Teoria Necessária

Grupos funcionais ecológicos são categorias de espécies que desempenham papéis semelhantes em um ecossistema, independentemente de sua taxonomia ou parentesco evolutivo. Ao agrupar espécies com funções ecológicas semelhantes, é possível simplificar a análise da complexa rede de interações em um ecossistema, ajudando a entender como essas interações afetam processos como a ciclagem de nutrientes, a dinâmica da população e a estrutura da comunidade.

Esses grupos são definidos com base em características funcionais, que são traços que influenciam o desempenho das espécies em um determinado ambiente. As características funcionais podem incluir o tipo de alimento que uma espécie consome, sua estratégia de reprodução, como obtém energia, entre outras. A categorização em grupos funcionais permite prever como alterações no ecossistema, como mudanças climáticas ou intervenções humanas, podem impactar as funções ecológicas e os serviços que esses ecossistemas oferecem.

Exemplos de Grupos Funcionais Ecológicos

  1. Herbívoros: Os herbívoros são um exemplo clássico de grupo funcional, composto por organismos que se alimentam de plantas. Dentro desse grupo, podem existir subgrupos, como pastadores, que consomem gramíneas e outras plantas rasteiras, ou frugívoros, que se alimentam de frutas. Um exemplo seria os antílopes na savana africana, que pastam grandes quantidades de capim e têm papel crucial na manutenção do equilíbrio das comunidades vegetais.

  2. Decompositores: Fungos e bactérias que decompõem matéria orgânica são outro exemplo de grupo funcional. Eles têm a função de reciclar nutrientes ao degradar restos de organismos mortos, transformando-os em substâncias mais simples que podem ser reabsorvidas pelo solo. Um exemplo são os fungos do gênero Penicillium, que desempenham um papel vital na decomposição de folhas e outros materiais vegetais.

  3. Polinizadores: Este grupo inclui espécies que transferem pólen entre flores, facilitando a reprodução sexual das plantas. Abelhas, borboletas, morcegos e até algumas aves fazem parte desse grupo funcional. A abelha doméstica (Apis mellifera), por exemplo, é um polinizador essencial para a agricultura e a reprodução de várias plantas silvestres.

  4. Predadores de Topo: Esses organismos estão no topo da cadeia alimentar e controlam as populações de herbívoros e outros predadores menores. Lobos, leões e águias são exemplos de predadores de topo. Eles desempenham um papel crucial em manter o equilíbrio das populações de suas presas, evitando que haja uma superexploração dos recursos vegetais.

  5. Fixadores de Nitrogênio: Algumas plantas e bactérias formam um grupo funcional especializado em converter o nitrogênio da atmosfera em formas que as plantas podem utilizar. Plantas leguminosas, como o feijão, formam associações simbióticas com bactérias do gênero Rhizobium, que fixam nitrogênio no solo, enriquecendo-o e beneficiando o crescimento de outras plantas.

Importância dos Grupos Funcionais

A categorização em grupos funcionais permite uma compreensão mais clara dos processos ecológicos. Ao monitorar esses grupos, os ecologistas podem avaliar a resiliência de um ecossistema frente a mudanças, identificar espécies-chave para a manutenção do equilíbrio ecológico e propor ações de conservação mais eficazes. Além disso, a extinção ou a introdução de espécies dentro de um grupo funcional pode ter efeitos em cascata em todo o ecossistema, demonstrando a importância de cada função ecológica para a estabilidade do ambiente.

Em resumo, grupos funcionais ecológicos facilitam a análise de como os organismos interagem com o ambiente e entre si, e são uma ferramenta valiosa para a conservação e gestão ambiental.

Exemplo de análise em R

Script básico em R que usa dados fictícios para demonstrar uma análise de grupos funcionais tróficos com PCA e agrupamento hierárquico. Para isso, utilizamos variáveis que representam características tróficas, como tipo de alimentação, nível trófico, biomassa e outras variáveis associadas à função ecológica.

