Carteira de Derivativos

 Relatório de Atualização dos Contratos Futuros

Autores

Prof. Dr. Sinézio Fernandes Maia

Analista Acadêmico: Natan Henrique Alves

Data de Publicação

8 de setembro de 2024

Introdução

O contrato futuro é um acordo entre duas partes para comprar ou vender um ativo em uma data futura específica por um preço previamente acordado. Os contratos futuros podem ser utilizados para diversos objetivos, como proteção por meio de operações de hedge, especulação e arbitragem. Uma das principais características dos contratos futuros é o fato de serem operações alavancadas, pois, para operar um determinado contrato, é necessário apenas depositar uma margem de garantia. A margem de garantia é um depósito mínimo exigido, determinado pela variabilidade do preço do ativo subjacente e corresponde a um percentual do valor total do contrato. Essa margem é ajustada diariamente em um processo conhecido como ajuste diário.

Neste relatório, serão analisadas duas das principais commodities negociadas no Brasil: a soja e o boi gordo. Ambos os produtos são fundamentais para o setor agropecuário brasileiro, além disso são fundamentais para a segurança alimentar do Brasil e são fortemente influenciados por variáveis econômicas como exportação, importação, juros, câmbio e inflção.

Variáveis Macroeconômicas

A análise das variáveis macroeconômicas é de grande importância na avaliação dos preços das commodities agrícolas e pecuária. As commodities, em sua grande maioria, são transacionadas tendo o dólar como moeda de referência. Assim, uma valorização da moeda americana tende a estimular as exportações dos países produtores de commodities, devido à maior rentabilidade proporcionada pela elevação cambial. Dessa forma, a taxa de câmbio exerce um impacto direto nos preços desses produtos. Nesse caso, a depreciação da moeda local gera um estímulo para o aumento das exportações.

Além do câmbio, a taxa de juros também desempenha um papel crucial. Os custos, como o de armazenamento da produção estão diretamente ligados a essa variável macroeconômica. Um aumento nas taxas de juros tende a elevar os custos para o produtor armazenar seu produto, forçando-o, na pior das hipóteses, a escoar a produção no mercado, o que cria uma pressão de alta na oferta e, consequentemente, tende a reduzir os preços.

Por fim, essas são duas variáveis correlacionadas, já que os juros influenciam diretamente o câmbio que por sua vez irá impactar os preços das commodities. Quando um país eleva sua taxa de juros, ele torna seus ativos financeiros mais atraentes para investidores estrangeiros, que buscam maiores retornos sobre seus investimentos. Esse aumento na demanda por ativos denominados na moeda local resulta em uma apreciação da moeda, ou seja, uma valorização cambial. Que nesse caso teria o efeito oposto ao que foi visto anteriormente.

A tabela abaixo mostra a evolução de alguma das principais variáveis macroeconômicas nos últimos 4 meses, os valores entre parênteses representam as expectatívas do boletim Focos para essas mesma variáveis.

Data Câmbio.Dolar Inflação.IPCA Juros.Selic
Maio 5,13(5,05) 3,93(3,88) 10,50(10,25)
Junho 5.38(5,20) 4,23(4,00) 10,50(10,50)
Julho 5.54(5,30) 4,50(4,10) 10,50(10,50)
Agosto 5,61(5,32) NA (4,25) 10,50(10,50)

Boi Gordo

A trajetória dos preços do boi gordo pode ser compreendida a partir do entendimento do ciclo pecuário. O ciclo da pecuária é um fenômeno característico da criação de gado, que ocorre devido à sinalização dos preços da arroba bovina aos produtores. Em momentos de alta nos preços, os produtores buscam maximizar a produção para comercialização, o que os leva a reter o abate de fêmeas para que estas possam gerar bezerros, que servirão como gado de reposição. O ciclo mostrado no esquema abaixo ilustra que, nos períodos em que os preços do boi e do bezerro estão em baixa, as fêmeas passam a ser abatidas em maior volume, com o objetivo de reduzir a oferta de animais de reposição. No entanto, como consequência, a oferta de carne no mercado também aumenta consideravelmente, o que reduz ainda mais os preços. Após o estágio de abate de fêmeas, os preços começam a se recuperar, criando um maior incentivo para os produtores manterem as fêmeas, de modo a reabastecer seus estoques de animais.

Em uma ótica microeconômica, o ciclo pecuário é simplesmente uma relação entre preços e quantidades, onde a curva de oferta é positivamente inclinada. Assim, à medida que os preços aumentam, as quantidades também tendem a aumentar. No entanto, em determinado ponto, a quantidade ofertada supera a demanda, o que faz com que os preços caiam e os produtores se vejam obrigados a produzir cada vez menos, até que a demanda passe a ser maior que a oferta e os preços voltem a subir, reiniciando o ciclo.

