10 de outubro de 2024

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Punitivismo prisional: panorama geral

Sociologia como ciência das populações

  • Tradição na sociologia brasileira (estudos de estratificação e mobilidade social)

  • Estudo das regularidades populacionais, que só são passíveis de serem encontradas a partir de análises estatísticas (Ribeiro, 2018)

Sociologia como ciência das populações

  • O objetivo da investigação sociológica deve ser entendida, não como estados e comportamentos dos indivíduos particulares dessa população em sua variabilidade, mas a partir das regularidades que são propriedades dessas populações.

  • Necessário fazer a distinção da natureza dual das regularidades populacionais: em primeiro lugar, é preciso deixá-las visíveis (descrição) e, então, transparentes (explicação) (Goldthorpe, 2016).

Algumas questões envolvidas

Debate no Brasil

  • População carcerária: aumento de 575% de 1990 até 2014 (607.731 pessoas)

  • Crescimento acentuado do número de crimes violentos

  • Gláucio Soares (2008), homicídios cresceram desde 1979, taxa anual de 1.579,7 / redução somente com o estatuto do desarmamento (Lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003).

Debate no Brasil

  • Passagem do regime autoritário ditatorial para a democracia:
    • resistência de policiais e funcionários do sistema penitenciário ao novo regime
    • instabilidade política na esfera da administração da segurança pública.
    • Retrocesso?!?! (Zaluar 2012; Machado da Silva 2004, 2010)

(Adorno, Salla 2007; Salla 2003; Waiselfisz 2015; Sozzo 2016)

Debate nos EUA

  • Políticas conservadoras: “guerra ao tráfico”, “lei e ordem”, tolerância zero ao crime e “three strikes and you are out”

  • Ideia de accountability individual

  • Ideia de Políticas neoliberais -> trânsito de um estado de bem-estar social para um estado punitivo

  • “Underclass control” ou de “New Jim Crow - contraponto aos avanços da luta pelos direitos civis nos EUA => Seletividade Penal (Alexander 2017)

(David Garland 2008; Lüic Wacquant 2011; Bruce Western 2006; Devah Pager 2018)

Bancos de Dados

População prisional

  • International Centre for Prision Studies (ICPS), Órgãos oficiais de administração prisional, coletados entre 2011 e 2013

  • Censo Penitenciário Brasileiro (2014) e SisDEPEN - MJ

  • Censos 2010 e 2022 (IBGE)

  • Secretarias de Administração Penitenciária dos estados

Bancos de Dados

População, homicídios e renda

  • IBGE: PNAD, PNADc, séries temporais de emprego e renda, etc

  • SIS-DATASUS - Ministério da Saúde (homicídios)

  • Relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU), do Banco Mundial e OMS

  • Outros: SSP

Encarceramento no Brasil e no mundo

Encarceramento por estado brasileiro

Aumento das taxas 2004-2014

Aumento das taxas por estado

América latina (2006 a 2016)

Procurando regularidades estatísticas

Modelos de regressão e modelos hierárquicos

Israel 2016 - Modelo hierárquico bayesiano

Modelos de regressão e modelos hierárquicos

Israel 2016 - Modelo hierárquico bayesiano

\[ \begin{array}{l} y_{ij}=\beta_{0j}+\beta_{1j} x_{1j}+\varepsilon_{ij}, \qquad i = 1,\ldots, n_j,\\ \beta_{0j}=\beta_0+ \omega_j, \qquad \omega_j \sim N(0,\; \sigma_{\omega}^2),\\ \beta_{1j} = \beta_1 + \nu_j, \qquad \nu_j \sim N(0, \sigma_{\nu}^2 ), \end{array} \] (Migon et al. 2008; Gill 2015; Gamerman, Lopes 2006)

(Israel, Migon 2012; Ribeiro, Israel 2016)

Resultado países

Resultado estados

Aumentos da taxa e da renda per capita

Padrão espacial das unidades prisionais

Zoom em SP

Padrão espacial das unidades prisionais

Ideologia política (Israel, Pereira, 2018)

(Jacobs, Carmichael 2001)

(Tarouco, Madeira 2013; Braga, Rocha, Carlomagno 2015)

Resultados

Israel, Pereira, 2018

Resultados

(Israel, Pereira, 2018)

Estatística espacial para países

Estatística espacial para países

População escondida e perspectiva do guard labor

Discussão

Livres

Presos

Guardas

E os jovens?

