Era desesperador como a ansiedade irradiava de todo o meu corpo, meu coração parecia um tambor e as borboletas dominavam meu estômago, minhas mãos batucavam a mesa cheia de forma nervosa e até mesmo desesperadora. A minha carta de Castelobruxo ainda não tinha chegado, aquela escola era o sonho de qualquer bruxo, simplesmente era uma das melhores escolas de magia e bruxaria de toda a América, não que tivessem muitas, as mais conhecidas eram a Castelobruxo e Ilvermorny, que ficava localizada nos Estados Unidos. Estudantes de toda a América do Sul iam para Castelobruxo, acredito que até alguns da América Central e possivelmente, a do Norte também. Sua localização era nas profundezas das florestas tropicais amazônicas. Ninguém sabe ao certo o lugar onde ela fica, uns dizem que ficam no meio do estado, outros dizem que ficam mais ao norte e tem quem fale que fica mais ao leste. De fato, se for qualquer uma dessas opções, com certeza não é fácil encontrá-la.
Acredito que minha maior inspiração para entrar nessa escola está ligada ao fato de que Libatius Borage, um boticário mundialmente famoso, estudou lá. Eu tenho quase todos os seus artigos e livros, desde de “Estudos Avançados de Poções” a “Soros Asiáticos”, a última é um de seus livros mais famosos e tem mais de 35 traduções em todo o mundo.
Sou interrompida de meus pensamentos pelo som da campainha, corro disparada em direção a porta, extremamente ansiosa e esperançosa de que seja a minha carta. Abro a porta e me deparo com uma simples carta no chão, em cima do tapete, uma simples carta como essa, que pode mudar vidas, minhas mãos desesperadamente pegam a carta para ver o remetente, Escola Castelobruxo , logo em seguida abri a carta, meu rosto estampava felicidade enquanto lia:
Prezado/a aluno/a Sr/Sra Flora Cavaliet
Temos o prazer de informar que V.Sra tem uma vaga na Escola Castelobruxo. Estamos anexando junto a carta, uma lista de materiais e equipamentos necessários. O ano letivo começa no dia 1 de Julho, estamos aguardando sua pomba até 31 de maio, no mais tardar possível. Esteja no dia 1 de Julho em frente ao Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro às 7:00 horas. Não esqueça de vestir seu uniforme.
Atenciosamente, Benedita Dourado.
Ao virar a carta, avisto a lista de materiais e equipamentos, alguns eram esperados por mim, mas confesso que outros me deixaram surpresa.
Três blusas sociais brancas com o brasão da escola
Três calças verdes (saias para garotas se assim preferir)
Três gravatas com o brasão da escola (verde)
Livros de feitiços, de História da Magia, de teorias, transfiguração, poções, Mil Ervas e Fungos Mágicos (?), Animais Fantásticos e seu Hábitat
Animais Fantásticos e seu Hábitat é um dos meus livros favoritos. Eu acho totalmente incrível a forma em que eles abordam o livros e as curiosidades de cada animal, além das descobertas. Eu sou completamente apaixonada por Newton Scarmander.
[…]
Era primeiro de Julho, eu me encontrava em frente ao Museu do Amanhã, estava rodeada de pessoas, a maioria sendo alunos do Castelobruxo e outros eram possivelmente pais. Observava tudo isso enquanto tomava um milkshake de ovomaltine trouxa, aquilo era incrivelmente gostoso. Como estava um dia ensolarado, estava de saia, apesar de preferir mil vezes a calça. De repente, um homem surgiu de uma parede, esbelto e de porte atlético, porém baixo, tinha cabelos brancos e usava um óculos, suas roupas remetiam a roupas de academia, talvez ele fosse o treinador de quadribol (?). Não fazia a mínima ideia, mas ele se apresentou, era professor e se chamava André, disse para ficarmos próximos um dos outros e pediu que nós o seguíssemos. Após chegarmos em um lugar escuro e fechado, André nos colocou em uma área que tinha o formato de um círculo e pediu que ficássemos parados. Sem querer esbarro em um garoto de olhos verdes e cabelo preto, antes que eu pudesse me desculpar, ouço um murmúrio vindo do professor e todo o meu corpo começa a ser pressionado em todas as direções, eu simplesmente não conseguia respirar, meus olhos pareciam estar sendo forçados para dentro da minha cabeça, meus tímpanos eram empurrados em direção ao meu crânio, meu corpo se encolhia e puxado em alguma direção, enquanto isso, tudo que eu via era preto. Numa fração de segundos, meu corpo era jogado para a frente. Como na lei do físico trouxa Newton,um corpo em movimento se mntém constante, eu caía em algo, ou alguém no caso. Ao levantar minha cabeça, vejo um par de olhos verdes esmeraldas me encarando de forma intensa e assustadora, o mesmo garoto de antes. Logo percebo a situação onde me encontro, estava em cima do garoto com minhas mãos apoiadas em seu peito e o meu cabelo cobrindo completamente a nossa visão das coisas ao redor, seu rosto parecia ser macio, mas sua pele era tão alva quanto a neve. Eu estava em completo transe.
