # Rótulo da legenda
       caption = "Fontes: CEPEA/ESALQ e Investing.com") +     # Rótulos e legendas
  theme_minimal() +                                     # Tema minimalista
  theme(plot.title = element_text(hjust = 0.5),         # Centralizar título
        plot.subtitle = element_text(hjust = 0.5),      # Centralizar subtítulo
        legend.position = "bottom",                     # Colocar a legenda embaixo do gráfico
        legend.title = element_text(hjust = 0.5))       # Centralizar o título da legenda

# Exibir o gráfico
print(grafico_milho)

Em setembro, os preços do milho no Brasil subiram, impulsionados pela menor oferta dos produtores, que priorizaram o plantio da safra de verão e ficaram atentos ao clima seco e quente. Muitos agricultores já armazenaram a colheita da segunda safra 2023/24 e aguardam melhores preços para vender. Na B3, os contratos futuros também tiveram altas, refletindo preocupações com a oferta futura. Enquanto isso, a semeadura da safra de verão avançou nas regiões Sul, favorecida pelo retorno das chuvas no final do mês.

A Conab ajustou a previsão de produção de milho para 115,72 milhões de toneladas na safra 2023/24, um decréscimo de 12,3% em relação à safra anterior de 131,9 milhões de toneladas. A queda é atribuída à redução de 5,4% na área plantada e de 7,2% na produtividade, principalmente na segunda safra. A demanda total permanece estimada em 84,24 milhões de toneladas, um aumento de 5,8% em comparação à safra 2022/23. Devido à menor produção, a Conab prevê um aumento de 90,4% nas importações, chegando a 2,5 milhões de toneladas. Com a menor oferta doméstica e maior oferta internacional, o Brasil deve reduzir suas exportações para 36 milhões de toneladas, uma queda de 34,1% em relação ao ciclo anterior. O estoque final de milho em fevereiro de 2025 está estimado em 5 milhões de toneladas, 28,6% menor que na safra anterior.

Soja

Conab 13/08/2024

Os resultados obtidos, até o último levantamento realizado pela Conab, indicam uma produção totalde 147.381,8 mil toneladas, 4,7% inferior ao obtido na safra 2022/23, a maior já colhida no Brasil. A produção tem um leve aumento estatístico, passando para 147,38 milhões de toneladas, as exportações são mantidas em 92,43 milhões de toneladas, porém foi indicado que haverá forte tendência de alta para o próximo relatório. O consumo interno total ficou em 55,96 milhões de toneladas, e os estoques finais em 3,08 milhões de toneladas.

PRODUTO SAFRA ESTOQUE_INICIAL PRODUÇÃO IMPORTAÇÃO SUPRIMENTO CONSUMO EXPORTAÇÃO ESTOQUE_FINAL
SOJA EM GRÃOS 2022/23 5962.1 154609.5 181.0 160752.6 55591.7 101862.6 3298.2
SOJA EM GRÃOS 2023/24 3298.2 147381.8 800.0 151480.0 55959.5 92434.4 3086.1
FARELO 2022/23 1385.5 40758.5 0.1 42144.1 17800.0 22473.5 1870.6
FARELO 2023/24 1870.6 40192.8 1.0 42064.5 18000.0 20000.0 4064.5
ÓLEO 2022/23 508.1 10509.3 21.4 11038.8 8395.0 2332.6 311.2
ÓLEO 2023/24 311.2 10602.4 50.0 10963.6 9262.0 1400.0 301.6

USDA

Segundo o relatório publicado em 12 de agosto, a produção para 2024/25 é estimada em 4,6 bilhões de bushels, um aumento de 154 milhões em relação ao mês anterior, devido a uma área maior. A área colhida é projetada em 86,3 milhões de acres, um aumento de 1 milhão de acres em relação ao mês passado.

Os suprimentos de soja para 2024/25 são projetados em 4,9 bilhões de bushels, um aumento de 11% em relação ao ano anterior. Os estoques finais são estimados em 560 milhões de bushels, um aumento de 125 milhões em relação ao mês passado.

As exportações de soja dos EUA são previstas para aumentar em 25 milhões de bushels devido ao aumento da oferta. O preço médio da soja para 2024/25 é projetado em $10,80 por bushel, uma redução de $0,30 em relação ao mês anterior. Os preços da farinha de soja e do óleo de soja também foram ajustados, com a farinha reduzida para $320 por tonelada curta e o óleo mantido em 42 centavos por libra.