Presos por estado (totais)

Presos por estado (%)

Presos, jovens de 20 a 29 anos (%)

Presos, sexo masculino, jovens de 20 a 29 anos (%)

Assumindo que as proporções de pessoas do sexo masculino se mantém nos estratos de idade, dentro e fora da prisão.

##    Min. 1st Qu.  Median    Mean 3rd Qu.    Max. 
##  0.9127  0.9521  0.9590  0.9582  0.9691  0.9763

Presos, sexo masculino, jovens de 20 a 29 anos (%)

Perguntas:

  • Quantos brasileiros até 30 anos já passaram pelo sistema prisional?

  • Qual impacto do sistema prisional nas chances de vida: mobilidade educacional, mobilidade de classe, formação educacional etc?

  • Qual impacto do sistema prisional nas estatísticas oficiais sobre a juventude? (Escolaridade, renda, emprego etc)

Futuro do punitivismo prisional no Brasil

Tendências do punitivismo no Brasil

  • Política: Governo Federal (Bolsonaro e Moro) + Governos Estaduais (Witzel, Doria e Zema)

  • Operadores do Sistema: Ministérios Públicos + Judiciário + Polícias e agentes (Lemgruber e Paiva 2010)

  • Demanda Punitivista (Eleitoral)

  • Punitivismo de Esquerda na América Latina

    • Pós-NeoLiberalismo - Sozzo 2016
  • Conflito: Constituição de 1988 vs persistência autoritária

Modelo Dinâmico Polinomial de Segunda Ordem

\[ \begin{array}{ll} \mbox{Equaçõo de observação:} & Y_t = \mu_t + \nu_t,\\ \mbox{Equações de sistema:} & \mu_t = \mu_{t-1} + \beta_{t-1} + \omega_{t1},\\ & \beta_t = \beta_{t-1} + \omega_{t2},\\ & (\boldsymbol{\Theta}_{t-1} | D_{t-1}) \sim N[\textbf{m}_{t-1}, \textbf{C}_{t-1}], \end{array} \] sendo que \[\begin{array}{l} \omega_t = (\omega_{t1}, \omega_{t2})^{'}, \quad \nu_t \sim N[0, V_t],\\ \textbf{m}_{t-1} = \left ( \begin{array}{c} \mu_{t-1}\\ \beta_{t-1} \end{array} \right ) \quad \mbox{ e } \quad \textbf{C}_{t-1} = \left ( \begin{array}{cc} C_{t-1,1} & C_{t-1,3} \\ C_{t-1,3} & C_{t-1,2} \end{array} \right ). \end{array} \]

Projeção da população presa até 2030

Presos em 2030: 1,416 milhões.
Intervalo de credibilidade de 95%: (1,369; 1,480) milhões.

E a pandemia?

Presos em 2030: 1,416 milhões.
Intervalo de credibilidade de 95%: (1,369; 1,480) milhões.

Contra tendências

  1. Política do abate

  2. Crise econômica persistente

  3. Pautar o punitivismo como um problema distributivo grave (mídia, redes sociais, formadores de opinião, etc.) (Alexander 2017)

Consequências do encarceramento em massa (Western, Pettit, 1999)

  • Curto prazo

  • Longo prazo

Taxa de desocupação e correção

\[ \displaystyle u = \frac{U}{U+E} \times 100, \] sendo \(U\) o número de desempregados e \(E\) o número de empregados.

\[ \displaystyle u_1 = \frac{U + p*P}{U+P+E} \times 100, \] (Western, Becket 1999)

Taxa de desocupação e correção

(Israel 2019, tese)

\[ \displaystyle v = \frac{U + p*(P+H)}{U+(P+H)+E} \times 100, \] sendo que \(H\) corresponde ao número de pessoas que estariam no mercado de trabalho se não houvessem homicídios.

Homicídios por sexo descontado

Total

## [1] "Total: 1.012.770 indivíduos"

Homicídios por sexo descontado

Não brancos

Impactos no mercado de trabalho

Total

Impactos no mercado de trabalho

Homens

Impactos no mercado de trabalho

Homens, não brancos

Considerações finais

  • O Brasil encarcera muito (“em relação ao que?”), mas menos que alguns grupos desejam

  • Viés nos dados oficiais (população escondida + homicídios)

  • Renda

  • Oportunidade

  • Mobilidade social intergeracional

  • Mobilidade educacional

  • Podemos entrar em um período de desenvolvimentismo penal

Obrigado