Dosagem de Concreto

Sobre

Este material é uma apostila para o curso de dosagem de concreto de Furnas, com pretensão de que futuramente se transforme em livro. Contém de forma resumida os princípios, métodos e práticas de Furnas em dosagem de concreto adquirida com a construção de inúmeras barragens ao longo de muitas décadas, de acordo com a experiência herdada de eminentes engenheiros.

.

Metodologia

Todo curso requer um material que aponte ao aluno o básico quanto ao assunto objeto do estudo, mas o aprendizado depende primordialmente de sua própria capacidade de interagir com a proposta e de reter o conteúdo apresentado. No caso da dosagem de concreto, este campo do saber é essencialmente experimental, mas requer certos cálculos e conceitos que direcionem a prática. E a prática em dosagem vem de duas maneiras: prancheta e sala de dosagem, porque nada acontece na sala de dosagem que não tenha que ter passado antes pela prancheta de cálculo. Por que prancheta? Porque a dinâmica da sala de dosagem não convém que sentemos à beira de um computador com uma planilha Excel para realizar os cálculos. Em um segundo momento, na hora de elaborar um relatório, tabular os dados em planilha e fazer as contas complementares, será muito útil e necessário. Mas é preciso que o engenheiro se acostume a fazer as contas na ponta do lápis, tendo à mão uma calculadora simples e tendo as fórmulas de cálculo, bem como os conceitos adjacentes, na memória da cachola.

Dito isto, desejo a todos um bom curso e um bom aproveitamento. Não deixem de fazer todas as contas sugeridas, para fixar os conceitos, e de realizar na prática o que foi exposto em aula, usando para isto um laboratório real ou virtual que estiver à sua disposição.

Avisos

São 3 axiomas para começar o curso:

  1. Sou burro mas não cego: leia com atenção, se puder. Mas se não puder, pelo menos leia. E leia em voz alta, porque mobiliza mais áreas do cérebro - fala, ouvido e pensamento.

  2. Cobra que não se mexe não engole sapo: não tenha medo da fórmula por mais estranha que seja. Substitua os parâmetros e calcule. Se errar, será corrigido. Mas não fique parado, pelo menos tente.

  3. Se é possível simplificar, para quê complicar? Pense simples. Os raciocínios para se guiar bem em dosagem são simples e eles te guiam quando há uma confusão de fatores.

Erros e sugestões

Este material está sendo reelaborado a partir de vários textos, escritos em diferentes épocas, e de materiais bibliográficos dispersos. Peço a todos os colegas que avisem caso encontrem algum erro e nos dêem sugestões de melhorias em qualquer nível, seja na organização dos tópicos, na alteração dos exemplos, ou em novos exemplos, ou ainda aumentar ou reduzir o conteúdo de certos tópicos, ou melhorar as explicações.

Introdução

“Apesar da dosagem dos concretos ser governada por sólidos princípios técnicos, pode-se dizer, por várias razões plausíveis, que o processo de dosagem não está inteiramente no campo da ciência”

— Mehta e Monteiro (1994, p.311).

Preâmbulo

O concreto é o material de construção formado por uma mistura de cimento Portland, água, areia e brita, além de outros materiais eventuais, como os aditivos químicos e adições. O cimento Portland é um material finamente pulverizado que, após misturado com água, endurece e adquire excelente resistência mecânica e estabilidade em meio aquoso. A areia e a brita são materiais inertes também chamados de agregados, respectivamente miúdo e graúdo.

O termo dosagem, sinônimo de traço ou composição, refere-se à quantidade dos materiais constituintes do concreto por unidade de volume. As propriedades do concreto, tanto no estado fresco quanto endurecido, dependerão significativamente da dosagem, além é claro das propriedades de cada material componente. O termo dosagem também se refere ao método de definição do traço. Após a seleção dos materiais, denomina-se método de dosagem ao processo teórico e experimental para se determinar um traço de concreto adequado e econômico. Concreto “adequado” é aquele capaz de alcançar certas e desejadas características de desempenho no estado fresco e endurecido.Porém, segundo @mehta1994concreto:

“Apesar da dosagem dos concretos ser governada por sólidos princípios técnicos, pode-se dizer, por várias razões plausíveis, que o processo de dosagem não está inteiramente no campo da ciência”

— Mehta e Monteiro (1994, p.311).

Desafiadoras palavras, de autoridade inconteste. Revisitando alguns métodos de dosagem, este trabalho pretende contribuir com parâmetros úteis e necessários ao processo de formulação da dosagem de concreto, de modo a obter traços adequados que alcancem propriedades especificadas quanto à resistência e trabalhabilidade. Embora além do escopo deste trabalho, convém atentar para o custo global, ao aproveitamento de materiais proveniente de resíduos, à durabilidade, à eficiência e à sustentabilidade. Assume-se que, em condições normais, desde que a resistência seja alcançada, a durabilidade resultante será satisfatória. A dosagem deve merecer atenção especial em casos de agregados reativos ou de condições severas de exposição do concreto, tais como ataques químicos ou névoa salina, ciclos de congelamento e degelo e reações potencialmente deletérias.

Objetivos da dosagem

A dosagem de concreto visa alcançar duas propriedades: a trabalhabilidade enquanto o concreto está fresco e a resistência à compressão quando o concreto está endurecido, normalmente são os requisitos mais importantes.

“A corrente sempre arrebenta no elo mais fraco”

— ditado popular.

Este ditado não é sem razão. O concreto, por ser heterogêneo por natureza, requer um esforço contínuo em manter sua homogeneidade.

Princípios da dosagem

Didaticamente, pode-se dizer que três princípios governam o processo de dosagem de concreto convencional formado por cimento, água, areia e brita. E, não obstante as incontáveis complexidades dos processos de dosagem propostos por inúmeros pesquisadores para diferentes combinações de materiais constituintes e aplicações, estes três princípios são razoavelmente válidos e aplicáveis.