“Você não vai sair de cima de mim não?” Sua voz era rouca e ele falou de forma extremamente rude e áspera. Para não ter mais problemas diante de toda aquela arrogância, decidi sair de cima dele, por mais confortável que estava sendo.
“Não precisa de tanto estresse, foi sem querer.” Digo logo de cara fechada, ninguém ia me tratar assim e esperar que eu seja gentil.
“Tanto faz.” Disse ainda de rude e feição irritada, ele logo saiu andando em direção ao Professor André, que parecia explicar algo sobre a escola. Finalmente pude olhar para a estrutura, ela parecia um templo em decadência. Era um uma construção imponente e anguloso, constituído por pedras douradas, um rio parecia atravessar parte do local e olhando ao redor percebo um grande muro de rocha a nossa volta, como se estivéssemos em uma cratera. A escola era no centro do grande buraco e completamente rodeada de verde, se prestássemos atenção, poderíamos ouvir o assobiar dos pássaros locais.
O professor André explicava que a escola tinha um protetor, o caipora. Ele era um espírito que protegia a escola e os habitantes dela, mas ainda sim, era muito travesso e adorava perturbar os alunos, como o pirraça de Hogwarts. Meu pai, que trabalhava no Ministério da Margia brasileira, falava que ouvia diversas reclamações dos diretores de Hogwarts sobre o pirraça. Como não era comigo que ele mexia, eu só achava graça, só espero que esse caipora não vá me perturbar, não teria paciência para aguenta-lo, por mais hipócrita que eu seja.
“Vamos continuar a tour, alguém mais tem alguma dúvida?” O professor fala recebendo acenos negativos. “Se é assim, vamos então.” E só o que nos resta é segui-lo.
“Hey, você é aquela garota que queria arrumar briga com o Elliot né?” Elliot? Quem é Elliot?
Uma garota me parou, era morena de estrutura mediana, cabelo cacheado e volumoso, era possível ver as sardas de seu rosto e seus olhos cor de mel, ela era simplismente linda, apesar de aparentar ter um sorriso travesso. O que só a tornava mais linda ainda.
“Desculpe, quem é Elliot?” De repente lembrei da única pessoa que tive contato dessa escola até agora. “Se for o garoto que eu esbarrei, eu só esbarrei nele, não comprei briga com ninguém.”Oxi, de onde é que tiraram essa história? Será que o menino já está fazendo fofoca?
“É ele mesmo, mas não foi o que pareceu, a cara que você fez para ele deu medo até em mim.” Disse em tom risonho.”Desculpe-me pela a minha falta de educação, meu nome é Mia, Mia Chase” Ao terminar, ela estendeu a mão, que logo eu apertei.
“Flora Cavaliet, é um prazer.” Termino minha apresentação com um sorriso ladino. Vejo sua cara admirada, sinceramente adoro esse efeito nas pessoas.
“Cavaliet? Filha do Ministro da Magia, Rodrigo Cavaliet?” Sua curiosidade era fofa, mas tudo que eu faço é acenar com a cabeça. “Ui, ela é toda poderosa, vou ser sua amiga” Diz ela me abraçando de lado e com um largo sorriso estampado em seu rosto. Era assim? Sem nem um jantar antes? “Flora, minha querida, está sabendo da festa de boas vindas de hoje a noite?” Eu não sou a querida dela, mas que coisa.
“Festa? Que festa? Os professores também vão?” Pelo o que eu ouvir falar, não existia festa de boas vindas, o máximo de evento importante que aconteceria no dia era a seleção de casas. Será que era algo novo desse ano?
“Duh, claro que não, é uma festa secreta e você vai comigo. Mas mudando de assunto, para qual casa você quer ir?” Ela era sempre tão mandona assim?