O gráfico à direita apresenta, os preços do boi, bezerro e o percentual de abate de fêmeas. A partir dele, podemos visualizar graficamente o ciclo pecuário, evidenciado pela relação entre os abates de fêmeas e os preços da arroba do boi.

Ciclo Pecuário Ciclo Pecuário

Nas últimas semanas, diversos analistas consultados pelo portal de notícias “Notícias Agrícolas” expressaram apoio à continuidade do atual ciclo de alta nos preços da arroba, destacando as perspectivas positivas para o consumo interno. Além disso, 2024 tem sido um ano recorde para as exportações de carne bovina, com o volume exportado na terceira semana de agosto atingindo 109,7 mil toneladas de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada. Esse aumento nas exportações pode ser explicado, pelo menos em parte, pela forte desvalorização cambial da moeda brasileira. Em Mato Grosso do Sul, o preço da arroba já chega a R$ 250,00. Considerando esses fatores, é possível afirmar que ainda existe uma boa margem para a continuidade do aumento dos preços.

Agromensal

Tradicionalmente, entre julho e outubro, os preços do bezerro atingem seus menores níveis devido ao ciclo produtivo e à necessidade do pecuarista de cria reservar mais espaço para as vacas, visando a estação de reprodução nos meses finais do ano. Além disso, o período seco intensifica o interesse dos criadores em vender sua produção de bezerros. Paralelamente, o mercado pecuário vem registrando valorizações na arroba do boi em todas as praças pesquisadas pelo Cepea. Os animais de reposição, como o bezerro e o boi magro, também começam a se recuperar, mas a relação de troca atual oferece “oportunidades” para o terminador, já que são necessários menos arrobas para comprar um bezerro.

As cotações do boi gordo em São Paulo subiram 2,5% em 12 meses, com a arroba cotada a uma média de R$ 235,07 em agosto de 2024, enquanto o bezerro, um animal jovem, desvalorizou-se 4,3% no mesmo período, com a média de agosto a R$ 2.063,22 por cabeça (MS), também em termos reais.

O cenário atual, portanto, é favorável para o terminador, que deve também observar a oferta de bezerros no contexto do “ciclo pecuário”.

China, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos impulsionam exportações in natura neste ano – A relevância da carne bovina na pauta de exportação de produtos do agronegócio brasileiro tem aumentado. Os principais responsáveis pelo crescimento no volume exportado são a China, os Emirados Árabes Unidos, a Arábia Saudita, os Estados Unidos e o Egito. De janeiro a julho, as indústrias brasileiras exportaram 32% a mais em volume em comparação ao mesmo período de 2023. No entanto, o faturamento em dólares aumentou apenas 21% devido à queda de 8% nos preços médios, segundo dados da Secex.

Soja

Conab 13/08/2024

Os resultados obtidos, até o último levantamento realizado pela Conab, indicam uma produção totalde 147.381,8 mil toneladas, 4,7% inferior ao obtido na safra 2022/23, a maior já colhida no Brasil. A produção tem um leve aumento estatístico, passando para 147,38 milhões de toneladas, as exportações são mantidas em 92,43 milhões de toneladas, porém foi indicado que haverá forte tendência de alta para o próximo relatório. O consumo interno total ficou em 55,96 milhões de toneladas, e os estoques finais em 3,08 milhões de toneladas.

PRODUTO SAFRA ESTOQUE_INICIAL PRODUÇÃO IMPORTAÇÃO SUPRIMENTO CONSUMO EXPORTAÇÃO ESTOQUE_FINAL
SOJA EM GRÃOS 2022/23 5962.1 154609.5 181.0 160752.6 55591.7 101862.6 3298.2
SOJA EM GRÃOS 2023/24 3298.2 147381.8 800.0 151480.0 55959.5 92434.4 3086.1
FARELO 2022/23 1385.5 40758.5 0.1 42144.1 17800.0 22473.5 1870.6
FARELO 2023/24 1870.6 40192.8 1.0 42064.5 18000.0 20000.0 4064.5
ÓLEO 2022/23 508.1 10509.3 21.4 11038.8 8395.0 2332.6 311.2
ÓLEO 2023/24 311.2 10602.4 50.0 10963.6 9262.0 1400.0 301.6

USDA

Segundo o relatório publicado em 12 de agosto, a produção para 2024/25 é estimada em 4,6 bilhões de bushels, um aumento de 154 milhões em relação ao mês anterior, devido a uma área maior. A área colhida é projetada em 86,3 milhões de acres, um aumento de 1 milhão de acres em relação ao mês passado.

Os suprimentos de soja para 2024/25 são projetados em 4,9 bilhões de bushels, um aumento de 11% em relação ao ano anterior. Os estoques finais são estimados em 560 milhões de bushels, um aumento de 125 milhões em relação ao mês passado.