  • 1º Princípio: A resistência do concreto é diretamente proporcional à concentração de CIMENTO da dosagem (logo, inversamente proporcional à relação água/cimento! E diretamente proporcional ao consumo de cimento).
  • 2º Princípio: A trabalhabilidade do concreto é diretamente proporcional à quantidade de ÁGUA1 da dosagem (em kg/m³, ou em % dos materiais “secos”) e à quantidade dos (super)plastificantes (referida em % da massa de cimento).
  • 3º Princípio: A otimização da dosagem depende apenas da composição granulométrica da mistura dos AGREGADOS (ou da % entre os agregados).

Na prática, diversos fatores interferem na “pureza” desses princípios, como a energia de mistura e sua eficiência, a ordem de colocação dos materiais na betoneira, a energia e eficiência de compactação do concreto, bem como fatores que dependem também da forma, da textura dos grãos, da interação física e química do “mix” dos materiais. O próprio conceito de trabalhabilidade deve ser melhorado, o que será abordado oportunamente.

É também evidente que qualquer outro material adicionado ao traço pode produzir concretos mais eficientes ou mais econômicos, alterando sua resistência, trabalhabilidade, durabilidade ou qualquer propriedade. Então, cada material adicionado poderá ser objeto de estudo específico de sua influência para determinação de seu teor ótimo de utilização.

Noção de Trabalhabilidade

A trabalhabilidade é a propriedade do concreto fresco que determina a facilidade com que ele pode ser misturado, transportado, lançado, adensado e acabado, mantendo sua homogeneidade (ACI 116R-90). Duas características são importantes: a compacidade e a homogeneidade. A compacidade significa que o concreto não deve conter vazios de ar aprisionado, que diminuem significativamente a resistência e a durabilidade do concreto. Já a homogeneidade significa que o concreto, material heterogêneo por natureza, não deve sofrer segregação ou separação de fases. Segregação é, portanto, separação, ou seja, a tendência à separação dos materiais constituintes do concreto, e a consequente perda da sua homogeneidade. A segregação pode acontecer em qualquer da etapas do processo de produção do concreto: mistura, transporte, lançamento e adensamento. A segregação acarreta em nichos de concretagem, acúmulo de britas, dispersão nos resultados de resistência à compressão, além de perda significativa de resistência e de durabilidade.

A exsudação é um tipo específico de segregação e consiste no aparecimento de água na superfície do concreto depois de adensado. Significa que o seu interior está cheio de canalículos por onde a água sobe à superfície, deixando acúmulo de água na face inferior dos agregados graúdos, o que torna esta região menos resistente. Esta heterogeneidade prejudica a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade, pois o deixa vulnerável a ataque de agentes agressivos. Esta região tem o nome de zona de transição.

Modernamente, a trabalhabilidade do concreto é traduzida em termos do comportamento reológico do material no estado fresco, que é definido por no mínimo dois parâmetros. Os principais mecanismos que influenciam a reologia do concreto são o atrito interno das partículas e a quantidade de água livre. Por conseguinte, o que se busca obter com a adição de água e aditivos é a modificação da tensão superficial da fase líquida e a melhoria da dispersão das partículas. Isto pode ser alcançado com a utilização de superplastificantes apropriados e conseguindo um empacotamento adequado das partículas incluindo as mais finas (materiais cimentícios, pozolânicos e fíleres).

O concreto auto-adensável (CAA) é aquele capaz de se mover, libertar o ar e preencher completamente os espaços existentes entre as armaduras, sem a influência de energia adicional de compactação, estando sujeito apenas à ação da gravidade (@nunes2001betao). Por sua elevada fluidez e uso de grandes quantidades de aditivo superplastificante, é um concreto mais sujeito aos fenômenos descritos que afetam a trabalhabilidade, como a segregação e a exsudação e, portanto, cuidados especiais são tomados durante a preparação da dosagem. Os concretos bombeáveis e convencionais também necessitam preencher adequadamente as formas e os espaços entre as armaduras, mas estão sujeitos a uma determinada energia de compactação (manual ou vibrador de imersão). O bombeamento sujeita o concreto a velocidades e, portanto, taxas de cisalhamento, maiores que o do ensaio de trabalhabilidade padrão (slump). Também aqui, medidas especiais são adotadas para a correta formulação da dosagem. O concreto compactado com rolo (CCR) é aquele que é adensado por meio de rolo compactador, vibratório ou não. A energia aplicada no adensamento é a maior dentre os tipos de concreto. O fator crítico deste concreto é a homogeneidade durante as fases anteriores ao adensamento, pois se ocorrer segregação o CCR jamais atingirá o grau de compactação para o qual foi projetado, bem como as demais propriedades a ele relacionadas.

A principal lição que deve ser lembrada aqui é que o concreto precisa ser o mais homogêneo possível, mesmo sendo intrinsecamente heterogêneo. A heterogeneidade inevitável de ser composto por fase pasta e fase agregado (de diversos tamanhos) deve ser trabalhada de maneira a se evitar ou minimizar a segregação, a exsudação, a zona de transição, o ar aprisionado, para que “a corrente não arrebente no elo mais fraco” e o concreto alcance as propriedades almejadas.

Cálculo de dosagem

O cálculo de dosagens é uma fase importante do processo de dosagem e requer certa habilidade em conceitos simples, porém importantes, que não raras vezes são negligenciados. Visa estabelecer o traço propriamente dito, ou a composição da dosagem, usualmente mostrada em kg/m³. Basta imaginar que cada item da composição é uma variável e são necessárias tantas informações (ou equações) quantas forem as incógnitas.

Não será abordado o cálculo da dosagem em volume aparente (padiolas), de utilização corrente em obras de pequeno porte, embora os conceitos aqui apresentados sejam suficientes para tanto.

Conceitos envolvidos

Massa específica

A massa específica de um material é a relação entre a massa e o volume desse material. Em se tratando de materiais granulares, é a relação entre a massa e o volume dos grãos desse material. A dificuldade em se obter o volume dos grãos de determinado material granular pode ser superada com a utilização de um material líquido com massa específica conhecida, utilizado para preencher o volume dos vazios entre os grãos.

