No decorrer desse glossário, serão apresentados os termos que fazem parte da ADD e auxiliam a explicar o desenvolvimento profissional dos professores com base em seus documentos didáticos, resultados da interação desses com recursos e esquemas de utilização.
Um artefato é uma ferramenta que tanto pode ser material (um livro, calculadora), como simbólico (um gráfico, um conteúdo). Um artefato é um material que tem potencialidade de ser transformado em um instrumento no ofício do(a) professor(a).
Os documentos são resultantes do processo de interação dos professores com os recursos. A associação dos recursos com os esquemas de utilização gera os documentos didáticos. O novo plano de aula da professora Gertrudes é um documento.
É a forma como um(a) professor(a) utiliza um recurso. Os esquemas evoluem conforme se dá o desenvolvimento profissional docente e são dependentes do que é chamado de ‘invariantes operatórios’. A professora Gertrudes utiliza os recursos para ensino de estatística descritiva no 7º ano da maneira como foi apresentado no exemplo introdutório. Sua colega Marlene trabalha esse conteúdo usando o livro didático, entretanto, prefere que os estudantes não apenas visualizem graficamente as medidas descritivas, mas manipulem as informações, gerando as imagens em um software estatístico, pois as formas de utilização de um dado recurso podem ser diferentes de professor(a) para professor(a).
É o processo de desenvolvimento de um documento. Pode partir do aprendizado do(a) professor (a) envolvido(a) e resultar na criação de um novo documento. No exemplo introdutório tem-se a gênese (criação) de um plano de aula relacionado a estatística descritiva para o 7º ano. Da gênese documental faz parte a instrumentação e a instrumentalização.
Instrumentação é o processo pela qual as especificidades e potencialidades de um recurso influenciam o(a) professor(a) e condicionam suas ações futuras. Quando a professora Gertrudes participou do curso de formação continuada aprendeu a usar um software estatístico para visualizar medidas estatísticas - esse conhecimento a influenciou no momento de planejar sua aula.
Instrumentalização é o processo em que os hábitos e conhecimentos dos professores orientam as escolhas de recursos, transformando-os, adaptando-os e produzindo novas características condizente com suas necessidades, tornando suas propriedades enriquecidas. Quando professora Gertrudes adapta as questões do livro didático, não somente foi influenciada pela organização pedagógica do material, como interagiu com ele criando novas possibilidades de utilização.
Instrumento se constitui em um objeto (artefato) relacionado a um esquema de utilização. Essa conceituação considera as construções que os professores fazem, a partir de um artefato ou a apropriação de esquemas de utilização apresentados a eles. O Software usado no exemplo introdutório é um instrumento.
No exemplo, percebe-se invariantes operatórios quando a professora Gertrudes reflete que os alunos aprendem com mais eficiência em situações práticas e resolve utilizar as medidas anatômicas para contextualizar as estatísticas descritivas (teorema-em-ato) e quando ela pontua os conceitos mais importantes a serem ensinados (conceito-em-ato).
É uma construção metodológica para análise dos documentos docentes. Visa examinar a atividade dos professores através do seu trabalho de documentação. Se baseias nos seguintes princípios:
Um(a) professor(a) pode assumir diversas configurações de aula para um dado conteúdo (orquestração) e a interação entre elas é a metaorquestração. Entende-se por metaorquestração uma orquestração que ocorre sobre outra orquestração instrumental. Exemplificando, a professora Gertrudes inicia sua aula de estatística de forma expositiva e a seguir propõe aos (às) alunos(as) que, em grupos, efetuem medições e anotem em uma tabela para posterior discussões - essa é uma orquestração possível. Na próxima aula ela utiliza exercícios do livro didático e mostra a visualização gráfica das medidas com uso de um software estatístico. A interação dessas duas formas de aula é a metaorquestração instrumental.
Entende-se como um dos níveis que pode assumir um recurso. Eles facilitam o acesso ao primeiro nível de recursos. Para exemplificar: um livro didático (recurso de conteúdo) pode ser encontrado por um site de busca (metarrecursos). Um terceiro nível de recursos é o recurso para trabalhar conteúdos, como um editor de texto ou um software estatístico, por exemplo.
São diversas configurações didáticas que pode assumir um(a) professor(a) para uma dada aula. É uma combinação de recursos com os objetivos de ensino. Observe um exemplo em metaorquestração instrumental.
Performance didática é a atuação do(a) docente que considera ajustes das configurações de sua aula e os modos de exploração de recursos, levando em conta as proposições dos(as) alunos(as) e as suas necessidades de aprendizagem. No exemplo introdutório a performance da professora Gertrudes está sujeita às necessidades de sua turma do 7º ano.
São todos os instrumentos que o(a) professor(a) utiliza para aprender e para ensinar. Podem ser livros, cadernos, conversas com seus pares, documentos curriculares, entre outros. Esses recursos demandam de criação, análise e até mesmo adaptações que permitem a sua utilização com objetivos de ensino e essa dinâmica vem a constituir a prática profissional docente.
Recursos-mãe são aqueles que geram outros recursos considerando um movimento dialético. Os recursos-filhos são recursos que resultam da adaptação de outros documentos. Esses serão acumulados, organizados, estruturados, para constituir o sistema de recursos do professor, constantemente revisado, reutilizado, enriquecido e reestruturado. As atividades do livro didático da professora Gertrudes são recursos-mãe. As adaptações realizadas pela professora são recursos-filhos.
É a ação, impactada pelos invariantes operatórios, que remete ao uso de um dado recurso pelo(a) professor(a). Exemplo: Os enunciados das atividades propostas pela professora Gertrudes.
É o conjunto formado por todos os recursos para ensinar de um(a) professor(a). Se considerarmos a professora Gertrudes, tudo o que ela usa na elaboração de suas aulas: livros, atividades, conversas com os pares, diretrizes curriculares, vídeos, softwares, entre outros.
A trajetória documental dos professores é uma maneira de explicitar as transformações na produção de recursos dos professores ao longo do tempo e a experiência documental de mostrar como essa transformação foi capitalizada pelo(a) professor(a) que, em hipótese, permite compreender questões em torno de seu desenvolvimento profissional.
TROUCHE, L.; GUEUDET G.; PEPIN B.; ROCHA K.; ASSIS C.; IGLIORI S. A abordagem documental do didático. DAD-Multilingual, p.1-14, 2020. Disponível em: hal-02664943v2. Acesso em 24 mai. 2024.
TROUCHE, L; GUEUDET, G.; PEPIN, B. The documentational approach to didactics. ArXiv: Cornell University, 2020. DOI: https://doi.org/10.48550/arXiv.2003.01392
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