As exportações de soja dos EUA são previstas para aumentar em 25 milhões de bushels devido ao aumento da oferta. O preço médio da soja para 2024/25 é projetado em $10,80 por bushel, uma redução de $0,30 em relação ao mês anterior. Os preços da farinha de soja e do óleo de soja também foram ajustados, com a farinha reduzida para $320 por tonelada curta e o óleo mantido em 42 centavos por libra.

Por fim, a produção global de soja para 2024/25 foi aumentada em 6,9 milhões de toneladas, totalizando 428,7 milhões de toneladas. Isso se deve a aumentos na produção dos EUA, Ucrânia, Rússia, Índia e Benin. As exportações globais de soja são aumentadas em 1 milhão de toneladas, totalizando 181,2 milhões de toneladas.

Agromensal

Os preços da soja oscilaram em agosto. Na primeira quinzena, caíram fortemente, refletindo as expectativas de maior oferta global. Contudo, na segunda metade do mês, os preços começaram a se recuperar, impulsionados pelo aquecimento da demanda chinesa. Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, entre julho e agosto, os preços da oleaginosa caíram 2,4% no mercado de balcão (valor pago ao produtor) e 2,7% no de lotes (negociações entre empresas). No comparativo anual, as quedas foram de 8,9% no balcão e de 7,5% no de lotes. O dólar foi cotado à média de R$ 5,55, estável em relação a julho, mas com valorização de 13,2% frente a agosto de 2023.

Nas últimas semanas do mês, no entanto, os preços tiveram leves recuperações, impulsionados pelo aumento da demanda por exportações. As vendas de exportação de milho e soja dos EUA na semana encerrada em 22 de agosto superaram as expectativas dos analistas para 2024/25. Além disso, no dia 30 de agosto, o Departamento de Agricultura dos EUA informou a negociação de 132 mil toneladas de soja em grão para a China e 100 mil toneladas de farelo para a Colômbia, ambos volumes referentes à safra 2024/25.

Quanto ao farelo de soja, boa parte dos compradores adquiriu lotes pequenos em agosto, à espera de preços mais baixos nos próximos meses. Esses agentes basearam suas decisões na expectativa de maior oferta do grão e no fato de que a demanda aquecida por óleo de soja pode aumentar a disponibilidade de farelo no Brasil.

Nos Estados Unidos, a soja em grão voltou a ser negociada abaixo de US$ 10 por bushel, cenário que não se via desde setembro de 2020, o que, consequentemente, pressionou as cotações no mercado brasileiro. A queda nos preços futuros deve-se às boas condições das lavouras norte-americanas, reforçando as projeções de uma safra recorde naquele país.

Gráficos Tradingview B3

BGIU2024

SJCX2024

Soja CBOT

Decomposição da Série

Boi

Código
dados1 <- readxl::read_excel("dadosDec.xlsx")
vendas_ts <- ts(dados$boi_fut, frequency = 12, start = c(2020,01))

# Decomposição aditiva
decomposicao <- decompose(vendas_ts, type = "additive")

# Visualizar o resultado da decomposição
plot(decomposicao)

Código
plot(decomposicao$x - decomposicao$trend);abline(h = 0)

Soja

Código
vendas_ts <- ts(dados1$soja_fut, frequency = 12, start = c(2020,01))

# Decomposição aditiva multiplicative
decomposicao1 <- decompose(vendas_ts, type = "additive")

# Visualizar o resultado da decomposição
plot(decomposicao1)

Código
plot(decomposicao1$x - decomposicao1$trend);abline(h = 0)

Resultados

Os resultados foram recalculados com base nas discussões da equipe, onde, nesse novo formato, o viés do contrato é previamente definido e o acompanhamento desses contratos é realizado semanalmente. Além disso, foi sugerido um teto de retornos de 7,20%. No entanto, por motivos de simplificação, esse retorno foi calculado de forma similar ao aplicado em outras carteiras da Sala de Ações.

Um dos problemas desse cálculo é que ele considera apenas dois ativos, soja e boi gordo, pois foram os ativos com o maior volume de informações produzidas pelo analista acadêmico responsável.

As escolhas de contratos foram as seguintes: durante o mês de maio, o viés do contrato de boi gordo foi de baixa, mas para os meses subsequentes, foi definido como alta. Para a soja, o viés foi definido como de baixa durante todo o período de especulação.

O retorno financeiro foi de R$ 3.753,00, enquanto o percentual de retorno sobre a margem acumulada dos ativos de boi gordo e soja somados foi de 60,30%. O gráfico abaixo mostra a evolução semanal do retorno acumulado para os dois ativos.

Referências

https://www.cepea.esalq.usp.br/br/categoria/relatorios-agricolas.aspx

https://investing.com/

https://www.noticiasagricolas.com.br/

https://www.usda.gov/

https://br.tradingview.com/chart/5cX6rVTg/?symbol=BMFBOVESPA%3ABGI1%21

https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices/servicos-de-dados/market-data/cotacoes/