Massa unitária

Aparentemente quase idêntico a massa específica, é preferível quando o volume do material é considerado com vazios, o que chamamos de volume aparente.

Traço unitário em massa

Quantidade de massa dos materiais para cada 1 kg de cimento: \(1:a:b_1:b_2:w/c\). Exemplo: 1 : 2 : 3 : 0,5 significa 1 kg de cimento, 2 kg de areia, 3 kg de brita 1 e 0,5 kg de água.

Traço unitário em volume

Também chamado de “volumes absolutos”: quantidade em massa de cada material do traço unitário dividido por sua respectiva massa específica. Exemplo: \[1/\gamma_c:a/\gamma_a:b_1/\gamma_{b_1}:b_2/\gamma_{b_2}:w⁄c\]

Massa unitária teórica do concreto

Melhor seria chamada de massa específica do concreto. É exatamente a massa total dos materiais constituintes, dividida pelo volume total dos mesmos materiais, sem considerar que possa haver vazios de ar entre os grãos ou vazios de ar aprisionado. A partir das informações do traço unitário, poderia ser assim calculada: \[\gamma_t=\frac{1+a+b_1+b_2+w⁄c}{1/\gamma_c+a/\gamma_a+b_1/\gamma_{b_1}+b_2/\gamma_{b_2}+w⁄c}\]

Massa unitária prática do concreto

É exatamente a massa total dos materiais constituintes, dividida pelo volume total dos mesmos materiais, considerando os vazios de ar aprisionado. É obtida por meio de ensaio, dividindo a massa de uma amostra de concreto pelo volume ocupado pela amostra. Demonstra-se facilmente que o volume de vazios encontrado em 1 m³ concreto pode ser calculado por: \[\alpha=1000.(1-\gamma_p/\gamma_t )\]

De maneira mais geral, demonstra-se facilmente que a massa específica média de dois ou mais materiais pode ser escrita em função da massa específica de cada material, ponderada por sua respectiva porcentagem.

\[\gamma_{méd}=v_1.\gamma_1+v_2.\gamma_2+ \cdot\cdot\cdot +v_n.\gamma_n\] onde \(v_i\) são as frações volumétricas ou porcentagens em volume de cada material. Poder-se-ia escrever ainda: \[\frac{1}{\gamma_{méd}} =\frac{m_1}{\gamma_1} +\frac{m_2}{\gamma_2} +⋯+ \frac{m_n}{\gamma_n}\]

onde \(m_i\) são as porcentagens em massa de cada material.

É muito comum a utilização de agregados e outros materiais granulares como cimento, adições e “fillers” com diferentes massas específicas. Entre os agregados, é comum a utilizar no concreto uma mistura de areia natural com agregado graúdo britado, materiais que geralmente possuem massas específicas diferentes. Portanto, deve-se tomar cuidado ao se referir a porcentagens de material, especificando tratar-se de porcentagem em massa ou em volume.

Um exemplo típico disso acontece quando se tenta definir a porcentagem de areia ideal baseando-se em ensaio de combinação binária. O ensaio de combinação binária é feito baseado no ensaio de massa unitária da mistura de dois agregados. Geralmente varia-se a porcentagem de cada material de 10% em 10%, ou de 5% em 5% (0-100, 10-90, 20-80, 30-70, …, 70-30, 80-20, 90-10, 100-0). Para cada combinação é feito ensaio de massa unitária. A combinação que obtiver a maior massa unitária é a que possui menor índice de vazios, e portanto produzirá concretos com menor consumo de água. Este procedimento é normalmente utilizado para se estabelecer a porcentagem de areia em dosagem de CCR. Supondo que a combinação com maior massa unitária é 40%-60%, esta porcentagem é em massa ou em volume? E para se calcular a dosagem de CCR, utiliza-se a porcentagem em massa ou em volume?

Na Tabela abaixo estão apresentadas as massas específicas típicas de diversos materiais, bem como o consumo típico em dosagem de concreto.

Tabela 1 – Massas específicas e consumos típicos:
Materiais
Massa específica
Consumo (CCV)
kg/m³
kg/l ou g/cm³
kg/m³
Cimento 3000 3,00 200 a 550
Areia natural 2600 a 2650 2,60 a 2,65 600 a 1000
Agregado artificial 2350 a 2900 2,35 a 2,90 800 a 1200
Concreto convencional 2300 a 2600 2,30 a 2,60

Cálculo do consumo de cimento

O consumo de cimento “prático” da dosagem pode ser calculado por: \[C_p=\frac{\gamma_p}{(1+a+b_1+b_2+w⁄c)}\] O consumo de cimento “teórico” da dosagem pode ser calculado por: \[C_t=\frac{(1000-\alpha)}{1/\gamma_c+a/\gamma_a+b_1/\gamma_{b_1}+b_2/\gamma_{b_2}+w⁄c}\] Ambas equações são deduzidas diretamente por “regra de três”. O consumo dos demais materiais constituintes pode ser obtido multiplicando-se o consumo de cimento pelo traço unitário.

Parâmetros para o cálculo de dosagens

Foi visto anteriormente que, de posse do traço unitário, das massas específicas dos materiais e do volume de ar, é possível calcular o consumo de cimento e dos demais materiais constituintes da dosagem. De maneira geral, são necessárias tantas informações quantas forem as incógnitas para se calcular uma dosagem de concreto. Em tecnologia de concreto é usual fixar, adotar ou variar parâmetros. De posse destes parâmetros, é possível calcular a composição da dosagem.