Carregar pacotes

library(ggplot2)
library(FactoMineR)
library(factoextra)
library(cluster)

Dados fictícios de espécies e suas características tróficas

dados <- data.frame(
  especie = c("Especie_A", "Especie_B", "Especie_C", "Especie_D", "Especie_E",
              "Especie_F", "Especie_G", "Especie_H"),
  tipo_alimentacao = factor(c("Herbívoro", "Carnívoro", "Onívoro", "Herbívoro", 
                              "Decompositor", "Onívoro", "Carnívoro", "Herbívoro")),
  nivel_trofico = c(1, 4, 2, 1, 0, 2, 4, 1),  # 1: Herbívoro, 2: Onívoro, 4: Carnívoro, 0: Decompositor
  biomassa = c(120, 85, 150, 110, 50, 130, 90, 115),  # Biomassa estimada
  consumo_diario = c(15, 25, 18, 14, 10, 20, 22, 16)  # Consumo diário (em kg)
)

Visualizar os dados

print(dados)
##     especie tipo_alimentacao nivel_trofico biomassa consumo_diario
## 1 Especie_A        Herbívoro             1      120             15
## 2 Especie_B        Carnívoro             4       85             25
## 3 Especie_C          Onívoro             2      150             18
## 4 Especie_D        Herbívoro             1      110             14
## 5 Especie_E     Decompositor             0       50             10
## 6 Especie_F          Onívoro             2      130             20
## 7 Especie_G        Carnívoro             4       90             22
## 8 Especie_H        Herbívoro             1      115             16

Remover a coluna de nomes de espécies para análise quantitativa

dados_quant <- dados[, -c(1:2)]
head(dados_quant)
##   nivel_trofico biomassa consumo_diario
## 1             1      120             15
## 2             4       85             25
## 3             2      150             18
## 4             1      110             14
## 5             0       50             10
## 6             2      130             20

Realizar Análise de Componentes Principais (PCA)

pca <- PCA(dados_quant, scale.unit = TRUE, graph = FALSE)

Visualizar a variância explicada pelos componentes principais

fviz_eig(pca, addlabels = TRUE, ylim = c(0, 50))

Gráfico PCA das duas primeiras dimensões

fviz_pca_biplot(pca, 
                geom.ind = "point", # Mostrar as espécies como pontos
                pointshape = 21, pointsize = 3,
                fill.ind = dados$tipo_alimentacao, # Colorir por grupo trófico
                col.var = "black", repel = TRUE, # Variáveis como setas
                legend.title = "Grupo Trófico") +
  ggtitle("PCA de Grupos Funcionais Tróficos")

Realizar análise de agrupamento hierárquico

dist_matrix <- dist(dados_quant)
hclust_result <- hclust(dist_matrix, method = "ward.D2")
fviz_dend(hclust_result, 
          k = 4, # Número de grupos que esperamos encontrar
          rect = TRUE, # Desenhar retângulos ao redor dos grupos
          rect_border = "jco", 
          rect_fill = TRUE,
          main = "Dendrograma de Grupos Funcionais Tróficos")

grupos <- cutree(hclust_result, k = 4)
dados$grupo <- as.factor(grupos)
print(dados)
##     especie tipo_alimentacao nivel_trofico biomassa consumo_diario grupo
## 1 Especie_A        Herbívoro             1      120             15     1
## 2 Especie_B        Carnívoro             4       85             25     2
## 3 Especie_C          Onívoro             2      150             18     3
## 4 Especie_D        Herbívoro             1      110             14     1
## 5 Especie_E     Decompositor             0       50             10     4
## 6 Especie_F          Onívoro             2      130             20     1
## 7 Especie_G        Carnívoro             4       90             22     2
## 8 Especie_H        Herbívoro             1      115             16     1

Interpretação

O gráfico de PCA permite observar como as espécies se distribuem no espaço com base em suas características funcionais. O dendrograma de agrupamento hierárquico ajuda a identificar grupos de espécies que desempenham funções tróficas semelhantes no ecossistema, facilitando a visualização de padrões de agrupamento funcional.

ATIVIDADE !

  1. Discuta as implicações ecológicas dos grupos identificados, como suas funções dentro do ecossistema e possíveis consequências de suas interações.
  2. Explorar diferentes métodos de agrupamento e comparar os resultados obtidos.