Por fim, a produção global de soja para 2024/25 foi aumentada em 6,9 milhões de toneladas, totalizando 428,7 milhões de toneladas. Isso se deve a aumentos na produção dos EUA, Ucrânia, Rússia, Índia e Benin. As exportações globais de soja são aumentadas em 1 milhão de toneladas, totalizando 181,2 milhões de toneladas.

Agromensal

Os preços da soja oscilaram em agosto. Na primeira quinzena, caíram fortemente, refletindo as expectativas de maior oferta global. Contudo, na segunda metade do mês, os preços começaram a se recuperar, impulsionados pelo aquecimento da demanda chinesa. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, entre julho e agosto, os preços da oleaginosa caíram 2,4% no mercado de balcão (valor pago ao produtor) e 2,7% no de lotes (negociações entre empresas). No comparativo anual, as quedas foram de 8,9% no balcão e de 7,5% no de lotes. O dólar foi cotado à média de R$ 5,55, estável em relação a julho, mas com valorização de 13,2% frente a agosto de 2023.

Nas últimas semanas do mês, no entanto, os preços tiveram leves recuperações, impulsionados pelo aumento da demanda por exportações. As vendas de exportação de milho e soja dos EUA na semana encerrada em 22 de agosto superaram as expectativas dos analistas para 2024/25. Além disso, no dia 30 de agosto, o Departamento de Agricultura dos EUA informou a negociação de 132 mil toneladas de soja em grão para a China e 100 mil toneladas de farelo para a Colômbia, ambos volumes referentes à safra 2024/25.

Quanto ao farelo de soja, boa parte dos compradores adquiriu lotes pequenos em agosto, à espera de preços mais baixos nos próximos meses. Esses agentes basearam suas decisões na expectativa de maior oferta do grão e no fato de que a demanda aquecida por óleo de soja pode aumentar a disponibilidade de farelo no Brasil.

Nos Estados Unidos, a soja em grão voltou a ser negociada abaixo de US$ 10 por bushel, cenário que não se via desde setembro de 2020, o que, consequentemente, pressionou as cotações no mercado brasileiro. A queda nos preços futuros deve-se às boas condições das lavouras norte-americanas, reforçando as projeções de uma safra recorde naquele país.

Boi Gordo

A trajetória dos preços do boi gordo pode ser compreendida a partir do entendimento do ciclo pecuário. O ciclo da pecuária é um fenômeno característico da criação de gado, que ocorre devido à sinalização dos preços da arroba bovina aos produtores. Em momentos de alta nos preços, os produtores buscam maximizar a produção para comercialização, o que os leva a reter o abate de fêmeas para que estas possam gerar bezerros, que servirão como gado de reposição. O ciclo mostrado no esquema abaixo ilustra que, nos períodos em que os preços do boi e do bezerro estão em baixa, as fêmeas passam a ser abatidas em maior volume, com o objetivo de reduzir a oferta de animais de reposição. No entanto, como consequência, a oferta de carne no mercado também aumenta consideravelmente, o que reduz ainda mais os preços. Após o estágio de abate de fêmeas, os preços começam a se recuperar, criando um maior incentivo para os produtores manterem as fêmeas, de modo a reabastecer seus estoques de animais.

Em uma ótica microeconômica, o ciclo pecuário é simplesmente uma relação entre preços e quantidades, onde a curva de oferta é positivamente inclinada. Assim, à medida que os preços aumentam, as quantidades também tendem a aumentar. No entanto, em determinado ponto, a quantidade ofertada supera a demanda, o que faz com que os preços caiam e os produtores se vejam obrigados a produzir cada vez menos, até que a demanda passe a ser maior que a oferta e os preços voltem a subir, reiniciando o ciclo.

O gráfico à direita apresenta, os preços do boi, bezerro e o percentual de abate de fêmeas. A partir dele, podemos visualizar graficamente o ciclo pecuário, evidenciado pela relação entre os abates de fêmeas e os preços da arroba do boi.

Ciclo Pecuário Ciclo Pecuário

Nas últimas semanas, diversos analistas consultados pelo portal de notícias “Notícias Agrícolas” expressaram apoio à continuidade do atual ciclo de alta nos preços da arroba, destacando as perspectivas positivas para o consumo interno. Além disso, 2024 tem sido um ano recorde para as exportações de carne bovina, com o volume exportado na terceira semana de agosto atingindo 109,7 mil toneladas de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada. Esse aumento nas exportações pode ser explicado, pelo menos em parte, pela forte desvalorização cambial da moeda brasileira. Em Mato Grosso do Sul, o preço da arroba já chega a R$ 250,00. Considerando esses fatores, é possível afirmar que ainda existe uma boa margem para a continuidade do aumento dos preços.