Relação água/cimento

\[w⁄c= Água/Cimento\]

Agregado total p/ 1 kg de cimento

\[m=a+b_1+b_2\]

Porcentagem de areia

Proporção de areia (\(a\)) em relação ao agregado total (\(m\)):
\[\%a=\frac{a}{m}\]

Porcentagem de brita

Proporção de brita (\(\%b\)) em relação ao agregado total (\(m\)):
\[\%b=\frac{b}{m}=\frac{(b_1+b_2)}{m}=1-\%a\]

Porcentagem de classe

Proporção de determinada brita em relação ao total de britas. Conceito também válido para areia, quando se tem mais de uma na dosagem.

\[\%a_i=\frac{a_i}{a}\] \[\%b_i=\frac{b_i}{b}\]

Teor de argamassa seca

Proporção de cimento e areia em relação ao total de materiais granulares. O termo “seca” justifica-se por ser a argamassa da dosagem excluindo-se a água. \[K=\frac{1+a}{1+m}\] Poderia também ser calculado em relação ao volume dos materiais2. \[K_v=\frac{\frac{1}{\gamma_c}+\frac{a}{\gamma_a} }{\frac{1}{\gamma_c}+\frac{m}{\gamma_m} }\]

Volume de argamassa

É o volume de cimento, água e areia em um metro cúbico de concreto. Usualmente inclui o volume de ar, sendo conveniente indicar se este está sendo considerado ou não. Também pode ser descrito como o volume de um metro cúbico de concreto descontado o volume de agregado graúdo. \[V_{arg}=C \cdot\left( \frac{1}{\gamma_c}+\frac{a}{\gamma_a} +w⁄c \right)+\alpha=1000-V_{agreg.graúdo}\]

Parâmetros avançados para o cálculo de dosagens

A fabricação de concretos especiais requer o acréscimo de novos materiais à dosagem. Oportunamente, será abordada a influência das principais adições e aditivos ao concreto. Cumpre introduzir no cálculo de dosagens a consideração matemática destes novos materiais nas fórmulas.

Adições ao cimento: o “cimento equivalente”

Normalmente, o cimento Portland comum já é fabricado com adições. Quando é acrescentado na operação de mistura uma nova adição (sílica ativa ou material pozolânico), o cálculo de dosagem deve ser modificado.

“Cimento equivalente” é o consumo de cimento de referência que ocupa o mesmo volume do cimento mais o volume das adições. A partir da porcentagem da adição e sua massa específica, o cimento equivalente pode ser calculado como:

\[C_{eq}=C_{cim}+C_{admix} \cdot\frac{\gamma_{cim}}{\gamma_{admix}}\]

ou no caso de várias adições: \[C_{eq}=C_{cim}+C_{admix_1} \cdot\frac{\gamma_{cim}}{\gamma_{admix_1}}+C_{admix_2} \cdot\frac{\gamma_{cim}}{\gamma_{admix_2}}\] Costuma-se definir a porcentagem de adição em relação ao cimento equivalente. A porcentagem pode ser em massa ou em volume.

\[\%_m C_{admix}=C_{admix}/C_{eq}\] ou \[\%_v C_{admix}=\frac{C_{admix}}{C_{eq}} \cdot \frac{\gamma_{cim}}{\gamma_{admix}}\]

Obs: a presença de adições altera algumas fórmulas apresentadas anteriormente.

Tabela 2 – Massas específicas e consumos típicos:
Em massa Em volume
Onde consta: \(1\) (kg de cimento) \(1/\gamma_c\)
Passa a ser: \(1-\%_v C_{admix}+\%_v C_{admix} \cdot \frac{\gamma_{admix}}{\gamma_{cim}}\) \(1/\gamma_c\)

Na Tabela abaixo, estão apresentados conjuntos de parâmetros a partir dos quais é possível calcular a composição do concreto em \(kg/m³\).

Tabela 3 – Tipos de cálculos de dosagem usuais:
Materiais Parâmetros de Partida
Método de FURNAS - CCV \(m -\%a - \alpha - w/c\)
Método de FURNAS – CCV, bombeável \(V_{arg} - Água - m - \alpha\)
Método de FURNAS - CCV3 \(k\) - \(m\) - \(Água\) - \(\alpha\)
Método de FURNAS - CCR \(C\) - \(Água\) -\(\alpha\) - \(\%a\)
Método do ACI, Aiticin e ABCP \(w/c\) - \(Água\) - \(\alpha\) - \(V_{agreg.graúdo}\)

Estudo de Dosagens

Definições e parâmetros adotados

Um estudo de dosagens começa por se definir a faixa de resistências ou classes de concreto que devem ser atendidas. Deve-se considerar a trabalhabilidade adequada em função do tipo de concreto e da obra, levando-se em conta o processo de produção (mistura, transporte, lançamento, adensamento e cura), cujo parâmetro mais comum é o abatimento pelo tronco de cone. Por fim, deve-se estabelecer a dimensão máxima característica do agregado graúdo (Dmáx).

A escolha dos materiais constituintes e dos materiais suplementares completam a lista dos pré-requisitos para se iniciar um estudo de dosagens.

O estudo de dosagens deve também ter um objetivo, que pode extrapolar a simples definição da composição de concretos para as diversas classes. Pode ser necessário realizar um comparativo entre fabricantes ou mesmo tipos de cimentos diferentes. O mesmo para fabricantes ou tipos de aditivos. Pode ser desejável comparar o uso de adições ao cimento, em diferentes teores ou mesmo adições distintas, tais como pozolanas de diferentes categorias. A finalidade do estudo de dosagens pode ainda estar vinculada a requisitos de durabilidade, tais como a relação água/cimento ou a porcentagem mínimas de adições para atender a medidas de mitigação de potencial reativo deletério.

Definição do Dmáx do agregado

Para se definir o Dmáx do agregado graúdo, a NBR 6118 estabelece que deve ser menor ou igual a:

  • 1/3 da espessura da laje;
  • 1/4 da menor dimensão da peça (por exemplo, distância entre as faces das fôrmas);
  • 2 vezes o espaçamento vertical entre as armaduras;
  • 0.8 vezes espaçamento horizontal entre as armaduras.
  • 1.2 vezes o cobrimento nominal da estrutura

O diâmetro da tubulação de bombeamento do concreto deve ser 4 vezes maior que o Dmáx adotado. Na prática, é muito difícil bombeamento de Dmáx maior que 38mm.