“Quero ir para a Pawanunga!” Minha felicidade era sentida a quilômetros de distância, Pawanunga era a melhor casa de todo o Castelobruxo, mas muita gente não aceita isso, ainda nos chamam de cruéis. Ela era a casa dos inteligentes, mas com um lado mau, porém não éramos assim, também éramos protetores. Não eramos os mais gentis, é claro, todavia apenas tínhamos uma sede por poder e sucesso completamente saudável.
“Sério? Eu deveria ter medo de ficar perto de você?” Suas sobrancelhas se arquearam ao dizer isso, entretanto antes que eu diga algo, ela retoma sua fala. “Brincadeira, também quero ir pra lá” E novamente, seu sorriso maroto estava presente. Tudo que eu faço é olha-lá de canto enquanto solto um sorrisinho, talvez ela não seja tão ruim assim.
[..]
Já era de noite, estávamos na hora do jantar, os novos alunos estavam em uma mesa separada, prontos para a seleção de casas. Meu olhar se voltava a todo tempo para a mesa da Pawanunga, os braceletes em formato de tigre pareciam se destacar dentre todos os outros.
A seleção de casas aconteceriam através de um computador, eles colocariam fios em nossa testa e logo nos definiria para qual casa deveríamos ir. Alguns demoravam minutos para ir, enquanto outros, assim que colocavam era imediatamente direcionados para alguma casa. A seleção estava ocorrendo há alguns minutos e nada do que eu imaginei ou dos relatos que eu ouvi poderia se igualar ao que estava diante dos meus olhos, tudo era completamente incrível, desde a decoração até a cerimônia em si.
“Flora Cavaliet.” O ar fugiu de meus pulmões, não sei como consegui andar até o palco que me esperava ou como sentei na poltrona. Eles colocaram os fios em minha testa, meu corpo tremia em ansiedade, ele paralisou ao ouvir a voz soar da caixa de som do computador.
“Uhm,isso é interessante, você é alguém genioso, mas gentil.Corajosa, mas ainda sim com um orgulho gigante. Contudo, sua ambição supera tudo, definitivamente Pawanunga” Ele exclama alto e tudo o que ouço são os gritos da minha nova casa. Acho que esse era o maior sorriso que eu dei em toda a minha vida, fui caminhando morta de felicidade em direção a casa e logo sou puxada e acolhida em um abraço grupal por todo mundo da mesa, definitivamente Pawanuga era a melhor casa de Castelobruxo. Depois das minhas boas vindas e de alguns alunos, ouço o nome da minha amiga, Mia Chase.
“[…] Pawanunga!” E novamente o salão era enchido por gritos, dessa vez da minha casa. Logo vejo Mia caminhando em minha direção com seu sorriso habitual, tudo o que faço é arquear minha sobrancelha dando um sorriso ladino.
O resto das seleções correu bem, assim como o jantar. A comida da escola era maravilhosa, diria até melhor do que a da minha vó, todavia estaria mentindo, nem Castelobruxo supera a comida da minha avó. Ao final do jantar Rogério, o diretor da minha casa, se levantou, no segundo seguinte nossa casa também, eu estava perdida então só os segui.
“Pawanunga, comigo.” Não bastou mais palavras e todos se prostraram a segui-lo, Rogério era um homem de beleza exótica (bem feia) e por mais estranho e ridículo que pareça, ele me lembrava um hamster de algum desenho animado dos trouxas por algum motivo, acho que se deve pelo os seus dentes.
[…]
Sou acordada por pequenos tapas na minha cara, não acredito que Mia teve a audácia de fazer isso, será que já tinha dado o horário da festa ? Era falou que era no meio da madrugada.
“Ei anjo, acorda, você precisa ver uma coisa.” Para quem estava me dando tapinhas, sua voz estava doce. “Vai criatura, acorda, é sério.” Retiro totalmente o que eu disse, ela é uma ogra.
“O que você quer? Já deu o horário da festa?” Digo ainda de olhos fechados apesar de estar sentada na cama, ninguém merece acordar na madrugada por um motivo bobo.
“Quê? Não, ainda está cedo para a festa, eu quero que você olhe aquilo, vem!” Agora ela atraiu minha atenção, eu era uma pessoa muito curiosa e o jeito que ela falou só aumentou ainda mais minha curiosidade. Me aproximo da janela onde ela estava, ao olhar para baixo vejo as folhas se mexendo, como se tivesse algo lá. “Vamos lá?” Sua rosto brilhava em expectativa.