Agromensal

Tradicionalmente, entre julho e outubro, os preços do bezerro atingem seus menores níveis devido ao ciclo produtivo e à necessidade do pecuarista de cria reservar mais espaço para as vacas, visando a estação de reprodução nos meses finais do ano. Além disso, o período seco intensifica o interesse dos criadores em vender sua produção de bezerros. Paralelamente, o mercado pecuário vem registrando valorizações na arroba do boi em todas as praças pesquisadas pelo Cepea. Os animais de reposição, como o bezerro e o boi magro, também começam a se recuperar, mas a relação de troca atual oferece “oportunidades” para o terminador, já que são necessários menos arrobas para comprar um bezerro.

As cotações do boi gordo em São Paulo subiram 2,5% em 12 meses, com a arroba cotada a uma média de R$ 235,07 em agosto de 2024, enquanto o bezerro, um animal jovem, desvalorizou-se 4,3% no mesmo período, com a média de agosto a R$ 2.063,22 por cabeça (MS), também em termos reais.

O cenário atual, portanto, é favorável para o terminador, que deve também observar a oferta de bezerros no contexto do “ciclo pecuário”.

China, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos impulsionam exportações in natura neste ano – A relevância da carne bovina na pauta de exportação de produtos do agronegócio brasileiro tem aumentado. Os principais responsáveis pelo crescimento no volume exportado são a China, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, os Estados Unidos e o Egito. De janeiro a julho, as indústrias brasileiras exportaram 32% a mais em volume em comparação ao mesmo período de 2023. No entanto, o faturamento em dólares aumentou apenas 21% devido à queda de 8% nos preços médios, segundo dados da Secex.

Café Arábica

O café arábica é cultivado em regiões de clima ameno, com altitudes que variam entre 600 e 1.200 metros. No Brasil, os principais estados produtores incluem Minas Gerais, São Paulo, e Paraná. As mudas de café são plantadas em fileiras, e o ciclo da planta até a primeira colheita pode levar de 2 a 4 anos. A floração do café ocorre principalmente entre setembro e novembro, dependendo das chuvas. A floração é essencial, pois determina o potencial produtivo da safra. Cada flor que é polinizada se transforma em um fruto, conhecido como “cereja” quando maduro.

Entre dezembro e abril, os frutos se desenvolvem nos ramos das plantas. Este período exige atenção ao manejo de pragas e doenças, bem como à aplicação de insumos para garantir a saúde da planta. Durante o desenvolvimento, os frutos passam de verdes para vermelhos, atingindo o ponto de colheita. Após a colheita, os frutos passam por um processo de beneficiamento, que pode ser via úmida (processo lavado) ou via seca (natural). No método lavado, as cerejas são despolpadas para a retirada da casca antes da secagem, resultando em um café de perfil mais suave. Já no processo natural, os frutos são secos ao sol com a casca, o que pode conferir características mais adocicadas e encorpadas ao café.

Os grãos são secos até atingirem um teor de umidade ideal para o armazenamento (cerca de 11%). A secagem pode ser feita em terreiros de cimento ou suspensos, e em alguns casos, com auxílio de secadores mecânicos. Depois de secos, os grãos são armazenados em locais arejados e sem umidade até serem comercializados. Após o beneficiamento e a classificação por qualidade, o café arábica é comercializado, seja no mercado interno ou para exportação. O Brasil é o maior exportador mundial de café, e os principais destinos incluem os Estados Unidos e países da Europa.

Agromensal

Em setembro de 2024, o mercado de café apresentou uma mudança significativa: pela primeira vez, o preço médio mensal do café robusta no Brasil superou o do arábica. O robusta tipo 6 foi negociado a 24,73 Reais a mais por saca de 60 kg do que o arábica tipo 6, bebida dura, marcando um momento inédito de fechamento mensal consistentemente acima do arábica. Embora diferenças de preços já tenham sido observadas em momentos anteriores, como entre 2016 e 2017, essa foi a primeira vez que a média mensal do robusta fechou acima do arábica de forma contínua.