Definição da resistência média da dosagem

A resistência média da dosagem é definida em função de três parâmetros:

  • a resistência característica de projeto;
  • o desvio-padrão da resistência;
  • o coeficiente estatístico.

A resistência característica (fck) é um dado do projeto estrutural, definido pelo projetista no dimensionamento da estrutura ou peça. É especificada uma idade, normalmente 28 dias, na qual a estrutura deve ser capaz de resistir aos esforços considerados no projeto. A resistência média da dosagem de concreto deve ter 95% de probabilidade de superar o fck, conforme a equação:

\[fc_{j} = fck_{j} + 1,65 \cdot S_d\] onde j é a idade considerada, \(S_d\) o desvio-padrão da dosagem e \(1.65\) o coeficiente estatístico para a probabilidade de 95% acima. O desvio-padrão pode ser estimado baseado em experiências anteriores ou calculado em função do histórico da dosagem.

Outra fórmula equivalente a esta é em função do coeficiente de variação, definido como o \(v = S_d / fc\):

\[fc_{j} = \frac{ fck_{j}}{1 - 0,842 \cdot v}\]

O desvio-padrão é adotado inicialmente em função do tipo de rigor no controle dos processos de produção e ensaio, podendo depois ser substituído pelo desvio-padrão calculado a partir do acompanhamento estatístico da resistência da dosagem para aceitação das estruturas.

Controle Descrição \(S_d\) adotado
Rigoroso agregados e cimento medido em peso, controle frequente da umidade da areia, laboratorista qualificado, prensa calibrada, mistura em betoneira, adensamento vibratório 3,0 MPa
Normal cimento medidos em peso, agregados em volume, controle pouco frequente da umidade da areia, mistura em betoneira, adensamento manual ou vibratório 5,5 MPa
Simples cimento medidos em saco, agregados em volume, sem controle da umidade da areia, mistura manual, adensamento manual 7,0 MPa

O coeficiente estatístico é quase sempre 1,65, que está relacionado com a probabilidade de 95% da resistência média ultrapassar o fck de projeto. Porém, em estruturas massivas, em que a resistência da estrutura está mais correlacionada com a resistência média, o coeficiente estatístico pode ser alterado para 0,842, que equivale a uma probabilidade de 80% da média superar o fck.

Segundo Helene (1995), para concretos com fck>20 MPa, o desvio-padrão é praticamente constante para as classes de resistência mais altas. Já para concretos com fck<20 MPa, o coeficiente de variação é que é constante para as classes mais baixas de resistência e, portanto, mais conveniente de ser adotado.

Grupos ou classes de concreto

As classes do concreto são nomenclaturas em função das faixas de resistência à compressão axial, consistência pelo tronco de cone e massa específica (leve, normal e pesado), conforme disposto na NBR 8953:2015 – Concreto para fins estruturais.

Apesar de a norma dizer que não pretende atender aplicações de concretos massa, projetado e sem finos, as classificações a seguir podem ser adotadas também para estes tipos de concreto.

Classes quanto à massa específica

  • Concreto normal (C): concreto com massa específica (seca, de acordo com a ABNT NBR 9778) compreendida entre 2.000 kg/m³ e 2.800 kg/m³.

  • Concreto leve (CL): concreto com massa específica inferior a 2.000 kg/m³.

  • Concreto pesado ou denso (CD): concreto com massa específica superior a 2.800 kg/m³.

Classes de resistência

Os concretos para fins estruturais são classificados nos grupos I e II, conforme a resistência característica à compressão (fck), determinada a partir do ensaio de corpos de prova moldados de acordo com a ABNT NBR 5738 e rompidos conforme a ABNT NBR 5739.

Embora os valores que serão apresentados em tabela abaixo sejam a reprodução exata da tabela normativa, é permitida a especificação de valores intermediários.

Concretos com classe de resistência inferior a C20 não são considerados estruturais, mas também devem ter seu desempenho atendido conforme ABNT NBR 6118 e ABNT NBR 12655.

Tabela de resistência de concretos estruturais

CLASSE RESISTENCIA – MPa GRUPO
C 20 20 I
C 25 25 I
C 30 30 I
C 35 35 I
C 40 40 I
C 45 45 I
C 50 50 II
C 55 55 II
C 60 60 II
C 70 70 II
C 80 80 II
C 90 90 II
C 100 100 II

Classes de consistência

Os concretos são classificados por sua consistência no estado fresco, determinada a partir do ensaio de abatimento pelo tronco de cone pela ABNT NBR NM 67, de acordo com a Tabela 5, e, no caso de concreto autoadensável, pelo previsto na ABNT NBR 15823-1.

Classe Abatimento (mm) Aplicações típicas
S 10 10 <= A =< 50 Concreto extrusado, vibroprensado ou centrifugado
S 50 50 <= A =< 100 Alguns tipos de pavimentos e de elementos de fundações
S 100 100 <= A =< 160 Elementos estruturais, com lançamento convencional do concreto
S 160 160 <= A =< 220 Elementos estruturais com lançamento bombeado do concreto
S 220 >= 220 Elementos estruturais esbeltos ou com alta densidade de armaduras

Aplicação prática

Partindo de um exemplo, seguiremos um roteiro para fazer um estudo de dosagens.

Exemplo: Uma construtora quer um concreto para atingir resistências de 15 MPa (fundação) até 30 MPa (estrutura) aos 28 dias de idade, conforme a definição do projeto estrutural. A dimensão máxima característica do agregado graúdo (Dmáx) a ser utilizada será de 38 mm, combinada com a brita de 19mm. O agregado miúdo será areia natural. O abatimento do concreto compatível com as necessidades da obra é de 8 cm +/- 1 cm. O teor de ar incorporado será adotado conforme experiência anterior, 3,0% +/- 0,5%.