“Como se eu fosse perder isso, vamos!” Falo pegando meu casaco e calçando meus calçados. Mia logo me acompanha e descemos as escadas do jeito mais silencioso possível, afinal nossa sala comunal fica nos últimos andares da construção. Logo estávamos saindo pela a porta de entrada e adentrando a misteriosa floresta que cercava a escola. A tensão parecia palpável e nossos passos eram cautelosos, olhávamos em todas as direções, estávamos com medo mas a nossa curiosidade era mil vezes maior.
Repentinamente, ouço um barulho ao meu lado direito que nos faz olhar para a direção de imediato, logo encontro os olhos de Mia banhados por medo e insegurança, todavia a curiosidade e expectativa superava o resto, assim como eu. Nos aproximávamos de um arbusto para que possamos observar o que estava diante de nós e minha surpresa não poderia ser maior.
“Achava que Saci era só uma lenda.” Chase fala o que estava presente em meus pensamentos, eu também achava.
“Eu também, mas se bem que até magia era falada como se fosse um mito e olha onde estamos.” De fato, não dava para compreender as criaturas desse mundo e nem distinguir fantasia de realidade. Newton Scarmander sempre dizia isso.
O que acontecia diante dos nossos olhos, era basicamente a luta do Saci contra o Caipora. De fato, parecia ser uma luta muito agressiva, cheia de socos, chutes, arranhões e puxões de cabelo no caso do Saci. Porém, o que nos surpreendeu era que eles eram pequenos, realmente muito pequenos, o que tornava tudo ainda mais cômico, apesar de assustador. Mia, como a idiota que é, não aguentou e começou a rir. E então aconteceu algo não esperávamos, mesmo sendo algo muito óbvio, os dois olharam em nossa direção e de repente, o Saci não parecia tão amigável ou travesso como era descrito em contos. Pelo o contrário, dentes afiados saíram de sua boca, seus olhos adiquiraram uma tonalidade vermelha e ei juava que saía fumça de seu nariz.Era possível ver veias saltando de sua pele, o Caipora, com a feição assuatada, tentou impedir que o monstro de uma perna só avançasse em nossa direção, mas não conseguiu e dessa vez, o medo nos dominou totalmente.
“CORRE!!” Foi tudo que eu conseguir falar e expressar antes de correr disparada em direção a escola. O medo era presente em todo o meu ser, pela a minha visão periférica consigo ver Mia me acompanhando, talvez tão rápida quanto eu. Seria cômico se não fosse trágico toda a nossa situação. De longe podia-se ouvir os gritos esguiniçados do Caipora e o estranho galopar do Saci. Como diabos ele podia correr tão rápido tendo apenas uma perna? Quem ele era, o ligeirinho?
Devido a minha maldita curiosidade, a mesma que me colocou nessa enrascada, eu constantemente olhava para trás e tudo o que via era vultos com olhos vermelhos se aproximando cada vez mais rápido a cada segundo. Minhas pernas estavam ardendo pela minha corrida, estava quase desistindo quando vejo o vislumbre do portão da escola, isso me dá mais força e acho que para a Chase também. Entretanto não fomos as únicas a notar, logo percebo pelo som que o Saci está correndo ainda mais rápido. De repente, logo tudo vira silêncio e só os nossos passos são ouvidos, próximo do portão, paro para ver o que estava acontecendo, mas novamente só consigo enxergar vultos e vultos. Não conseguia distinguir quem era quem. Do nada, um vulto de olhos vermelhos para na minha frente e em seguida, vejo dentes afiados vindo em minha direção. Devido ao meu susto, dou um pulo para trás agarrando Mia que estava do meu lado e nos fazendo cair no chão, tudo o que eu vejo antes do portão da escola fechar, é o Caipora enfiando seus dentes no pescoço do Saci e seu sangue jorrando por toda a parte.
Após toda a adrenalina se dissipar do meu corpo, eu gargalho deitada no chão de entrada da escola, sendo acompanhada por minha amiga. Simplesmente não estava acreditando no que tinha acontecido bem diante dos meu olhos, era o meu primeiro dia de aula e já estava envolvida em confusão.
“É Mia, acho vai ser interessante ser sua amiga.” O tom risonho ainda era presente em minhas palavras, finalmente essa noite tinha acabado.