Esse cenário reflete a atenção do mercado à oferta global reduzida, especialmente em relação ao robusta do Vietnã, cuja nova colheita começa em outubro. No Brasil, as condições climáticas também têm causado preocupação. A falta de chuvas afeta o desenvolvimento da safra 2025/26 tanto do café arábica quanto do robusta, com as plantas debilitadas e o déficit hídrico se intensificando nas regiões produtoras. Chuvas mais consistentes são esperadas apenas para meados de outubro ou até novembro, o que torna difícil prever o impacto exato na produção, mas sustenta os preços elevados.

No entanto, mesmo com a oferta limitada, a valorização do robusta parece ter desacelerado, sugerindo que os preços podem ter atingido um teto no curto prazo. No final de setembro, a diferença de preço entre robusta e arábica caiu para 7,37 Reais por saca, sinalizando uma aproximação entre os valores das duas variedades.

Além disso, a produção de café arábica no Brasil em 2024 está estimada em 39,59 milhões de sacas, um aumento de 1,7% em comparação ao ano anterior, apesar das adversidades climáticas que impactaram negativamente a produtividade. As estiagens e ondas de calor afetaram as fases de floração e o desenvolvimento dos frutos, resultando em uma menor qualidade dos grãos. Estados como Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo foram diretamente afetados. Minas Gerais, o maior produtor, registrou uma queda de 3,3% na produção, enquanto São Paulo teve um aumento de 8,2%, e o Espírito Santo experimentou um crescimento expressivo de 41%.

As condições climáticas adversas interromperam o ciclo bienal positivo do arábica, resultando em floradas desuniformes e colheitas irregulares. Isso, somado a uma maior incidência de pragas como a broca-do-café, que se beneficiou das múltiplas floradas, impactou ainda mais a qualidade do grão. Com as irregularidades climáticas e a baixa oferta, o mercado segue com liquidez lenta, com menos compradores e vendedores ativos. No entanto, os produtores estão mais capitalizados e conseguindo comprar insumos com menos sacas de café, o que tem favorecido seu poder de negociação.

Etanol Hidratado

A produção de etanol hidratado no Brasil está intimamente ligada ao cultivo da cana-de-açúcar, que ocorre principalmente nas regiões Centro-Sul e Nordeste do país. Na safra 2023/24, a produção de cana de açúcar foi estimada em 713,2 milhões de toneladas, representando um recorde histórico, com um aumento significativo em relação ao ciclo anterior.​As condições climáticas favoráveis e os investimentos em renovação de lavouras foram fatores-chave para essa produtividade elevada.

O processo de produção do etanol começa com a colheita da cana-de-açúcar, que é majoritariamente realizada de abril a novembro no Centro-Sul, enquanto no Nordeste se estende um pouco mais, até dezembro e janeiro, devido às diferenças climáticas. A cana colhida é direcionada para as usinas, onde passa por moagem para extração do caldo. Esse caldo é utilizado na fermentação para produção do etanol, onde ocorrem perdas de 10-15% no processo de fermentação e cerca de 5% na destilação, refletindo os desafios do processo de produção de etanol hidratado.

O etanol hidratado é utilizado como combustível em veículos e contém cerca de 94% de teor alcoólico. Ele serve de base para a produção de outros tipos de álcool, como o etanol anidro (utilizado na mistura com a gasolina) e o álcool extra neutro, que é mais puro devido a um processo de destilação mais refinado. Na safra atual, espera-se que a produção de etanol hidratado atinja aproximadamente 21,32 bilhões de litros, favorecida pelo aumento na produção de cana-de-açúcar, embora o mercado do etanol apresente desafios, como a concorrência com os preços internacionais do petróleo.

Agromensal

A análise do mercado de etanol hidratado na safra 2024/25 destaca variações importantes nos preços e volumes negociados em comparação com o ciclo anterior. De abril a setembro de 2024, a média do Indicador CEPEA/ESALQ do etanol hidratado para o estado de São Paulo apresentou queda de apenas 1,08% em termos reais em relação ao mesmo período da safra passada, quando ajustada pelo IGPM. Em setembro de 2024, os preços tiveram uma recuperação, ficando quase 7% acima dos registrados em setembro de 2023.

Essa alta de preços se deve à boa competitividade do etanol hidratado frente à gasolina C nos postos, com uma paridade de preços favorável de 65,3% em São Paulo e um valor médio de R$ 3,76/litro. Essa vantagem competitiva sustentou a demanda por etanol hidratado nos principais estados consumidores, apesar das oscilações nos volumes negociados ao longo do período.