Passo 1) Caracterização dos materiais

As características físicas principais dos agregados graúdos são: granulometria, massa específica e absorção de água. Mais detalhes sobre a granulometria, principalmente o Módulo de Finura como parâmetro de controle e de minimização da variabilidade da dosagem, será abordado posteriormente. Os resultados dos ensaios necessários para se iniciar o estudo estão na tabela abaixo:

Massa específica Módulo de Finura Absorção
Cimento 3,00
Areia natural 2,65 2,80 0,70
Brita 19 mm 2,70 6,86 0,50
Brita 38 mm 2,70 7,88 0,40

Passo 2) Definição das resistências e das faixas de consumo de cimento

Inicialmente define-se quais relações cimento/agregado total (relações 1:m), em massa, serão estudadas. Pôr exemplo, uma relação 1:3 significa um concreto mais rico do que o concreto o que tem uma relação 1:9.

Para isso, calcula-se a resistência média da dosagem (\(fc_{28}\)), baseada na resistência característica (resistência de projeto – \(fck_{28}\)):

\[fc_{28} = fck_{28} + 1,65 \cdot Sd\]

onde \(Sd\) é o desvio padrão adotado em função do rigor controle de qualidade do concreto. Para obras com algum controle (principalmente da água de amassamento), porém não rigoroso, adota-se 5,5 MPa para Sd.

Para \(fck_{28} = 30\) MPa –> \(fc_{28} = 39\) MPa

Para \(fck_{28} = 15\) MPa –> \(fc_{28} = 24\) MPa

Serão escolhidas 5 relações cimento/agregado total em massa (relações 1:m), de tal forma que certamente serão obtidas maiores do que 39 MPa e menores que 24 MPa.

Relação 1:m Consumo de cimento aproximado (kg/m³) Consumo de água aproximado (kg/m³)4 Relação w/c aproximada Resistência média esperada (MPa)5
1:3 510 180 0,35 45,0
1:4 460 0,40 40,0
1:5 360 0,50 31,0
1:7 260 0,70 23,0
1:9 210 0,85 18,0

Passo 3) Definição das porcentagens de classe (entre os agregados graúdos)

Conforme mostrado na página 12, foi fixada a melhor proporção entre os agregados graúdos, por exemplo 40% da brita 19 mm e 60% da brita 38 mm. A porcentagem entre os agregados graúdos pode ser definida em função de ensaio de combinação binária (massa unitária de cada proporção entre os agregados, escolhida a de maior compacidade) ou por meio de uma curva granulométrica de referência (por exemplo, Talbot-Ritchart com expoente 0,5) ou simplesmente adotando-se os valores típicos. A proporção 40%-60% é a mais comum e leva a um resultado de maior compacidade. A proporção 60%-40% é razoável quanto à compacidade e leva a uma menor segregação do agregado de maior Dmáx.

O módulo de finura da mistura dos agregados graúdos é simplesmente a média ponderada do módulo de finura de cada agregado:

\[MF_{mist} = 0,40 \cdot 6,86 + 0,60 \cdot 7,88 = 7,472\]

a porcentagem adotada seria em massa ou em volume? 😉 

Esta proporção entre as britas irá valer para todas as relações 1:m estudadas.

Passo 4) Definição das porcentagens de areia a serem estudadas

Para definir o traço unitário em massa do concreto a ser betonado, é necessário conhecer, além da relação 1:m e da proporção entre as britas, a porcentagem de areia \(\%a\). Esta deve ser determinada experimentalmente de modo que o concreto não fique áspero (falta de areia), nem argamassado demais (excesso de areia). Um concreto áspero significa grande segregação da pasta e da argamassa, e grande perda de resistência. Um concreto argamassado demais significa maior exigência de água para alcançar a mesma trabalhabilidade e, por conseguinte, maior consumo de cimento (para manter a relação w/c) para alcançar a mesma resistência. Significa que existe uma porcentagem de areia ideal ou ótima, ou seja, um valor que não significa falta nem excesso de areia. Mais adiante serão abordados os raciocínios em torno da trabalhabilidade e da resistência em função da água e da relação água/cimento (ou consumo de cimento diretamente). Por enquanto, basta guardar a informação que existe um ponto ideal ou ótimo de \(\%a\), cuja determinação é, pelo método de Furnas, experimental. A \(\%a\) que chamamos de ideal é aquela cuja dosagem requer a menor água para alcançar a trabalhabilidade requerida, que provavelmente dará a maior resistência. No entanto, essa \(\%a\) é “perigosa”, pois qualquer variação na granulometria dos agregados pode tornar o concreto áspero, ou seja, ir de ideal para péssimo. Por isso, recomenda-se argamassar o traço até um pouco além da $%a$ ideal, mas não muito. Esta nova \(\%a\) é a que chamamos de \(\%a\) ótima, e há uma recomendação precisa de como calculá-la.

Continuando e concluindo, inicialmente escolhe-se uma relação cimento/agregado total em massa intermediária, por exemplo 1:5, e varia-se o teor de areia (logo, varia-se também o módulo de finura) para determinar a que dá a melhor trabalhabilidade, melhor aspecto e menor relação w/c (que dará provavelmente a melhor resistência).

Relação 1:m Porcentagem de areia Módulo de finura
1:5 34% 5,884
36% 5,790
38% 5,697
40% 5,603
42% 5,510

Passo 5) Entrando na sala de dosagem:

Recomanda-se que a primeira dosagem a ser betonada seja a menos argamassada, para que a argamassa que fica grudada na betoneira não interfira na dosagem seguinte.

  • Traço unitário em massa:

\[\begin{align} 1 &: a : b_1 : b_2 : w/c \\ \\ a &= 34\% \cdot 5 &= 1,70~\textit{kg} \\ b &= 66\% \cdot 5 &= 3,30~\textit{kg} \\ b_1 &= 3,30 \cdot 40\% &= 1,32~\textit{kg} \\ b_2 &= 3,30 \cdot 60\% &= 1,98~\textit{kg} \\ w/c &= 0,50\text{^[valor aproximado, servindo apenas para o cálculo do volume a ser betonado]} \end{align}\]

  • Traço unitário em volume (dividindo cada item do traço unitário em massa pela respectiva massa específica):

\[\begin{align} 1 / \gamma_c &= 0,333 \\ a / \gamma_a &= 0,642 \\ b_1 / \gamma_{b_1} &= 0,489 \\ b_2 / \gamma_{b_2} &= 0,734 \\ w/c &= 0,50 \end{align}\]

Calculados os volumes absolutos para 1 kg de cimento, temos:

  • Volume total para 1 kg de cimento: 0,333 + 0,642 + 0,489 + 0,734 + 0,500 = 2.698

  • Peso total para 1 kg de cimento: 1,000 + 5,000 + 0,500 = 6.500

  • Massa unitária teórica: 6,500 / 2,697 = 2,410 kg/l ou 2410 kg/m³

Para a moldagem de corpos-de-prova, é interessante averiguar a resistência à compressão na idades inferiores à de controle, por exemplo 3 e 7 dias. Moldando 2 CP’s por idade, cada betonada deve-se moldar 6 CP’s. Sendo o CP de 15 cm x 30 cm, isso nos leva a um volume de 32 litros. Mais 10 litros para os ensaio com o concreto fresco e mais 10%, podemos considerar uma betonada de 50 litros de concreto.

Se 1 kg de cimento faz 2,697 litros, quantos kg de cimento são necessários para fazer 50 litros?

  • C = 50 / 2,697 = 18,50 kg (consumo de cimento da betonada)

Multiplicando pelo traço unitário:

  • Areia: 18,50 x 1,70 = 31,45 kg

  • Brita 1: 18,50 x 1,32 = 24,42 kg

  • Brita 2: 18,50 x 1,98 = 36,63 kg

  • Água: 18,50 x 0,50 = 9,25 kg

Aditivo incorporador de ar = 0,03% de 18,50 = 5,55 gramas (0,03% é uma porcentagem usual de aditivo incorporador)

É claro que inicialmente não se sabe qual será a quantidade de água que dará a trabalhabilidade necessária. Por segurança, coloca-se 7 litros primeiro e aos poucos vai se adicionando o restante até que se obtenha a trabalhabilidade desejada.

Realizam-se os ensaios de abatimento e teor de ar incorporado e caso estejam dentro dos limites aceitáveis, molda-se os corpos-de-prova.

Exemplo:

  • slump: 7,5 cm

  • Teor de ar: 3,2%

  • Massa unitária: 2305 kg/m³

  • Água requerida: 10,17 litros

Dosagem aceita!

  • Cálculo da relação w/c do concreto: 10,17 / 18,50 = 0,55

  • Volume total para 1 kg de cimento: 0,333 + 0,642 + 0,489 + 0,733 + 0,550 = 2,747

  • Peso total para 1 kg de cimento: 1,000 + 5,000 + 0,500 = 6,550

  • Massa unitária teórica: 6,500 / 2,697 = 2,366 kg/l ou 2366 kg/m³

Cálculo da composição por m³ do concreto:

  • Teor de ar incorporado teórico: \(\alpha_t = (\gamma_t – \gamma_p) / \gamma_t\) -> \(\alpha_t\) = 2,6%

  • Teor de ar incorporado médio: 2,9%

  • Consumo de cimento teórico: Ct = (1000 – 10 . 2,9) / 2,697 = 360 kg/m³

  • Consumo de cimento prático: Cp = 2347 / 6,50 = 361 kg/m³

  • Consumo de cimento médio: Cm = 360 kg/m³

  • Consumo de areia: 360 x 1,70 = 612 kg/m³

  • Consumo de brita 1: 360 x 1,32 = 475 kg/m³

  • Consumo de brita 2: 360 x 1,98 = 713 kg/m³

  • Água unitária: 360 x 0,50 = 180 kg/m³

  • Consumo de aditivo: 360 x 0,03% = 108 g/m³

Passo 6) Escolha de melhor porcentagem de areia:

Supondo que já foram estudadas as dosagens com relação cimento agregado total 1:5 com as cinco porcentagens de areia e os resultados foram conforme mostrado na tabela abaixo.

Relação 1:m % de areia Módulo de finura Teor de ar incorporado (%) Slump (cm) Relação w/c Observações
1:5 34% 5,884 3,2 7,5 0,55 concretos ásperos
36% 5,790 2,8 7,0 0,53
38% 5,697 2,9 7,0 0,49 MF ideal
40% 5,603 3,4 7,5 0,50 concretos argamassados
42% 5,510 3,1 6,5 0,51

Observando-se a tabela acima, a dosagem que provavelmente vai dar a maior resistência à compressão será a com módulo de finura 5,697 (38% de areia, menor w/c). Esta dosagem será considerada a dosagem com módulo de finura ideal. Mas em geral esta dosagem não é a melhor para ser utilizada na obra. Mesmo uma pequena variação na granulometria dos materiais pode fazer com que o módulo de finura da mistura suba para 5,8 ou mais, caindo na faixa de concretos ásperos. Para evitar isso, descloca-se o módulo de finura ideal em 0,2 e obtém-se o módulo de finura ótimo.

\[MF_{ótimo} = MF_{ideal} - 0,2 \]

  • MF ótimo = 5.697 - 0.2 = 5.497

Calcula-se a porcentagem de areia ótima, isolando-se a \(\%a\) na fórmula do Módulo de Finura, como segue:

\[\begin{align} MF_{ótimo} &= \%a_{ótima} \cdot MF_{areia}+(1-\%a_{ótima}) \cdot MF_{brita} \\ \\ \%a_{ótima} \cdot (MF_{brita}-MF_{areia})&=MF_{brita}-MF_{ótimo} \\ \\ \therefore \%a_{ótima}&= \frac{MF_{brita}-MF_{ótimo}}{MF_{brita}-MF_{areia}} \\ \end{align}\]

  • %aótima = (7,472 – 5,497) / (7,472 – 2,80) = 0,423 = 42,3%

Passo 7) Cálculo das porcentagens de areia ótimas das demais relações 1:m:

Para a relação cimento:agregado total 1:5 a porcentagem de areia ótima determinada experimentalmente foi 42,3%. Para as demais relações cimento : agregado total 1:3 / 1:4 / 1:7 e 1:9 a porcentagem de areia ótima poderia ser determinada experimentalmente da mesma forma que foi feito para a relação 1:5.