No entanto, em setembro, o volume de etanol hidratado negociado foi o menor da safra até então. Isso aconteceu porque compradores reduziram o ritmo de aquisições após compras intensas no início do mês, somadas à desvalorização dos preços internacionais do petróleo. Algumas usinas precisaram vender parte de seus estoques, enquanto outras optaram por ficar fora do mercado spot.

Nas regiões Nordeste, os preços de etanol hidratado recuaram de forma mais acentuada devido ao aumento da oferta, já que diversas usinas retomaram suas atividades. Pernambuco registrou uma queda de 13,17% no indicador CEPEA/ESALQ de setembro em comparação a agosto, enquanto Alagoas teve recuo de 5,49% e a Paraíba, 8,75%, refletindo a dinâmica de oferta e demanda regional.

O clima seco e as altas temperaturas são fatores que podem impactar a produtividade das lavouras de cana-de-açúcar nos próximos meses, o que, por sua vez, influencia as decisões das usinas sobre destinar a cana para a produção de etanol ou açúcar. O cenário climático e as movimentações no mercado global de açúcar seguem como variáveis-chave para a definição dos preços do etanol no Brasil até o fim da safra.

Código
#dados1 <- readxl::read_excel("dadosDec.xlsx")
#vendas_ts <- ts(dados$boi_fut, frequency = 12, start = c(2020,01))

# Decomposição aditiva
#decomposicao <- decompose(vendas_ts, type = "additive")

# Visualizar o resultado da decomposição
#plot(decomposicao)
#plot(decomposicao$x - decomposicao$trend);abline(h = 0)
Código
#vendas_ts <- ts(dados1$soja_fut, frequency = 12, start = c(2020,01))

# Decomposição aditiva multiplicative
#decomposicao1 <- decompose(vendas_ts, type = "additive")

# Visualizar o resultado da decomposição
#plot(decomposicao1)
#plot(decomposicao1$x - decomposicao1$trend);abline(h = 0)

Resultados

Os resultados foram calculados com base nas discussões da equipe, em que, nesse novo formato, o viés do contrato é previamente definido e o acompanhamento desses contratos é realizado semanalmente. Além disso, foi sugerida a escolha de um contrato para cada commodity.

O retorno em relação ao preço, importante para fins acadêmicos, foi de 40,1%, enquanto o retorno financeiro, caso fossem utilizados os lucros baseados no preço, sem considerar que este é um mercado alavancado, seria de R$ 567,67. Esse resultado foi obtido a partir das decisões tomadas ao longo de 16 semanas durante o ano de 2024 pelos dois acadêmicos escolhidos para essa tarefa específica.

Fonte: Elaboração própria

Para os retornos, levando em consideração ser este um setor alavancado, houve um retorno percentual de \(1002,9\%\) e um retorno financeiro de \(R\$ 52.930,51\), com destaque para a semana 8, que apresentou os resultados mais indesejáveis. Nessa semana, as análises feitas pelos acadêmicos não foram bem-sucedidas; entretanto, foi um período marcado pela instabilidade causada pelos atritos envolvendo um dos candidatos à presidência dos Estados Unidos.

Os estudos realizados pelos acadêmicos foram baseados em relatórios de conjuntura macroeconômica e do setor agrícola, além de decisões tomadas com base em análise técnica.

Fonte: Elaboração própria

Referências

HULL, John C. Oções, futuros, e outros derivativos. 10. ed. Hoboken: Pearson, 2018.

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Sistema gerenciador de séries temporais. Disponível em: https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries. Acesso em: 14 out. 2024.

CEPEA. Relatórios Agrícolas. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/categoria/relatorios-agricolas.aspx. Acesso em: 14 out. 2024.

INVESTING.COM. Disponível em: https://investing.com/. Acesso em: 14 out. 2024.

NOTÍCIAS AGRÍCOLAS. Disponível em: https://www.noticiasagricolas.com.br/. Acesso em: 14 out. 2024.

USDA. World Agricultural Supply and Demand Estimates (WASDE). Disponível em: https://www.usda.gov/oce/commodity/wasde. Acesso em: 14 out. 2024.

MERCADOS AGRÍCOLAS. Brasil produz milho em três safras por ano. Disponível em: https://mercadosagricolas.com.br/inteligencia/brasil-produz-milho-em-tres-safras-por-ano/. Acesso em: 14 out. 2024.

B3. Cotações. Disponível em: https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/servicos-de-dados/market-data/cotacoes. Acesso em: 14 out. 2024.