Simplificadamente, calcula-se a porcentagem de areia ótima dessas relações cimento : agregado total mantendo-se o teor de argamassa seca (fator K, em peso) através da fórmula:

\[\begin{align} K &= \frac{1 + a}{1 + m} \text{, onde } a = \%a \cdot m \\ \\ K &= \frac{1 + \%a \cdot m }{1 + m } \\ \\ \therefore \%a &= \frac{ K \cdot (1 + m ) – 1 }{m} \\ \end{align}\]

Para a relação 1:5 já estudada, temos:

Kótimo = (1 + 0,423 . 5 ) / (1 + 5) = 0,519

Para as demais relações cimento : agregado total, calcula-se as porcentagens de areia ótimas e os módulos de finura ótimos:

1:3 — % areiaótima = [ 0,519 . (1 + 3) – 1 ] / 3 = 35,9%

1:3 — MFótimo = 7,472 – (7,472 – 2,8) . 0,359 = 5,795

1:4 — % areiaótima = [ 0,519 . (1 + 4) – 1 ] / 4 = 39,9%

1:4 — MFótimo = 7,472 – (7,472 – 2,8) . 0,399 = 5,608

1:7 — % areiaótima = [ 0,519 . (1 + 7) – 1 ] / 7 = 45,0%

1:7 — MFótimo = 7,472 – (7,472 – 2,8) . 0,450 = 5,370

1:9 — % areiaótima = [ 0,519 . (1 + 9) – 1 ] / 9 = 46,6%

1:9 — MFótimo = 7,472 – (7,472 – 2,8) . 0,466 = 5,295

Dosagens com módulo de finura ótimo

Relação 1:m % areia ótima Módulo de finura ótimo Traço unitário (kg)
1 : a : b1 : b2
Relação w/c aproximada
1:3 35,9 5,795 1 : 1,076 : 0,770 : 1,154 0,35
1:4 39,9 5,608 1 : 1,596 : 0,962 : 1,442 0,40
1:5 42,3 5,496 1 : 2,115 : 1,154 : 1,731 0,50
1:7 45,0 5,370 1 : 3,150 : 1,540 : 2,310 0,70
1:9 46,6 5,295 1 : 4,194 : 1,922 : 2,884 0,85

Passo 8) Entrando na sala de dosagem – Dosagens ótimas:

Partido-se dos traços unitários da tabela anterior, calcula-se os traços a serem estudados na sala de dosagem da mesma forma que a relação 1:5 com 34% de areia (passo 5).

Supondo que para cada uma delas foi ajustada a água necessária para dar um slump de 7 cm e realizados ensaios com concreto fresco, a tabela abaixo mostra o consumo de cimento e a água unitária calculados, conforme já visto no passo 5:

Relação 1:m Relação w/c ajustada Teor de ar incorporado (%) Abatimento do concreto (cm) Massa unitária (kg/m³) Consumo de cimento (kg/m³) Consumo de água (kg/m³)
1:3 0,37 3,2 7,5 2330 533 197
1:4 0,41 2,8 7,0 2350 434 178
1:5 0,51 2,9 7,0 2330 362 177
1:7 0,68 3,4 7,5 2320 267 182
1:9 0,87 3,1 6,5 2320 213 185

Para continuação do exemplo, a tabela abaixo mostra os resultados de resistência à compressão das dosagens ótimas estudadas:

Relação 1:m Relação w/c ajustada % areia ótima Módulo de finura ótimo Consumo de água (kg/m³) Resistência à compressão (MPa)
28 dias 90 dias
1:3 0,37 35,9 5,795 197 45,0 54,0
1:4 0,41 39,9 5,608 178 40,0 48,0
1:5 0,49 42,3 5,496 177 31,0 37,2
1:7 0,68 45,0 5,370 182 23,0 27,6
1:9 0,87 46,6 5,295 185 18,0 21,6

%{r, echo = TRUE, fig.cap = 'A figure caption.'} %source("ScriptExemplo1.R") %grafico %

c x % de areia em massa

Módulo de Finura x % de areia em massa

% de areia volume x % de areia massa

Resistência à compressão x Módulo de Finura

Água unitária x Módulo de Finura

Resistência à compressão x Relação w/c


  1. Segundo Tutikian e Helene (2011): > Em 1932, Inge Lyse publicou sua contribuição ao estudo da dosagem dos concretos, demonstrando que, respeitados certos limites e mantidos os mesmos materiais, é possível considerar a massa de água por unidade de volume de concreto como a principal determinante da consistência do concreto fresco, qualquer que seja a proporção dos materiais da mistura. Lyse sugeriu ainda empregar a Lei de Abrams com relação água/cimento em massa e não em volume, como originalmente proposto por Abrams.↩︎

  2. Estudo não publicado do autor mostra que a utilização do fator k em relação ao volume dos materiais é melhor. Foi verificado para o estudo completo da UHE Serra da Mesa.↩︎

  3. Deduzir a expressão de cálculo do consumo de cimento da dosagem a partir dos seguintes parâmetros: k, m, Água, teor de ar - α, e evidentemente das massas específicas dos materiais.↩︎

  4. Para slump 7cm , teor de ar incorporado 3,0% e Dmáx 38 mm (baseado em outros estudos)↩︎

  5. Valores aproximados, resultados de outros estudos↩︎